Direção: Kyōhei Ishiguro
Roteiro: Michiko Yokote
Ano: 2017
Episódios: 12
Gênero: Fantasia, distopia, suspense, drama, mistério
Sinopse: Chakuro é o arquivista de 14 anos da Mud Whale, uma ilha quase utópica que flutua na superfície de um infinito mar de areia. Nove em dez dos habitantes de Mud Whale foram abençoados e amaldiçoados com a habilidade de usar saimia, poderes especiais que os condenam a uma morte precoce.
Chakuro e seus amigos já chegaram a explorar outras ilhas, mas nunca conheceram, viram ou até ouviram falar de um ser humano fora de Mud Whale. Até que um dia Chakuro visita uma ilha tão grande quanto a Mud Whale e encontra uma menina que mudará seu destino por completo.
Dizer a vocês que mesmo com as analogias muito pertinentes desse anime, além das excelentes críticas mostradas de modo sutil e inteligente, nem assim eu consegui gostar dele. Se você já viu alguma resenha de Made in Abyss (acho que é assim o nome) percebeu que apesar do gráfico lindo e da história "chibi" que parece inocente, aquele não é um anime para crianças. Bem, o mesmo se aplica a Children of the Whales, quem vai assistir pensando que é um lindo anime inocente sobre crianças em uma ilha está muito errado.
Estamos na era da areia. Os oceanos, tal como o deserto, se converteram em um mar de areia onde os poucos animais que se adaptaram agora vive e embarcações gigantescas e flutuantes movidas por nous (espécies de criaturas mágicas que se alimentam de emoções humanas). Pelo que pude entender, antes de iniciar a era da areia, o mundo passou pelo "apocalipse" onde os pecadores foram exterminados e a fase da empatia foi extinta quando os humanos perceberam que emoções eram cargas desnecessárias que apenas consumiam-nos e os impedia de viver da "forma correta". Contudo, a humanidade após esse apocalipse foi dividida em dois, os que tinham Thymia, uma espécie de magia concedida a eles em troca das emoções que "libertavam" para os nous e os chamados desmarcados, seres humanos normais que não tinham thymia.
A história é contada por Chakuro, um dos marcados que vive na chamada Baleia, uma embarcação que está há anos à deriva . Nesse anime, embarcações são verdadeiras ilhas flutuantes habitadas por pessoas. Particularmente nesta, os marcados tem uma vida curta e desconhecem por completo a existência do nous. Todos vivem suas vidas de maneira pacífica até o dia em que uma nova embarcação surge à vista. Ansiosos por explorar, eles formam um grupo para ir até a embarcação entre eles está Chakuro que é o arquivista da ilha. Quando chegam ao local ele acaba encontrando uma garota inconsciente, ela está aparentemente ferida, mas quando ele tenta ajudá-la acaba sendo atacado por ela e quase morto. Ainda assim, por causa do estado dela, ferida e sozinha, ele decide levá-la consigo para a baleia. A menina recebe o nome de Lykos, ainda que afirme que esse não é seu nome verdadeiro e nenhum deles poderia imaginar que, com ela, viria também o caos.
Apenas dias após a chegada de Lykos, a ilha é atacada por enormes embarcações de homens mascarados munidos de espadas e armas de fogo. Um verdadeiro massacre se inicia com mortes por toda o lugar, de marcados e desmarcados que simplesmente são assassinados sem saber a razão e sem poder oferecer qualquer resistência além de fugir. Seus agressores, cruéis e sem sentimentos, os chamam de pecadores e dizem que todos precisam ser exterminados. Contudo, a presença de Lykos detém o massacre antes que todos na ilha morram e sua identidade é descoberta como um soldado enviado junto com os outros - por ordem do irmão mais velho dela - para exterminar os pecadores. Então, os moradores de baleia se deparam com os mistérios que cercam seu "exílio" que, até então, era tido como a vida que conheciam, eles foram exilados pelo império porque, ao contrário dos demais, se recusavam a abrir mão dos seus sentimentos e viver sem empatia.
Lykos então começa a dar instruções acerca do que precisam fazer e, com a guerra batendo em sua porta, tudo que os moradores de baleia podem fazer é aprender a se defender de um inimigo que os odeia pelo simples fato de escolherem ser diferentes, serem eles mesmos. No meio da batalha cheia de perdas de ambos os lados, mais segredos se revelam e a possibilidade de um mundo fora do mar de areia é a esperança que mantêm os habitantes da embarcação exilada crentes em um futuro onde possam ser aceitos como são.
Não apenas a crítica ao regime teocrático, mas a brilhante crítica à alienação foram as coisas que mais me chamaram a atenção nesse anime e me fizeram seguir firme até o último episódio. Obviamente um anime de 12 capítulos não cobre nem metade de um mangá de 13 volumes, por isso o final é aberto e dá a entender que vem muito sangue por aí. Fique realmente chocada quando aconteceu o massacre na ilha, acho que qualquer pessoa que vai assistir o anime sem conhecer a obra fica em choque, porque o capítulo inicial não dá a entender que vá se desenrolar tal banho de sangue. Ele levanta reflexões muito pertinentes ao mundo que vivemos, ao modo como agimos e, imagino, a ilha a deriva pode ser exatamente uma analogia ao modo como nos isolamos em nossas bolhas sociais dentro da ilusão que tomamos por realidade. Além disso, o modo como o conselho mantêm os habitantes de baleia no escuro, não apenas omitindo fatos, mas escondendo em si a própria corrupção, tal qual o império para o qual seus ancestrais serviram e que acha-se ainda no direito de decidir quem vive e quem morre.
A parte dos sentimentos também achei interessante. Se por um lado exemplifica o que a sede de poder pode fazer e exigir de alguém, uma vez que em troca do thymia, os marcados abdicam do seus sentimentos, mostra quão enlouquecedor é ter sentimentos em um mundo que não vê cor, beleza ou tem qualquer sensação além do vazio e da apatia. Em contrapartida, mostra quão assustador seria o mundo com esse bando de psicopatas a solta governando (se bem que agora sabemos como é) e decidindo quem vive e quem morre sem levar nada em consideração apenas as próprias provas e crenças, provocando anarquia e terror naqueles que não se adequam ao seu regime. Ainda assim, a história do anime não conseguiu me imprimir nada além do choque das cenas horríveis de morte gratuita. Mesmo com essas e mais críticas analógicas brilhantes, não recomendo para pessoas que se impactem com facilidade.
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