"Vaidade das vaidades, tudo é vaidade"
A frase significa que tudo que se faz debaixo do sol é vaidade e aflição de espírito. A palavra "vaidade" vem do latim vanitas que significa qualidade do que é vão, fútil e ilusório. Segundo a bíblia, a vaidade é algo enganoso, sem valor, que leva a ostentação e a idolatria.
Filosoficamente, a vaidade pode se referir a um senso mais amplo de egoísmo e orgulho. Basicamente, fala de como nos cansamos dia após dia por coisas passageiras. A conclusão "tudo é vaidade" não é para dizer que não há esperança em nada, mas para mostrar que nunca estaremos totalmente satisfeitos ou realizados com as coisas dessa vida. Vivemos em um mundo caído e, até que o Senhor venha, não pode ser corrigido.
"Porque no acúmulo de sabedoria, acumula-se tristeza, e quem aumenta a ciência, aumenta a dor." (Ecle 1,18)
Eclesiastes, pelo que percebi, tem um tom explicitamente filosófico que destoa das outras vozes da bíblia até agora e, tal como a filosofia, mostra certo pessimismo diante da vida ao mesmo tempo em que provoca reflexões sobre como passamos os nossos dias. Em parte, me lembrou um pouco o pensamento de Sêneca sobre a brevidade da vida e a maneira como nos prendemos a futilidades e negligenciamos aquilo que é realmente importante.
"A minha sorte será a mesma que a do insensato, então, para que me serve toda a minha sabedoria?" (Ecle 2,15)
Segundo a introdução, foi escrito em III a. C. e traz algo da orientalidade, talvez tenha conquistado alguma influencia filosófica da época, ainda que se atenha à moral religiosa monoteísta. Particularmente, gosto de filosofia, então a tarefa de buscar significado nas entrelinhas me foi bastante prazerosa embora meu conhecimento seja bastante limitado.
Assim como os filósofos eram amantes da "Sofia", o Eclesiastes, ao mesmo tempo em que a considera o bem mais precioso, igualmente a tomo como causa da sua angústia diante do mundo sombrio — assustadoramente parecido com o nosso! — e quão vã pode ser esse acúmulo de conhecimento para findar num mesmo ponto mórbido.
Inclusive, esse mesmo Eclesiastes julga injusto ímpios e justos terem o mesmo fim (a morte) dando a entender que esse é um dos motivos pelo qual a maldade invade o coração do homem.
"Entre tudo que se faz debaixo da terra, é uma desgraça só existir para todos um mesmo destino." (Ecle 9,3)
Aconselha, porém, além do temor a Deus — que concede, por consequência, a vida sábia — o trabalho árduo, juntamente com o necessário descanso que leva a desfrutar dos frutos desse trabalho e afirma que aqueles cujo coração se volta para ajuntar riquezas jamais aproveitará delas.
Viver os dias felizes, refletir nos dias de tristeza. Uma passagem que me intrigou foi a de não ser justo em excesso nem sábio além da medida (7,16) não sei bem se entendi o sentido e, parando pra pensar, não lembro desse livro sendo usado na liturgia (posso estar enganada). Os próprios tradutores da bíblia em suas notas afirmam que a sabedoria de Eclesiastes, embora falha, não é pagã.
Achei um livro bem interessante, especialmente por essa abordagem mais filosófica, ora seca, ora poética que evoca reflexões acerca do nosso papel no mundo, a vida é breve e apenas Deus sabe o exato número dos nossos dias, nosso papel é buscar a felicidade no temor de Deus aproveitando cada etapa da nossa vida com equilíbrio, sabendo desfrutar dos momentos de alegria e dos frutos do nosso esforço e consolo na angústia. Um lugar e um tempo para cada coisa, aprendamos a conquistar o necessário sem apego aos bens que passam, mas o merecimento da vida eterna. Porque essa vida é breve, rápida, o que se deve engrandecer é a alma, não vamos levar nada daqui além do bem que fizemos e do amor que conquistamos.
Então viva, sem acumular, sem se privar, sem se prender. Seja livre.
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