Ano: 1989
Sinopse: Para Raimundo Carrero não há grande obra literária, por melhor que seja, sem que o autor apresente uma ampla visão do mundo, capaz de gerar discussões, debates e conflitos de idéias. Maçã agreste" reflete, com o estilo original e seco de Carrero, sua preocupação visceral com os problemas sociais e espirituais do homem, gerando um conflito de idéias que o autor entende como essenciais a toda obra literária.
Como muito bem colocou Paulo Freire: “... um dos princípios fundamentais para ler é aceitar que não se entendeu o que se leu.” Acho que poucas vezes na minha vida eu pude dizer que essa frase se encaixou com perfeição na minha situação, pois foi justamente o que aconteceu com Maça Agreste, o primeiro livro dessa tetralogia compilada em Condenados à Vida. Confesso para vocês, terminei esse livro me sentindo a pessoa mais burra e sem cultura do planeta. Juro.
Eu levei uma semana lendo esse livro, tudo que eu sentia era sono e a sensação que a história não ia para canto nenhum. Palavra. Ela começa sem fazer o menor sentido, mas tudo bem, alguns livros são assim mesmo, leva um tempo até a história fazer sentido, o negócio é que aqui não faz, vai avançando e você entende menos que na página anterior. O romance é dividido em partes, a primeira narra Jeremias andando sem sentido enquanto, aqui e ali, faz uma crítica social mordaz. Essa personagem parece perdida, tentando entender a razão da sua existência, até aí okay. Aí ele encontra um pastor pregando numa praça e, no meio está uma guria e ele cospe na cara dela, literalmente, levando um tapão depois. Então os dois começam a rir e conversar como se nada tivesse acontecido. E eu fiquei bem "Gente, oi?"
Jeremias então descobre que a guria se chama Sofia e diz que ela tem que adivinhar o nome dele (???), os dois entram numa conversa que eu não entendi se era para ser filosófica, niilista ou política, mas eles acabam indo pra casa dele (ou pelo menos assim entendi) e ele começa a ler Quincas Borba para ela porque a personagem do livro tem o mesmo nome. E ela começa a se insinuar pra ele assim, do nada, enquanto ele lê e ele fica lá, lendo numa boa como se fosse de madeira. Até aí okay. Começa então a segunda parte chamada "história" que vai contar a história de Ernesto Cavalcante do Rego, no começo a gente pensa que não tem nada a ver com o resto da história até descobrir que se trata do pai de Jeremias.
Essa parte do livro foi a mais "normal" no quesito de coerência entre as cenas e do espaço-tempo. Mas compensou tudo isso com um ritmo indigesto e um personagem detestável e, tal como o romance que habita, maluco. Ele era o filho único de um senhor de engenho (e escravos) que idolatrava o pai. Mesmo com a criação rígida do homem, tinha todas as suas vontades atendidas de pronto sem questionamento. Colocou na cabeça que lagartixas eram descendentes dos dinossauros (???) através de uma história contada pelo pai e criou ainda criança uma seita reunindo os filhos dos escravos. Já jovem, começou a dormir com as escravas, cursava direito, mas comprava os trabalhos e subornava ou coagia os professores para obter boas notas. Descobriu também que não conseguia "funcionar" com mulheres brancas.
Ele tinha um amigo chamado Conrado, fascinado pela morte (mais a ideia romântica dela que o fato em si) e cheio de manias bizarras. Este, por sua vez, o apresentou à Rita Beatriz e Dolores, esta última viria a ser sua esposa mais por conveniência e falta de saída que por qualquer outra coisa. E ela casou sei lá pra que, juro. A mulher mais apática que já vi na vida. No casamento, ele sai para copular com uma escrava, deixando a noiva na festa sozinha, e como resultado na hora de consumar o casamento ele apenas não funciona. Não sei como esse homem fez dois filhos nessa mulher, palavra. A única coisa de proveito que eu tirei dessa parte foi esse macho escroto baixar a crina na frente da mulher, porque de resto, sendo sincera, foi bem indigesto.
Aí vem a terceira parte do livro e a história se torna caótica. Gente, os diálogos às vezes vinham num parágrafo só, por Deus! Tinha hora que não dava para saber quem tava falando o que ou mesmo o que cabógis estava acontecendo ali. Jeremias uma hora decide montar uma seita pseudo-religiosa para ludibriar as pessoas, noutra está pelado numa cela após ter levado uma surra depois de surta num bar por causa do saxofone que foi possivelmente roubado, aí entra Sofia conversando umas coisas nada a ver também, e eles estão de volta na rua, fazendo os preparativos para a seita. E tem a irmã dele também que decidiu ser prostituta por profissão e ele revela que é porque ela foi violentada pelo próprio pai. E esse final de livro vira uma maluquice só.
Claro que eu fui atrás de quem entende das coisas melhor que eu e acabei no blog do Homoliteratus que fez uma análise do romance:
"Uma maçã de pecados, desejos e sacrifícios, onde se vê verso e reverso dos personagens, tudo em torno da história original de um pai e seu declínio frente ao avanço do tempo. Um romance com fortíssimo senso de unidade e com importantes aspectos psicológicos e simbólicos.
A decadência de Dom Ernesto é, ao mesmo tempo, a derrocada do patriarcalismo rural. Sofia evoca a personagem de Machado de Assis no romance Quincas Borba, a que também se faz referência através do personagem Rubião, amante de Raquel – irmã de Jeremias. A prostituição de Raquel encarada como vocação, dom, predestinação, caridade ou mesmo amor aos homens. Jeremias, desde a infância aficionado por música, vem a abandoná-la pela arte de conduzir o povo, regê-lo, dominá-lo. Tanto Jeremias quanto seus seguidores foram seduzidos pelo poder, cada qual a sua maneira.
Todos esses aspectos das vivências sociais e da psique humana abordados pelo romance nos tiram das prisões dos pensamentos corriqueiros e trazem à mente estranheza e questionamentos múltiplos."
[Fonte: https://homoliteratus.com/maca-agreste-de-raimundo-carrero-fruto-de-um-talento-impar/]
A partir disso, me senti ainda mais burra porque eu não fiz nenhuma dessas conexões, mas pelo menos consegui me situar melhor nessa doideira que foi esse livro, embora muita coisa ainda me soe sem pé e nem cabeça. A coisa é que ler ele direto, como eu pretendia, não vai rolar. Para não abandonar, vou intercalar a leitura dos outros 3 livros com outras coisas. E é isso.
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