domingo, 21 de maio de 2023

[Livro] Rangers - A Ordem dos Arqueiros #3 Folha de Carvalho

Original: The Battle for Skandia

Autor: John Flanagan

Ano: 2015

Páginas: 288

Gênero: Fantasia, Comédia, Aventura

Sinopse: A chegada da primavera começa a derreter a grossa camada de neve do inverno escandinavo. Depois de semanas de muito frio e comida escassa, Will e Evanlyn vislumbram a primeira chance de continuar com sua fuga. Mas Evanlyn é capturada por um misterioso cavaleiro.

Quando Will parte em busca da jovem princesa, reencontra Halt e Horace. Juntos, eles descobrem os planos dos temujai, um povo guerreiro das Estepes do Leste, que havia reunido um poderoso exército invasor no intuito de dominar a Escandinávia. Halt percebe que a invasão do reino gelado representa somente o início da investida dos temujai, que, certamente, logo se lançariam contra Araluen. Por isso, ele decide oferecer ajuda aos escandinavos.

Assim, resgatar Evanlyn passa a ser apenas o primeiro desafio no caminho de Will. O segundo, muito mais doloroso e imprevisível, será lutar lado a lado com os escandinavos, o povo que o escravizou, a fim de impedir a ascensão de um inimigo comum.

Seria Ragnak, líder do povo escandinavo, capaz de deixar seu ódio de lado e aceitar o auxílio de arqueiros araluenses? Quais consequências uma aliança como essa pode trazer?

Olha, depois de dois livros penando para terminar e quase dormindo de tédio, finalmente o ânimo e o fôlego da narrativa voltaram! O problema de sagas muito grandes é que elas começam com todo o gás, mas vão lenteando muito no meio até pegar pique de novo, o segundo e o terceiro volumes de Rangers foram sofríveis para mim.

Depois de sofrer o pão que Ragnak amassou e ser viciado na erva do calor, Will e Evanlyn, com a ajuda de Erak, conseguem fugir do castelo e se abrigar em uma cabana de caçador nas montanhas. Por causa do inverno rigoroso do norte, ninguém se atreveria a ir atrás deles. Porém, agora que a neve começa a derreter, os dois precisam seguir viagem, mas Will ainda não está completamente forte para isso e, desse modo, Evanlyn pede que esperem mais um pouco. Mesmo com poucos recursos, eles haviam conseguido sobreviver bem ao inverno, pelo menos o melhor que as condições no lugar ofertavam, e ela aprendera bastante com o arqueiro tão logo ele conseguiu recuperar sua lucidez.

Enquanto isso, Halt e Horace continuam sua busca pelos dois quando finalmente alcançam a fronteira as terras escandinavas, Halt começa a pensar em uma maneira de atravessar sem maiores problemas, apenas para descobrirem que o forte da passagem fora atacado por um grupo de guerreiros temujai, um povo bárbaro muito conhecido do arqueiro. Não gostando nada daquilo, eles seguem o rastro do grupo para poder descobrir mais sobre o motivo de estarem ali. 

Evanlyn, por sua vez, é capturada por um dos membros do grupo temujai e Will, preocupado com sua demora, vai atrás dela, demorando mais que o preciso por causa da sua debilidade. Finalmente, no acampamento do grupo temujai, aprendiz e mestre se reúnem e a gente apenas respira aliviado acreditando que tudo vai ficar bem. E até fica, um pouco. Will impede que Evanlyn seja morta e Horace consegue derrotar o grupo temujai levando consigo um prisioneiro por ordem de Halt. Sem alternativa diante daquela ameaça, o arqueiro decide levar Will e Evanlyn de volta para Hallasholm — de onde eles praticamente tinham acabado de fugir! — para avisar a Ragnak sobre o ataque.

No caminho, eles acabam encontrando com Erak e Halt relata tudo, os dois acabam fazendo um acordo e voltam juntos para o castelo escandinavo com o chefe militar prometendo a Halt que tanto Evanlyn quanto Will serão protegidos por ele de Ragnak. Ele sabe que Halt é sua melhor chance de vencer aquele povo estranho e perigoso. É claro que o oberjal não gosta muito de receber ajuda de um arqueiro araluense, mas diante dos fatos apresentados por Erak, ele não vê saída se quiser preservar suas terras e suas posses.

Will, recomendado por seu mestre, volta a imergir em um duro treinamento para recuperar o tempo perdido e o enfraquecimento de suas habilidades. Assim, Evanlyn se refugia em Horace já que o arqueiro não lhe dispensa mais atenção. Com a ameaça temujai cada vez mais perto, mesmo apesar das intervenções de Halt, a preparação se torna cada vez mais urgente e um traidor pode colocar em xeque a já pequena chance de vitória deles. Mesmo Evanlyn conseguindo descobrir o plano do escandinavo traidor, sua identidade como princesa Cassandra é revelada colocando sua vida em jogo.

Agora, além da ameaça temujai, perigosa não apenas para escandinávia, mas para Araluen também, Halt e Will precisam usar todas as suas cartas para salvar o pescoço da princesa do vallasvow feito pelo oberjal. E, mesmo que consigam sair vivos da empreitada, a amizade de Will com Evanlyn vai continuar a mesma após aquela revelação?

Tal como o primeiro livro, esse quarto volume trouxe de volta a carga cômica em momentos acertados e o velho Halt cheio de sarcasmo em cenas simplesmente hilariantes mesmo nos mais perigosos cenários. Senti muito a falta disso nos dois volumes anteriores. O que eu não gostei muito aqui foi esse romancinho forçado entre Evanlyn e Will, especialmente na tentativa de triângulo amoroso envolvendo Horace. Achei tão fora de tom pra narrativa focada em ação. Eu não consigo ver os dois como casal, sério.

De resto, as interações entre Halt e Erak eram o ponto alto da narrativa, sempre rendendo risadas certas e a fortificação de uma amizade improvável entre dois povos inimigos. Gostei muito disso. E ver o carinho sincero entre Halt e Will é um verdadeiro calorzinho no coração. Houve, inclusive, uma verdadeira evolução de Will nesse livro, após crescer tanto como arqueiro, ele teve que praticamente se recuperar em tempo recorde e encarar uma guerra de cara após meses apático e com abstinência da droga. Reconheço o papel da amizade de Evanlyn nesse processo, mas fica nisso, amizade, não consigo ver eles como casal, nem acho que isso cabe na narrativa.

A amizade entre Horace e Will também foi algo que evoluiu e gostei muito de ler. Desde o segundo livro eles começaram a se respeitar e ver esse sentimento aprofundado foi algo muito bom de ler. Além da consolidação da relação entre Will e Erak, se a gente gostou do personagem no terceiro livro, nesse a gente realmente coloca ele no coração. O quarto volume de Rangers reacendeu meu carinho pela saga que havia ficado preso no primeiro livro. Espero que os próximos continuem mantendo esse ritmo com poucas oscilações na narrativa.

sábado, 20 de maio de 2023

[Anime] Spirit Pact — bond of the underworld

Original: 灵契 2

Episódios: 12

Gêneros: Ação , Boys Love , Comédia , Sobrenatural

Direção: Li Haoling

Ano: 2018

Sinopse: Nesta nova temporada, descobriremos a história de fundo de Tanmoki e saberemos através de suas memórias quem foi seu ancestral Rakugetsu.

Yang Jinghua já está acostumado a ser a sombra espiritual de Duanmu Xi, tal como se adequou as excentricidades do outro. Não há como negar que, além do contrato que os une, ele começou a nutrir certa afeição a mais pelo youmeishi, por isso, quando ele começa a ter uma consciência mais clara do mundo de Duanmu Xi, passa a se perguntar se é mesmo capaz de protegê-lo, especialmente quando o outro sempre o mantêm longe dos detalhes.

Uma nova figura do passado de Duanmu Xi parece voltar para assombrá-lo e, quando sua vida fica em perigo, apenas Yang Jinghua é capaz de acessar o mais profundo de sua alma para conseguir alcançá-lo e salvá-lo de si mesmo, mas isso implica invadir o passado misterioso do youmeishi, ele será capaz de lidar com o que vê ou a verdade acabará separando-os ainda mais?

Sério, eu quase não consigo assistir esse trem por causa da dublagem em japonês. Não importava o quanto procurasse, não achei com o áudio original em canto nenhum e foi frustrante, porque estava acostumada com as vozes em mandarim e os nomes também. 

Confessar, comparada com a primeira temporada achei essa aqui bem morna. Não sei se foi por causa da dublagem ou pela história em si, mas todo esse arco do Zhangzxuan me soou tão monótono. Duanmu Xi entrou pouco em ação aqui também, e era muito irritante ele mantendo o Jinghua fora de tudo ao invés de apenas se abrir pra ele, nem pude culpá-lo por ser envenenado e descontar tudo nele. A impulsividade do Jinghua nem pode causar raiva porque a culpa fica com o Duanmu, se ele apenas conversasse com ele, as coisas seriam diferentes.

O triângulo amoroso com o Shenlong foi desnecessário. Tudo bem que funcionou como ferida emocioal do personagem e elucidou várias atitudes do Duanmu, mas, sério, usar esse subterfúgio para firmar o contrato entre ele e o Jinghua foi apelativo. Pelo menos pra mim. Achei essa temporada bem apagada, mesmo dando protagonismo para outros personagens como a Jiun. 

[Drama] Love, Timeless

Título original: 鐘樓愛人

País: Taiwan

Ano: 2017

Diretor: Eri Hao

Roteirista: Neko Hsu

Gêneros: Comédia, Romance, Drama, Fantasia

Episódios: 15

Sinopse: O tempo é uma carta de amor, a quem pode interessar. Não há "o que se" na vida. Mas e se você for mais jovem em 10 anos, o que você quer mudar? Um dia, Shi Zhao Yu e Kai Jia receberam um convite de seu amigo universitário Ruo Bi para voltar à base secreta "Clocktower" de seus dias de universitários. Este "Clocktower" é, de fato, uma sala de aula abandonada / laboratório - a base secreta onde se reuniam Zhao Yu, Kai Jia, Ruo Bi, Jun Ren, Hai Meng e Zhi Ni. Naquele dia, quando todos chegaram, Ruo Bi estava de pé no terraço da torre do relógio. Quando todo mundo estava nervosamente gritando para fora para Ruo Bi, uma luz de repente brilhou do relógio na parede... Até o momento Zhao Yu abre os olhos novamente, ele está de volta ao ano de 2007, quando ele estava no ano 2 da Universidade naquele ano. Depois de várias tentativas fracassadas de tentar voltar ao ano 2017, Zhao Yu decidiu re-gozar a juventude, re-desafiar o jogo de basquete que ele tinha perdido uma vez e também tentar perseguir a popular Shen Ruby.


Tenho que agradecer a existência do telegram, porque faz anos que eu procuro esse drama, mas não achei nem em inglês. Por sorte — e sem infligir dano algum aos fansubs — o grupo Cadê meu Drama antigo, que posta dramas de fansubs desativados, tem esse é mais um monte de dramas que julguei perdidos para sempre. Assim, mais de cinco anos depois, pude assistir Love, Timeless.

A trama gira em torno de Zhao Kai Jia, uma assistente social, com uma paixão de dez anos por Shi Zhao Yu, o garoto com quem ela cresceu. Na adolescência por causa de problemas com seus pais ela foi morar com Zhao Yu e seus pais, que a adotaram como filha. Assim, o garoto a vê apenas como uma irmã mais nova e não interesse romântico. Por sua vez, Zhao Yu é um mulherengo incurável, ele nunca consegue estabelecer uma conexão real com nenhuma das suas namoradas e fica pulando de uma para outra por pouco tempo. 

Ele trabalha em uma empresa de cosméticos e alcançou sucesso com a criação de uma máscara facial, mas sua empresa está prestes a ser comprada por Li Jun Ren, um dos seus maiores desafetos na universidade. Ele é casado com Shen Ruby, uma cantora famosa e também amiga de Zhao Yu e Kai Jia na faculdade. Mas Jun Ren não a trata bem, sempre a traindo e nunca dando a ela o amor que precisa. 

Após uma noite de bebedeira, Zhao Yu vai atrás de Kai Jia para conversar, mas os dois acabam passando a noite juntos. Só que ele vê isso como um erro por não entender os sentimentos que tem por ela e, assim, vai embora no outro dia sem dizer nada. Ao confrontá-lo, ele não consegue explicar o que sente por ela e, irritada, Kai Jia vai embora. Num programa de rádio, Ruby pede que os cinco amigos do seu grupo da faculdade se encontrem com ela no dia seguinte na torre do relógio. Quando eles chegam lá ela se suicida pulando do prédio.

Nesse momento, antes do seu corpo atingiu o chão, o tempo para e todos eles voltam para 2007, dez anos atrás, quando ainda estavam na faculdade. Com essa segunda oportunidade e suas mentes dez anos evoluída de 2017, Kai Jia, Jun Ren e Zhao Yu tem a chance de mudar o curso das suas vidas e salvar Ruby da morte. Mas eles serão capazes de superar os medos e as dificuldades que trouxeram consigo do futuro?

No começo, não estava dando muito nesse drama não, achava o Zhao Yu um idiota. A bem da verdade, eu achei ele um idiota o drama todo! Só por não ser capaz de aceitar seus sentimentos pela Kai Jia, ele ficava impedindo a menina de viver, não queria ficar com ela, mas não deixava ela tentar se apaixonar por mais ninguém, era revoltante. Por isso amei quando ela disse umas verdades na cara dele. Contudo, ela não está livre de chatice, a maneira como ela se valorizava tão pouco me irritava. Tudo para ela tinha sempre que estar condicionado ao Zhao Yu, e mesmo quando ela decidiu agir por si mesma, cedeu muito rápido pra ele depois.

Eu tinha alguma simpatia pelo caso de Ruby e Jun Ren, o controle da família sobre eles e o casamento arranjado é uma dura realidade que ainda existe na sociedade asiática, com a lavagem cerebral que fazem nas crianças sobre a "piedade filial" que anula completamente sua autonomia sobre suas vidas, embora me sentisse bem revoltada com os dois algumas vezes, eu conseguia entender porque agiam daquela forma. O que eu não conseguia perdoar era a maneira como a Ruby se valorizava tão pouco ao ponto de se matar porque outra pessoa não a amava, e daí? Ela não podia se amar antes? Dane-se se o Zhao Yu não gostava dela, se o Jun Ren só tinha interesse financeiro, mas e ela mesma? Por que ela não se amava antes? 

Mesmo quando a situação da família dela foi explorada, fiquei indignada com a atitude dela sim. Desse modo, por mais cruel que tenha sido, quando Jun Ren disse essa verdade na cara dela, meio que lavou minha alma. Ela era linda, inteligente, talentosa, não precisava de um homem para definir ela como mulher. O Jun Ren no início era intragável, mas acabei pegando alguma simpatia por ele depois, mas no último episódio ele foi tão babaca que eu quase torci pro sad ending dele, juro. Mas ele se redimiu no final, pelo menos foi melhor que o Zhao Yu.

E por falar em final, ver esse drama me lembrou aquele péssimo hábito dos asiáticos de apressar tudo nos 42 do segundo tempo. Último capítulo e tudo estava acontecendo ao mesmo tempo, rápido demais, não dava nem pra gerenciar as emoções. Ainda assim, eu gostei muito do drama, acho que vale a pena pesando prós e contras, os personagens são bons, as interpretações também e a gente acaba se identificando com eles até certo ponto. Recomendo.

segunda-feira, 15 de maio de 2023

[Livro] Triste Fim de Policarpo Quaresma

Publicação: 1915

Autor: Lima Barreto

Gênero: Ficção

Páginas: 352 (1.ª edição)

Sinopse: Sátira impiedosa do Brasil oficial, Triste Fim de Policarpo Quaresma narra o destino tragicômico de um nacionalista ingênuo e idealista, completamente alucinado pela ideia de fazer do Brasil um país grandioso. Para isso, ele bola estratégias amalucadas, prega o retorno do tupi-guarani e insiste em redigir documentos oficiais nessa língua. Com uma narrativa leve e cômica, recheada de críticas a vários aspectos da sociedade, a obra faz uma descrição política do Brasil da Primeira República, enfocando fatos históricos do governo de Floriano (1891 - 1894), e traça um rico painel social e humano dos subúrbios cariocas na virada do século. Considerado expoente do Pré-Modernismo brasileiro, Triste Fim de Policarpo Quaresma é uma história farsesca e extremamente divertida.

Aos poucos, bem devagar mesmo, vou me inteirando da literatura brasileira. Comecei com Machado na escola, por espontânea vontade, sem a obrigação das aulas de literatura que, na minha época, não existiam e fiquei apaixonada pela narrativa lírica e fascinante dele em Iaiá Garcia e Helena. Depois tentei passar para José de Alencar e seu O Guarani, mas não me caiu muito bem, talvez porque, na época, eu não fosse madura o bastante para entender o propósito daquela obra. E, de fato, por essa impressão ruim, nunca retornei ao livro quando mais velha, porque a prosa de Alencar não me cativou. Ao longo da minha vida acadêmica, pude conhecer outros autores nacionais como Castro Alves, Vinícius de Moraes, Lygia Bojunga, Luis Puntel e o maravilhoso Aluísio de Azevedo com seu O Cortiço, obra pela qual me encantei.

Então, após revisitar Machado em O Alienista, obra que ainda não conhecia, decidi tentar Lima Barreto, autor ainda não lido por mim, mas muito comentado na faculdade e o escolhido foi O Triste fim de Policarpo Quaresma. Não tenho certeza se a escolha foi consciente ou apenas porque achei o volume grátis na Amazon meio sem querer.

A história acompanha Policarpo, um funcionário público completamente apaixonado pela sua pátria. Seu desejo era servir as forças armadas, mas por não ter passado nos testes médicos, precisou se contentar com seu emprego comum, no qual era muito dedicado — embora fosse um trabalho enfadonho — por ser sua maneira de contribuir para o crescimento do Brasil. 

Policarpo passava horas estudando sobre o país e, quanto mais aprendia, mais seu desejo de tornar o Brasil uma nação forte e independente aumentava, suas ideias começaram a ficar cada vez mais descontroladas até chegar ao ponto de escrever aos superiores pedindo que o tópico guarani, língua original do Brasil, fosse tomada como o idioma oficial do país, algo que o tornou chacota em todo o Rio de Janeiro. Mas foi quando, por distração, redigiu um importante documento em tupi-guarani que sua situação piorou.

Passando um período em um hospício por própria internação, os únicos a visita-lo eram sua afilhada Olga, junto ao pai, e seu amigo músico Ricardo Coração dos Outros, outrora seu professor de violão. Quaresma, embora não "curado" de seu patriotismo fanático, ao menos tomou a lição de freiar seus impulsos visionários e, assim, optou por se refugiar no campo sob o ideal de tornar-se exemplo a outros para levar a agricultura do país a um novo patamar e,  dessa forma, tornar o Brasil uma nação avançada e autossustentável. 

Contudo, logo Quaresma descobre que seu mundo utópico e idealista não se encaixa na realidade. São os homens de poder que decidem aqueles que prosperam e os que definham e são esses mesmos homens que delineiam o futuro da pátria que ele tanto ama. Todavia, por sua ingenuidade infantil e sua pureza de intenções, ele não se detém de fazer sua parte e vibra com cada pequeno sucesso.

Quando a república começa a se instalar, lentamente, no Brasil sob a presidência do marechal Floriano Peixoto, marinha se revolta numa tentativa de expulsar o militar da presidência.  Não uma vez, Barreto se refere ao homem como ditador. Assim, vendo a oportunidade de ser útil a sua pátria num momento difícil, Quaresma se alista no exército em favor da República, mas tanto sua inexperiência quanto seus ideais patrióticos vão acabar condenando-o ao jugo de uma nação que só se importa com sua própria mediocridade. 

"O casamento já não é mais amor, não é maternidade, não é nada disso: é simplesmente casamento, uma coisa vazia, sem fundamento nem na nossa natureza nem nas nossas necessidades." P. 159

Ler esse livro me causou diferentes emoções. Apesar de ele ser bem engraçado em várias partes, o humor não me tocou. Mas o tom mais filosófico sim. A prosa poética e afiada de Barreto por vezes era um soco no estômago. Policarpo tinha suas vezes de Don Quixote, a loucura idealista por uma pátria perfeita e estável que, até poderia ser real, se as pessoas que a compõem fossem leais a si mesmas e ao desenvolvimento do todo e não de seus próprios umbigos. Mas nós sabemos que não é assim que acontece.

O livro foi escrito no final do séc XIX, mas soa tão atual como nunca. Tem seu tom acido e irônico diversas vezes, poderia muito bem ter sido escrito na época da ditadura,  e muitas passagens são até um pouco assustadoras por se encaixarem como luva na nossa sociedade "avançada". Carregado de personagens interessantes, por vezes propositadamente caricatos, Triste Fim de Policarpo Quaresma é o tipo de livro que acho todo mundo devia ler. 

Seu protagonista é um tolo idealista, por vezes patético, mas nos encanta pela sua inteligência aguçada, a inocência infantil e o empenho com que se dedica aos sonhos. Por isso, acompanhar sua saga e por vezes comovente e seu desfecho nos deixa um gosto amargo de uma realidade ainda muito jovem na nossa história. Recomendo.

domingo, 7 de maio de 2023

[Anime] Jie Yao

Título Original: 解药

Ano: 2020

País: China

Gêneros: Slice of Life

Sinopse: Cheng Ke conhece Jiang Yuduo por acaso e, sem saber, acaba alugando seu apartamento. Esses dois estranhos que levam vidas completamente diferentes entram em conflito, oscilando entre rejeição e compreensão. Passando por dificuldades e se esforçando, os dois conseguem uma vida melhor.


Como é sempre muito difícil achar donghuas em 2D, eu acabo dando chance a todos que aparecem pela frente e, como estou com planos de ver mais produções da China por causa do listening, essa era uma das opções do catálogo. 

Jie Yao (ou antídoto) conta a historia de Cheng Ke, o filho mais velho de uma família muito rica que é expulso de casa e da empresa pelo pai sem ao menos saber a razão. Ele desconfia que seu irmão Cheng Yi está por trás disso, mas não tem provas. Assim, furioso, ele decide dar as costas para a família e seguir sua vida. Enquanto anda pela rua acaba topando com Jiang Yuduo e os dois brigam.

Contudo, apesar desse péssimo começo, Cheng Ke acaba alugando um apartamento sob a responsabilidade de Jiang Yuduo, os dois não se dão muito bem, mas aos poucos vão se aproximando e tentando conviver. Todavia, há algo estranho em Yuduo, quanto mais o conhece, mais Ke desconfia que ele esconde um segredo muito doloroso e passa a se esforçar para ajudá-lo.

Os dois passam a se dar apoio mútuo para alcançar o sucesso naquilo que amam fazer e a superar os fantasmas que os aprisionam. A amizade cresce e se fortalece tornando-se um laço fraterno que os ajuda a superar os obstáculos.

No começo, confesso, não estava gostando muito. Mas conforme os episódios iam passando comecei a me envolver com as personagens e fiquei curiosa para saber o real problema do Jiang Yuduo. Não é o donghua mais incrível do mundo, mas convenceu o bastante para eu ir atrás da novel. Não achei uma tradução dela em português, mas vou procurar uma em inglês para ver se consigo ler.

É um anime Slice of Life, então pode ser um pouco lento a princípio, para quem não curte o gênero melhor passar longe. Mas embora os capítulos sejam bem curtinhos (coisa de uns 15 a 18min) os personagens se desenvolvem até bem. O resultado é uma história de amizade forte que fortalece ambos para se tornarem suas melhores versões. No fim, acho que vale a pena conferir.

[Drama] Horimiya

Título original: ホリミヤ

Gêneros: Comédia, Romance, Vida, Juventude

Ano: 2021

País: Japão

Sinopse: Embora seja admirada na escola por sua amabilidade e habilidade acadêmica, a estudante Kyouko Hori esconde outro lado dela. Com os pais muitas vezes longe de casa devido ao trabalho, Hori tem que cuidar do irmão mais novo e fazer as tarefas domésticas, não deixando chance de socializar fora da escola.

Enquanto isso, Izumi Miyamura é vista como um otaku taciturno de óculos. No entanto, na realidade, ele é uma pessoa gentil, incapaz de estudar. Além disso, ele tem nove piercings escondidos atrás de seu cabelo comprido e uma tatuagem nas costas e no ombro esquerdo.

Por mero acaso, Hori e Miyamura se cruzam fora da escola - nenhum parecendo o que o outro esperava. Esses opostos aparentemente polares tornam-se amigos, compartilhando um com o outro um lado que nunca mostraram a ninguém.


O que posso dizer? 

Horimiya foi o melhor anime que vi ano passado, e revi tantas vezes que quase decorei. Inclusive, o trabalho de dublagem desse anime foi maravilhoso deixando-o ainda mais engraçado, leve e dramático quando precisava ser. Então, fiquei tão focada no anime que deixei o drama passar em branco. 

Confessar pra vocês, algumas animações simplesmente não combinam em Live action, porque expressões, atitudes e até mesmo gestos de alguns personagens não tem como reproduzir com atores de verdade. Horimya é um desses casos. 

O drama tem 7 episódios que compila os principais eventos dos 12 episódios do anime. A coisa é que eles ficaram bem mais no romance e deixaram a comédia de lado. Esse ator é o mesmo que fez o Kazehaya em Kimi ni Todoke e, assim, nada contra ele, mas não é de longe o Izumi que eu imaginava.

Hori teve sua personalidade muito mudada, a comédia que ela representava, tal como outros personagens, ficou de lado pra uma garota que sentia apenas certa insegurança consigo mesma. O Izumi também se converteu no personagem que passa pelo arco da mudança e todo o contexto que o envolvia foi muito comprimido.

No fim, se tornou quase aquele romancinho padrão que a gente está acostumado em jdramas, apesar de ter sido fofo, não deu aquela sensação de coração quentinho e identificação que rolou no anime. Todas as cenas icônicas — ou pelo menos boa parte delas — esta lá, mas a gente não vibra com elas. Há poucas novidades, que são muito bem vindas, mas não tem aprofundamento. 

Ganhou meu 6,5 porque não atendeu as expectativas e não fez jus ao anime.