quinta-feira, 28 de março de 2024

[Bíblia] Especial Semana Santa: HELL — G.E.M

Como disse na apresentação da tag, também tenho vontade de compartilhar algumas músicas que gosto muito, dando minha interpretação a respeito delas, como estamos no tríduo pascal, uma das celebrações mais importantes da igreja católica, acho pertinente trazer essa música.

Para aqueles que não conhecem, Deng Ziqi, conhecida como G.E.M, é praticamente a Taylor Swift da China, ela ficou famosa em 2014 quando venceu um programa musical.  Em 2022, ela se declarou cristã com o lançamento do seu álbum Revelations, vocês devem saber que a China é um dos países que mais perseguem cristãos, o grupo Missão Portas Abertas resumiu bem a situação: “A vigilância na China está entre as mais opressivas e sofisticadas do mundo. A frequência à igreja é rigorosamente monitorada e muitas igrejas estão sendo fechadas – sejam elas independentes ou pertençam ao Movimento Patriótico das Três Autonomias”.

Contudo, a pequena G.E.M só é pequena em estatura, porque tem muita coragem e uma legião de fãs não só na China, mas no mundo. Ela rasgou o verbo e declarou seu amor por Jesus em meio aos perigos de ser uma pessoa monitorada pelo regime opressivo chinês. “Neste mundo onde o amor é extremamente necessário, confio que posso fazer o meu melhor para criar obras que façam as pessoas mais uma vez verem o amor, acreditarem no amor e voltarem a amar. Portanto, não importa quantos contratempos existam no caminho, desde que eu possa superá-los”, declarou.

Tema contextualizado, vamos à música. Gosto muito desse disco dela, é um dos poucos que ouvi inteirinho. GLORIA é o carro chefe do álbum, mas já foi amplamente traduzida, quis pegar essa porque fiquei curiosa com a mensagem e não havia tradução dela para português, então eu mesma traduzi. No começo, fiquei confusa acreditando se tratar de uma música sobre relacionamento abusivo, mas não fazia sentido em um álbum com esse tema. Então, pensando um pouco melhor, finalmente acredito ter entendido a mensagem e quero dividir com vocês. Não teve post da tag nessas últimas semanas porque tudo aqui foi uma maluquice, acabei acumulando muitas tarefas que vão ficar todas para Abril, porque eu não faço nada além de rezar na Sexta-feira da Paixão.
Dito isso, vamos à música.

Lembrando que interpretação de música é algo muito subjetivo, cada pessoa entende a seu próprio modo e não precisamos brigar por isso, se você encara a letra de um jeito diferente, está tudo bem.

是我被害的妄想
Shì wǒ bèihài de wàngxiǎng
São minhas fantasias de ser prejudicado
還是你 真是個假象
Háishì nǐ zhēn shì gè jiǎxiàng 
Ou você é verdadeiramente uma ilusão
你讓我瞥見了天堂
Nǐ ràng wǒ piējiànle tiāntáng 
Você me fez vislumbrar o paraíso
有時候 卻把我流放
Yǒushíhòu què bǎ wǒ liúfàng
 Às vezes, no entanto, me exila
你的愛過於抽象
Nǐ de ài guòyú chōuxiàng 
Seu amor é excessivamente abstrato
留給我 可怕的想像
Liú gěi wǒ kěpà de xiǎngxiàng 
Deixando para mim imaginações assustadoras

Num primeiro momento, realmente parece que ela está falando sobre um relacionamento abusivo e, na verdade, de algum modo está mesmo. O primeiro verso reflete a sensação de paranoia, a incerteza a respeito daquilo que se está vivendo, no começo dessa relação tudo era maravilhoso, mas em alguns momentos essa "pessoa" se afastava, deixando-a sozinha para enfrentar seus fantasmas. Esse "amor" não é confiável, por isso ela o descreve como "excessivamente abstrato", restando apenas seus medos e a incerteza se pode ou não confiar nessa "pessoa".

You take me to hell 
Você me leva para o inferno
From heaven I fell
Do céu eu caí
你燃起了嫉妒的火种
Nǐ rán qǐle jídù de huǒ zhǒng
Você acendeu a semente do ciúme
它越燒越兇
Tā yuè shāo yuè xiōng 
Quanto mais queima, mais feroz se torna
而你是元兇
Ér nǐ shì yuán xiōng 
E você é a causa raiz
你煽動著魔鬼的衝動
Nǐ shān dòngzhe móguǐ de chōngdòng 
Você incita o impulso do diabo

Esse refrão é uma metáfora muito interessante e por ele a gente tira a conclusão de quem é a pessoa a quem ela se refere. Alguém que acende nela a semente do ciúme, sentimento que levou lúcifer a se rebelar contra Deus, e quanto mais esse sentimento queima, mais feroz se torna porque ele acumula outros tão violentos quanto, e "ele" é a causa raiz, aquele que incita o "impulso do diabo" que seria o impulso da rebeldia, de se afastar de Deus, de fechar o coração. A chave do refrão está no primeiro verso "Você me leva para o inferno", se você não matou a charada ainda, logo vai fazer sentido.

你有多少個模樣
Nǐ yǒu duōshao gè múyàng 
Quantas faces você tem?
一句話 有多少重量
Yī jù huà yǒu duōshao zhòngliàng 
Uma palavra, quanto peso carrega?
是否有無數個我 (無數個我)
Shìfǒu yǒu wúshù gè wǒ (wúshù gè wǒ) 
Há inúmeros "eu" (inúmeros "eu")
多危險 猜忌的漩渦
Duō wéixiǎn cāijì de xuánwō 
Quão perigoso, esse redemoinho de suspeitas
是我太容易受傷
Shì wǒ tài róngyì shòushāng 
Eu sou fácil de machucar
或真相 真的會殺傷
Huò zhēnxiàng zhēn de huì shāshāng 
Ou a verdade realmente pode causar danos
(真的會殺傷) 
(Zhēn de huì shāshāng
(Realmente pode causar danos)

A pergunta do primeiro verso tem uma resposta simples: quantas forem preciso, esse "ser" usa de todas as maneiras para seduzir e nos tirar do caminho, agora se você ainda não se deu conta, na letra dessa música G.E.M está falando com o pecado. Quanto peso essa palavra carrega? Quando ela diz que há inúmeros "eu" se refere a como o pecado nos faz perder a nossa essência, esquecemos quem somos e nos afundamos em várias versões falsas de nós mesmos que nunca estão satisfeitas com quem são e sempre buscam suprir esse vazio com mais coisas vazias. No momento que ela duvida se a verdade pode causar danos ou se é ela que é fácil de se machucar, é quando percebemos o caminho no qual seguimos e nos damos conta que vivemos uma mentira, muitas vezes por escolha própria.

You take me to hell  (take me to hell)
Você me leva para o inferno (leva para o inferno)
From heaven I fell (heaven I fell) 
Do céu eu caí (céu eu caí)
你燃起了嫉妒的火種
Nǐ rán qǐle jídù de huǒ zhǒng 
Você acendeu a chama do ciúme
它越燒越兇 (越燒越兇)
Tā yuè shāo yuè xiōng (Yuè shāo yuè xiōng) 
Quanto mais queima, mais feroz se torna (Mais queima, mais feroz)
而你是元兇 (你是元兇)
Ér nǐ shì yuán xiōng (Nǐ shì yuán xiōng) 
E você é a causa raiz (Você é a causa raiz)
你煽動著魔鬼的衝動 (魔鬼的衝動)
Nǐ shān dòngzhe móguǐ de chōngdòng (Móguǐ de chōngdòng) 
Você incita o impulso do diabo (Impulso do diabo)
我被你囚禁著 不得彈動
Wǒ bèi nǐ qiújìn zhe bù dé tándòng
Eu sou mantido prisioneiro por você, incapaz de me mover

E agora que sabemos que ela fala com o pecado,o refrão ganha outra cara, não é? A gente não encara mais a persona de um namorado abusador, mas o relacionamento instável e falso que o pecado nos oferece. E nesse último verso a gente vê que é o que acontece conosco quando nos envolvemos com ele, somos mantidos cativos, incapazes de nos mover, presos na teia de ilusões que nos leva a afundar cada vez mais sem nos darmos conta disso.

You take me to hell 
Você me leva para o inferno
From heaven I fell
Do céu eu caí
You put on a fire of jealousy
Você acende o fogo do ciúme
You made me believe
Você me fez acreditar
You loved me indeed
Que me amava mesmo
The truth is you don't know what love is
A verdade é que você não sabe o que é o amor

Essa é minha estrofe favorita da música porque resume a letra toda. O pecado nos leva à queda, o ciúme aqui representa todos os crimes da alma, creditado pelo impulso de lúcifer ao se revoltar. Ele nos faz acreditar em uma ilusão, nos leva a crer que pertencemos ao mundo quando o mundo não é capaz de nos amar, porque a verdade é que somos de Deus. E isso não significa que a gente tem que viver como os puritanos do século XVIII (ou era o XVII?), podemos seguir a vontade de Deus sem nos prender, porque segui-lo é encontrar a liberdade.

Whoa, whoa
你燃起了嫉妒的火種
Nǐ rán qǐle jídù de huǒ zhǒng 
Você acendeu a chama do ciúme
Whoa, whoa
你煽動著魔鬼的衝動
Nǐ shān dòngzhe móguǐ de chōngdòng
Whoa, whoa
Você incita o impulso do diabo
You take me to hell (take me to hell)
(Heaven I fell)
Você me leva para o inferno (me leva para o inferno)
(Do céu eu caí)
你燃起了嫉妒的火種
Nǐ rán qǐle jídù de huǒ zhǒng
Você acendeu a chama do ciúme
From heaven I fell (take me to hell)
Do paraíso eu caí (me leva para o inferno)
你煽動著魔鬼的衝動
Nǐ shān dòngzhe móguǐ de chōngdòng 
Você incita o impulso do diabo
我被你囚禁著 不得彈動
Wǒ bèi nǐ qiújìn zhe bù dé tándòng
Eu sou mantido prisioneiro por você, incapaz de me mover

E vê só a genialidade dessa mulher ao compor o vídeo dessa música. Durante todo o clipe somos levados a crer que ela está em um relacionamento tóxico com um cara, mas esse garoto representa o pecado. A maneira como ele apenas destrói tudo que há de bom em nós. E, no final, ele morre em alusão a passagem bíblica: "Pois o salário do pecado é a morte, mas a dádiva gratuita de Deus é a vida eterna por meio de Jesus Cristo, nosso Senhor.Romanos 6:23. Mas ela recebe uma segunda chance, ela ainda não morreu, porque Deus está sempre tentando nos salvar. Muitas vezes é doloroso desapegar daquilo que nos faz mal, e a gente só percebeu Deus e o quão nocivo era aquele caminho em que estávamos, quando nos desfazemos disso.

Que música fantástica! Se você ainda não conhece a G.E.M está aí um excelente disco para começar. Planejo traduzir outras músicas desse álbum. Deixo aqui embaixo o clipe para vocês verem e espero que tenham gostado dessa análise. Achei pertinente para a Semana Santa porque Cristo morreu por causa dos nossos pecados, e com isso pagou o preço por nós. Mas insistimos em continuar crucificando-o todos os dias com as nossas atitudes. Com isso, espero que essa música nos ajude a refletir um pouco mais sobre isso.

Um abraço e até semana que vem!



quarta-feira, 20 de março de 2024

[Drama] A Tale of Love and Loyalty — ALERTA DE SPOILER!

Original:  授她以柄

País: China

Episódios: 20 (10 min)

Ano: 2024

Diretor: Zhou Xiao

Gêneros: Histórico, Romance, Drama

Sinopse: Com o Imperador doente e o Príncipe Herdeiro ainda jovem, o exército rebelde marcha em direção aos portões da cidade. Enquanto o seu país e a sua família estão à beira do desastre, a imperatriz Su Yan escreve para implorar a ajuda do Príncipe de Nanchuan, prometendo qualquer coisa em troca, desde que ele envie o seu exército para intervir. Ele finalmente chega, salvando a todos. Apesar de sua indiferença, ele hesita em machucar Su Yan. No entanto, sua ajuda tem um custo. Seu desejo não é o trono, mas o amor de uma pessoa.

Estou começando a criar a teoria de que, se a OST do drama é muito boa, o final vai ser ruim. Está se provando muito verdadeira dada minha experiência. Rezo a Deus que meu ano não seja tão trágico quanto os dramas que eu ando assistindo, porque misericórdia! Alguém conhece um drama com o Richard Lee que ele não acabe morto ou sozinho? Porque os dois que vi com ele até agora não foram nada promissores. Qual o problema da China com final feliz? O roteiro tem todas as malditas brechas para dar certo e eles vão lá e "olha só, vamos matar mesmo".

Su Yan se casou com o imperador por um suposto pedido de sua irmã mais velha para cuidar do seu filho por cinco anos, já que ele era muito pequeno quando ela morreu. Negócio é que essa guria já estava prometida par ao príncipe de Nanchuan por quem estava apaixonada e era correspondida. Aí ela acha uma ideia brilhante mentir que não gosta mais dele e se casar com um cara que ela não ama de fachada só pra cuidar do filho de uma irmã que na verdade nem gostava dela porque o marido idiota era apaixonado por ela desde sempre.

Só que esse imperador infeliz acaba adoecendo (e não morre nunca, para minha infelicidade!)  e é claro que os nobres começam a colocar olho grande no trono, procurando a melhor forma de obter vantagem com a morte dele. Aí a lerda da Su Yan acha uma excelente ideia chamar o irmão abandonado dele pro palácio, já que ele é um general implacável e com um exército forte. Isso para garantir a segurança do príncipe herdeiro. E ele, tapado apaixonado, aceita.  Aí começa o leva e traz, as mentiras, a maldita falta de diálogo entre personagens que podiam muito bem apenas dizer a infame verdade e se entender, as intrigas causadas por aquele sapato do capeta daquele imperador e a gente vai só vendo as lágrimas desnecessárias e se enchendo de raiva sabendo que aquele negócio vai ter um desnecessário final ruim.

E tem! O príncipe de Nanchuang termina como uma almofada de flechas e Su Yan faz o que devia ter feito desde o começo do drama que é envenenar aquela cueca avessada do diabo e se envenenar junto, porque ela tinha a energia de um prato esse drama todo. Mais uma vez, Richard Li termina um drama trágico com sucesso. Pra quê? Amado, demite esse agente que escala teus roteiros. Um ator tão bom enroscado numa porrada de tragédia gratuita. Mas a culpa foi minha, eu que decidi de novo ver o drama sem olhar o final antes. Só pra passar raiva mesmo.

Mas tenho que dizer que a OST é maravilhosa! Sério, estou ouvindo a música no looping tem umas duas semanas.


Recomendo? Não. A menos que você queira passar raiva e ser brindado com um lindo final ruim. Mas caso você queira se arriscar a ver, encontra ele no fórum do fansub Cidade Proibida.

segunda-feira, 18 de março de 2024

[Livro] A Morte de Ivan Ilitch

 Autor: Liev Tolstói

Ano: 1886

Gêneros: Novela, Ficção filosófica

Páginas: 80

Sinopse: Ivan Ilitch é um burocrata, funcionário público do sistema judiciário da Rússia tsarista. Ambicioso e calculista, suas ações têm sempre como objetivo ascender na sociedade. Casa-se com Praskóvia Fiódorovna, não apenas porque enamora-se dela, mas principalmente porque as pessoas da alta classe social consideram a escolha acertada. O casal tem cinco filhos, dos quais sobrevivem dois. A vida vai seguindo seu curso, com dificuldades, bajulações, com desentendimentos cada vez mais constantes do casal e, finalmente, promoções.

Ivan Ilitch fere-se na região dos rins num acidente bobo em sua casa nova, quando cai de uma escadinha ao mostrar ao tapeceiro como queria as cortinas. O ferimento começa a incomodar, os médicos não acham um diagnóstico. Ivan Ilich piora a cada dia. Angustiado, vislumbra a proximidade da morte. É tomado por intensas reflexões solitárias sobre os mecanismos que regem as relações humanas. Dá-se que se sua morte é irremediável, sua vida também foi.

Das novelas mais poderosas já escritas, em que um homem julga-se e à própria existência humana quando a vida esvai-se dele, A morte de Ivan Ilitch é um retrato profundo da alma humana por um dos maiores escritores de todos os tempos.

Esse é meu segundo contato com a literatura russa. Exagerada como sou, minha porta de entrada foi de cara Dostoievsky e seu Crime e Castigo pelo qual me apaixonei, lembro bem. Não conhecia Tolstói, só de nome. Para muitos, essa novela é a introdução na literatura russa e, sendo sincera, acho um começo acertado. Por ser curta e de uma linguagem simples, que em nada diminui o poder de sua narrativa, pode ser um bom começo para quem nunca se aventurou nos livros desse país.

Na novela acompanhamos a vida de Ivan Ilitch, um funcionário público da área do direito que viveu e cresceu para seguir as regras sociais. Sempre fazia tudo "certo", visando promoção, relacionando-se com as pessoas certas e buscando benefícios para si. Era a fachada perfeita do homem bem sucedido que vivia para receber elogios e boas recomendações da sociedade. Casou-se por pura convenção, apenas porque era socialmente aceitável e isso lhe traria mais benefícios, lutou para atingir o máximo sucesso em seu trabalho porque significava mais dinheiro e, por consequência, mais status. Embora não fosse rico, vivia como tal e era indiferente ao casamento fracassado mantido apenas pelas aparências.

Um acidente doméstico, porém, muda tudo. Ivan começa a sentir um incômodo próximo ao rim, mas de início é suportável, até que a doença progride para algo sério e ele tem a certeza de que a morte se aproxima. Com essa certeza, passando de médico em médico e com o sentimento de ter se tornado um fardo para sua família, ele começa a repensar toda sua vida, as escolhas que fez e as decisões que tomou, quanto daquilo valeu a pena no final? Por que não conseguia sentir-se satisfeito com sua vida? Não havia a sensação de dever cumprido e calma. Ao mesmo tempo, Ivan se vê desejando a morte como alívio para sua dor insuportável. A dor no corpo e, sobretudo, a dor na alma. Esta última adquirida pelas últimas certezas de sua vida, a certeza de que não viveu em momento algum além da infância.

Para sua esposa, seu fim significa dinheiro e um alívio para os dias de irritação. Para seus "amigos" significa promoção. Alguém seria erguido ao seu posto e os demais também subiriam de cargo. O único que parece realmente ter sentido a morte de Ivan foi seu filho.

Sendo o segundo livro russo que leio, não tem como não notar que eles gostam bastante de explorar o pior do lado humano e talvez por isso sejam leituras tão fascinantes. Enquanto Crime e Castigo passeias nas sombras do lado escuro do inconsciente, movendo e torcendo o sentido de ética, certo e errado, A Morte de Ivan Ilitch nos convida a uma reflexão sobre nossa trajetória nessa jornada eterna chamada vida. Ivan se deu conta que toda sua vida foi moldada pela sociedade, pelo que os outros achavam ser certo e bom, em nome do status e da autopromoção, não pelo que ele realmente queria. A bem verdade ele nem sequer havia parado para pensar no que queria. Viu sua vinda findar sem jamais ter vivido nada, sempre em busca de enriquecer e manter aparências.

Enquanto lia, me fazia pensar no tanto de gente que eu conheço e se mata de trabalhar para comprar grandes casas, carros de luxo, ter toneladas de dinheiro no banco para, no fim da vida, se lamentar que não fez nada por si mesmo e, muitas vezes, sequer poder usufruir daquilo pelo que tanto lutou. Vale a pena? Essa sociedade colocou na nossa cabeça que precisamos de muito para ser feliz quando, na realidade, é o contrário. A gente precisa de tão pouco e nossa riqueza nada tem a ver com dinheiro. Não digo que dinheiro não é necessário, claro que é, mas não na proporção que se pinta. O que nos é indispensável é saúde, qualidade de vida (que nada tem a ver com posses), ter pessoas queridas que nos fazem bem por perto, sobretudo, observar as pequenas coisas que, lentamente, vão ficando de lado. Quando foi a última vez que você viu o nascer ou o pôr do sol? 

É um livro pequeno, mas nada superficial. Em 80 páginas, Tolstói nos leva a refletir nosso papel como protagonistas da nossa própria história e quanto das nossas escolhas e atitudes é feita em prol da aprovação dos outros.  No geral, gostei muito do livro, embora tenha sido diferente do que eu esperava. E, claro, recomendo fortemente. Acho que é um livro que todo mundo devia ler pelo menos uma vez na vida.


domingo, 10 de março de 2024

[Bíblia] A Libertação

Começou então a saída do povo do Egito, eram muito numerosos e partiram não só com suas posses e animais, mas com todos os despojos dados pelos egípcios — ouro e prata — e os ossos de José. O Senhor, todavia, não os guiou pela terra dos filisteus que era o caminho mais curto, mas intruiu-os a ir pelo deserto, ao leito do mar vermelho. O faraó, em sua ira, os perseguiu e o povo voltou a temer e culpar Moisés que, segundo suas ordens, ergueu o cajado e, ferindo o mar, viu partir-se em dois as águas por um forte vento vindo do oriente. Passou assim a pé enxuto o povo de Israel pelo mar vermelho e viu morrer sob as águas o exército de Ramsés. Então, a salvo pela graça de Deus, Moisés entoou em honra de Deus, um canto:

Cantarei ao Senhor porque ele manifestou sua glória

Precipitou no mar cavalos e cavaleiros

O Senhor é minha força e objeto do meu cântico;

Foi ele quem me salvou

Ele é o meu Deus — eu o celebrarei; o Deus de meu pai — eu o exaltarei..”

A liberdade no Deserto

Mesmo liberto da opressão, o povo parece nunca satisfeito com nada e, mais uma vez, se volta contra Moisés, reclamando ora que não tem água, ora que não tem comida, é a coisa mais irritante, por um lado, contudo, fico pensando que mesmo vendo do que precisamos, o Senhor se agrada de ouvir nossa prece. E ele atendeu-os, enviando-lhes perdizes do céu para que tivessem carne e maná para que tivessem pão. Não é explicado, exatamente, o que é o maná, a descrição é breve e imprecisa.

Outra coisa que se destacou foi a ordem de não guardar nada, pois ao guardar ele se tornava fedido e com larvas, fico pensando se não é alguma alusão à ganância ou avareza. Acho que Moisés foi o predecessor da paciência de Jó, séculos à frente! Com a sede no deserto, voltou o povo a clamar contra Moisés e, por ordem de Deus, este usou sua vara para ferir o rochedo de onde saiu água para o ingrato povo beber no monte Horeb. Temos também a primeira aparição de Amalec, que ataca Israel e, com a ajuda do Senhor, Josué sai vitorioso. Algo que me chamou atenção foi que Moisés precisou ser sustentado para a vitória acontecer, nos mostrando que não precisamos passar as batalhas da vida sozinhos. Há ainda uma passagem sobre uma visita do sogro de Moisés que lhe levou sua esposa e filhos que haviam sido mandados para casa.

Essa parte do Êxodo é bem complicada, mas nos levanta várias reflexões. Conforme ia lendo percebia como a Bíblia é um livro atemporal, pensar que essa parte do velho testamento tem bem mais de 2000 anos, considerando que marcamos nosso tempo a partir do nascimento de Cristo, e ainda consegue ser tão atual! Já perceberam como a gente nunca parece satisfeito com nada, igualzinho esse povo? Deus literalmente tira água de pedra e, ainda assim, a gente reclama, duvida, nunca é realmente grato por nada que tem, mas está sempre insatisfeito com o que não tem e muitas vezes nem precisa!

Meu falecido avô tinha um ditato que acho muito pertinente, ele dizia que “a casa do ter nunca enche” e é verdade. Quanto mais se consegue, mais se quer. Não atoa vivemos numa sociedade tão competitiva e superficial. A gente tende a ver o próximo sempre como inimigo e nunca como irmão, como deveria ser, porque estamos o tempo todo competindo, tentando nos igualar ou ultrapassar quando deveríamos trabalhar em equipe e crescer juntos. É triste ver isso. E confesso que ficava bem irritada com essa ingratidão do povo, nada nunca estava bom, eles eram escravos e reclamavam, estavam livres e reclamavam, nunca eram gratos e não atoa terminaram como terminaram.

Pratiquemos a gratidão. Olhe para sua vida, para o que você tem e agradeça a Deus por isso. Você pode não ter tudo que quer, mas acredite que tem tudo o que precisa. E a gente precisa de tão pouco para ser feliz. Hoje em dia é difícil apreciar um céu azul, acho que muita gente nem sabe que o amanhecer e o crepúsculo nunca são iguais. Você pode olhar o pôr do sol hoje e olhá-lo de novo amanhã e vai perceber que não é do mesmo jeito. Garanto. Não paramos mais para apreciar um dia de chuva, só embalados pelo som calmante da água molhando a terra e batendo contra as janelas. Ao contrário, muita gente reclama que tá chovendo e não pode fazer isso ou aquilo, e depois reclama que não chove e tá quente demais.

Parece que a ingratidão de Israel está impressa no nosso DNA. Então finalizo esse post te convidando para agradecer. Agradeça a Deus hoje. Você consegue listar tudo pelo que você é grato? O tanto que ele te deu? Como bem disse uma vez C.S. Lewis “a misericórdia vem com a manhã”, quando você abre os olhos para um novo dia, é por si só um presente, uma demonstração da misericórdia e do amor de Deus por você. Quantos mares Deus está abrindo na sua vida para atravessar e talvez sua ingratidão esteja te impedindo de ver? Então seja grato.