segunda-feira, 17 de junho de 2024

[Bíblia] Samuel

 

Pode-se dizer que Samuel é o último juiz da bíblia, já que seus dois livros funcionam como um prelúdio para o livro de reis, quando Deus deixa de ser o governante do povo que passa a ser liderado por Saul e, posteriormente, Davi.

O nascimento de Samuel se deu pela oração da sua mãe, Ana, que era intimidada pela outra esposa do seu marido por não poder ter filhos. Ela prometeu que lhe consagraria seu primogênito e Ele a atendeu. Ela, então, levou Samuel para o santuário e o entregou nas mãos de Heli que era o sacerdote. Os filhos de Heli, contudo, pecaram contra o Senhor que se enfureceu com ele por não tê-los corrigido mesmo sabendo que agiam errado.

Deus, contudo, via o coração devoto de Samuel e, em uma época onde a intimidade dos homens com o Senhor já não era tão grande, Ele falou com o menino através dos sonhos. Ele atuou no meio do povo pelo Senhor e ficou enraivecido quando  Israel pediu um rei, rejeitando a liderança de Deus.

É quando entra em cena Saul que, a princípio, era um homem bom, mas deixou-se corromper pelo poder mais tarde. No começo o Senhor estava com ele e lhe concedeu abundantes vitórias. Porém, pecou contra o Senhor que tirou dele seu favor. O filho de Saul, Jônatas, torna-se muito amigo de Davi quando este, após derrotar Golias, é mantido no palácio. Contudo, quanto mais Deus favorece Davi, mais Saul tenta matá-lo. É por sua amizade forte com Jônatas e a graça de Deus que Davi continua vivo e assume o trono de Israel, mesmo que inicialmente tenha sido aceito como rei apenas em Judá.

A amizade de Davi e Jônatas foi o que inspirou Cassandra Clare a criar o vínculo parabatai, mas a meu ver a bíblia é muito vaga e às vezes até mesmo ambígua quando relata o relacionamento entre eles.

O livro de Samuel abrange todo o reinado de Saul e Davi, os primeiros monarcas do povo eleito e os primeiros também nessa linha a falhar em seu posto, desobedecendo a vontade de Deus. Saul tem uma morte violenta e, infelizmente, Jônatas também padece. Confesso que, por ele ser autor de boa parte dos salmos, eu tinha uma expectativa um pouco maior com a história dele (Davi), mas me decepcionei um pouco. Ele passa boa parte da história fugindo.

Uma coisa que me chamou atenção nesse livro foi, após a morte de Samuel, Saul procurar uma necromante para falar com ele. Não sei se fiquei mais estupefata por ele fazer isso ou por ter dado certo '-'. O reinado de Davi é cercado por guerras e conflitos familiares, especialmente quando um dos seus filhos tenta usurpar o trono. Ele comente contra Deus o pecado do adultério e sua morte marca o fim do segundo livro de Samuel.

Vejam vocês, se com Deus liderando tudo "pessoalmente" a coisa com o povo não tava fácil, imagina um homem falho liderando um bando de gente cabeça dura? Claro que ia dar errado. Isso me faz pensar um pouco sobre os líderes religiosos, muita gente tende a pensar que padres, pastores, freiras e afins são "santos" ou quase, e não é verdade. São seres humanos e pecadores tanto quanto qualquer um de nós, apenas desempenham, com suas falhas, um trabalho em prol de Cristo, ou pelo menos deveria ser. 

Por isso, quando um deles cometer um ato ruim, vamos parar de culpar toda a instituição e os fiéis como se fôssemos os próprios santos. Precisamos lembrar que o único homem destituído de toda falha e pecado foi Cristo. Os demais, seja de que ordem for, são humanos como nós, falhos e pecadores. Então quem de nós é apto a atirar a primeira pedra? Uma das coisas que mais ouço é que a igreja católica cometeu atos terríveis no passado, não desminto. É verdade. Mas a igreja somos nós, quem cometeu atos hediondos no passado foram papas, padres, cardeais, homens de carne e osso. Seja em nome do poder, do dinheiro ou do prazer, como os próprios reis no início da monarquia do povo hebreu. Nenhum deles é diferente. 

Da mesma forma, pastores cometem crimes. E quero acreditar que os protestantes continuam indo às suas igrejas pelo mesmo motivo que nós católicos: Cristo. Não vamos à igreja pelos padres, vamos por Jesus. Até porque, se a gente for procurar igreja só com gente "perfeita" e "boa" não vamos para nenhuma. O sentido é Cristo, o centro de tudo, da nossa fé. Ler Samuel e o livro de reis me fez pensar com mais atenção a respeito disso.





domingo, 16 de junho de 2024

[Mangá] Zettai Ni Tokimeite Wa Ikenai!

Original: 絶対にときめいてはいけない!

Autor: Tsukishima Haru

Gêneros: Comédia, romance, drama, vida escolar

Sinopse: Sakura se confessa para Hatano-kun no verão e é rejeitada rapidamente, mas ela sequer tem tempo de ficar depressiva, porque quando ela volta para sua casa ela conhece o seu novo "irmão mais novo". O que ela não esperava é que seu ele fosse maior do que ela...

Quero muito agradecer a pessoa que comentou indicando esse mangá na minha postagem de obras japonesas de incesto! Notei esses dias que fazia um bocado de tempo desde que li um mangá, desde que descobri o ceratocone também tenho sido mais cautelosa e até medrosa com meu tempo de tela, especialmente porque minha lente esquerda não está ajudando muito. Contudo, desde que comecei a ler, também descobri o quanto tempo faz que eu não fico presa em um mangá dessa forma. 

A história é de incesto, mas não exatamente, isso porque apesar dos pais de ambos terem se casado, isso não faz deles irmãos de verdade, nem meio irmãos considerando que não tem nenhuma relação sanguínea, então só considero incesto porque os pais se casaram e a sociedade passa a vê-los como irmãos, bem ao contrário do que acontece no começo de True Love. Inclusive, esse mangá me lembrou muito True Love e senti uma tentação gigantesca de lê-lo de novo.

Após ser rejeitada por Hatano, nada menos que o garoto mais bonito e cobiçado da escola, Sakura achava que sua vida não podia piorar, mas descobriu que estava errada, ela havia sido vista por alguém apenas para descobrir que essa pessoa era seu "irmão mais novo". Naquele dia, o novo marido da mãe chegaria com seu filho e eles começariam a ser uma nova família feliz, isso claro até ela vê-lo e ambos não começarem exatamente com o pé direito. Contudo, Sakura está disposta a fazer isso dar certo e se tornar uma boa irmã mais velha para Kaede. Até aquele ponto, ela jamais esperava se apaixonar por ele.

Para ambos é bem difícil a adaptação, especialmente porque, até então, ambos viviam sozinhos com seu pai e mãe, dois homens e duas mulheres, mas, aos poucos, Sakura começa a entender melhor as sutilezas de Kaede e, lentamente, começa a vê-lo com outros olhos enquanto ele passa a demonstrar se preocupar com ela e se aproximar mais e mais. Como evitar? Mas o que os dois farão quando a familia acabou de começar e seus sentimentos não podem ser evitados?

Eu amei esse mangá! Ele ofereceu tudo e mais um pouco, personagens adoráveis, pais cativantes, amigos de verdade e momentos de acelerar o coração. Apenas não conseguia largar e fiquei muito feliz por ele estar completo ou teria tido uma síncope ansiosa. Li em inglês porque a tradução estava em andamento no português e eu não queria esperar, foi até bom pra praticar um pouco a leitura. Inclusive, indico. Mangás tem um vocabulário relativamente simples e são cheios de expressões do dia a dia, pode ser uma boa para quem quer começar a ler em inglês.

Shippei dolorosamente Kaede e Sakura e acompanhar a evolução deles e o amor deles crescendo em cada capítulo foi a coisa mais adorável das minhas últimas semanas. Por mim, ele teria mais uns 5 volumes hahaha. Uma das coisas que mais curti foi que os pais deles super entenderam seus sentimentos, embora o pai do Kaede tenha ficado meio protetor com a Sakura hahaha, compreensível, mas ele não colocou obstáculos no meio. Ao contrário da mãe deles em True Love que, com a morte do pai, teve uma atitude egoísta terrível com ambos, especialmente a Ai. Foi um super ponto positivo.

Os amigos de Kaede e Sakura também foram super adoráveis e um ponto mais que positivo em tudo, não apenas por não julgar os dois errado, mas por ajudarem como podiam. Era muito legal de ler o apoio e a gente passa a desejar ter amizades assim também, algo infelizmente muito raro. Colocaram um triangulozinho amoroso no meio, o que eu não gostei muito, mas que foi uma ferramenta até bem útil ao roteiro de certa forma. 

Enfim, super recomendo! Entrou no meu hanking de mangás favoritos da vida. E se você não curte o plot incesto propriamente, pode ler de boa porque desde o começo fica claro que eles não são irmãos de verdade.


domingo, 9 de junho de 2024

[Bíblia] Rute

Em meio a todo caos e violência de Juízes, Rute aparece como uma parábola, uma pausa para nos trazer reflexão e amenizar um pouco a tão difícil leitura do seu antecessor. Com um dos parcos protagonismos femininos da bíblia do lado de Ester e Judite, Rute é uma das poucas a ganhar destaque com um livro.

Ela não era hebreia, mas moabita casada com um judeu. Em decorrência da morte de seu sogro, cunhado e marido, se viu sozinha com a sogra Noemi e a cunhada. Sabendo que não tinha muito a fazer por elas que ainda eram jovens, Noemi as dispensa de volta às suas famílias para que se casem de novo e formem nova família. Apesar de a cunhada logo aceitar a oferta, Rute declina e se recusa a abandonar a sogra sozinha.

As duas voltam juntas à Belém, terra natal de Noemi, e Rute começa a trabalhar para um dos parentes da sogra a fim de sustentá-la. Com alguns arranjos de Noemi, Rute acaba se casando com esse homem e continuando o nome do falecido marido além de zelar pela sogra. Um livro sobre piedade filial. Apesar de ser uma história até bonitinha, percebe-se como as mulheres valem pouco na sociedade judaica. Como ainda hoje, suscetíveis aos horrores dos homens, muitas vezes nem salvas pelo casamento, sempre submissas e com o rosto por terra...

Uma coisa interessante de observar, e volto a salientar, é que Rute não era judia. Devemos perceber que houve pouco favor dos povos que cercavam os judeus ao longo dos livros até aqui. E, desde o início, a ordem de Deus era destruir todos os povos que ocupavam a terra prometida, embora presumo que Ele já soubesse que eles não iam fazer... Então, esse acontecimento ilustra, a meu ver, claro, uma certa abertura para nós, povos que não foram escolhidos, mas acolhidos por Cristo e, mesmo assim, vale lembrar que o ministério de Jesus era direcionado especificamente aos judeus, a gente tá falando de uma época bem anterior a isso.

Rute era viúva do filho de Noemi, mas não tinha motivo algum para continuar ao lado dela, mulheres não tinham voz e vez na sociedade e elas provavelmente passariam fome sem a proteção de um homem. Contudo, ao contrário da cunhada, cuja nacionalidade não é mencionada, ela permanece ao lado da sogra porque sabe que, com a perda dos filhos, ela não vai ter ninguém para olhar por ela, mesmo se alojando na casa de algum parente homem. E essa atitude de Rute, generosa e desprendida, nos remete ao mandamento de honrar pai e mãe, pois, no momento em que se casou, a mãe do marido passa a ser sua também. Pelo menos é como devia ser. E tem certo cunho pedagógico ao mostrar que ser fiel e obediente rende bons frutos ao filho.

Ainda assim, é uma história bonita, dá esperança. E conheci de onde veio o juramento parabatai feito por Cassandra Clare.

sábado, 8 de junho de 2024

[Livro] A Livraria dos Achados e Perdidos

Original: The Lost and Found Bookshop 

Autora: Susan Wiggs

Gêneros: Ficção, Romance contemporâneo, Romance de amor

Sinopse: Após uma tragédia, Natalie Harper herda a charmosa mas praticamente falida livraria antiga de sua mãe, localizada num prédio histórico no centro de São Francisco, na Califórnia, e a responsabilidade de cuidar do seu avô doente, Andrew.

Com a recusa de Andrew em vender a loja, Natalie deixa sua antiga vida — segura, confortável e previsível — para trás e volta para São Francisco determinada a recuperar a livraria que um dia foi seu lugar favorito no mundo. Porém, sua vida se parece mais com um livro de horror do que com um conto de fadas. O prédio está caindo aos pedaços, as dívidas se acumulam rapidamente, a saúde do avô entra em declínio e ela não consegue ver uma luz no fim do túnel.

Natalie precisa de um sinal, ou pelo menos de um livro que a ajude a resolver seus problemas, mas em vez disso recebe Peach Gallagher, contratado por sua mãe para fazer reparos no prédio. À medida que Peach começa seu trabalho, Natalie se vê envolvida numa jornada de novas conexões, descobertas e revelações, de artefatos antigos escondidos nas paredes da livraria até verdades inexploradas sobre sua família, seu futuro e seu coração.

Agora, sempre que vou comprar um livro, mando minha irmã escolher. Embora ela não goste muito de ler, suas mãos são mágicas para encontrar as melhores histórias. Um dom que eu, leitora maluca, não tenho. Na maior parte das vezes acabo comprando livros que findo por não gostar, mas até hoje não houve um livro que minha irmã escolheu que não fosse incrivel. Acho que deve ter algo a ver com a natureza generosa e mágica dela mesma que a faz ser atraída pelas melhores histórias.

De uma hora para outra a vida de Natalie Harper vira do avesso. Ela se vê sozinha cuidando do avô com problemas de memória e uma livraria à beira da falência. Sem rumo, pensando em tudo que perdeu, Natalie decide dar adeus ao seu trabalho estável e odioso para tentar reaver a livraria em nome do bem-estar do avô, mas logo descobre que esse empreendimento vai ser mais difícil do que parece. E isso ainda tendo que lidar com o charmoso e inteligente Peach, que sua mãe contratou para reformar a livraria mesmo sem ter nem metade do dinheiro para isso. Se virando nos trinta enquanto tenta equilibrar sua vida e superar os traumas, Natalie luta contra seus sentimentos por Peach e se envolve com Trevor, o escritor mais famoso do país que parece estar escondendo um enorme segredo.

Confesso que no começo achei o livro bem chato. A leitura começa um pouco arrastada e a gente só vai realmente engatar a história ali pelo capítulo seis ou oito. Contudo, uma vez presa nela, não conseguimos mais largar e era disso que eu precisava, um romancinho doce para deixar o coração quentinho e me lembrar porque eu amo tanto ler e criar histórias. E nada melhor que um livro sobre livros. Esse é aquele tipo de livro que nos faz recordar como livros são mágicos e podem fazer diferença significativa nas nossas vidas. Concordo com a mãe de Natalie quando diz que pode encontrar as respostas nos livros. É verdade. Embora boa parte dos meus professores de escrita criativa julgue como ruim qualquer coisa que escape do sacro clássico literário, livros como esse, tido por "ficção de venda" ou, como eles gostam de chamar "leitura ruim", podem ensinar e fazer a gente refletir sobre muita coisa. Até porque, nem todos de nós tem pretensão de ser o próximo Machado de Assis.

A história alterna pontos de vista entre Natalie, a maior parte do tempo, Andrew, o avô dela, e Peach. Ler os capítulos do avô dela era bem triste, ele sofria de demência e, lentamente, as memórias de toda a sua vida iam se extinguindo, tinha vezes que ele não reconhecia Natalie. Não consigo imaginar quão duro deve ser conviver com um ente querido que tem essa doença... e pra mim ele foi o personagem melhor construído na história, embora eu gostasse muito de Peach.

O personagem do escrito nem conseguiu me enganar, vejo que os livros de Agatha finalmente surtiram efeito quando vejo de cara um personagem que não é o que parece, embora a motivação dele tenha sido diferente do que eu imaginei. Natalie era nem verde nem vermelho pra mim, eu não desgostava dela enquanto personagem, mas não conseguia me conectar com ela tampouco. A mãe dela, por outro lado, era uma personagem que eu amei conhecer mesmo que pouco. Peach era ótimo, o tipo de personagem não perfeito demais para a gente desacreditar que existisse, mas na dose certa para fazer a gente se apaixonar por ele.

Gostava muito das suas tiradas irônicas e da forma como ele sabia agir no momento certo. Ele passava sempre aquela sinceridade e desprendimento de alguém que aprendeu lições da forma mais difícil. Os funcionários da livraria, embora não aparecessem tanto. E uma das coisas que mais gostei foi isso, a maneira como a autora tornava todos os personagens importantes mesmo não aparecendo muito, ela os construiu bem.

[Anime] Gekai Elise

 Original: 外科医エリーゼ

Gêneros: Fantasia, Romance

Episódios: 12

Ano: 2024

Sinopse: Em sua primeira vida, a renomada e genial cirurgiã Dra. Aoi Takamoto foi Elise de Clorance, uma vilã de ascendência nobre. O egoísmo, a insolência e o amor obsessivo de Elise por seu noivo - o príncipe Linden de Romanoff - levaram à morte de seus familiares e, eventualmente, dela mesma. Só depois de renascer é que Elise percebeu o erro de seus caminhos e decidiu que, em vez de arruinar vidas, se dedicaria a salvá-las. Mas um trágico acidente de avião rouba-lhe os sonhos cedo demais.

Por um milagre, Elise acorda em seu corpo original antes de seu noivado oficial com Linden. Reconhecendo a oportunidade de valorizar a sua amorosa família e libertar Linden de um casamento indesejado, Elise deseja usar o seu conhecimento médico avançado para continuar no caminho de salvar vidas. Num acordo com o imperador, Elise tem apenas seis meses para provar que o seu verdadeiro lugar não é no trono, mas sim junto dos feridos e doentes que precisam desesperadamente da sua ajuda.

Pelo amor do príncipe herdeiro, Elise de Clorance armou todas as ciladas possíveis para se tornar a rainha. Competitiva, fútil e cruel, sua ascensão foi tão difícil quanto sua queda foi rápida, terminando sem o amor que desejava e levando a um fim trágico os remanescentes da sua família. Com sorte, conseguiu renascer na modernidade e, para se libertar do seu passado sombrio, enfrentou as dificuldades de ser uma criança órfã e solitária, estudando para se tornar uma médica e salvar todas as vidas que pudesse. Com gentileza, diligência e disciplina. Elise, agora Aoi, se tornou a melhor cirurgiã do país, sendo chamada até mesmo internacionalmente para realizar procedimentos de risco.

Aoi é adorada por toda a equipe do hospital em que trabalha, além de respeitada e admirada por sua posição profissional e ousadia nas operações mais difícil as quais na quase totalidade conclui com êxito. Contudo, prestes a fazer uma cirurgia na Alemanha, o avião em que viajava sofre um grave acidente e, ferida, Aoi dá sua vida para salvar todos os passageiros que consegue, mas não consegue ser resgatada, morrendo assim que a ajuda chega. Todavia, talvez por suas boas ações, acaba acordando de volta no seu corpo de Elise, precisamente anos antes de se casar com o príncipe e se tornar a pior imperatriz da história do reino.

Tendo consigo o conhecimento médico da era moderna e sabendo tudo que vai acontecer, ela tenta desviar seus passos da vida que teve antes, fugindo do casamento com o príncipe que não nutria sentimentos por ela e a fez infeliz, além de lutando para ser reconhecida como médica e salvar o máximo de pessoas que puder, apagando qualquer vestígio da garota fútil e cruel que foi outrora. Porém, ela será mesmo capaz de mudar todo o seu destino nessa segunda chance em meio a luta de poder das facções dos dois irmãos?

Olha, fazia muito tempo que eu não ficava tão presa em um anime! Senti muitas saudades dessas histórias fofinhas e amo um plot de volta no tempo. Romancinho fofo, comédia na medida certa, um pouquinho de suspense e uma protagonista inteligente e corajosa, me lembrou um pouco de Shirayuki Hime, amei demais. Inclusive, se vocês souberem de mais animes nessa vibe, por favor, me indiquem. Já tinha um tempo que não via animes porque as histórias não estavam me chamando a atenção. 

segunda-feira, 3 de junho de 2024

[Bíblia] Juízes


 

Introdução

Juízes delineia a história do povo hebreu durante um período de cerca de 200 anos, da morte de Josué a meados do século XI antes da nossa era. É uma série de narrações de homens chamados juízes que eram, sobretudo, chefes militares em épocas perigosas. É um período de decadência política e religiosa, as tribos de Israel não têm força para se impor às populações cananéias — não totalmente conquistadas durante a vida de Josué e algumas até "perdoadas" pelos israelitas apenas sujeitos a impostos, contrariando as ordens de Deus — e filisteus, então começa a se deixar seduzir pela vida fácil e práticas idólatras desses povos.

Considerações pessoais

É preciso ter muito cuidado ao ler esse livro. Boa parte das histórias são bem chocantes e algumas práticas abomináveis. Poderia dizer que foi aqui que o povo hebreu começou a declinar de vez e, se pensarmos com atenção, veremos que até aqui era o próprio Deus que os liderava, imagina quando começarem a ser governados por outros homens! Sinceramente falando, a maior lição que eu tiro é que a humanidade é podre, desde o berço. O ser humano é péssimo, a cada capítulo novo tudo que eu sinto desse povo é raiva e vejo que Deus é pura misericórdia quando não dizimou essa gente toda de uma vez e começou a criação do zero.

Finalmente temos um protagonismo feminino! Acho que boa parte das religiões que vê a mulher como um ser inferior se pauta no antigo testamento. Embora seja o povo eleito, não acredito que os costumes ou o povo judeu seja o melhor exemplo a ser seguido, prova disso é que sabemos como o rumo das coisas culmina. Débora surge em juízes como uma das primeiras profetizas e juízas de Israel. É por ela que Deus comanda o povo contra Jabin, rei de Canaã. Gedeão, cuja história li em um livro bíblico infantil quando criança, também foi um juiz, escolhido para livrar o povo de Madiã que o oprimia. Detalhe que os pais de Gedeão, da tribo de Manassés, filho de José, também adorava outros "deuses" da terra de Canaã, mas Deus inspirou e escolheu seu filho como um juiz. Seu filho Abimalec, contudo, anos mais tarde, não honrou a progenitura assassinando seus irmãos a sangue frio para se tornar rei de Siquém. Um dos irmãos, contudo, escapou e expôs seu crime, mas ele ainda reinou por três anos em Israel. Seu fim, contudo, se deu por uma mulher em mais um protagonismo feminino.

O próximo juiz foi Jefté que lutou por Israel contra os amonitas, mas prometeu a Deus que, caso vencesse, ofereceria em holocausto o primeiro de sua casa que saísse para recebê-lo e eis que sai sua única filha! Ele então, cheio de remorso e tristeza, cumpre sua promessa. Porém nem todos os juízes eram realmente justos, a história de Sansão é uma prova. Outra das histórias bíblicas mais famosas, não sabia que era desse livro, sua saga, curta e trágica, conta que tal como os outros ele foi escolhido por Deus, mas a meu ver sua conduta não era reta e sua luxúria culminou na punição.

Mas de todos o mais ultrajante é o último capítulo, já nos apêndices, isso havia acontecido no Gênesis e volta a se repetir aqui, dessa vez tendo por crime a tribo de Benjamin. Um levita chega a uma cidade benjaminita, está de passagem para Efraim, um velho lhe dá abrigo pela noite, mas os habitantes da cidade se reúnem na frente da casa do velho e ordenam que façam sair o homem para que eles o conheçam, já expliquei o que isso significa. O velho, então, tal como Ló em Sodoma, oferece sua filha virgem e a concubina do levita para serem violentadas no lugar dele! Gente, qual o problema desse povo? Quer dizer, violentar uma mulher tudo bem, mas um homem jamais porque é uma infâmia abominável.

No fim eles atacam a concubina até matar! E depois jogam o corpo dela na frente da casa do velho e, se ela tivesse sobrevivido, o levita não teria feito nada, aposto. Contudo, ele pega o cadáver, esquarteja e manda um pedaço para cada uma das outras onze tribos que se revoltam e vem contra Benjamin. Quase aniquilam a tribo toda, mas no fim ainda a perdoam e não a retiram de Israel!!!! A "punição" é só que nenhum benjaminita pode mais casar com uma mulher das outras onze tribos, e é isso. Fim do Juízes, de novo ponto para os homens.

Poderia dizer que esse livro é considerado uma espécie de "pedagogia divina" e com isso não quero dizer que violentar mulheres tá liberado. As desgraças são consideradas como casrigo e a libertação como perdão. Deus é o único senhor e o único guia do seu povo. Jefté e sua história decepcionante nos mostram que os herois do povo de Deus, afinal, não passam de simples homens, mesmo escolhidos por Ele. Sansão, ainda como um eleito, é desobediente e enfrenta a punição divina. Mesmo cumprindo sua missão recebe o castigo por sua desobediência embora no fim alcance a misericórdia.

As duas histórias no apêndice: a construção do santuário e o episódio horroroso da violação de hospitalidade por parte de Benjamim que culminam em represálias violentas e cruéis, devem ser encaradas como uma representação da época que ainda era regida pela Lei de Talião na qual unicamente a crueldade servia para reprimir os abusos ou infrações ao direito comum. Deve-se notar, entretanto, que a relação não termina por um castigo ou exterminação, mas pela reintegração de Benjamin sinal de magnanimidade e perdão que só Deus tem, porque sinceramente.

Concluo que sou humana demais e falha demais para aceitar algumas coisas, como mulher me coloco no lugar daquela que suportou os horrores de uma morte cruel e sádica. Não sei se seria capaz de perdoar jamais a tribo de Benjamim e vejo porque o perdão é o mandamento mais difícil de Cristo. Apesar de um claro avanço com as personagens femininas, a bilblia ainda segue tratando mulheres como objetos de prazer e procriação. O maldito legado de Eva! Não à toa tantas religiões por aí se pautam nesses livros para oprimir, humilhar e matar mulheres. Realmente triste.

Mas, como disse antes, é preciso ler esse livro considerando o contexto histórico, ele reflete, sobretudo, o ápice da desobediência do povo que declina por se envolver com os pagãos, desobedecendo a Deus e se afastando ainda mais, não importando quantas punições e provações sejam enviadas para corrigi-los. E o tempo todo só fico me lembrando para não deixar de ser compreensiva porque fico cada livro menos simpática com Israel.

sábado, 1 de junho de 2024

[Drama] Passionate Love

Título original: 烈爱

Diretor: Xi Zi

Gêneros: Histórico, Romance, Drama

País: China

Episódios: 24 (15 min.)

Ano: 2023-2024

Sinopse: Duan Xun Chu, cuja família foi exterminada, interpretou mal sua cunhada mais velha, Lin Wen Yu, como filha de seu inimigo. Depois de conviver com o ódio por muitos anos, ele se tornou um general senhor da guerra e voltou em busca de vingança. Os dois continuaram a ter conflitos e mal-entendidos sob o emaranhado de ressentimentos familiares. No processo de separação, eles se apaixonaram secretamente e finalmente resolveram o mal-entendido, e os dois deram as mãos para avançar em direção ao futuro.

Anos após o massacre da sua família, do qual apenas ele e sua futura cunhada saíram ilesos, Xuan Chu retorna à cidade em busca de vingança. A primeira pessoa que ele vai destruir é sua antiga cunhada, responsável por avisar os inimigos que destruíram sua família e mataram seu irmão, Wen Yu. Porém, ao reencontrá-la com uma nova identidade e tocando um negócio de medicina, Xuan Chu se vê dividido entre o dever e os sentimentos que afloram dentro de si, não apenas dos anos que viveram juntos e nos quais ela cuidou dele, mas naqueles que luta para esconder porque ela era a noiva prometida de seu irmão.

Wen Yu, todavia, jura que tanto ela quanto o pai eram inocentes e ela jamais havia traído a família Duan. Buscando provar sua inocência e limpar o nome do seu pai, ela embarca em uma jornada perigosa e, contrariado, Xuan Chu a acompanha, pois não é capaz de deixá-la se machucar — aparentemente só ele mesmo pode fazer isso — aos poucos, a antiga confiança começa a retornar, mas ele não está disposto a acreditar nela ou a aceitar os sentimentos confusos no seu peito até ter absoluta certeza de que ela não é a responsável pelo fim da sua família.

A premissa desse drama é um pouco semelhante à Miss Mystery e desconfio que o tempo histórico seja o mesmo. Contudo, esse casal aqui foi zero química, zero parceria e zero shippagem. Xuan Chu parecia um troglodita a maior parte do tempo, fosse por acreditar que Wen Yu era sua inimiga, fosse por ter um ciúme doentio dela que, no final, não fazia o menor sentido. De sua parte, como protagonista feminina, a mulher só tinha a lábia de corajosa e destemida, mas no fim das contas só arrumava problema para si mesma e os outros e findava por ser a donzela em perigo, bem como aconteceu no drama supracitado.

Não gostei. Achei a história bem previsível, muito mais do mesmo porque parece que a maioria dos romances desses mini dramas dessa época se resume no mesmo plot desde de Maid's Revenge, um casal que era pra ser amor e ódio ou enemies to lovers, mas só entrega uma relação meio tóxica e cheia de problemática desnecessária. Não senti empatia por nenhum dos personagens e nem foi um drama que vibrei querendo terminar num só dia.  Pra piorar, achei a conclusão insossa e incompleta para dizer o mínimo. Ganhou um 6,0.

[Filme] O Último Capítulo

Original: I Am the Pretty Thing That Lives in the House

Ano: 2016

Diretor: Oz Perkins

Sinopse: Uma enfermeira é contratada para cuidar de uma escritora de livros de terror em sua casa, onde cada canto guarda um segredo.

Vi esse filme com a minha irmã no fim de semana passado. Como estou planejando uma história que envolve terror e suspense, me empenhei em ver filmes do gênero — apesar de não gostar de terror — para entrar na atmosfera. Contudo, me vi bastante surpresa com esse filme e logo vou dizer o porquê.

Após um término complicado, a enfermeira Lily aceita o contrato para cuidar de Iris Blum, uma renomada autora de terror que vive em uma casa antiga afastada de tudo. Porém, tão logo chega, ela consegue sentir que tem alguma coisa errada com o lugar, embora não saiba o que é e pense que não passa do seu medo de tudo, pois ela é muito impressionável. Iris não parece ser uma idosa difícil de cuidar, ela segue uma rotina simples e, mesmo não tendo televisão, Lily logo descobre que o tédio não será seu companheiro quando tenta descobrir quem é Polly, a pessoa que a escritora parece confundi-la constantemente.

Vindo a saber que Polly foi a personagem de um dos livros mais famosos de Iris, Lily, apesar de amedrontada, tenta ler a história para descobrir o que aconteceu com a garota no livro, contudo, não consegue ir muito longe por causa do medo. E é quando o fantasma de Polly passa a ser uma presença constante esgueirando-se nos cantos da casa escura como se quisesse dar um sinal. Iris continua chamando por Polly e parece nunca obter uma resposta. Em suas cautelosas investigações, Lily pode acabar chegando ao desfecho de um mistério macabro envolvendo a casa onde está que pode lhe custar muito caro.

O Último Capítulo é um terror atmosférico, nada de cenas violentas ou jump scares do nada a toda hora. Usando de uma narrativa poética que parece que estamos "vendo o filme" de um livro, ele nos envolve no seu clima de terror deixando a gente preso do início ao fim e oferecendo apenas o que precisamos saber sem jamais dar respostas para todas as charadas, abrindo espaço para tirarmos nossas próprias conclusões. É um "terror de detalhes", a história é lenta e contada em camadas e o tempo todo somos tomados pelo frio na espinha do que pode vir a qualquer momento.

Fiquei bem surpresa com isso. É um filme intrigante, a fotografia alternando planos escuros e claros que se casam com um ambiente inóspito, mas não decadente, e uma personagem medrosa tem os elementos perfeitos do que se poderia chamar de terror elegante. O foco não é a história ou o desenvolvimento dos personagens, mas o ambiente, o clima em si, a atmosfera criada. E, pode acreditar, assusta muito. Confesso que determinado acontecimento no final do filme me fez rir, não posso contar porque é spoiler, mas tanto eu quanto minha irmã ficamos divididas entre a incredulidade e as risadas.

Quebrando a tradição de fantasmas vingativos que descontam nos outros o que aconteceu com eles, aqui nós temos um fantasma que apenas quer, podemos dizer, "explicar" o que falta no último capítulo do livro de Iris. Lily, todavia, é o típico personagem medroso de filme de terror, mas muitas das suas atitudes contradiziam esse aspecto da sua personalidade. Ela era corajosa demais para alguém covarde, entendem?

Se você gosta do terror tradicional com monstros, fantasmas vingativos e sedentos de sangue ou tripas para todo lado, passe longe desse filme. O último capítulo é um terror conceitual, recheado de subtextos e entrelinhas. O próprio espectador é quem vai fechar as linhas e responder às questões deixadas para trás. Recomendo demais. Dá para ver com a família e discutir no final o que aconteceu.

sábado, 25 de maio de 2024

Você anda com pressa?

 Se o luto é um sentimento difícil de passar, ao mesmo tempo nos torna mais reflexivos acerca da nossa própria existência. Às vezes, penso que precisamos passar pela angústia excruciante da perda para nos lembrar que estamos aqui de passagem, sem saber a validade do nosso bilhete.

Passando por isso esses dias, comecei a perceber certos traços novos na minha conduta que não me agradaram em nada. Tenho ficado cada vez mais impaciente, seja para ler um livro longo, ver uma série com mais de dez minutos, continuar tarefas por longos períodos, enfim, focar. Eu nunca fui uma pessoa de atenção fixa por tempo demasiado, confesso, mas parece que ultimamente esse traço tem piorado e não gosto disso.

Não lembro a última vez que vi um drama cujos episódios tinham mais de dez minutos. Estou levando semanas para ler livros com duzentas páginas, alguns concordo que é a narrativa que não ajuda, mas outros é porque minhas prioridades estão se direcionando para os lugares errados. Estou preparando meu espírito para mudar isso.

Com a tecnologia, noto que estamos abandonando muita coisa. Não temos mais, de fato, tempo de qualidade para nada. Estamos cada vez mais online e esquecendo que a vida acontece offline. Particularmente, detesto deixar tarefas acumularem, mas esse tempo me fez perceber como tenho errado comigo mesma e perdido tempo com coisas que muito pouco me acrescentam e isso tem afetado não somete meu foco, mas minha capacidade de absorver com qualidade as coisas que consumo e as atividades que mais prezo, como a escrita.

Quero fazer jogos de palavras com a minha mãe. Me desligar dentro da minha própria história, ver um filme com pipoca junto da minha irmã, visitar uma amiga que não vejo há muito tempo. Preciso retomar as rédeas da minha vida e ficar mais tempo longe do celular.

E você? Sente também que está sendo engolido pelo mundo virtual e abandonando aos poucos o real? Concordo que é mais fácil, o mundo não está muito agradável de se olhar, mas o céu nunca é o mesmo, as nuvens nunca estão iguais e mesmo que se repita, o nascer e o pôr do sol nunca são iguais. Ainda há beleza para se ver. Enquanto nos lembrarmos de não normalizar a maldade do mundo, de valorizar aqueles que amamos e deixá-los cientes da importância que tem para nós, não com palavras, mas com atitudes, conseguiremos ver beleza no mundo e, ainda mais, dentro de nós.

[Bíblia] Josué

 

Josué é o primeiro dos chamado Livros Históricos que iniciam após o Pentateuco cujo último livro é o Deuteronômio. Dá continuação a este começando com os eventos após a morte de Moisés, quando o povo vai, de fato, entrar na terra prometida. Escolhido por Deus e instituído por Moisés, ele toma a missão de liderar o povo na ocupação da nova terra, tal como o extermínio dos povos ferozes.

Segundo a introdução, esse livro se passa no fim do século XIII a. C. os israelitas, lentamente, vão combatendo os povos e ocupando a terra, isso vai se dando em várias batalhas com seus altos e baixos. Nesse livro, há o primeiro protagonista feminino vindo de uma prostituta chamada Raab que salva espiões hebreus e é poupada por Deus do extermínio junto com sua família.

Outro episódio digno de nota é a abertura do Jordão no meio, comparada à abertura do mar vermelho. Dessa eu não sabia, foi uma grata surpresa ver o prodígio se repetindo. 

Deus ordena que Josué circuncide de novo o povo, tão logo passam pelo Jordão e entram em Jericó. Eles celebram a páscoa e começam a planejar a tomada de Jericó, essa se dá de forma interessante, as muralhas da cidade caem após os hebreus circundarem-na com a arca da aliança por sete vezes, assim, eles tomam Jericó.

Um dos israelitas, contudo, comete um crime escondendo espólios da terra destruída contra a vontade do Senhor, atraindo a ira de Deus sobre Israel. Assim, tanto Acã — o infrator — como sua família, seus animais e tudo que lhe pertencia foram apedrejados e depois queimados. Bárbaro? Sim, mas estou percebendo que o Antigo Testamento inteiro é bem violento... 

O livro encerra com a morte de Josué sem o povo ter ainda conquistado toda a terra. 

Um fato importante aqui é que Deus ordenou precisamente que se matasse todos os povos que ocupavam a terra prometida. Os judeus não deveriam se misturar, fazer acordos de paz ou deixar viver um só. E é por isso que as coisas começam a desandar como veremos nos livros a seguir. A desobediência é um traço do DNA humano ao que parece e, por isso, estamos assim hoje. Antes da morte de Josué, ele reparte a terra conquistada entre as doze tribos e os levitas. Tinha tudo pra dar certo? Tinha.

Mas não deu.

[Livro] A Pequena Loja de Venenos

Original: The Lost Apothecary

 Ano: 2022

Autora: Sarah Penner

Gêneros: Ficção histórica, Ficção Doméstica

Sinopse: UMA HISTÓRIA ESQUECIDA. UMA REDE SECRETA DE MULHERES. UM LEGADO DE ENVENENAMENTO E VINGANÇA.

Com um suspense palpitante, duas linhas do tempo e personagens inesquecíveis, A pequena loja de venenos é uma ficção histórica estonteante sobre segredos, sonhos e as formas extraordinárias com que as mulheres podem salvar umas às outras apesar da barreira do tempo.

No século XVIII, a Londres vitoriana escondia uma pequena botica que atendia a uma clientela peculiar. Nella, uma curandeira respeitada no passado, vendia venenos a mulheres que precisavam se livrar dos homens ameaçadores de suas vidas. Porém, quando uma garotinha de doze anos entrou no caminho da boticária, o futuro de seu trabalho foi posto em risco.

As consequências desse encontro ecoam através do tempo e chegam até aos dias atuais, reverberando em Caroline Parcewell, uma aspirante a historiadora cuja vida está de ponta cabeça. Com um casamento em ruínas e uma vida infeliz, Caroline encontra refúgio no mistério que envolve uma série de assassinatos por envenenamento séculos antes, um achado que a levará até Nella e sua loja. Após descobrir um frasco de boticário em uma caça relíquias no Tâmisa, a vida dela se entrelaçará com a da boticária em uma maravilhosa reviravolta do destino.


Na segunda passada (13) aconteceu uma tragédia familiar e fiquei essa semana praticamente inteira tentando reunir os pedaços que sobraram do meu coração. Não vou dizer que está tudo cem por cento, quando esse tipo de coisa acontece, parece errado qualquer sentimento de felicidade e algo que me ajudou bastante a passar por isso foi esse livro. Fiquei vidrada na história — tão logo tive cabeça para me concentrar nele de novo — e pude relembrar como a literatura tem sido meu grande suporte em todos esses anos da minha vida. Peguei a recomendação desse livro da Helaina do blog Mente Hipercriativa, amei a resenha dela e fiquei com muita vontade de ler, surgiu a oportunidade na feira de livros da minha cidade ano passado e comprei (não muito em conta, mas valeu cada centavo).

A história é narrada por três pontos de vista, o de Nella, uma boticária do final do século XVIII que é especializada na criação de diversificados venenos para mulheres que desejam se livrar de seus maridos abusadores, Eliza, uma menina de doze anos que trabalha para a casa de uma família rica e, nos dias atuais, de Caroline, uma mulher dos EUA enfrentando um problema no casamento. Da última vez que li um livro narrado por três mulheres só tive raiva (A garota no trem) então fui ler esse livro confiando no processo, no caso a resenha da Helaina que, por sinal, tem um fabuloso gosto literário.

Após uma tragédia na sua juventude, Nella ficou com o coração endurecido e, a até então loja de salvar vidas da sua mãe, foi mascarada por um lugar secreto onde ela fabricava venenos para mulheres que desejavam com desespero se livrar de um marido abusivo, um pai impiedoso, um irmão cruel, enfim, qualquer homem que as estivesse coagindo. E esse era um pacto que tinha consigo mesma, seus venenos sempre seriam usados contra homens, nunca contra mulheres. Ela documentava cada veneno vendido com o nome, a forma de ministração, o nome da vítima e do encarregado de buscá-lo.

Tudo muda quando, um dia, uma adolescente de não mais de doze anos aparece na sua loja para buscar um veneno previamente encomendado por sua patroa. Chegando lá, a menina explica que é para o seu patrão que começou a agir de maneira estranha com ela. Nella explica bem as condições e a ministração do veneno, deixando a garota consciente do que estava fazendo, mas Eliza, a jovem servente, é uma garota relativamente madura para sua idade, embora haja muito que não compreenda, matar uma pessoa está perfeitamente claro na sua mente.

A menina torna a aparecer alguns dias depois em busca de um remédio para afugentar fantasmas, pois acreditar estar sendo assombrada pelo fantasma do falecido patrão quando, na verdade, está apenas menstruando pela primeira vez. E chega em má hora, pois Nella está esperando outra cliente. Por alguma razão, naquele dia, ela sente algo errado, mas não consegue explicar o motivo. O que ela mais temia estava prestes a acontecer, uma mulher da nobreza aparece em sua loja para encomendar um veneno para a esposa do marido.

Diante da recusa veemente de Nella em vender a poção, atirando no fogo suas longas horas de trabalho, a mulher a ameaça com a justiça caso ela não refaça o veneno em pouco menos de cinco horas. Com a ajuda de Eliza e assolada por uma doença que a está matando, Nella corre contra o tempo para preservar as muitas mulheres que ajudou ao longo da vida, assim como aquela menina que insiste em ficar ao seu lado.

Enquanto isso, nos dias atuais, Caroline viaja sozinha para Londres no que deveria ser sua viagem de aniversário de casamento. Após descobrir a infidelidade do marido, precisa lidar com o rumo que sua vida tomou e repensar sua vida ao lado dele após dez anos de relação. Sozinha, ela começa a pesar todos os anos que viveu ao lado do marido e percebe o tipo de relação nada saudável que estava tendo, mas era cega demais para perceber. 

Após encontrar um frasco misterioso em uma espécie de caçada de relíquias organizada por um senhor que encontra à porta de um bar, ela embarca numa busca incansável para descobrir a origem do objeto e a história por trás dele enquanto tenta lidar com sua relação em decadência e redescobre a essência de ser ela mesma pela primeira vez em muito tempo.

O livro é viciante. A gente passa pelos capítulos que nem percebe, os que eu menos gostava eram os da Caroline, ela reúne tudo que eu não gosto em uma personagem. Talvez pelo fato de, graças a Deus, eu nunca ter sido casada sou incapaz de mostrar alguma empatia pela relação dela com o marido escroto, no lugar dela só penso que chutaria o traseiro dele, mandariam catar favas e seguiria minha vida muito melhor sozinha. Não tenho ideia do que é ter uma relação com uma pessoa por dez anos, especialmente o que seria abandonar um sonho de uma vida porque alguém não quer fazer parte dele. 

Sempre tive em mente que casamento era parceria. Apoio mútuo. Não um complemento das partes, mas, antes de tudo, um comum acordo de amizade e devoção. Talvez por isso eu tenha sido solteira a vida toda. Consigo entender bem mais os sentimentos de Nella e, mesmo sendo muito errado o que ela fazia, era empática com os motivos que a levaram a ir por aquele caminho, sobretudo considerando que a época não era nada favorável com as mulheres, não que hoje seja muito diferente. E Eliza, por mais errado que seja, em algumas partes eu ria da inocência dela, achava tão bonitinho. Me dava alguma nostalgia também de ver o mundo sob a ótica inocente dela, acreditando em magia.

Fui surpreendida com o final e fiquei muito feliz. Recomendo demais, vale a pena cada centavo e você não vai conseguir fechar até chegar a última página. Obrigada, Helaina, por mais uma indicação impecável. Inclusive, vão conhecer o blog dela, tem livros, séries, curiosidades, uma infinidade de coisas! Mente Hipercriativa.

[Bíblia] Deuteronômio

Deuteronômio significa "segunda lei" e é praticamente um livro religioso e jurídico. Funciona como um tipo de prelúdio antes da entrada do povo hebreu na terra prometida que ainda não estava completamente "desocupada". Começa com diversos discursos de Moisés ao povo, fazendo um apanhado desde o êxodo até os números, um resumão da jornada e, ao mesmo tempo, um puxão de orelha naquele povo cabeça dura.

Ele reforça as leis estabelecidas e faz um alerta para que, encerrando-se sua vida, eles permaneçam obedientes. Reinstitui os dez mandamentos e reforça que não é por merecimento deles que Deus extingue aquelas nações para lhes dar a terra, porque eles são um povo cabeça dura, mas por causa das perversidades daqueles povos é que o Senhor os entregava nas mãos de Israel.

Há, além do reforço das leis do levítico, instituição de novas leis e punições. Moisés critica a conduta do povo que, por isso, não permitiu a ele e nem a Aarão entrar na terra prometida. Faz um ritual para a posse de Josué como seu sucessor e líder do povo na jornada de conquista da terra. Antes de morrer, contudo, Deus lhe permitiu subir ao monte para ver de longe a terra que ele dava a seu povo.

"(...) Eu conheço as disposições que animam esse povo desde o presente, antes mesmo que o tenha introduzido na terra que lhe jurei dar. (Deut. 31, 21)"

Deus já sabia tudo que o povo ia fazer após a morte de Moisés, não era um povo confiável, mas ainda assim Ele insistia em lhes dar chances. Me pergunto se, desde o início, Ele sabia o rumo que tomaríamos para chegar ao ponto que estamos hoje. Se naquela época o povo era rebelde e hipócrita, que dirá o de hoje que estão ainda piores que Sodoma e Gomorra? É por causa dessa nossa iniquidade que virá o tormentoso fim. Melhor dizendo, já está vindo.

Moisés abençoa as tribos e profere também uma maldição dirigida a todos que se desencaminharem atraindo sobre todo o povo a cólera do Senhor. E é em cima do mesmo monte onde viu a terra prometida que ele morre. Isso encerra o livro.

Das coisas que mais me chamaram atenção fica o reforço enfático na lei do "olho por olho" "Não terás compaixão: vida por vida, olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé." (Deut. 19, 21) e também o destaque da lei do levirato em que, no caso da morte de um chefe de família sem deixar filhos, o cunhado deve se casar com a cunhada para continuar o legado do irmão (⊙_⊙) além da lei do divórcio (•ิ_•ิ)?  fiquei passadíssima quando vi! Inclusive, é um processo bem semelhante ao divórcio na China antiga, o homem escreve uma carta e dispensa a mulher que pode se casar de novo. Mas algo que me irrita muito é que sempre a mulher é errada, suja, ruim, menor. Nunca o homem. Eles podem tudo e são sempre perdoados com mais facilidade mesmo sendo os que cometem os piores crimes.

[Livro] Cem anos de Solidão — Li até a página 100 e...

Okay, não é como se eu tivesse desistido de ler — ainda —, mas quando o buzfeed colocou esse livro na lista de livros mais difíceis de ler, eu devia ter dado ouvidos e me preparado um pouco melhor.

Embora tenha um começo instigante até certo ponto, a melhor palavra para descrever esse livro é confuso, isso para dizer o mínimo. São várias linhas do tempo acompanhando as gerações da família Buendia onde todos os malditos homens se chamam José Arcádio ou variantes disso, chega um momento que você não sabe mais quem tá vivo, quem tá morto ou quem é quem.

Senti algumas analogias ao longo do livro, especialmente no que diz respeito a construção das sociedades desde os primórdios até a "modernidade" por assim dizer e, com isso, a evolução — ou não — do homem. A coisa é que minha edição tem folhas brancas e blocos de texto infinitos, o que sempre dá a sensação que o livro não avança, por mais fluida que seja a leitura até certo ponto também.

Decidi dar uma pausa e ir procurar outro livro, sem querer abandonar, vou dar outra chance pra ele quando me sentir mais disposta. Todo mundo deve falar bem desse clássico por alguma razão. No começo, o que me motivava era saber por que cargas d'água o tal coronel Aureliano tinha sido fuzilado e isso se explica quase no meio do primeiro arco. 

São várias histórias dentro da mesma família, umas coisas bem malucas que dão cara de fantasia com ficção histórica e devaneio de um autor chapado. Pelo menos era a impressão que eu tinha em boa parte da leitura dessas cem páginas hahaha. Cenas de erotismo, violência, pedofilia, incesto, definitivamente não é um livro para qualquer público.

Vou seguir com minhas leituras que, esse ano, seguem sem qualquer planejamento, e volto com a decisão de continuar ou não a leitura dele. Se prosseguir trago a resenha e as minhas impressões do livro como um todo. Esse mês de maio foi tenebroso pra mim, minha família perdeu uma pessoa importante, fiquei semanas sem conseguir fazer nada. Tudo atrasou.

domingo, 12 de maio de 2024

[Bíblia] Números — Parte 2

A história continua no ritmo do post anterior, o Senhor institui leis, o povo reclama, Deus os pune, Moisés intercede. Chegam a contestar o sacerdócio de Aarão, Deus prova que o escolheu, reclamam por água, Deus tira água de pedra literalmente falando.

Ocorrem as primeiras batalhas por território, Aarão morre, pois por ter pecado o Senhor disse que ele não habitaria a terra prometida. Seu filho Eleazar assume seu lugar como sacerdote, já que os outros dois filhos dele também tinham morrido por desobediência a Deus. Há o episódio da serpente de bronze quando o povo, mais uma vez, se volta contra Deus e ele envia serpentes de fogo contra eles, quando Moisés intercede, o Senhor ordena que faça uma serpente de bronze e a coloque sobre um poste, todo aquele que a olhasse seria salvo, um símbolo da vinda de Cristo, elevado na cruz pela salvação do mundo.

Os judeus continuam avançando e conquistando a terra como o Senhor havia prometido e eis que entra em cena Balaão de quem eu não tinha ouvido falar. Ele é recrutado pelo rei de Moab para amaldiçoar os judeus, mas Deus, contudo, o impede e ao invés disso abençoa Israel e profetiza o extermínio de todos os povos que ocupam a terra prometida.

Além disso, há algumas prescrições sobre cultura e rituais sacros, orientações sobre as leis reforçando alguns pontos do levítico e a questão da herança das mulheres que não tem irmãos em decorrência da morte do pai. Deus também faz novo recenseamento e ordena como a terra deve ser dividida entre as doze tribos.

Números é praticamente uma sequência do êxodo sem muitas novidades, a gente começa a pegar ranço do povo judeu, sendo bem franca, claramente com a faca e o queijo na mão, mas só sabem reclamar. Nisso, a gente começa a pensar no rumo que o próprio mundo tomou, nós hoje somos o que esse povo era no passado: rebeldes, distantes do Senhor, de coração endurecido e reclamões de carteirinha. Isso me entristece, sabe? Começo a analisar minhas atitudes e o rumo que dei pra minha vida e a me perguntar quanto desses judeus problemáticos há em mim. E fico ainda mais preocupada quando penso que a paciência de Deus é enorme, mas a ira dele, por mais breve que seja, é realmente assustadora...

domingo, 28 de abril de 2024

[Bíblia] Números — Parte 1

 E vamos ao quarto livro da Bíblia, os Números! Nossa, nem acredito que os posts já avançaram 4 livros. Esse tinha tudo para ser um daqueles livros bem monótonos, mas acaba que ele se equilibra bem embora tenha registros infinitos que por vezes era bem cansativo de ler, em especial pela infinidade de nomes esdrúxulos que os judeus usavam no passado e boa parte eu nem sabia pronunciar.

Números trata, inicialmente, da organização do povo de Israel antes de entrar na terra prometida. De início eu pensei que ia ser mais ou menos o IBGE da antiguidade, mas acabei descobrindo que os números caem, por isso há esse registro.

No começo, Deus manda contar todos os homens (porque mulher não vale) e meninos e divide-os por suas tribos ordenando que acampem assim. Separa, contudo, os levitas a quem designa como os primeiros "acólitos" responsáveis por servir no tabernáculo e ficarem sob as ordens de Aarão.

Há alguma recapitulação das leis e instituição de novas, tanto sobre o serviço no tabernáculo quanto sobre o convívio moral e social do povo. Então começa a caminhada e os problemas. Moisés deve ser o primeiro Jó, nunca vi! Parte o povo para o deserto e já começa a reclamar, nada nunca está bom, acabaram de se livrar da escravidão, mas não são gratos, só murmuram contra Deus e contra Moisés. Falta carne, falta pão, sempre falta alguma coisa.

E Deus se ira contra esse povo, contei umas três vezes que eles estiveram por um triz de temperar a areia do deserto e se não foram, foi por causa de Moisés. Primeiro, morreu um monte de tanto comer carne, depois morreram outros por reclamar contra Moisés e ainda morreu outro por fazer ofertas sem ser pedido! E, não satisfeito, esse povo ainda se revolta!
"Até quando me desprezará esse povo? Até quando não acreditará em mim, apesar de todos os prodígios que fiz no meio dele? Vou destruí-lo ferindo-o de peste."

E lá vai Moisés implorar perdão. De novo. Vi um meme esses dias que a pessoa não sabia como Moisés aguentou 40 anos sem dar uma cajadada na cabeça desse povo e sabe que eu até concordo? Ficava me perguntando o mesmo. Isso me fez pensar em como a nossa sede de "ter" cega a gente para Deus, quem sabe por isso Jesus nasceu numa manjedoura mesmo sendo literalmente o dono do mundo, para nos mostrar que a gente precisa de muito pouco pra ser feliz. O capitalismo nos "molda" para sempre desejar por mais, muitas vezes coisas que a gente nem precisa, e se faz necessário parar e refletir de onde vem essa nossa ganância desmedida de sempre querer ter e ter sem nunca estar saciado. E pior, cego à necessidade de quem realmente precisa.


domingo, 21 de abril de 2024

[Música] Break The Mold e a luta contra si mesmo

 Não sei se já disse isso aqui, mas minha irmã é grande fã do Three Days Grace, e, em consequência, do Adam Gontier. Quando ele saiu da banda ela ficou bem chateada, mas anos depois, eis que ele retorna com o Saint Asonia, sua nova banda. 

Nesse sábado, quando essa música tocava, começamos a comentar nossas perspectivas acerca da letra e percebi que elas eram bem diferentes. Enquanto a dela era mais "otimista" por assim dizer, a minha era um pouco mais psicológica e deprimente. Isso se deve ao fato de minha irmã ser uma pessoa psicologicamente saudável. E noto como isso influencia na maneira como vemos o mundo. Mas, parando para refletir sobre a letra, percebo que talvez eu não esteja tão errada na minha maneira de encará-la, em especial porque Adam ficou conhecido no Three Days Grace por músicas profundamente expressivas acerca dos seus conflitos internos.

Assim, decidi trazer para vocês minha visão sobre a letra Break The Mold, uma das melhores do álbum Extrovert da banda. No fim, digam aí se concordam comigo ou não.

Lembrando que análises de música são muito subjetivas, as pessoas não encaram a arte da mesma forma.

Como podemos seguir em frente quando o tempo está congelado?
Quanto tempo até vermos que estamos todos tão quebrados?
Até certo ponto as músicas do Adam costumam ser bem metafóricas
Mas sabe quando um livro já começa com aquela provocação? 
Pois bem, é o que acontece com essa música. Veja que ele usa o plural
no início do refrão, mas durante a música muda o eu lírico para a 
primeira pessoa, salientando que isso não é uma questão só dele
outras pessoas vivem o mesmo inferno, aprisionados dentro de si mesmo.
E ele entende isso.

Eu consigo sentir as paredes se fechando ao meu redor
E eu consigo ver a nuvem negra vindo pra cima de mim
Eu não consigo respirar
É como se eles estivessem me sufocando
Se eu desistir, esse será o meu fim?
Então, voltando ao que falei nas primeiras estrofes,
percebe que o eu lírico agora mudou para primeira pessoa?
A sensação de sufocar, de estar sendo encurralado e de 
prenunciar o pior se aproximando. Eu consigo entender tão bem.
Mentes ansiosas funcionam exatamente assim. A minha ao menos.
Esse "eles" que o sufocam são seus pensamentos, o excesso de
medo e pânico que o engole todo o tempo. E ele sabe, a partir do 
momento que se entregar, acabou.

Como podemos seguir em frente quando o tempo está congelado?
Quanto tempo até vermos que estamos todos tão quebrados?
Eu não vou desistir
Preso em um mundo tão frio
Como eu posso quebrar o molde?
Conversando com a minha irmã, ela encara essa música como uma 
espécie de crítica social, e não está errada de toda forma.
Com o refrão inteiro assim eu concordo com ela também.
Mas quebrar o molde aqui é mais do que fugir das regras impostas
pela sociedade. É tentar escapar do caos dentro de nós, quando ele diz
que está "preso em um mundo tão frio" ele fala de um mundo que não 
é capaz de entender como ele se sente, não se importa, trata como se fosse
apenas a falta de vontade dele em melhorar, o "mimimi", o querer chamar
atenção. E o que mais gosto é que, mesmo diante de tudo isso ele encontra um
fio de esperança, ele não vai desistir. Ele continua buscando uma forma de escapar.

Eu não consigo me mexer
É como se eles tivessem amarrado seus pesos em mim
Eu não consigo nadar
Seria esse o meu fim?
Sabe que qualquer pessoa que já passou por uma crise de pânico
ou mesmo de nervos se sente exatamente desse jeito? Parece o fim
que a gente vai morrer. Coração a mil, pensamentos focados no pior
cenário, os pulmões parecem incapazes de processar o ar. A gente realmente
acredita que vai morrer. E ele descreve isso, a paralisia da crise.

[refrão]

Eu nunca vou me encaixar nos padrões
Eu não posso ser comprado e vendido
Eu não confio mais na raiva
Eu nunca vou perder o controle
Eu sei que ansiedade tem cura. Depressão tem cura.
Mas é um processo difícil e varia muito de pessoa
para pessoa. Quando ouvi essa parte da música a 
primeira vez, pensei naquele momento que a gente
alcança certo estágio e pensa que consegue passar por
isso sem ajuda. E tenta mesmo, com todas as forças, manter
o controle da própria mente. Mas raramente dá certo.
A gente apenas aceita que não é "normal" e liga o 
foda-se.

Eu nunca vou ficar nas linhas deles
Assistindo tudo desenrolar
Você não pode controlar o que é meu
Como eu posso quebrar o molde?
Essas duas estrofes me falam muito sobre a incompreensão, na maioria das vezes vindas da nossa própria família que nunca acha que a gente se esforça o suficiente, continua achando que é tudo coisa da "nossa cabeça". Quando ele diz "você não pode controlar o que é meu" é o mesmo que falar que ninguém pode dizer como o outro se sente se não passa o mesmo que ele. São pessoas que ficam apenas "assistindo" sem se colocar no nosso lugar.  E aqui, "quebrar o molde" também pode significar quebrar os estereótipos, quebrar a visão errada que os outros têm sobre a nossa mente. Sobre a selva diária que enfrentamos sem nunca alcançar o que esperam de nós.

[refrão]

E você? Como encara a letra dessa música? É do time da minha irmã que acha que é uma crítica social? Acho que consigo vê-la nesse viés sim de alguma forma. Mas essa foi a impressão que tive quando ouvi ela a primeira vez.



[Bíblia] Levítico - Parte II

 E voltamos com a última parte do Levítico. Só quero voltar a salientar o que disse na parte anterior, a gente não deve, de modo nenhum, levar esse livro ao pé da letra. Na verdade toda a parte do antigo testamento é considerada histórica, uma preparação do caminho para a vinda de Cristo que, com seu testemunho e ensinamento, ressignifica toda a lei. Claro que tampouco estou dizendo que tudo está liberado e a gente tem que viver como quer porque Deus perdoa. Mas precisamos ter atenção ao contexto histórico no qual o livro está alocado e a sua função a partir da perspectiva de Jesus, que é a quem seguimos.

"Se um homem tomar a sua irmã, filha de seu pai, ou sua mãe, e vir a sua nudez, e ela vir a sua, isso é uma coisa infame. Serão exterminados sob os olhos de seus compatriotas." (20,17)

Se entendi direito, configura incesto entre apenas pessoas  com relação de sangue.

"Se um homem tomar por mulheres a filha e a mãe, cometerá um crime. Serão queimados no fogo, o homem e as mulheres, para que não haja tal crime no meio de vós." (20, 14)

Achei pesadíssimo. Só não entendi se trata do incesto parental ou  de qualquer situação do tipo. E, no caso do pai tomar a filha contra a vontade dela? Parece que incesto é ainda mais abominável que homossexualidade dada a punição.

"Qualquer homem ou mulher que evocar os espíritos ou fizer adivinhações, será morto. Serão apedrejados e levarão sua culpa." (20,27)

Seria isso a doutrina espírita ou as tais xamãs? Vi nesse livro que feiticeiras também devem ser mortas. Dever vir daqui desde a inquisição até hoje metade do fanatismo extremo. Ainda assim, o texto em nenhum momento é claro sobre que tipo de prática seria, imagino que seja a necromancia que era praticada por alguns povos na época.

Há, no capítulo 21, uma parte (v. 13) que afirma que o sacerdote pode ter uma esposa, desde que esta seja virgem. Fico imaginando se isso se devia a continuidade da linhagem de Aarão como sacerdote ou se o celibato de hoje se deve à jornada de Cristo ou a seus apóstolos que, até onde me consta, não se casavam, e mesmo alguns já casados, como Pedro, deixou para trás a esposa. Outra coisa que se destacou foi a respeito das pessoas com deformidade não poderem ser sacerdotes nem poder se aproximarem do altar... achei essa distinção e exclusão cruéis, e enfatiza muito que tudo oferecido deve ser "sem defeito". Como um povo se revolta tanto pode oferecer qualquer coisa "perfeita"?

"Todo aquele que amaldiçoar o seu Deus levará o seu pecado. Quem blasfemar o nome do Senhor será punido de morte: toda a assembleia o apedrejará. Quer seja ele estrangeiro ou natural, se blasfemar contra o santo nome será punido de morte." (24,15-16)

Agora me digam, se a gente levar isso ao pé da letra ao invés de ler o novo testamento e entender os ensinamentos de Jesus e a ressignificação da velha aliança, quantas pessoas estariam vivas hoje? Quanto sangue nós teríamos nas mãos? A primeira pessoa que eu ia matar era meu pai. Entendem quando eu digo que Cristo muda tudo? A partir do sacrifício dele cada um é responsável pela sua salvação, ela deixa de ser coletiva. A gente faz a nossa parte, mas sobretudo dando testemunho com nosso próprio exemplo de vida. Jesus acolheu mesmo aqueles que não acreditavam nele, que professavam uma fé diferente, como a samaritana.

O sermão da montanha, por exemplo, é a passagem que muda a maior parte da lei do levítico, extrai-se a violência e a intolerância e prega-se o respeito, a compaixão, a serenidade e a pacificidade.

"Todo aquele que ferir mortalmente um homem será morto. Vida por vida. Se um homem ferir o próximo, assim como fez, assim se lhe fará a ele: fratura por fratura, olho por olho e dente por dente. Sofrerá o mesmo que ele fez ao seu próximo." (24, 17-20)

Vou comentar isso com apenas uma frase: "Perdoai para alcançar o perdão;" (MT 6, 14-15)

Ainda teve a lei contra agiotagem que também pensei que era em provérbios, confessar que esse livro foi bem difícil de ler e me deixou com muitas interrogações. As leis se contradiziam entre si, uma hora o mandamento é "não matarás"  e logo pode matar o blasfemo, o sodomita, o incestuoso, o assassino. Outra coisa que me incomodou muito foi como a mulher vale pouco, tudo é nossa culpa tudo é menos com a gente, tudo que fazemos é errado, "impuro". E pelo que li até agora vejo que isso é bem arraigado na lei judaica, a mulher está sempre no último degrau, as coisas mudam muito pouco ao longo do tempo.

Contudo, com minha passagem pelo Evangelho de Mateus consegui me sentir um pouco melhor e ter uma visão mais ampla desse texto. Por isso saliento, sempre tenha cuidado de contextualizar o livro no momento histórico e na sua função segundo a perspectiva de Jesus. Do contrário, o caos vai estar armado porque vão achar que pode tudo já que está na bíblia. E aqui terminamos Levítico.

 

 

sábado, 20 de abril de 2024

[Filme] (Re)Vendo todas as adaptações da Cinderella - Parte 3

 Também em 2018 fizeram essa peculiar animação que tinha o intuito de funcionar como uma subversão do conto original. A premissa é similar a ideia do filme Deu a Louca na Cinderela (que, por sinal, eu não coloquei nessa lista) mas reimagina o mundo no qual a fada madrinha é a vilã. 

Vou contar a vocês que a ideia era boa, mas o desenvolvimento foi péssimo, não somente pela escolha do enredo cíclico, mas o gráfico da animação é pavoroso, a história não se esforça muito de modo que em dois minutos de filme eu já tinha matado toda a charada, é uma pena porque a ideia era realmente interessante e, nas mãos do roteirista certo, teria se saído muito bem.

Confesso pra vocês que não tinha nem conhecimento da existência dessa animação, descobri quando comecei a listar e procurar outras versões da Cinderella. Não recomendo. Nem pra criança esse é um filme decente por melhor que a ideia tenha sido.

E voltamos para outra "nova" Cinderella, dessa vez no longa Milagre de Natal lançado em 2019 trazendo a Disney star Laura Marano, cuja existência descobri nesse filme, e Gregg Sulkin. Esse é daqueles filmes natalinos bem cara Sessão da Tarde e se entrou na minha lista foi porque minha irmã ama filmes de natal.

Mas confesso que me surpreendi bastante. Ele conta a história de Kat Dekker, cuja mãe morreu na infância e o pai, um explorador famoso e defensor dos animais, faleceu dois anos antes deixando-a sozinha sob a tutela da madrasta e das irmãs postiças até fazer dezoito anos, quando finalmente poderia tomar posse da sua herança — se sobrasse alguma — e viver a própria vida.

Ela trabalha na Noelândia junto com sua melhor amiga Isla, como uma duende cantora e tem uma voz muito bonita. Seu sonho é ser cantora e poder cantar suas composições no teatro ou fazer trilha sonora para filmes. Ela acaba conhecendo o "príncipe" Dominik Wintergarden de um jeito bem constrangedor e espera não vê-lo nunca mais, contudo o destino tem outros planos e ele acaba indo trabalhar no mesmo lugar que ela, mesmo sendo o dono de todo o lugar. Todos os anos, o bilionário pai dele oferece um baile de natal para arrecadar fundos para animais em perigo de extinção e doentes ou desabrigados.

A madrasta de Kat vê nisso a oportunidade de empurrar sua filha Joy para Dominik e tentar laçar o bilionário, enquanto Kat continua se escondendo dele de todas as formas. A sorte está lançada.

Embora não seja daqueles filmes memoráveis, o timing cômico dele é muito bom, o romancinho é fofo e o desenvolvimento da história, apesar de bem previsível, funciona bem. Gostei bem mais do que esperava e recomendo bastante.

Saindo das cidades modernas americanas ou da medieval sociedade francesa, Três desejos para Cinderela, lançado em 2021, nos transporta para as planícies geladas da Noruega. O pai de Cinderela tinha uma modesta propriedade no inóspito reino das montanhas geladas da Noruega medieval. Sua filha única Cinderela era uma encantadora e inteligente jovem a quem ele ensinou a caçar, mas acabou se casando novamente com uma sofisticada mulher que tinha uma filha desajeitada e, apesar de bonita, sem qualquer vontade própria.

Com a morte do pai, Cinderela passou a viver sozinha com a madrasta que a tratava como uma serva e a proibia de sair de casa, forçando-a a dormir no estábulo e excluindo-a de qualquer evento envolvendo a família. Ainda assim, a jovem contava com a bondade e amizade de todos os servos da propriedade que a adoravam, além de ter uma profunda conexão com os animais. 

O rei estava preparando um baile para seu inescrupuloso e mimado filho escolhesse uma esposa — antes que ele mesmo fizesse por ele — e é claro que a madrasta queria sua filha com a coroa. Ela não tinha nem ideia que, em uma de suas fugas durante a visita real, Cinderela acabaria conhecendo o príncipe que lhe deixou encantado com sua impetuosidade. Seu melhor amigo e principal criado da casa lhe traz três nozes e a garota descobre que são encantadas. Três chances de conquistar o príncipe e encontrar o verdadeiro amor, ela será capaz de arriscar?

O longa é um frescor na já batida história da Cinderela, trazendo um gélido ar novo e seguindo de perto o conto original, mas mantendo sua própria identidade. Uma princesa que é frágil, mas não inútil, um príncipe inconveniente e mimado em busca da própria identidade e uma madrasta egoísta e sedenta de poder. Tudo isso embalado pelas belas e geladas planícies norueguesas. Recomendo demais essa versão, é a prova que a mesma história nas mãos de um roteirista competente pode sim se renovar. Não tenho certeza, mas esse filme parecer ser um remake de um outro de mesmo novo produzido pela Alemanha oriental e Tchecoeslováquia em 1973.

Esse foi outro que achei por acaso enquanto pesquisava sobre as adaptações. Em outra "nova" Cinderela, dessa vez Superstar, lançada também em 2021, nós temos Finley, cujo pai era dono de uma bela propriedade rural onde ela cresceu. Infelizmente, ele teve a infame ideia de se casar de novo com uma mulher fútil que tinha um casal de filhos, uma garota com nada no lugar do cérebro e um garoto com o melhor perfil de sociopata.

Quando as gravações de um filme do famoso ator Jackson Stone vão para a cidade, claro que Finley quer ir às audições, pois seu sonho é se tornar uma famosa atriz, e é claro que tanto a madrasta quanto a irmã não querem isso. Ainda assim, ela consegue escapar, mas as coisas não saem como ela gostaria e, para não perder de vez a oportunidade, ela recorre a um recurso de emergência. Agora, vivendo duas vidas enquanto se aproxima de um modo perigoso de Jackson, Finley precisa dar tudo de si para agarrar sua última chance de salvar sua casa e realizar seu sonho.

Olha, depois da Cinderela mecânica, duende de natal e garçonete, uma Cinderela fanzendeira era o que estava faltando, concorda? E eis que temos uma! Com pouquíssimas novidades narrativas, o longa se confia na comédia para funcionar e até que dá certo, embora seja tudo quanto nós já vimos um milhão de vezes antes. Esse recurso do crossdressing já está bem batido. É o tipo de filme também sessão da tarde, não acrescenta muito, mas dá para passar o tempo e de quebra umas risadas. Não é ruim, tampouco marcante.

Filmes que não consegui assistir:

Rodgers & Hammerstein's Cinderella (1997)Queria muito ver, mas não encontrei legendado em lugar nenhum. Na verdade, não encontrei. É um telefilme com ninguém menos que Withney Houston no papel da fada madrinha! E conta com uma Cinderela negra e um príncipe asiático, um super elenco diversificado para uma Disney sumariamente branca até pouco tempo. 
O filme é baseado em um musical da Broadway contando com, além da imortal Withney, Whoopi Goldberg, Paolo Montalbán e Bernadette Peters no elenco.



Cinderela: Depois do Para Sempre (2019)
— Esse também não encontrei. Tem cara de ser duvidoso? Tem. Ainda assim a premissa é interessante e explora uma ótica que os outros filmes, além do Cinderella 2 da Disney, não se preocuparam em usar.



Filmes que não vi porque não quis mesmo:

Cinderella (2021)
— Nada contra a Camila Cabello, eu nem escuto as músicas dela e nem sei nada da carreira dela tampouco, mas que esse filme dela soa forçado e com muita vontade de ser revolucionário — mas só soando forçado mesmo — isso é. Até comecei a ver uma parte, mas dropei. Narrativa insossa, personagens caricatos e um roteiro que luta muito para se levar a sério e acaba falhando. Quem gostou me desculpe, mas não pretendo terminar.






Cinderela Pop (2019)
— Esse conto apareceu no Livro das Princesas, e depois Paula Pimenta foi convidada a fazer uma versão estendida que eu não li. Achei a versão do conto tão sem sal que não me interessei em ler a outra. E tampouco dei atenção ao longa quando foi lançado. E não tenho nada contra o cinema e a literatura nacional, mas nem o estilo da Paula Pimenta me atrai, e já li outros livros dela antes, nem a história me pareceu boa suficiente para me fazer sentar uma hora na frente do computador pra ver o filme.



E é isso, pessoas. Deve ter algum filme da Cinderela que eu deixei passar porque parece que a lista não termina. Mas esses foram os que vi, os que queria, mas não consegui e os que não quero mesmo assistir. Talvez mude de ideia depois? Talvez. Caso aconteça, trago as resenhas separadas. Espero que tenham gostado e me contem qual versão da Cinderela vocês mais gostam!