domingo, 24 de agosto de 2025

[Livro] E Não Sobrou Nenhum (+minissérie)

 Original: And Then There Were None

AutorAgatha Christie

Ano: 1939

Gênero: Suspense, mistério, crime

Sinopse: Uma ilha misteriosa, um poema infantil, dez soldadinhos de porcelana e muito suspense são os ingredientes com que Agatha Christie constrói seu romance mais importante. Na ilha do Soldado, antiga propriedade de um milionário norte-americano, dez pessoas sem nenhuma ligação aparente são confrontadas por uma voz misteriosa com fatos marcantes de seus passados.

Convidados pelo misterioso mr. Owen, nenhum dos presentes tem muita certeza de por que estão ali, a despeito de conjecturas pouco convincentes que os leva a crer que passariam um agradável período de descanso em mordomia. Entretanto, já na primeira noite, o mistério e o suspense se abatem sobre eles e, num instante, todos são suspeitos, todos são vítimas e todos são culpados.

É neste clima de tensão e desconforto que as mortes inexplicáveis começam e, sem comunicação com o continente devido a uma forte tempestade, a estadia transforma-se em um pesadelo. Todos se perguntam: quem é o misterioso anfitrião, mr. Owen? Existe mais alguém na ilha? O assassino pode ser um dos convidados? Que mente ardilosa teria preparado um crime tão complexo? E, sobretudo, por quê?

São essas e outras perguntas que o leitor será desafiado a resolver neste fabuloso romance de Agatha Christie, que envolve os espíritos mais perspicazes num complexo emaranhado de situações, lembranças e acusações na busca deste sagaz assassino. Medo, confinamento e angústia: que o leitor descubra por si mesmo porque E não sobrou nenhum foi eleito o melhor romance policial de todos os tempos.

“Dez soldadinhos saem para jantar, a fome os move;

Um deles se engasgou, e então sobraram nove.

Nove soldadinhos acordados até tarde, mas nenhum está afoito;

Um deles dormiu demais, e então sobraram oito.

Oito soldadinhos vão a Devon passear e comprar chiclete;

Um não quis mais voltar, e então sobraram sete.

Sete soldadinhos vão rachar lenha, mais eis

Que um deles cortou-se ao meio, e então sobraram seis.

Seis soldadinhos com a colmeia, brincando com afinco;

A abelha pica um, e então sobraram cinco.

 Cinco soldadinhos vão ao tribunal, ver julgar o fato;

Um ficou em apuros, e então sobraram quatro

 Quatro soldadinhos vão ao mar; um não teve vez,

Foi engolido pelo arenque defumado, e então sobraram três.

 Três soldadinhos passeando pelo Zoo, vendo leões e bois,

O urso abraçou um, e então sobraram dois.

 Dois soldadinhos brincando ao sol, sem medo algum;

Um deles se queimou, e então sobrou só um.

Um soldadinho fica sozinho, só resta um;

Ele se enforcou,

E não sobrou nenhum.”

Posso dizer, sem medo de errar, que esse livro merece a fama que tem!

Oito pessoas chegam à Ilha do Soldado convidadas por conhecidos que não veem há muito ou por outros meios, com propósitos diferentes: desfrutar férias, investigar algo, cuidar de alguém, trabalhar, etc. O que há em comum com todas elas? Todas estão de algum modo envolvidas em mortes que passaram incólumes pela justiça.

São um grupo insólito e diversificado e, logo ao chegarem, são recepcionados por um casal de serviçais que havia sido contratado dois dias antes e que nada sabia além de uma pequena série de instruções deixadas por escrito. Tão logo todo grupo é reunido, uma gravação de gramofone denuncia os crimes dos quais cada um é acusado e uma balbúrdia começa. 

Quando o primeiro deles morre, atenta-se ao fato de que em cada quarto há na parede um poeminha infantil (esse citado acima) que vai guiar o leitor durante toda a jornada de desconfiança e tensão das páginas e enquanto um a um as peças do jogo são eliminadas, a charada que parece insolúvel desemboca em um desenrolar de deixar até o detetive mais experiente de cabelo em pé!

Já li vários livros geniais de Agatha, pelo menos no que diz respeito à minha pequena opinião. Dentre meus favoritos figuram O Assassinato de Roger Ackroyd e, recentemente, Depois do Funeral, por terem assassinos realmente imprevisíveis e que passam batidos por mim, mas nenhum me pareceu tão magistral, macabro e instigante quanto este! Foi uma verdadeira viagem imersiva não apenas no clima pesado e sombrio da história, mas, acima de tudo, na alma humana e suas corrupções. Em diferentes graus a gente acompanha a luta pela sobrevivência de pessoas que estão, ao mesmo tempo, tentando sobreviver aos próprios demônios internos.

A maneira como o poeminha sombrio se encaixa de forma sinistra na narrativa só serve para nos deixar ainda mais interessados e o fato dos capítulos serem curtíssimos aumenta o nosso nível de tensão e a velocidade de leitura de uma maneira proposital e de uma inteligência magnífica. O recurso do ticking clock é usado de maneira tão explícita nesse livro que chega a ser uma aula! Todo hype desse livro é muito merecido, Agatha Christie ganhou todo o meu respeito como uma contadora de mistérios sem igual.

Tal como toda a adaptação, nós temos aqui uma minissérie parcialmente fiel ao livro. Olha, para ser três episódios de quase uma hora cada um, achei que poderiam ter adaptado de modo fiel ao livro, mas não aconteceu. Quando a gente vai assistir depois de ler não tem muita graça porque meio que sabemos o que esperar e é aí que o roteiro dá suas "escapadelas", talvez para fugir um pouco do que é esperado pelo leitor do livro.

A personalidade dos personagens foi quase fiel, concordo, embora Miss Brent não tenha parecido tão dura e fanática quanto no livro. Além disso, a maneira como Vera se torna histérica e quase louca destoa muito da personagem criada por Agatha. Sem contar que várias das mortes, como a da própria Miss Brent e de Blore foram drasticamente mudadas e não entendi o motivo, porque do jeito que acontece no livro era totalmente possível de ser adaptada especialmente quando eles literalmente partiram Rogers em dois quando, no livro, ele tem só a cabeça partida.

O final, talvez, seja o mais... não digo "sem sentido", mas, não casou com a história. No livro, e isso é um spoiler, então pule se não quiser saber o assassino escreve uma carta revelando como cometeu cada assassinato e dando sua justificativa para tê-lo feito. Além de como descobriu todas as histórias dos personagens. Essa carta é colocada numa garrafa e jogada no mar, encontrada pelo capitão de um navio e entregue à Scotland Yard. A maneira como o roteiro escolheu mostrar o assassino, descartando o trabalho da polícia e as deliberações, meio que tirou o brilho genial que Agatha teve ao criar os pormenores. Como adaptação do livro, eu dou uma nota 7,0 por ter sido fiel em algumas partes, mas não me satisfez e não acho que fez jus ao livro.


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