sexta-feira, 22 de maio de 2020

[Livro] A Boa Filha

Original: The good daughter
Autora: KARIN SLAUGHTER
Gêneros: Ficção, Mistério, Suspense
Páginas: 464
Ano: 2017

SINOPSE: Quando eram adolescentes, a vida tranquila de Charlotte e Samantha Quinn foi destruída por um terrível ataque em sua casa. Sua mãe foi assassinada. Seu pai – um famoso advogado de defesa de Pikeville, Geórgia – ficou arrasado. E a família foi dividida por anos, para além de qualquer conserto, consumida pelos segredos daquela noite terrível. Vinte e oito anos depois, Charlie seguiu os passos de Rusty, seu pai, e se tornou advogada – mas está determinada a ser diferente dele. Quando outro caso de violência assombra Pikeville, Charlie acaba embarcando em um pesadelo que a obriga a olhar para trás e reviver o passado. Além de ser a primeira testemunha a chegar na cena, o caso também revela as memórias que ela passou tanto tempo tentando esconder. Agora, a verdade chocante sobre o crime que destruiu sua família há quase trinta anos não poderá mais permanecer enterrada e Charlotte precisa se reencontrar com Samantha, não apenas para lidar com o crime, mas também com o trauma vivido.

Quero começar dizendo que estou orgulhosa de mim mesma por ter conseguido chegar ao final desse livro. Sério, não tenho ideia de como não abandonei ele na página 10! Abandonei Dias Perfeitos do Raphael Montes por muito menos. A história de cara já começa com um soco no seu estômago e não te dá muito tempo para respirar, ao contrário, quando você pensa que superou ela vem e te chuta.

Seguimos as irmãs Quinn, Samantha e Charlotte (Sam e Charlie), quando eram adolescentes, sua casa foi incendiada por algum cliente insatisfeito do seu seu pai, Rusty, que era praticamente advogado do diabo porque defendia todo tipo de pessoa: estupradores, assassinos, ladrões, traficantes e por aí vai. Tanto a esposa dele, Harriet (conhecida como Gamma) quanto suas filhas não concordavam muito com a sua linha de defesa, mas a perda da casa foi a gota d'água e a relação entre Gamma e o marido ficou abalada, ainda que os dois não tivessem terminado. 

Há pouco tempo, Rusty tinha salvo do corredor da morte um estuprador cuja vítima tinha se suicidado, a cidade de Pickeville (que é descrita como o fim do mundo à esquerda) já não gostava muito dele e depois dessa sua popularidade só piorou, mas ele não se importava com o que as pessoas pensavam, segundo sua filosofia todos mereciam uma segunda chance, nem que fosse para ficar o resto da vida atrás das grades, mas todo mundo podia se regenerar (confesso que essa filosofia dele em alguns momentos me soava inconcebível, sério mesmo).

Contudo, essa filosofia humanista (se é assim mesmo que chama) estava prestes a ser testada da pior forma possível. Charlie, Gamma e Sam estavam preparando o almoço quando dois homens invadiram a casa, um deles era Zachariah Cullpepper um pedófilo que havia estuprado várias crianças e adolescentes e que o próprio Rusty livrara da cadeia! (Tipo assim, esse tio era louco, só acho). Zachariah devia muitos honorários advocatícios para Rusty e decidiu pagar as dívidas liquidando o cara. Porém, para sua surpresa ele não estava em casa, apenas a esposa e as filhas. Quando Sam o reconheceu o destino delas estava selado. Gamma foi assassinada na frente delas em uma falha tentativa de salvar as filhas (isso não é spoiler, gente, acontece nas primeiras páginas, juro), mas o sadismo do homem não podia ser mesurado.

O irmão dele, pelo que presumiram as meninas em choque com a morte brutal da mãe (e ressalto aqui que a autora fez questão de dar detalhes dessa brutalidade), tentou conter o estuprador assassino, mas era tarde demais ele já havia decidido matar as duas. E seu plano deu certo.

Vinte e oito anos se passam e o casamento de Charlie está por um fio quando ela traiu o marido com um homem desconhecido em uma noite de bebedeira num bar. Ainda morando em Pickeville e trabalhando como advogada ao lado do pai (mas não na mesma linha que ele), Charlie ainda vive sob as cicatrizes e traumas deixados por aquele passado que a martiriza. Ela está prestes a rever o homem desconhecido com quem dormiu porque acabou pegando o telefone dele no lugar do seu e eles marcaram na escola de ensino fundamental onde ele lecionava.

O que nenhum deles esperava era que um tiroteio fosse colocar fim à vida de duas pessoas bem naquela manhã. Charlie acaba sendo envolvida na confusão, a atiradora, uma jovem de dezoito anos com algum tipo de atraso mental. Rusty acaba pegando o caso e Charlie se torna uma testemunha ocular dos acontecimentos. Entretanto, o caso parece ser muito mais complexo do que parece e quando Rusty é atacado, Sam acaba sendo trazida de volta para a cidade na qual jurou nunca mais pisar.

A relação entre as irmãs desmoronara após o ocorrido no passado. Juntas novamente, elas vão precisar se conhecer de novo e desenterrar segredos obscuros envolvendo a tragédia que destruiu suas vidas enquanto tentam decifrar o enigma envolvendo os assassinatos na escola.

Gente, eu nem sei como explicar esse livro. Acho que peguei ele quando tinha acabado de ler No Coração da Floresta, pensei que ia ser um suspense, um thriller, mas nunca me passaria pela cabeça que ia ser tão pesado assim. A autora, como eu disse, não poupa detalhes, então a gente vê as cenas grotescas com o máximo de descrições que a nossa mente sensível não precisava e, não fosse o bastante, ela ainda repete as cenas duas a três vezes sob pontos de vista diferentes ou com algum detalhe adicional que omitiu de propósito da primeira vez conforme o ponto de vista da personagem em questão. É horrível. Você mal se recupera do mal estar e lá vem o diabo da cena novamente fazer você quase vomitar.

A história tem prende, isso não dá para negar, mas achei os capítulos muito compridos, às vezes ficava meio cansativo, especialmente quando ela ia descrevendo a história de tudo, de um prédio, de uma casa, às vezes isso agregava informação à história e em outras era um bombardeio de informações desnecessárias. Também é cheio de plot twists, quando você acha que está começando a entender alguma coisa ele vem e começa a rir de você "não, querida, o buraco é mais embaixo!" e você fica com cara de tacho. Aplausos pra essa tia. As personagens foram construídas de modo fantástico, elas saltam das páginas e a gente consegue sentir a dor, o desespero e as marcas traumáticas impressas em cada uma e como elas lidam com isso. O pai delas foi uma das figuras que mais me deixou no telhado, ele era adorável e, ao mesmo tempo, eu queria esganá-lo.

Essa dualidade é algo que o livro faz muito bem. Ele levanta questões morais que deixam a gente debatendo consigo mesmo durante a leitura e depois dela e se teve uma coisa que me fez continuar lendo contrariando todos os motivos que quase me levaram a desistir (porque eu sou mole pra caramba) foi a forma como ele me fez enxergar minha relação com o meu pai que não é das melhores. Enquanto eu via a Samanta se reaproximando do pai dela acabava me vendo nela com relação ao meu pai e isso me fez repensar minhas atitudes para com ele. A coisa mais difícil a se fazer quando quer perdoar alguém é aceitar os defeitos que fizeram você se afastar daquela pessoa, porque o perdão, como já ouvi em algum lugar, tem a ver conosco e não com o outro.

Não é um livro pra qualquer um. Ele tem alguns gatilhos e é bem visceral. Pessoas mais sensíveis podem passar mal (e é aí que eu vejo que meu nível de sensibilidade deve ter se equilibrado com a velhice). Mas para aqueles que tem um estômago mais forte, está recomendado.

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