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segunda-feira, 3 de junho de 2024

[Bíblia] Juízes


 

Introdução

Juízes delineia a história do povo hebreu durante um período de cerca de 200 anos, da morte de Josué a meados do século XI antes da nossa era. É uma série de narrações de homens chamados juízes que eram, sobretudo, chefes militares em épocas perigosas. É um período de decadência política e religiosa, as tribos de Israel não têm força para se impor às populações cananéias — não totalmente conquistadas durante a vida de Josué e algumas até "perdoadas" pelos israelitas apenas sujeitos a impostos, contrariando as ordens de Deus — e filisteus, então começa a se deixar seduzir pela vida fácil e práticas idólatras desses povos.

Considerações pessoais

É preciso ter muito cuidado ao ler esse livro. Boa parte das histórias são bem chocantes e algumas práticas abomináveis. Poderia dizer que foi aqui que o povo hebreu começou a declinar de vez e, se pensarmos com atenção, veremos que até aqui era o próprio Deus que os liderava, imagina quando começarem a ser governados por outros homens! Sinceramente falando, a maior lição que eu tiro é que a humanidade é podre, desde o berço. O ser humano é péssimo, a cada capítulo novo tudo que eu sinto desse povo é raiva e vejo que Deus é pura misericórdia quando não dizimou essa gente toda de uma vez e começou a criação do zero.

Finalmente temos um protagonismo feminino! Acho que boa parte das religiões que vê a mulher como um ser inferior se pauta no antigo testamento. Embora seja o povo eleito, não acredito que os costumes ou o povo judeu seja o melhor exemplo a ser seguido, prova disso é que sabemos como o rumo das coisas culmina. Débora surge em juízes como uma das primeiras profetizas e juízas de Israel. É por ela que Deus comanda o povo contra Jabin, rei de Canaã. Gedeão, cuja história li em um livro bíblico infantil quando criança, também foi um juiz, escolhido para livrar o povo de Madiã que o oprimia. Detalhe que os pais de Gedeão, da tribo de Manassés, filho de José, também adorava outros "deuses" da terra de Canaã, mas Deus inspirou e escolheu seu filho como um juiz. Seu filho Abimalec, contudo, anos mais tarde, não honrou a progenitura assassinando seus irmãos a sangue frio para se tornar rei de Siquém. Um dos irmãos, contudo, escapou e expôs seu crime, mas ele ainda reinou por três anos em Israel. Seu fim, contudo, se deu por uma mulher em mais um protagonismo feminino.

O próximo juiz foi Jefté que lutou por Israel contra os amonitas, mas prometeu a Deus que, caso vencesse, ofereceria em holocausto o primeiro de sua casa que saísse para recebê-lo e eis que sai sua única filha! Ele então, cheio de remorso e tristeza, cumpre sua promessa. Porém nem todos os juízes eram realmente justos, a história de Sansão é uma prova. Outra das histórias bíblicas mais famosas, não sabia que era desse livro, sua saga, curta e trágica, conta que tal como os outros ele foi escolhido por Deus, mas a meu ver sua conduta não era reta e sua luxúria culminou na punição.

Mas de todos o mais ultrajante é o último capítulo, já nos apêndices, isso havia acontecido no Gênesis e volta a se repetir aqui, dessa vez tendo por crime a tribo de Benjamin. Um levita chega a uma cidade benjaminita, está de passagem para Efraim, um velho lhe dá abrigo pela noite, mas os habitantes da cidade se reúnem na frente da casa do velho e ordenam que façam sair o homem para que eles o conheçam, já expliquei o que isso significa. O velho, então, tal como Ló em Sodoma, oferece sua filha virgem e a concubina do levita para serem violentadas no lugar dele! Gente, qual o problema desse povo? Quer dizer, violentar uma mulher tudo bem, mas um homem jamais porque é uma infâmia abominável.

No fim eles atacam a concubina até matar! E depois jogam o corpo dela na frente da casa do velho e, se ela tivesse sobrevivido, o levita não teria feito nada, aposto. Contudo, ele pega o cadáver, esquarteja e manda um pedaço para cada uma das outras onze tribos que se revoltam e vem contra Benjamin. Quase aniquilam a tribo toda, mas no fim ainda a perdoam e não a retiram de Israel!!!! A "punição" é só que nenhum benjaminita pode mais casar com uma mulher das outras onze tribos, e é isso. Fim do Juízes, de novo ponto para os homens.

Poderia dizer que esse livro é considerado uma espécie de "pedagogia divina" e com isso não quero dizer que violentar mulheres tá liberado. As desgraças são consideradas como casrigo e a libertação como perdão. Deus é o único senhor e o único guia do seu povo. Jefté e sua história decepcionante nos mostram que os herois do povo de Deus, afinal, não passam de simples homens, mesmo escolhidos por Ele. Sansão, ainda como um eleito, é desobediente e enfrenta a punição divina. Mesmo cumprindo sua missão recebe o castigo por sua desobediência embora no fim alcance a misericórdia.

As duas histórias no apêndice: a construção do santuário e o episódio horroroso da violação de hospitalidade por parte de Benjamim que culminam em represálias violentas e cruéis, devem ser encaradas como uma representação da época que ainda era regida pela Lei de Talião na qual unicamente a crueldade servia para reprimir os abusos ou infrações ao direito comum. Deve-se notar, entretanto, que a relação não termina por um castigo ou exterminação, mas pela reintegração de Benjamin sinal de magnanimidade e perdão que só Deus tem, porque sinceramente.

Concluo que sou humana demais e falha demais para aceitar algumas coisas, como mulher me coloco no lugar daquela que suportou os horrores de uma morte cruel e sádica. Não sei se seria capaz de perdoar jamais a tribo de Benjamim e vejo porque o perdão é o mandamento mais difícil de Cristo. Apesar de um claro avanço com as personagens femininas, a bilblia ainda segue tratando mulheres como objetos de prazer e procriação. O maldito legado de Eva! Não à toa tantas religiões por aí se pautam nesses livros para oprimir, humilhar e matar mulheres. Realmente triste.

Mas, como disse antes, é preciso ler esse livro considerando o contexto histórico, ele reflete, sobretudo, o ápice da desobediência do povo que declina por se envolver com os pagãos, desobedecendo a Deus e se afastando ainda mais, não importando quantas punições e provações sejam enviadas para corrigi-los. E o tempo todo só fico me lembrando para não deixar de ser compreensiva porque fico cada livro menos simpática com Israel.

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