segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

[Dama] Night of Love With You


Título original:
夜色倾心

Diretor: An Dong

Roteirista: An Ji Er

Gêneros: Romance, Drama, Fantasia

Ano: 2022

País: China

Episódios: 24 (15min)

Sinopse: A personagem de quadrinhos Qiqi, que joga a viciosa partida feminina ao longo do ano, cometeu um erro quando entra no novo quadrinho "Night of Love With You". A atriz coadjuvante se tornou erradamente a heroína Luo Qing. No início, o protagonista masculino do quadrinho morreu. No caso de que a atriz coadjuvante viciosa pressionou passo a passo e que o vilão masculino não está em nenhum enredo romântico, Qiqi completou o auto-resgate e finalmente encontrou sua própria felicidade.

Onde Achar: Wei Fansub

Qiqi é uma vilã profissional dos manhuas (que seriam os mangás chineses) e ela está muito confortável com seu papel, viver vidas despreocupadas, cumprindo sua missão de infernizar a vida dos mocinhos, desfrutar de lindas roupas, posição social favorável e sem grandes complicações na sua vida além de aproveitar até o final do manhua. Contudo, ao receber o seu próximo "trabalho", um bug no mundo dos manhuas a coloca no lugar da protagonista da história ao invés da antagonista. Sofrendo de uma condição cardíaca que só é aliviada quando beija alguém da família do seu par romântico na história, Qiqi agora é Luo Qing e precisa encontrar uma forma de voltar para sua vida real dentro daquela história.

Para alcançar seu objetivo - e aliviar sua condição de cardiopatia - ela acaba se aliando ao vilão da trama, Leng Yehan que, a princípio, não tinha nenhum tipo de enredo romântico e só era movido pela vingança. O que ela não esperava era que essa cooperação ia custar muito mais que a conveniência, quando começa a se apaixonar por Leng Yehan, Luo Qing tira de si mesma e dos demais personagens suas rotas e isso pode acabar complicando as coisas para si mesma, então o jeito é tentar levar a história à sua rota original confiando-se que, ao final, tudo aquilo será apagado da sua memória.

Mas o que ela pode fazer quando Leng Yehan não pensa da mesma forma e está mais que disposto a abandonar sua trama para ficar ao lado dela?  Poderá Luo Qing devolver as coisas ao seu lugar e salvar o homem que passou a amar?

Gente, que draminha mais fora da caixinha e PERFEITINHO! Eu fiquei super apaixonada, primeiro porque a protagonista não é a mocinha indefesa e tolinha que a gente está acostumado, segundo porque foi um verdadeiro acerto brincar com a concepção de personagens e suas funções dentro de uma trama, e dosar muito bem dentro dessa proposta o drama e a comédia. Eu AMEI. Indico DEMAIS para quem procura um draminha divertido, leve, diferente e fofo. Além disso, é super curtinho para maratonar, apesar dos 24 episódios cada um deles só tem 15 minutos, alguns até menos, então rapidinho a gente termina, dá nem pra se animar. E ao contrário do que aconteceu com Maid's Revenge (aquele trauma!) esse aqui tem um final super feliz e fechadinho. Recomendo muito mesmo, sério!

E com essa eu encerro as resenhas de 2022 já desejando a vocês um 2023 cheio de paz, saúde e prosperidade, gente! Obrigada por terem ficado comigo esse ano, por acompanhar meu blog e obrigada ainda mais aqueles que trocam ideias comigo nos comentários. Boas festas para vocês e a gente se vê no ano que vem com muito mais resenhas, se Deus assim permitir!

quinta-feira, 22 de dezembro de 2022

[Livro] O Peso do Pássaro Morto

Autora: Aline Bei

Gêneros: Poesia, Romance contemporâneo

Ano: 2017

Sinopse: A vida de uma mulher, dos 8 aos 52, desde as singelezas cotidianas até as tragédias que persistem, uma geração após a outra. Um livro denso e leve, violento e poético. É assim O peso do pássaro morto, romance de estreia de Aline Bei, onde acompanhamos uma mulher que, com todas as forças, tenta não coincidir apenas com a dor de que é feita. (Via: Skoob)

Mais um livro que li bem depois do hype e olha que na época ninguém falava em outo livro! Inclusive, quando terminei hoje agradeci ter deixado de lado por tanto tempo, talvez se tivesse lido ali por 2017/2018 eu não tivesse sido capaz de lidar com os gatilhos e caísse num estado muito ruim. 

Já quero começar isso aqui dizendo que NÃO, esse livro definitivamente não é para todo mundo. Embora ache que seja uma leitura importante de algum modo, o fato de a personagem principal não ter um nome é que ela representa uma parcela assustadora de mulheres que vivem isso todos os dias e não aparecem no jornal, não se tornam estatística, ficam carregando esses "pássaros mortos" dentro de si para sempre. Ler esse livro foi como levar um soco forte no estômago, repetidas vezes, até desmaiar de dor. Sabe aquele tipo de leitura que você precisa parar para ver um desenho? Olhar o céu? Pois é. Acho que esse ano a minha leitura que mais chegou perto dessa sensação nauseante e pesada foi As Boas Mulheres da China. Foram as cem páginas mais indigestas da minha vida.

Acompanhamos a trajetória de uma mulher a partir dos oito até os cinquenta e dois anos. E, vá por mim, não é por o livro ser pequeno que se torna fácil e rápido de ler. Somos levados com ela a entender a morte (engoli-la seria mais apropriado ao contexto), sofrer o abuso sexual e guardá-lo pela vergonha, a dor, a sensação insuportável que é contar sobre essa marca eterna na carne, no espírito, na mente, as consequências dele que vão além do trauma para uma gravidez indesejada que culmina na quebra dos sonhos. A maternidade que nunca se encaixou (e quando o fez era tarde demais) e a descoberta tardia do que era o amor na figura de um animal tão solitário e machucado quanto ela.

Essa personagem pode ser sua vizinha, uma funcionária da escola que você estuda, a secretária no prédio do seu trabalho, enfim, qualquer mulher que passa por você pela rua. Uma vítima silenciosa da sociedade e de "homens" (ou seria melhor dizer animais? Não, eles não merecem essa ofensa) sem humanidade alguma. Ainda assim, escondeu esse pássaro morto dentro de si e vestiu a figura de responsável por uma criança que, inicialmente, não conseguia amar. Trabalhou, deu educação, formou-o da melhor maneira que pôde com o que tinha e assistiu o afeto dele ser direcionado para outra pessoa, nunca para ela. 

Uma coisa que achei muito triste e igualmente interessante foi ela ter descoberto o verdadeiro amor, a verdadeira doação a alguém, o sentimento que ela nunca conseguiu nutrir realmente pelo filho, na figura do cachorro. Não atoa esses animais são tão usados em terapias e acompanhamentos para pessoas com autismo. A perda desse animal doeu mais nela que a partida, a ausência do próprio filho e do neto que ela nunca chegou a conhecer.

Quando terminei e fiquei tentando fazer meu estômago mental processar aquilo tudo, me lembrei de Xinran em seu livro As Boas Mulheres da China:

"Todo mundo diz que as mulheres são como a água. Penso que é porque a água é a fonte da vida e se adapta ao ambiente. Assim como as mulheres, a água dá de si mesma em todo lugar aonde vai para nutrir a vida"

Ao ver um relato desse parece tão errôneo afirmarem ser a mulher o tal "sexo frágil". Se fosse verdade, como ela seria capaz de suportar tudo isso? A única alegria que essa mulher teve na vida foi encontrar aquele animal que, desde o começo, já advertiram que a deixaria cedo (e que bom que se enganaram). É um livro real, no maior sentido da palavra. E justamente por isso, não indico para qualquer leitor, é preciso um preparo e uma mente muito estável para conseguir encarar essas páginas. Sofrer essas perdas.

A perda de si mesmo.

A perda do sentido.

A perda daquilo que você nem se deu conta que tinha.

E ainda assim, guardar esse pássaro morto até o fim dos seus dias.

Com isso eu encerro minhas resenhas literárias em 2022. Dois livros muito pesados e tensos que, a meu ver, combinaram bem com o que esse ano foi para mim. 

terça-feira, 20 de dezembro de 2022

[Livro] Macbeth

 Original: The Tragedy of Macbeth

Autor: William Shakespeare

Gênero: Tragédia

Primeira apresentação: 1606

Sinopse: Macbeth é um general do exército escocês muito apre­ciado pelo seu monarca, o rei Duncan, por sua lealdade e seus préstimos guerreiros. Um dia, ele e Banquo, outro general, são abordados por três bruxas, que fazem os seguintes vaticínios: Macbeth será rei; Banquo é menos importante, mas mais pode­roso que Macbeth; e os filhos de Banquo serão reis. Macbeth não compreende as confusas palavras das aparições, mas elas calam fundo dentro de si. Ele relata o estranho encontro para a mulher, Lady Macbeth – uma das mais perfeitas vilãs da lite­ratura –, que, ambiciosa, exerce seu poder sobre o marido, levando-o a cometer o gesto fatal de traição ao rei que desencadeará a tragédia dos dois e uma reviravolta na corte.

Depois de Hamlet e Romeu e Julieta, chegou a vez de me aventurar por Macbeth. Um dos principais motivos para ler essa peça é a minha vontade de assistir à ópera de Verdi baseada nela. Algo que descobri com Hamlet foi que a história faz mais sentido quando a gente conhece o livro. Apesar de, a segunda vez que vi Hamlet de Ambroise Thomas, tenha notado a elipse de personagens e acontecimentos, mas o cerne da história - que na peça é todo contado em francês - fez muito mais sentido para minha compreensão após a leitura. Espero que o mesmo aconteça com Macbeth, pois estou muito animada para ver Ana Netrebko como a vilã ambiciosa.

A história de Macbeth faz muito jus às palavras de Abraham Lincoln "Se quiser por à prova o caráter de um homem, dê-lhe poder.” O mais interessante é que, logo no início, ainda no primeiro ato, Lady Macbeth diz que o marido não tem a garra de alcançar seus desejos, pois lhe falta a maldade necessária, o que implica que o general escocês não era, inicialmente, uma pessoa totalmente corrompida pela ambição. 

Tudo começa quando o general Macbeth e seu amigo Banquo estão retornando vencedores de uma guerra. No caminho de volta eles encontram com três bruxas que fazem uma profecia, Macbeth será nomeado barão e logo se tornará rei, mas os filhos de Banquo sucederão o trono. Transtornado com a profecia, inicialmente ele não acredita muito naquilo, mas qual não é sua surpresa quando mensageiros do rei Duncan, o monarca vigente, chegam com a notícia de que ele foi nomeado pelo regente como Barão já que o antigo dono do título em questão fora condenado a morte por traição.

Retornando para casa, após ter contado por carta a estranha aparição e profecia para sua esposa, Macbeth é influenciado por ela a tomar uma atitude e assassinar o rei, este prestes a fazer uma visita ao castelo. De início, o homem recusa, mas ludibriado pelas palavras da ambiciosa esposa, aceita fazer o que ela lhe pede, confiando na profecia das três bruxas. Assim, durante a noite, ele apunhala o rei e fica sob a incumbência de Lady Macbeth colocar a culpa disso nos sentinelas do monarca.

Temendo por suas vidas, os filhos de Duncan, ao descobrirem sobre o assassinato do pai, fogem sem serem vistos e acabam levando a culpa como mandantes do crime. Para evitar ser descoberto, sob o pretexto de loucura pelo acontecido, Macbeth mata os dois sentinelas e, assim, é coroado como o novo rei da Escócia. Porém, temendo ser sucedido pelos filhos de Banquo, ele envia homens para assassiná-lo no dia de sua coroação, o filho, contudo, escapa. 

Após isso, Macbeth começa a ser atormentado pela culpa, vendo o fantasma de seu amigo vagando pelo palácio, e seu reinado se torna caótico, permeado por revoltas. Sua esposa também vai enlouquecendo aos poucos, contagiada pela loucura crescente do marido. O comportamento errôneo de Macbeth começa a levantar suspeitas em seus nobres e o desejo de vingança daqueles afetados pela crueldade de suas ações em nome do poder selarão sua predestinada queda.

Para mim, essa foi um pouquinho mais complicada de me adaptar que Hamlet, mas ainda assim deu para ler. Não gostei tanto quanto de Hamlet (na verdade, acho muito pouco provável que eu vá amar tanto outra peça dele quanto essa), não sei... talvez o tom mais sombrio, até um pouco catequético também, não tenha me agradado muito. Contudo, tanto a corrupção do personagem quanto o caminho que levaram ao seu final foram de alguma forma um quadro interessante de acompanhar. 

O livro traz sim algumas reflexões filosóficas, tal como em Hamlet, estou começando a acreditar que isso é uma espécie de marca de Shakespeare. Achei, inclusive, Lady Macbeth muito mais carismática do que seu marido que supostamente carregaria o livro nas costas. A maldade dela, talvez por notadamente ser intrinseca de sua personalidade, acaba dando mais brilho para ela. E muitas vezes durante a leitura imaginei que ela só queria o posto de rainha porque sabia ser ela a controlar o marido.

Ainda assim, não achei os personagens tão cativantes e interessantes como aconteceu com Hamlet. É uma história sangrenta, meio fantasiosa - ainda que se fundamente em uma figura histórica real - com toda a questão das bruxas e das profecias, isso, a meu ver, diminuiu um pouco a verossimilhança, até o fantasma eu estava bem ok, mas as bruxas não me desceram muito, ficou com cara de história de terror para criança. Contudo, acho que vale a leitura, sim, é um livro super curto. E ainda pretendo me aventurar por outras peças do autor.

domingo, 18 de dezembro de 2022

[Livro] Aventura em Bagdá

Original: They Came to Baghdad

Autor: Agatha Christie

Ano: 1951

Gêneros: Mistério, Ficção policial, Ficção de aventura, Thriller político

Sinopse: Aquela máxima de estar no lugar certo na hora certa definitivamente não se aplica a Victoria Jones. A jovem datilógrafa inglesa estava no lugar errado na hora errada: em Bagdá, no início da Guerra Fria, quando uma cúpula que reuniria o presidente dos Estados Unidos e o líder da União Soviética estava prestes a acontecer. A este explosivo cenário se soma o rumor de que alguém estaria se preparando para acabar com qualquer tentativa de paz. Aventura em Bagdá é um verdadeiro thriller de suspense ambientado num país que a autora conhecia como ninguém, o Iraque dos anos 50.

Esse foi provavelmente o livro de Agatha que eu menos gostei.

A história segue uma gama de personagens diferentes em momentos distintos que, num primeiro momento, não parecem ter qualquer ligação entre si, a personagem tratada como principal, entretanto, é Victória Jones, uma péssima datilógrafa que trabalha em um escritório e adora contar mentiras - além de fazê-lo muito bem -, ela é pega pelo patrão imitando a esposa dele e acaba sendo demitida não só por isso, mas por ser incapaz de redigir um documento com o mínimo de decência como se não fosse alfabetizada.

Sem emprego, ela vai até a agência e inventa outra desculpa sobre assédio e pede que a atendente lhe avise sobre qualquer possível vaga. Enquanto está na praça, Victória é abordada por um rapaz chamado Edward por quem fica imediatamente encantada. Ele lhe diz que está indo a trabalho para Bagdá com seu chefe. Desapontada, a jovem sem dinheiro começa a procurar alternativas para ir atrás dele e acaba conseguindo emprego como acompanhante de uma mulher rica que quebrara o braço. Contando uma pilha de mentiras, acaba conseguindo a vaga e embarcando para o oriente.

Lá chegando, ela logo se adianta a encontrar o jovem já que seu emprego temporário só garantiria sua viagem até Bagdá, mas não sua permanência e Victória estava hospedada em um hotel muito caro, embora com um dono de muito bom coração. Seu interesse romântico, contudo, não estava na cidade, então ela só pode segurar a barra até ele retornar, com a esperança de ele lhe conseguir um emprego no lugar onde trabalha.

Certa noite, contudo, o quarto de Victória é invadido por um homem que implora a ela para escondê-lo, pois a polícia o está procurando. Ela aceita e usando suas habilidades de mentir, o esconde. Mas qual não é sua surpresa quando ao tentar acordá-lo descobre que ele está morto. A partir desse incidente, a jovem imerge em uma trama de conspiração política que pode levar o mundo a um banho de sangue.

Usando suas habilidades de mentir, Victória vai precisar mais que nunca ser esperta e saber em quem deve ou não confiar. Mas, sobretudo, descobrirá o valor de dizer a verdade.

Confessar para vocês, nunca pensei que diria que um livro da Agatha Christie foi chato, mas esse foi. Talvez por não curtir muito esses livros de espionagem, que fogem um pouco da linha habitual dela com os detetives, achei Aventura em Bagdá enfadonho. Claro, de jeito nenhum isso torna o livro ruim, só não me agradou tanto quanto os demais que já li dela. Já notei que não me dou muito bem com os livros que não envolvem um dos dois detetives que são sua marca registrada, mesmo não sendo uma fã devotada de Miss Marple, prefiro as fofocas dela do que os pseudo detetives que geralmente protagonizam os romances nos quais nem ela e nem Poirot aparecem e, sem dúvida, os melhores casos sempre são os de Poirot (por isso nunca me conformei por ela ter matado ele em Cai o pano).

A coisa é que aqui parece um daqueles filmes de sessão da tarde, sabe? Uma personagem bem água com açúcar cega por uma paixonite que não enxerga um palmo na frente do nariz. O caminhar das coisas é lento e tem tanta descrição do oriente médio que eu ficava com mais calor só de ler. Além disso, o plot twist não foi surpreendente, gente eu estava desconfiada daquele personagem e esse sentimento de ter algo errado só aumentou ao ponto de ficar na cara que ele era o vilão por trás de tudo. Em contraponto, foi bacana conhecer esse lado da prosa da Agatha, eu tenho poucos livros aqui que não são com os detetives (e minha intenção é ter todos os livros com o Poirot, mas a indústria do papel não está facilitando a minha vida), se há algo que não se pode duvidar é que a autora dá uma aula de criação de personagens e, como uma autora em aprendizado constante, consumir os livros dela é muito interessante para estudar esse meu calcanhar de Aquiles que é criar personagens convincentes.

Se vale a pena ler ou não eu deixo com vocês. Mas não está no meu ranking de melhores livros da autora. 



domingo, 11 de dezembro de 2022

[Livro] A Biblioteca da Meia-Noite

Original: The Midnight Library

Autor: Matt Haig

Gênero: Ficção

Ano: 2021

Sinopse: Aos 35 anos, Nora Seed é uma mulher cheia de talentos e poucas conquistas. Arrependida das escolhas que fez no passado, ela vive se perguntando o que poderia ter acontecido caso tivesse vivido de maneira diferente. Após ser demitida e seu gato ser atropelado, Nora vê pouco sentido em sua existência e decide colocar um ponto final em tudo. Porém, quando se vê na Biblioteca da Meia-Noite, Nora ganha uma oportunidade única de viver todas as vidas que poderia ter vivido.

Neste lugar entre a vida e a morte, e graças à ajuda de uma velha amiga, Nora pode, finalmente, se mudar para a Austrália, reatar relacionamentos antigos – ou começar outros –, ser uma estrela do rock, uma glaciologista, uma nadadora olímpica... enfim, as opções são infinitas. Mas será que alguma dessas outras vidas é realmente melhor do que a que ela já tem?

Em A Biblioteca da Meia-Noite, Nora Seed se vê exatamente na situação pela qual todos gostaríamos de poder passar: voltar no tempo e desfazer algo de que nos arrependemos. Diante dessa possibilidade, Nora faz um mergulho interior viajando pelos livros da Biblioteca da Meia-Noite até entender o que é verdadeiramente importante na vida e o que faz, de fato, com que ela valha a pena ser vivida.


"Nora queria viver num mundo onde não existisse crueldade, mas os únicos mundos que tinha à sua disposição eram mundos com seres humanos dentro."

Ouvi falar desse livro ano passado quando estava em alta e todo mundo estava lendo. É raro eu ler um livro durante o hype, em geral eu espero a poeira baixar e vou tirar minhas próprias conclusões independente do "você precisa ler isso", sabe? Eu faço o que posso para fugir da opinião da maioria e processar as informações por mim mesma. Então, baixei o livro no kindle e deixei ele lá, no começo desse ano, acho, até tentei começar a ler, mas não me chamou muito a atenção.

Terminado agora, eu fico com a impressão que foi mais ou menos "escreva um livro de autoajuda sem parecer um livro de autoajuda", entende? Mas ao mesmo tempo é um livro que aborda temas pertinentes do mundo moderno, desse que a gente vive (ou sobrevive) todo dia e muitas vezes não se dá conta de detalhes que nos cercam e fazem toda a diferença.

A personagem principal, Nora Seed, de 35 anos, trabalha em uma loja de artigos musicais e tenta sobreviver com a ansiedade cada vez mais fora de controle mesmo com os remédios. O livro começa com Nora tendo um dia daqueles bem ruins, ela chega atrasada no trabalho e o chefe dela diz que não pode mais mantê-la como funcionária, ela esquece da aula de piano que teria de dar para seu aluno e a mãe dele acaba cancelando a aula, manda mensagem para sua ex-melhor amiga e não recebe qualquer resposta e encontra um ex-amigo de banda do seu irmão - da qual ela era vocalista - e ele lhe diz que o irmão dela está na cidade, mas não quer vê-la.

Sozinha, desesperada e sem ter com quem contar, a gota d'água para Nora vem quando um jovem cirurgião aparece e lhe informa que encontrou seu gato morto na esquina. É como se a última conexão dela com o mundo. Cansada de si mesma, sem ver qualquer sentido em continuar existindo e acreditando realmente que as pessoas estarão melhores sem ela, já que por causa dos seus problemas e medos ela só atrapalhou a vida deles ao fugir do casamento dois dias antes, sair da banda do irmão por medo de palco, recusar o café quando o jovem cirurgião lhe convidou, desistir da natação que seu pai desejava para ela ou mesmo seguir na carreira de glaciologista como sugeriu a bibliotecária da escola - e única fonte de afeto que Nora tinha. Ela decide cometer suicídio.

E o faz. Mas não morre exatamente como havia planejado. Ao invés disso, Nora acorda em uma biblioteca! E encontra a senhora Elm, a mesma bibliotecária da sua antiga escola, o apoio mais necessário quando ela mais precisou.

Ela descobre que ainda não morreu de fato, mas que está entre a vida e a morte. A Senhora Elm lhe conta que ali Nora pode experimentar todas as vidas que poderia ter tido se tivesse feito escolhas diferentes como, por exemplo, não ter fugido dois dias antes do casamento ou desistido da natação. De início, ela reluta, pois acredita que não vale a pena, afinal ela tentou se matar porque não queria mais existir, mas a senhora Elm consegue convencê-la e Nora passa a experimentar diferentes versões de si mesma baseadas em arrependimentos que tinha.

Quanto mais mergulha nessas vidas de "e se...", mais Nora começa a refletir sobre o que é realmente importante e o que é, de fato, felicidade. Mas talvez sua primeira decisão de desistir torne tarde demais para  uma segunda chance.

"Você está pensando demais." 

"Eu sofro de ansiedade. Não sei pensar de menos."

É um livro espetacular como todo mundo falava? Não. Mas tenho de dar voto para ele ao "desmistificar", na falta de uma palavra melhor, alguns mitos sobre o suicidio e a ansiedade. Não sei se alguém ainda acredita nisso, mas gente, uma pessoa que tenta se matar não quer morrer, pelo amor de Deus internalizem isso! Ela quer que a dor pare. E só alguém que já passou por isso pode entender o que é chegar ao extremo do desespero e achar que morrer é melhor que continuar mais um dia. Ansiedade é um assunto muito em pauta hoje em dia, especialmente depois da pandemia, mas ainda tem muito mito sobre o assunto e, dizer para vocês, não julguem ninguém se você não sabe como é viver com medo da própria sombra e sem conseguir desligar seus pensamentos.

Não é que a pessoa não queira mudar, todo dia ela está literalmente lutando contra si mesma para sobreviver, para fazer o que tem de ser feito, cada simples ação é um esforço enorme. Conforme eu lia a trajetória da Nora eu senti isso na leitura de forma bem sutil, talvez pelo fato do livro ser escrito em terceira pessoa isso afasta um pouco a gente da mente da personagem, ainda assim, o desespero dela é quase palpável e tudo se resume, de fato, a uma questão de perspectiva. Geralmente - e isso não é com todo mundo, há muitas exceções - a ansiedade é isso, percepção errada das coisas, às vezes até percepções demais! É um cérebro que não desliga, que vive antevendo as piores coisas e focado no pessimismo, isso gera pânico, medo, incapacita a gente.

O caso da Nora pode ser visto de alguma forma como algo isolado em muitos aspectos, mas isso não deixa de quem sofre com algum grau desse problema não se identifique de alguma forma com ela. O livro ainda envereda pelo relacionamento abusivo, pelas conexões falhas no círculo familiar, muitas vezes intensificada pela falta de diálogo e a pressão, a importância das relações interpessoais e da "desconexão" das redes sociais. Isso tudo numa personagem cuja mente amplia tudo em proporções fora do comum. E quando a gente vê ela refazendo as escolhas, meio que começa a refletir sobre escolhas que faríamos diferentes e nos levariam a outro caminho hoje. 

Em menos da metade da leitura eu já sabia como o livro ia terminar. Sério, você não precisa ser versado em literatura para adivinhar isso, fica implícito e bem na cara o que vai acontecer, então nem me surpreendi. Achei que valeu o hype que teve na época? Mais ou menos. Sim na questão de trazer reflexões sobre temas em alta, mas não na construção disso como um todo. Claro que isso é pura visão minha de tudo. Ainda assim, acho uma leitura muito válida, é um livro que não cansa, embora seja de alguma forma pesado e digo isso por ter uma atmosfera meio sufocante às vezes, a gente sente aquela angústia, aquele desespero, aquela necessidade da personagem. Mas o ritmo da narrativa é muito fluido, capítulos pequenos, sem descrições desnecessárias, tornando uma leitura bem rápida.

[Drama] Kiss Goblin

Título original: 키스요괴

Roteirista e Diretor: Kim Tae Wook

Gêneros: Comédia, Romance, Fantasia, Sobrenatural

País: Coreia do Sul

Episódios: 12

Ano: 2020

Sinopse: "O Beijo do Duende" conta a história de Ban Sook, um duende que sonha em se tornar um humano. Para que isso aconteça, Ban Sook precisa beijar dez garotas determinadas pela Rainha Duende, mas existe um adendo: A cada garota beijada, Ban Sook também ganha uma nova emoção humana, o que torna a sua jornada cada vez mais complexa e perigosa, já que quando a sua magia de duende é espalhada em um território ele se torna alvo do caçador de duendes, conhecido como Exorcista. No meio de sua missão, ele conhece Oh Yeon Ah, uma universitária que trabalha em um pub para pagar seus estudos. Yeon Ah descobre a identidade secreta de Ban Sook e decide fazer uma aliança para ajudá-lo em sua missão e também ser ajudada por ele com seu aluguel e atividades domésticas.

Onde Ver: Kingdom Fansub, DramasK

Um draminha para ficar de coração quentinho!

 Terminar esse draminha foi uma conquista! Em um momento no qual não tenho conseguido assistir nada (e com 700 dramas começados e largados), para ter conseguido me prender o bastante e chegar até o final significa mesmo que o negócio é bom. 

Após ser traída pelo namorado, Oh Yeonah se torna uma pessoa cétina no amor e começa a detestar as pessoas. Ela é uma estudante universitária que trabalha meio período em um bar e, numa noite comum, ao jogar o lixo fora, se depara com um belo jovem beijando uma mulher em um beco atrás do bar. Em um primeiro momento aquilo não chama muito a atenção dela até ver aquele mesmo jovem beijado sua melhor amiga no dia seguinte. furiosa, ela vai tirar satisfações com ele e desabafa dizendo que ele é o tipo de homem que ela mais odeia.

A amiga dela fica confusa e Yeonah descobre que ela não se lembra de ter beijado o rapaz. No dia seguinte, o mesmo homem aparece como o novo funcionário temporário no bar onde ela trabalha e, ao confrontá-lo, ele lhe conta que é um goblin, claro que ela não acredita nele, mas quando um ceifador surge do nada determinado a matá-lo, Yeonah não vê outra escolha além de protegê-lo. Ela decide ajudá-lo a beijar as garotas que faltam para ele se tornar humano e, em troca, ele precisa fazer todas as tarefas domésticas.

Mas a convivência começa a mudar algo dentro de Yeonahe Ban Sook. No começo, apenas a necessidade mútua os uniu, mas logo uma amizade começa a surgir e se tornar mais forte ao ponto de ser um sentimento com que ela não está pronta para lidar e ele, ainda tentando entender as emoções humanas, não compreende. Com a regra cruel do mundo dos goblins, Ban Sook será capaz de se tornar humano?

Te falar, para um drama de 12 episódios com duração de mais ou menos 10 minutos, é uma história muito gostosinha que deixa quase nenhuma ponta solta. Faltou desenvolvimento de algumas coisas? Faltou. Mas isso não apaga quão açuquinha é a história desses dois e o quanto a gente shippa eles ao longo da história. Gostei muito e recomendo DEMAIS. Tá aí num fim de semana procurando algo rápido e leve de ver? Aposta nesse que é sucesso. 

quinta-feira, 8 de dezembro de 2022

[Livro] A Casa Torta

Original: Crooked House

Ano: 1949

Autora: Agatha Christie

Gêneros: Romance, Mistério, Ficção policial

Sinopse: Nos arredores de Londres há uma mansão com uma inusitada característica: ela é torta. É ali que o milionário octogenário Aristide Leonides mora com a esposa, cinquenta anos mais jovem, além de filhos, noras, netos e uma cunhada, irmã da primeira mulher. Quando a polícia descobre que o patriarca foi envenenado, todos os habitantes da casa se tornam suspeitos, e a discórdia passa a imperar entre os membros da família – sobretudo, olhares desconfiados recaem sobre a jovem viúva. A neta mais velha de Aristide, Sophia, junta-se ao namorado para tentar chegar ao fundo do mistério sobre a morte do avô. Muito mais que um romance policial, A casa torta foi considerado pela própria Agatha Christie como um de seus melhores livros.

Minha irmã comprou esse livro recentemente em uma de nossas idas às Americanas, como eu e o senhor Dickens não estávamos nos entendendo, acabei abandonando e peguei esse para me entreter. Logo no prefácio, a própria Agatha Christie diz que esse foi o livro que ela mais se divertiu escrevendo, mas confesso, não achei seu melhor livro. Na verdade, tanto este quanto o Noite Sem Fim que ela afirmou ser seu "melhor livro", a meu ver como leitora dela, não se equiparam à sua genialidade em O Assassinato de Roger Ackroyd. Mas tudo bem, é questão de ponto de vista e concordo com ela que nem sempre nós autores somos os melhores juízes da nossa obra.

Em A Casa Torta, um jovem chamado Charles, filho do superintendente das forças especiais, vai investigar um assasinato na casa da sua desejada futura noiva Sofia Leonides. Os dois haviam se conhecido no Cairo e se apaixonado, mas diante dessa ocasião funesta, ela se recusa a aceitar o pedido de casamento se não resolverem a situação. 

Juntamente com o inspetor, Charles começa a sondar os membros da casa como um consultor da polícia, dando uma visão de fora já que anteriormente ele trabalhara para a Scotland Yard. Porém, para sua surpresa, o caso de envenenamento parece muito mais intricado do que a superfície mostra. Todos são suspeitos, todos têm motivações para o crime e nem mesmo as crianças da casa estão livres de qualquer suspeita.

As coisas se complicam ainda mais quando o testamento do velho senhor desaparece e a fortuna fica em risco de cair toda nas mãos da viúva de quem todos suspeitam. Cabe a Charles encontrar a verdade numa casa onde ninguém parece dizer a verdade e mais mortes começam a acontecer. Se ele quiser colocar um anel no dedo de sua querida Sophia, vai precisar impedir que a vida dela se torne um lago de sangue e pior - que ela seja a próxima vítima.

Não dá para falar muito da história porque o livro é muito curto, ia acabar sendo spoiler. Confessar para vocês que os livros nos quais Poirot não aparece costumam me ser menos interessantes. Mesmo os livros de Miss Marple eu não gosto muito, em geral, os casos são mais sem graça e ela sempre descobre tudo na base da fofoca, não acho muita graça. Com Poirot, entretanto, é diferente. Ele vai à cena do crime, ele levanta suas hipóteses em conversas com os suspeitos e sempre recapitula o caso da forma mais divertida, com aquele monólogo enorme nos últimos capítulos.

 Tal como Noite Sem Fim, esse livro traz a observação parcial de uma pessoa de fora que não tem qualquer tipo de vínculo com o trabalho de detetive e, mesmo sendo um soldado, Charles é um completo leigo no que diz respeito à investigação. Se por um lado isso é válido para nos aproximar da história, uma vez que conseguimos nos colocar na pele do protagonista e só recebemos as informações que ele recebe, se torna um pouco massante porque a fluidez da narrativa não ganha a mesma emoção de ver aquilo tudo na terceira visão limitada - mas ampla - de Poirot. Opinião minha, só para salientar.

Inclusive, esse foi um dos poucos livros dela em que eu acertei o assassino sem querer, praticamente. Claro que, com isso, não estou querendo dizer que o livro é ruim, de jeito nenhum. Agatha não conseguiria escrever um livro ruim, talvez nem se quisesse. Mas não me deixou sem fôlego como costuma acontecer nas leituras dela (e eu já li um bocado de livros dela). Todavia, recomendo, é uma história interessante, bem mais simples do que ela costuma criar, mas não menos divertida. Especialmente se você só quer algo para espairecer um pouco.


[Livro] Romeu e Julieta

Original: Romeo and Juliet

Autor: William Shakespeare

Primeira apresentação: 1597

Gênero: Tragédia

Adaptação de: A Trágica História de Romeu e Julieta

Sinopse: Romeu e Julieta é uma tragédia escrita entre 1591 e 1595, nos primórdios da carreira literária de William Shakespeare, sobre dois adolescentes cuja morte acaba unindo suas famílias, outrora em pé de guerra.

Não é, claro, de hoje que eu conheço Romeu e Julieta, acho que todo mundo no planeta pelo menos já ouviu falar dele. Passado meu "preconceito" de que era estranho ou difícil ler peças de teatro, após ler Hamlet — que já salientes aqui ser maravilhoso — por causa das minhas pesquisas para minha nova história, decidi ler Romeu e Julieta,  já que tinha lido adaptações e releituras, mas nunca o texto original. 

A história, presumo, vocês já sabem, mas vou fazer um apanhado assim mesmo caso alguém nunca tenha se interessado em ver nada a respeito (o que eu duvido, mas vai saber). A história segue Romeu Montequio, um bon vivant de Verona que está perdidamente apaixonado — de novo! — por um jovem que não pode ter. A bela Rosalina havia prometido se dedicar a vida religiosa e, além disso, era sobrinha do inimigo de sua família, os Capuleto. Enquanto está amargurado sob a janela de seu objeto de desejo, é abordado por seu primo Benvolio, que lhe diz sobre uma briga entre os servos das famílias.

Os dois acabam topando com um garoto em desespero que lhes pergunta se sabem ler e, assim, Romeu descobre que Rosalina vai estar em uma festa na casa de Capuleto aquela noite e decide juntar os amigos para participar, aquém de todo o perigo. Enquanto isso, o senhor Capuleto recebe do nobre Paris, parente do príncipe Escalo, uma proposta de casamento para sua filha Julieta, ao que, animado, manda sua esposa sondar a filha a respeito do enlace. A menina de 14 anos, porém, diz não pensar no assunto, mas promete tentar dar uma chance ao jovem apaixonado e considerar proposta.

Na noite do baile, contudo, ela é arrebatada por Romeu, sem fazer ideia que ele é filho do inimigo de seu pai. Os dois se apaixonam praticamente na hora e na mesma noite trocam juntas de amor eterno e planos de casamento. Para isso, pedem ajuda do confessor de Julieta e amigo de Romeu, Frei Lourenço, que diante da situação aceita traçar um plano para casar os dois, e de fato eles se casam. A coisa se complica quando o primo de Julieta mata o melhor amigo de Romeu e, no calor do momento, força Romeu a matá-lo condenando a ser banido de Verona sob pena de morte caso volte.

Desolada e se vendo prestes a ser forçada ao adultério, pois seu pai insiste em casá-la com Paris, Julieta e Romeu consumam o casamento confiando que encontrarão uma chance de fugir. Mas o plano de Frei Lourenço dá errado, Romeu acaba recebendo  notícia da falsa morte de Julieta como se fosse verdadeira e vai até um boticário comprar um veneno potente, assim, no mausoléu dos Capuleto, ele tem um confronto com Paris, a quem acaba matando, e depois bebe o veneno ao lado de sua esposa. 

Julieta, contudo, acorda da morte falsa e encontra o marido morto ao seu lado. Desesperada, ela pega a adaga dele e crava no próprio peito, morrendo em seguida. E assim acaba a história, com as famílias dando um fim ao conflito e prometendo erguer uma estátua de ouro do casal.

Já perdi a conta de quantas adaptações eu assisti dessa peça, por enquanto a única que me falta é a ópera.  Vi a adaptação de 68, apesar de me lembrar muito pouco recordo que é até bem fiel à peça. O que não digo da adaptação de 96 com Leonardo Di Caprio, todas aquelas armas e cenas coloridas parecendo um faroeste moderno. Tem ainda a versão de 2013 com o Douglas Booth no elenco que, tirando aqui e ali uma licença poética, também se mostrou fiel à peça. Tem também um musical chamado West Side Story que recentemente recebeu um reboot, mas esse fez uma repaginada geral na história abordando o preconceito contra os latinos nos EUA e a briga entre gangues. E nem posso esquecer de Cartas para Julieta que, apesar de não focar realmente na trágica peça, indubitavelmente reúne alguns elementos adaptativos da obra, tal como o quase ridículo Cupido Trapalhão do Didi que é risível de tão mal atuado. 

Já na literatura, li Julieta Imortal, de Stacey Jay tal como sua sequência Romeu Imortal, e Julieta de Anne Fortier recentemente resenhado por aqui pela segunda vez. (pelo menos que eu me lembre de livro foi só), devo dizer que ambas as versões são excelentes, mas a de Fortier foi a que mais gostei, pois ela não só fez uma versão completamente nova da história, mas trouxe elementos históricos factuais que contribuíram muito para a imersão na leitura.

O negócio é que eu tenho problema com essa peça antes mesmo de ler, verdade seja dita. Sempre achei o amor súbito dos dois muito superficial, se por um lado Romeu era um cabeça de vento que só se preocupava em cantar mulheres que não podia ter "pra ver se rola" Julieta era muito menos jovem inocente do que se fazia mostrar, além disso, aquele extravasar de sentimentos tumultuados quando eles sequer se conheciam de verdade, acho que Shakespeare matou os dois porque se eles conseguissem mesmo fugir o casamento ia ser um fracasso! Não encontrei verossimilhança nesse "amor" deles. 

Novamente, isso é opinião MINHA. 

Num cômputo geral, prefiro muito mais as adaptações literárias da peça, não lembro de ter gostado de nenhum dos filmes adaptados ou inspirados nela. Nem tracei perfil psicológico dos personagens porque não é da minha área. Pretendo, sim, ler outras peças de Shakespeare, mas de já posso dizer que essa não chega aos pés de Hamlet, embora tenha sim algumas passagens bonitas.

Algo interessante sobre a obra é que realmente existiu uma família Montequio em Verona no século XIII, se não me engano, e uma Capeletti creio que na mesma época, mas não achei nada concreto a respeito de uma possível rivalidade entre as duas. Sei que a casa hoje considerada museu da casa de Romeu realmente pertenceu à família Montequio na idade média. A inspiração de Shakespeare, todavia, foi um poema de Arthur Brooke que, por sua vez, se inspirou em textos anteriores contando praticamente a mesma história. Contudo, o intuito original de Romeu e Julieta era, na verdade, moralista, uma mensagem aos jovens para obedecer aos pais, do contrário teriam um fim trágico, algo que Shakespeare sabiamente ignorou.

[Relendo&Resenhando] Julieta

Original: Juliet

Autor: Anne Fortier

Ano: 2010

Gêneros: Romance, Romance de amor, Ficção histórica

Sinopse: Julie Jacobs e sua irmã gêmea, Janice, nasceram em Siena, mas, desde que seus pais morreram, foram criadas nos Estados Unidos por sua tia-avó Rose. Quando Rose morre, deixa a casa para Janice. Para Julie restam apenas uma carta e uma revelação surpreendente: seu verdadeiro nome é Giulietta Tolomei. A carta diz que sua mãe havia descoberto um tesouro familiar muito antigo e misterioso. Intrigada, Julie parte para Siena. Mas tudo o que a mãe deixou foram papéis velhos – um caderno com diversos esboços de uma única escultura, uma antiga edição de Romeu e Julieta e o velho diário de um famoso pintor italiano, Maestro Ambrogio. O diário conta uma história trágica: há mais de 600 anos, dois jovens amantes, Giulietta Tolomei e Romeo Marescotti, morreram vítimas do ódio irreconciliável entre os Tolomei e os Salimbeni. Desde então, uma terrível maldição persegue as duas famílias. E, levando-se em conta sua linhagem e seu nome de batismo, Julie provavelmente é a próxima vítima. Tentando quebrar a maldição, ela começa a explorar a cidade. À medida que se aproxima da verdade, sua vida corre cada vez mais perigo. Repleto de romance, suspense e reviravoltas, Julieta nos leva a uma deliciosa viagem a duas Sienas: a de 1340 e a de hoje. É a história de uma lenda imortalizada por Shakespeare. Mas é também a história de uma mulher moderna que descobre suas origens, sua identidade e um sentimento devastador e completamente novo para ela: o amor.

Se você leu minha primeira resenha de Julieta (resenha 84 na lista de livros resenhados) deve lembrar que eu não gostei muito do livro quando o li a primeira vez sete anos atrás. Ali em meus 25 anos, a história soou chata, com uma protagonista tonta e descrições massantes que tornavam o livro cansativo. Pois bem, para escrever ROMEO - Teatro da Meia-Noite, minha mais nova história no wattpad, estou me "nutrindo" de tudo que posso a respeito do folclore asiático e de Romeu e Julieta, afinal, eles são o foco do plot de certa forma.

Comecei minhas pesquisas vendo alguns dramas (inclusive, ainda preciso rever alguns) e optei por pegar esse livro para ler de novo, já que fazia um bom tempo desde a primeira leitura e, anos depois, com um leque maior de livros (apesar de ter lido bem pouco esses últimos dois anos) consegui ter uma visão e experiência bem diferentes do meu primeiro contato com a obra. Mas vou começar falando da história.

Julie Jacobs é uma professora de literatura com incurável vício em Shakespeare, em especial a famosa tragédia de Romeu e Julieta. Enquanto dá aulas sobre a peça para uma turma de ensino médio em um acampamento do autor, o mordomo de sua tia, Umberto, vem com a notícia de que esta havia falecido, forçando Julie a voltar para casa depois de muitos anos vivendo quase como nômade. Mas não só isso, ela tampouco queria se reencontrar com sua irmã gêmea, Janice, com quem nunca teve um bom relacionamento. 

Das posses deixadas, para Julie restou uma comprida carta com a promessa de um tesouro na Itália enquanto a casa e todo o dinheiro da tia ficou para Janice, algo que Julie não conseguiu entender, mas aceitou. O problema é que, por causa de Janice, ela não podia voltar à Itália por ter problemas com a polícia e para isso Umberto lhe dá um passaporte com seu verdadeiro nome, Giulietta Tolomei. A descoberta de sua nova identidade é tão surreal quanto a possibilidade de ter uma ligação com a personagem de Shakespeare.

No aeroporto, ela conhece uma rica mulher chamada Eva Maria Salimbeni que, curiosamente, fica muito feliz ao descobrir que ela é Giulietta Tolomei e parece saber muito sobre a família que Julie nunca conheceu. Ela faz arranjos para sentar ao lado de Julie no avião e as duas conversam muito, a mulher expressa o desejo que a garota conheça seu afilhado, Alessandro, com quem acredita que ela vai se dar muito bem. Contudo, contrariando suas expectativas, o rapaz é super desagradável com ela quando se encontram, embora haja nele algo que atraia Julie. Não fosse ainda pior, o homem é capitão da polícia sienense.

Temendo que ele pesquise sobre o seu passado - e tendo a certeza que ele vai fazer isso - Julie tenta se manter o mais longe possível dele enquanto tenta desvendar o enigma do seu passado que pode estar ligado a uma rivalidade centenária entre famílias sienenses arrastando-se até a atualidade. Além disso, a família rival dos Tolomei pode ter sido responsável pela morte dos seus pais. Em paralelo, Julie também descobre que Romeu e Julieta foi uma realidade bem diferente e até mesmo amena da sangrenta história real entre as famílias Tolomei e Salimbeni que ainda permanece mesmo séculos depois.

Quanto mais fundo vai na investigação do passado que culminou a morte de seus pais e na história verdadeira de Romeu e Julieta, Julie se vê numa teia de conflitos e interesses que se mostra mais intrincada — e mortal — do que ela imaginou. Agora, se quiser sobreviver, ela vai ter de unir forças com sua irmã Janice para desvendar a verdade da sua vida e ter a chance de sair viva da história sem final feliz.

Como é bom reler livros. Por mais que você lembre da história, é sempre como se você estivesse lendo pela primeira vez e com esse não foi diferente. Talvez a primeira vez que o li não fosse o momento certo dele para mim já que a leitura agora não só foi muito mais empolgante e imersiva, simplesmente me apaixonei pela história. A maneira como ela reinventou Romeu e Julieta de uma forma plausível e,  sobretudo, verossímil, foi deliciosa de ler. Claro que se manteve aquele amor a primeira vista meio sem sentido, mas pelo menos teve alguma espécie de fundamento que sustentou nossa crença naquele sentimento.  

Ainda achei Julie muito chata. Mas simplesmente cai de amores com a crueza e a veracidade com que ela retratou o passado, sem a maquiagem que geralmente a idade média recebe. Já na atualidade, a trajetória de Julie é mais uma mistura de investigação sherlockiana com a tumba perdida. Dessa vez eu pude ter uma visão melhor da trajetória e evolução da personagem, ainda que continue não gostando dela (não tem como, gente, ela é muito besta) entendi o contexto em torno dela e sua situação. Isso tornou algumas atitudes dela muito mais coerentes. 

Quanto as descrições, em determinados momentos realmente ajudavam na imersão, ainda assim senti que bo parte delas, especialmente quando eram muito longas, deixavam a história um pouco arrastada, contudo em nada diminuindo brilho e o fôlego da narrativa. Plot twists maravilhosos e pontuais que deixam a gente de cara, mistérios bem construídos e sombrios, quebra-cabeças dignos de uma boa história de suspense, enfim, a receita perfeita de um livro apaixonante. Mesmo o romance é gradual e construído de maneira que a gente se pegue torcendo por eles mesmo que não seja fã da protagonista. Alessandro, por sua vez, foge do estereótipo de herói romântico sendo construído como um homem intenso e apaixonado na medida certa para sua natureza ponderada e estrategista. 

Julieta é o tipo de leitura que leva a gente para outro mundo, tirando nossa mente da realidade e nos transportando direto para um mundo medieval de ódio e disputas que atravessam o tempo.  Eu não diria ser uma leitura obrigatória, mas acredito ser indispensável para os bons amantes de romance romance ficção histórica. No começo pode ser meio lento, mas persistam na leitura que vai ser uma experiência incrível.