Neemias era copeiro do rei Ataxerxes I (465-424), quando um de seus compatriotas chega à cidade de Susã, ele lhe pede notícias sobre Jerusalém e o povo liberto do cativeiro, mas a resposta não serve senão para agustiá-lo. Hanani lhe conta que o povo está na miséria, os muros da cidade estão em ruínas e os portões incendiados.
Entendendo que, cronologicamente, este livro se insere depois de Esdras, supõe-se que a reforma estabelecida por ele não durou muito e o povo voltou a cair em pecado atraindo a fúria de Deus que lhes retirou o favor mais uma vez, deixando-os a mercê de seus inimigos. Consternado, Neemias faz uma fervorosa oração à Deus, suplicando misericórdia e pedindo para alcançar o favor do rei, podendo retornar à sua terra.
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Tal como seu antecessor, o livro de Neemias também é narrado em primeira pessoa, o que nos aproxima mais de sua pessoa, pois nos conecta com seus pensamentos e sentimentos e nos oferece uma visão parcial do mundo da época. Isso me faz pensar que a história nem sempre é escrita pelos vencedores, em boa parte, seu texto é tecido pelos sobreviventes. Esse pensamento se aplica com precisão a esses livros até aqui.
Após sua prece, Neemias buscou uma oportunidade de falar com o rei quando ele estivesse na presença da rainha para que, em caso de recusa, ela interviesse em seu favor. O rei, todavia, mostrou-se favorável a ele tão logo estipulou um prazo para sua volta. Assim, partiu o copeiro levando consigo algumas cartas do rei para conseguir passagem no além-rio.
Chegando à Jerusalém, atestou que seus muros estavam mesmo destruídos e suas portas consumidas pelas chamas. Cheio do espírito e temor de Deus, animou seus compatriotas à reconstrução independente da troça de seus inimigos que planejavam contra eles para impedi-los de reconstruir. Neemias enfrentava, contudo, mais que os povos opositores, mas uma facção do seu próprio povo que, a despeito da reforma de Esdras, compactuavam com os estrangeiros em favor de alianças matrimoniais.
As obras prosseguiram com cuidado redobrados, os homens precisavam trabalhar armados e fazer turnos de vigia para prever o ataque dos inimigos.
Além de toda essa dificuldade, o próprio povo se voltava contra os seus, aqueles que muito tinham tomavam por meio de juros os que quase nada possuíam forçando-os a vender os próprios filhos como forma de sobreviver. Enojado, Neemias os repreendeu duramente tão logo ouviu o lamento do povo, lembrando-lhes da lei do Senhor e da vergonha que sua nação representava para eles diante de Deus. Fê-los prometer devolver os bens cobrados a juro e não mais prosseguir de tal forma contra seu próprio povo.
Os
inimigos dos judeus, vendo reconstruídas as muralhas e nem mais uma brecha,
começaram a criar boatos sobre Neemias estar planejando uma revolta com a
intenção de se tornar rei dos judeus e passaram a ameaçar levar essas fantasias
ao rei. Enquanto isso, agora no posto de governador instituído pelo rei, ele
continuava a obra sem cobrar seus direitos de posto para não oprimir o povo que
já passava por dificuldades.
Prontas as muralhas no sexto mês, Neemias organizou os turnos de vigília e entregou a segurança a seu irmão Hananias, que era um homem de Deus. Feito isso, inspirado por Deus, ordenou um recenseamento do povo começando por aqueles que haviam sido libertados da Babilônia, entre os quais estava Mardoqueu, primo de Hadassa, que terá papel relevante no Livro de Ester.
No primeiro dia do sétimo mês, Neemias reuniu todo o povo diante da porta da água, em um pátio, e pediu ao sacerdote Esdras que trouxesse o livro da lei. O sacerdote apresentou o livro diante do povo e foi feita sua leitura da manhã até o meio-dia. Lia e explicava o sentido de cada parte distintamente para que se pudesse compreender a leitura. E temos aqui a primeira celebração da Palavra!
No vigésimo dia do mesmo mês, vestindo sacos e com a cabeça coberta de pó, os israelitas se reuniram para um jejum. Escutavam a palavra de Deus e por um quarto do dia, durante o outro quarto do dia confessavam seus pecados e prostravam-se diante do Senhor, e assim aconteceu a primeira confissão comunitária. É interessante ver nesse livro os primeiros passos do que se tornaria o rito da missa. Após uma grande prece, na qual é relembrada a trajetória do povo desde sua saída do Egito, faz-se a renovação da aliança na qual se comprometem a seguir os preceitos da lei.
Contudo, a realidade era menos brilhante que o entusiasmo fervoroso de Neemias. Tendo ele voltado para Susã, o povo voltou a transgredir a aliança e descumprir a lei. Em seu retorno, mais tarde, consternou-se ao atestar a facilidade com que se corrompia seus corações. Repreendeu-os duramente e trabalhou para recolocar as coisas em ordem, banindo, inclusive, alguns dos seus irmãos por graves transgressões contra o templo do Senhor.
O livro de Neemias traz, como o de Esdras, os primórdios da igreja a partir da observância de seus ritos e normas, mas também apresenta a intolerância religiosa por parte de alguns dentro do templo, um fato que prossegue até nos dias de hoje e nos recorda que, mesmo sendo Deus soberano e sábio, aqueles que lhe servem são homens falhos, destituídos de perfeição. Hoje mais do que nunca vejo esse povo intolerante e duro de Israel esculpido na sociedade individualista e egoísta que não percebe dos sinais da ira de Deus ao seu coração corrompido.
Estamos condenando a nós mesmos no caminho do fim. Nunca antes os homens foram mais cegos e ignorantes do que agora e cada vez menos são os chamados à conversão e claridade. Antes, era um papel de alguns, hoje é de cada um de nós. A igreja está perdendo sua voz, o povo escolhido seguiu um caminho sem volta, a humanidade perdeu o verdadeiro sentido da consciência e não consigo ver nada à frente além do grande castigo pelos nossos inúmeros pecados.
“Pois vós sois um Deus sempre pronto ao perdão, clemente e compassivo. Vagaroso em encolerizar-se e rico em bondade e assim não os abandonastes.” Nee 9,17
Setembro é o mês da bíblia, sei que ando sumida do blog, mas estou tendo dificuldades em administrar o meu tempo, querendo fazer muita coisa ao mesmo tempo. Vou tentar trazer mais posts da bíblia para cá esse mês já que é um tempo de incentivo ao conhecimento da palavra.
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