segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Entenda a Letra: Die Alive - Tarja Turunen

O vídeo clipe de Die Alive é o considerado o mais sombrio da carreira de Tarja, mesmo com o Nightwish. Dirigido por Uwe Flade, teve seu lançamento no site oficial de Tarja no dia 28 de Janeiro de 2007 e foi gravado em uma antiga base soviética nas proximidades de Berlim, na Alemanha em dezembro de 2007 durante a turnê de aquecimento e promoção do álbum.

"Ela não é sobre fantasia, ela é sobre como eu tento viver minha vida. Eu tenho visto muitas pessoas que, apesar de ainda estarem vivas, estão mortas por dentro."
Tarja Turunen sobre a letra de Die Alive

"É uma canção sobre viver cada momento da sua vida intensamente. É um vídeo de luta, sem nenhuma espada ou sangue. Uma luta para fazer o que você quiser na sua vida, de modo que se você morrer amanhã, você vai morrer vivo[...]" 
Jim Dooley adicionou o sentimento de um trailer de filme no meio da canção.

Para mim, Die Alive passa a ideia de estar perdido em si mesmo. Ao contrário do que disse Jim Dooley, não senti que a letra fala sobre viver intensamente, para mim morrer vivo tem o sentido de não ver mais nenhuma chance na vida, olhar o horizonte e não ter esperança, é como se você morresse enquanto seu coração continua batendo.
Morrer Vivo
A noite se abre
Guiada apenas por um sentimento
Tudo em volta é luz
Tudo está cicatrizado
Noite... Provavelmente é um sentimento de paixão pela escuridão, porque é sempre a noite que as nossas dores se manifestam, no silencio do nosso quarto quando podemos ser vazios, estar vazios, chorar.
Os dois últimos versos expressam o alivio momentâneo de extravasar essa dor, de colocar para fora essa torrente que arde dentro de nós e que camuflamos o dia inteiro com um sorriso falso.

Sem mais destino e sem mais mistério
Mesmo que o tempo se parta, eu vivo meus dias
Cada momento e sua memória
Não apenas para sobreviver, para morrer vivo.
Os dois primeiros versos revelam que o eu lírico vive – ou sobrevive – sem crenças, desprendido de qualquer sinal de fé ele apenas vê a vida passando e tenta acompanha-la apesar de toda dor que lhe é infligida.
Esses dois últimos, mostram que é mais que apenas respirar, mas viver como alguém que simplesmente existe, sem expectativas, sem sonhos ou ambições. Gente que vive e morre por dentro, que é incompletamente completo.

Devastando o amor
O paraíso é apenas um sentimento
Cantando no meu sangue
Mantendo-me de joelhos
O primeiro verso é uma revolta. É o que se vê no mundo de hoje, ódio, desamor, desrespeito pela vida.
Os dois versos seguintes falam do despir da fé de um eu lírico que não consegue mais colocar suas esperanças em ninguém, nem mesmo no céu. E esse mantendo-me de joelhos representa as pessoas que ficam sempre dizendo para você confiar, para orar, para confiar mantendo você ajoelhado quando seu coração não consegue mais ver expectativa em nada, e quando essas próprias pessoas tem uma fé mais abalável que a sua.



quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Entenda a Letra - Sleeping Sun (Nightwish)

Voltando ao marcador música. Era para eu ter feito ontem, mas realmente não deu. Bom, a música de hoje é bem complicadinha, porque sleeping sun tem uma letra que pode ser interpretada de pelo menos mil formas diferentes embora ela sempre tenha refletido em mim o mesmo significado,  o que me leva a dizer que é aquele tipo de música que fala particularmente com cada pessoa, por isso, a "análise" dessa semana vai ser um pouco pessoal, eu vou falar o que essa letra conversa comigo, e eu me identifico muito com ela. Então sem mais delongas, vamos lá.

Sol Adormecido
O sol está dormindo em silêncio
Era uma vez um século
Melancólicos oceanos calmos e vermelhos
Carícias ardentes ao dormir
O primeiro verso encaro o sol como a esperança, quieta, intocável, calada.
A partir do segundo eu já penso em uma era que eu gostaria de ter vivido, os oceanos melancólicos, calmos e vermelhos são as dores que assolam a minha alma, a tristeza e as “carícias ardentes” do último verso me remetem a um tempo do meu passado... A uma saudade que eu sinto e que não vai me abandonar nunca.

Por meus sonhos eu continuo minha vida
Por desejos eu contemplo a minha noite
A verdade no fim do tempo
Perder a fé se torna um crime
Os dois primeiros versos dessa estrofe refletem a passividade, os sonhos representam um ideal pelo qual eu não desisto de viver, mas os desejos pelo qual contemplo a noite são utopias que eu sei que nunca serão realizadas, a noite representa a escuridão dentro de mim, “a verdade no fim do tempo” é a admissão de que eu não estou bem, e o último verso representa as críticas de que eu não posso desistir, que eu tenho de ter fé na vida... Gente que não sabe o que você está vivendo e se acha no direito de pisar em você ou falar coisas pra você fazer como se fosse tudo simples.

Eu desejo que esta noite
Dure por uma vida
As trevas em volta de mim
Margens de um oceano solar
Oh, como eu desejo me por com o sol
Dormindo
Chorando
Com você
O refrão é o ponto alto da música. Os quatros primeiros versos, que passam a mesma informação, falam que eu não consigo me desprender da minha escuridão, dessa dor que eu trago comigo e de fato é verdade, as trevas em volta de mim são os reflexos do meu desespero, as pessoas que me machucam, a vida que me fere, e as margens do oceano solar representam as margens da minha esperança, do meu positivismo. Se você olhar o sol que parece ser engolido enquanto se põe no horizonte do oceano, remete a algo inalcançável, distante. Os últimos versos, “se por com o sol” reflete o desejo de dormir para sempre, de se libertar de todas as dores, das lágrimas, dormir e chorar com os últimos suspiros... E o “você” da letra sempre me representou o David.
Sofrimento, é o que tem em um coração humano
De meu Deus eu irei me despedir
Eu velejaria sob mil luas
Nunca achando para onde ir
O primeiro verso está claro como água não é? Tudo que povoa meu coração: Sofrimento. Já o segundo verso, “de meu Deus irei me despedir” é algo que, infelizmente, eu sou forçada a admitir, eu não tenho mais a fé que tinha antes... Eu não sou mais a garota religiosa e cheia de fé que eu fui um dia, mesmo apesar da dor... As vezes eu me pergunto em que momento eu cheguei a esse ponto. E os dois últimos versos falam sobre minhas duvidas, sobre as incertezas que eu tenho de não saber o que fazer, para onde ir, aonde chegar. Realmente eu continuo a esmo na estrada, a vida vai e eu fico à deriva no meio do nada.

Duzentos e vinte e dois dias de luz
Serão trocados por uma noite
Um momento para o poeta tocar
Até que não haja mais nada a se dizer
Os dois primeiros versos dessa estrofe fala que todas as alegrias são suprimidas pela tristeza, toda a luz por maior que seja, fora convertida em escuridão, e isso quer dizer que não importa o quão brilhante sejam os dias, a felicidade nunca vai me alcançar, a esperança vai se por no fim do dia e eu vou mergulhar em trevas e sofrimento. Os dois últimos versos falam do meu “trabalho”, refletem o sentimento que coloco ao escrever, é o meu refúgio, a minha saída, o meu desabafo. Criar é a maneira que eu tenho de externar meu sofrimento de uma maneira a levar as pessoas a verem uma beleza que eu já não consigo mais enxergar. Até que as minhas palavras se calem...

Sleeping Sun representa essa alma entorpecida, essa pessoa que vive trancada dentro de si mesma, tentando inutilmente se privar da dor que a corrói, é um desejo implícito de adormecer para sempre, de cessar de uma vez todo o sofrimento. É uma prece de ajuda, um desabafo, um prelúdio de morte.

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Luz Entre Sombras

A minha professora de prática nos levou para biblioteca hoje, tínhamos de procurar um poema para abrir o nosso projeto, Aricélia achou esse e me mostrou, eu gostei tanto que decidi postar aqui, é do grande Machado de Assis.

É noite medonha e escura,
Muda como o pensamento,
Uma só no firmamento
Trêmula estrela fulgura.

Fala aos ecos da espessura
A chorosa harpa do vento,
E num canto sonolento
Entre as árvores murmura.

Noite que assombra a memória,
Noite que os medos convida,
Erma, triste, merencória.

No entanto... Minh'alma olvida
Dor que se transforma em glória,
Morte que se rompe em vida.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Entendendo a Letra - Blood On My Hands (Xandria)

Só o Título da Música - Sangue em minhas mãos - já deve dizer que essa vai ser uma análise difícil, assim como todas as músicas de metal, pode haver inúmeras interpretações diferentes para uma mesma letra. É até interessante trazer algo deste gênero para cá, e esta será uma análise bem difícil por se tratar de uma música de metal sinfônico, que normalmente tratam de críticas religiosas, problemas políticos e sociais, ou mesmo são puro poema sobre amor, ódio, destino e superação. Descobriremos agora - ou eu pelo menos vou tentar - o que há por trás de Blood On My Hands.
Let's Start!

Estrelas de prata em minha noite escura
Fria como o gelo, mas bela
Errante através de sombras quebradas
O rio da vida está todo cheio de pecados
A água que bebo é o sangue em minhas mãos
Como eu disse, é uma análise complicada, mas Blood on my hands parece tratar-se de uma pessoa profundamente perdida e em conflito consigo mesma, pelo menos é isso que passa para mim. As estrelas de prata no primeiro verso representam a esperança em uma noite escura, mas no segundo verso, percebemos que é uma esperança fria, quase morta, porém bela ao se fazer persistente mesmo que fraca. Os dois últimos versos parecem ter um 'quê' de crítica ao falar que o rio da vida está cheio de pecados e a água que bebe é o sangue em suas mãos, isso me remeteu às cruzadas e as 'guerras santas' que aconteceram e acontecem, o extremismo religioso e o fanatismo que ainda assola a humanidade. Pode ser que eu esteja delirando hehe, mas também pode ser interpretado como uma pessoa que se martiriza por suas culpas, e esse sangue que ela "bebe" e que está em suas mãos pode ser o remorso que ela carrega dentro de si e se renova a cada dia, é até uma ideia mais coerente com o resto da letra, alguém que vive preso nos próprios erros, que se julga desmerecer qualquer perdão.
Ninguém vê como eu estou queimando
Ninguém sente este anseio
Então venha provar este escuro veneno - você nunca alcançará este coração
E perdoe minha obsessão - alguma coisa me separa
De mim mesmo
Aqui nós temos claro no primeiro verso que o eu lírico dessa música é uma pessoa solitária, que cala a sua dor e a remói constantemente sozinho dentro de si, revivendo o mesmo pesadelo como algo automático. Ninguém sente o que ele sente, ninguém pode saber o que é aquela dor que ele carrega, e nos versos que seguem é como se ele estivesse tentando se abrir, convidar alguém para adentrar no seu mundo sombrio e fechado, ao mesmo tempo que o mantém longe de si, quando diz que 'alguma coisa me separa de mim mesmo' podemos ter a ideia de alguém que deseja se libertar do suplício no qual se prende, mas é impedido talvez pelo seu próprio medo, talvez pelo remorso que faça com que sua culpa pareça não ter perdão. A contradição tida no terceiro verso da estrofe deixa claro que mesmo que alguém consiga aproximar-se dele, nunca o conhecerá de verdade, nunca será capaz de "salva-lo" de si mesmo.
Esperando pelo minha condenação - seu promotor está aqui
Em minha própria acusação - você não pode correr de si mesmo
Oh, nós estamos vivendo essas mentiras sozinhos
Então venha e atire a pedra
Nas estrofes anteriores nós entendemos como o eu lírico se sente culpado por algo, aqui vemos que ele mesmo se condena pelo possível - ou possíveis - "pecado" cometido, ele é o único que se acusa e ao afirmar que 'você não pode correr de si mesmo' ele afirma que não pode fugir desse remorso que carrega dentro de si, a dor eterna de estar atado à corrente da dor do arrependimento. Nos últimos versos ele fala o que eu entendi como a hipocrisia das pessoas em ignorar muitas vezes, friamente, as coisas erradas que carregam dentro de si, que não sentem remorso em magoar ou até mesmo acusar e atirar pedras nos outros por seus crimes quando na verdade sua própria alma está corrompida.
Ore aos deuses que eu abandonei... neste jogo de viver e deixar morrer
Ore por minha alma neste mundo... para livrar-me de meus pecados
Ore...
Tudo o que tem sido e tudo o que vejo agora
Apenas um fantasma do que eu chamei de ...
Eu encarei o primeiro verso dessa estrofe como mais que alguém sem fé, mas alguém que depositou muita fé nas pessoas - que seriam os 'deuses abandonados' - e que foi pisoteada por suas imperfeições e traída por sua ingenuidade. Na segunda estrofe, é como se a ordem para orar por sua alma fosse mais uma prece pessoal para conseguir perdoar aqueles que o feriram, mas antes de tudo perdoar a si mesmo da dor que carrega. Nessas estrofes finais, que fazem parte da ponte, eu vejo como se as esperanças dele tivessem se esvaído, a fé em si mesmo e tudo que lhe resta é o fantasma da dor e da culpa que ele leva consigo, nesse caso, me pergunto se as estrelas de prata do primeiro verso, frias como gelo, não seriam então as pessoas, revelando no caso um eu lírico que não consegue lidar com as pessoas (encaro assim porque sou desse jeito!)

O motivo de ter escolhido Blood On My Hands para a música dessa semana, é o fato de que muito nessa letra fala de mim - quase tudo na verdade - revela a dor de alguém que vive trancado no seu suplício pessoal, alguém que tem medo das pessoas porque já foi infinitamente ferido, uma pessoa que vive preso na cela da própria culpa, que vive na busca do perdão de si mesmo e ainda assim se condena mais do que se perdoa, uma pessoa sozinha e preenchida somente com amargura e desespero, sem esperanças, sem expectativas, sem mais nenhum sonho (Uma pessoa como eu).