sábado, 28 de dezembro de 2024

[Bíblia] Macabeus II

Aparentemente a narração desse livro não é cronológica já que o início soa um pouco confuso, há, inclusive, uma menção ao período de Neemias. Ele narra com mais minúcia os acontecimentos dos primeiros anos do conflito, fornecendo informações que não aparecem no primeiro livro e isso acaba confundindo um pouco. Temos um pano de fundo maior sobre os judeus traidores de sua gente e o fim que tiveram, além das origens de sua atitude injustificada e detalhes sobre a cruel perseguição de Antíoco.

Algo que me chamou a atenção foi o teor xenofóbico dessa perseguição, lembra bastante o episódio da perseguição bem específica de Hitler na segunda guerra, embora esta também tenha se estendido a outras raças, ele parecia ter ódio particular pelos judeus, tal qual Antíoco que estava contrariado por eles se recusarem a se dobrar aos seus costumes.

Outra parte que se ressaltou foi a passagem a respeito do templo. Sempre ouvi muito na igreja que "nós somos o templo" ou que "nós somos o corpo da igreja" e, embora isso seja autoexplicativo, uma passagem desse livro iluminou isso de forma muito mais profunda. Os membros do clero sempre se esforçaram para, desde os primórdios da igreja, erguer templos grandiosos em honra de Deus e enchê-los de riqueza quando o Senhor não se importa tanto com a construção, mas com a fidelidade verdadeira do templo que é nosso coração.

Além disso, houve mais uma parte que me puxou algumas reflexões. Fica claro desde o gênesis que Deus busca corrigir o povo desviando dele seus olhos e permitindo que desfrutem da consequência de seus atos ruins sem nunca, porém, afastar deles sua benevolência. Isso me fez refletir sobre todas as coisas que o mundo passou e passa, especialmente a escuridão desses dias. Os homens têm se afastado cada vez mais de Deus e transformado a humanidade lentamente em organismos vazios. Somos testemunhas do resultado na nossa própria pele, porém, ainda conseguimos encontrar feixes de luz no meio das trevas, nos lembrando da aliança de Deus refeita pelo sacrifício de Jesus Cristo na cruz. O próprio autor relata em suas reflexões que os sombrios acontecimentos tem o intuito de corrigir a raça judia, salientando que, ao contrário do que fazia com as outras nações, o Senhor não esperava que eles estivessem além da salvação antes de puni-los.

Da mesma maneira acontece conosco, cada dia é uma nova chance de nos corrigir, de aprender as lições da dor e devemos ser gratos por essa oportunidade, do contrário já teríamos sido aniquilados por nossos inúmeros pecados. Há ainda o testemunho do martírio de Eleazar que ecoa agora, alguns séculos antes, o conselho de Cristo aos seus seguidores. 

Jesus parafraseia essas palavras em uma de suas pregações e, estou certa, muitos antes dele farão valer esse conselho com suas vidas. O episódio ainda serve de analogia à flagelação do Senhor, cujo instrumento usado foi o mesmo e a finalidade semelhante: a obediência à ordem do Pai Eterno. Nossa passagem nesse mundo é breve e devemos vivê-la almejando e trabalhando com o propósito de merecer a vida eterna. Infelizmente, boa parte das pessoas esquece disso e vive para acumular riquezas e o legado que deixa para trás é a ruína de um trabalho vazio e uma vida sem obras significativas.


Segue-se um exemplo bem detalhado dos horrores da perseguição de Antíoco aos judeus que se recusaram a abandonar a lei para servi-lo. Usando o martírio de uma mãe com seus sete filhos, o autor mostra a crueldade bárbara imposta aos martirizados pela fé. O que mais chama atenção nesse episódio é o papel da mãe. Como um prenúncio de Maria aos pés da cruz, ela vê os filhos sendo, um a um, martirizados e mortos, mas mantem viva sua fé, encontrando nela o consolo. Como é difícil! Quantas vezes, na agonia da perda, nossos olhos perdem a fé e se fecham? Cada um de seus filhos sofre o horror do martírio com fé e podendo poupar o mais novo, ela o aconselha a se manter fiel a Deus como seus irmãos e perecer do que atrair para a si a indiferença do Senhor por tê-lo traído para se preservar.

Essa parte me remeteu muito a um sinal prévio da vinda de Cristo e do seu sofrimento. Enquanto lia as últimas palavras de cada um deles ficava pensando nos dias que vivemos em em como são consequência do nosso afastamento de Deus, quanto horror não presenciamos nesses últimos anos e, creio agora, numa tentativa de nos corrigir, mas a humanidade — cada vez menos humana — parece cega e de coração duro, não tira qualquer aprendizado de nada.

Parece extremamente errado o prazer que senti ao ler sobre a grotesca morte de Antíoco Epífanes sobre quem a ira do Senhor caiu com justiça após a cruel repressão do seu povo.  Nos finais de sua existência soberba, tomado pelas dores excruciantes, ousou clamar a Deus de quem zombou e escarneceu, mas não recebeu dele nenhuma misericórdia, e mesmo eu, enquanto lia, não consegui sentir qualquer pena ou simpatia por seu atroz sofrimento, ele comeu a própria fruta. 

No livro dos Macabeus também há aparições de anjos do Senhor, enviados como auxílio contra os inimigos dos judeus. Desde o livro de Tobias esse é o que tem mais manifestação angélica, embora anônima.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Ao comentar seja sempre respeitoso à opinião do outro. Nem todo mundo pensa como você e a diversidade existe para isso. Exponha suas ideias sem ofender a crença ou a opinião de ninguém. Comentários com insultos ou discriminação de qualquer natureza serão excluídos.