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domingo, 10 de novembro de 2024

[Livro] Nihonjin

 Autor: Oscar Fussato Nakasato

Gênero: Ficção

Ano: 2012

Sinopse: Hideo Inabata é um japonês orgulhoso de sua nacionalidade, que chega ao Brasil na segunda década do século XX com o objetivo de enriquecer e cumprir a missão sagrada de levar recursos ao Japão, conforme orientação do imperador aos seus súditos. O árduo trabalho no campo, a difícil adaptação ao Brasil, a morte da primeira esposa e os conflitos com os filhos Haruo e Sumie são um teste para a inflexibilidade do nihonjin (japonês). O narrador, neto do protagonista e filho de Sumie, empresta voz e visão contemporânea à transformação do avô e do seu sonho de voltar rico para casa.

Peguei esse livro como referência para uma história que estou escrevendo e se passa, uma parte, durante a imigração japonesa no Brasil lá no começo de 1900. E o bacana é que ele acabou servindo como um complemento muito bom para outro livro que li com o mesmo propósito: Corações Sujos

Nessa história acompanhamos a vida da família Inabata, desde a sua chegada ao Brasil em um navio, lá em 1908, até a geração presente. O livro é narrado pelo neto do patriarca Hideo e vai narrando, ora sobre o que sabe, ora sob a perspectiva do avô, a trajetória da família nos difíceis anos de adaptação e consolidação em solo brasileiro. Como a maior parte dos japoneses vindos para cá, Hideo também queria conseguir dinheiro para voltar ao Japão e ter uma vida melhor. Fiel ao seu imperador, era casado com uma mulher delicada que em nada estava habituada ao trabalho braçal.

Era, inicialmente, casado com Kimie, que fizera amizade com uma negra também empregada da fazenda e mesmo contra as ordens do marido. A mesma Kimie que se apaixonou por outro homem e morreu de tristeza poucos anos depois da chegada, ainda esperando nevar no Brasil. Hideo era um homem típico de sua época e de seu país patriarcalista, homem duro, meio rude e com preconceitos frutos de seu conhecimento limitado.

Casou-se depois com Sumie, uma mulher mais forte que Kimie, acostumada ao trabalho braçal e subserviente. E é desta que o narrador da história é neto. Hideo enfrentou o preconceito dos brasileiros na época, conquistou, a duras penas, seu sonho de ter uma loja de utensílios, viveu os tempos difíceis da segunda guerra onde o governo de Vargas impôs regras duras para os membros do eixo aumentando ainda mais o preconceito dos brasileiros que desde o começo eram contra a imigração deles (quem diria que uns séculos depois iam pagar tanto pau pra cultura asiática).

Além disso, a história percorre também os descendentes de Hideo. Seu filho jornalista que, desde criança, aprendeu sobre o Brasil, começou a questionar alguns aspectos da sua cultura nipônica e alguns pensamentos do pai o que lhe causaram várias punições. Mais tarde, após a guerra, foi considerado traidor da pátria e assassinado pela Shindo Renmei da qual o próprio Hideo era parte. A filha que se apaixonou por um brasileiro e abandonou a própria família para viver seu amor, sendo expulsa para sempre da vida dos filhos (do qual o narrador faz parte).

De uma maneira bem sensível, a gente é conduzido pela trajetória da família até o mundo atual (que não é mencionado a época), o fim que tiveram e os arrependimentos tardios ou não de Hideo. Achei muito legal, em especial porque faz um retrato bastante fiel ao mundo da época e a sociedade naqueles difíceis anos. A gente tem a perspectiva dos japoneses sobre a nossa terra e um pouco  (bem pouco) do que foi o preconceito enfrentado por eles em solo brasileiro, mas, ainda mais, o preconceito deles em relação aos brasileiros.

Deu pra ver o outro lado da Shindo Renmei, embora não com muitos detalhes, Corações Sujos mostra uma visão meio brasileira de tudo, então ter essa perspectiva de japoneses e dos seus ideais, além da dinâmica da facção, foi bastante instrutivo e interessante. Quem tem curiosidade de conhecer um pouco mais sobre o assunto, acho que esse é um bom livro pra começar. Recomendo muito.

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