Título Original: Persuasion
Publicação: 1818
Autora: Jane Austen
Gêneros: Romance, Romance de amor, Ficção juvenil
País: Inglaterra
Páginas: 256
Sinopse: O livro conta a história de Anne Elliot, uma das heroínas mais tranquilas e reservadas de Austen, mas, ao mesmo tempo, uma das mais fortes e abertas às mudanças. O livro enaltece a constância do amor numa época turbulenta na história da Inglaterra: as guerras napoleônicas. Escrito nesse período, o romance descreve como uma mulher pode permanecer fiel ao seu passado e, ainda assim, pensar em um futuro feliz. Austen expõe de maneira sutil como uma mulher pode passar por cima das convenções sociais e das restrições femininas em busca da felicidade.
Último livro escrito por Jane Austen e também o último da obra dela que conheci, primeiramente através da adaptação de 2007. Persuasão foi, na época que o vi, a obra dela que me interessei menos, talvez pelo fato de não ter maturidade suficiente para compreendê-lo e às suas nuances, inclusive, a vontade de conhecer esse livro, assim como Crime e Castigo, veio do remake americano A Casa do Lago.
Em Persuasão, acompanhamos Anne Elliot, segunda filha de um baronete narcisista e também a mais ignorada pela família. O pai está sempre ocupado demais com a própria aparência, seu título de nobreza e sua própria importância. A irmã mais velha, Elizabeth, é fútil, frívola e egoísta, a mais nova, Mary, além de invejosa e com manias hipocondríacas, faz qualquer coisa para chamar atenção e é tão tola quanto o resto da família, ainda assim, Anne está sempre disposta e, mesmo magoada, solícita para o que precisarem dela.
Aos vinte e sete anos - e para a época considerada já muito velha - ela não alimenta mais esperanças de felicidade. Oito anos atrás, conhecera o amor da sua vida em Frederick Wentworth, mas fora persuadida por Lady Russell, amiga íntima de sua mãe e sua única orientadora desde a morte desta, a declinar do noivado uma vez que ela não julgava nem o caráter nem a posição de Frederick adequadas para a união. Anne sempre levara esse pesar no coração e, sofrendo em silêncio durante todos esses anos, teve por consequência os efeitos do abatimento, aliado à idade, em diminuição de sua beleza.
Por causa de dívidas graças ao esbanjar do pai, a família se vê obrigada a alugar a mansão onde vivem para cortar gastos e conseguir recuperar a estabilidade financeira. A contragosto, estabelecem-se em Bath, mas Anne é poupada de ir inicialmente graças à Mary que se encontra doente e solicita sua permanência com ela em Uppercross onde, casada com um antigo pretendente que Anne recusara, é a senhora de uma modesta residência.
A estadia trás um reencontro com Frederick, agora um rico capitão da marinha e reconhecido por seus méritos e talentos. Entretanto, toda a magia de outrora parece ter desaparecido e ele se mostra frio e indiferente em relação à ela, claramente buscando uma esposa, ele vê nas cunhadas de Mary uma opção. Anne, vendo suas esperanças no reencontro serem destruídas, apenas sofre em silêncio e, mesmo alimentando secretamente o desejo de ser perdoada, deseja que ele seja feliz ainda que não com ela.
O curso dos acontecimentos vai colocá-los cada vez mais um no caminho do outro e resta saber se os sentimentos de oito anos atrás serão capazes de resistir à mágoa e aos julgamentos errados do passado.
Tendo passado pelos demais romances de Jane e, ainda considerando Razão e Sensibilidade como favorito, concordo com Julia Romeu ao afirmar que este livro é "uma história de amor descaradamente romântica". Em Orgulho e Preconceito, além do tratamento óbvio dos adjetivos tratados no livro, encaramos um par de heroínas díspares, Elizabeth com sua impetuosidade e orgulho e Jane com sua passividade e timidez além da média, mas também chama-se a atenção para os arroubos da mocidade que pode levar a uma tolice sem freios e, com isso, a consequências desastrosas entre outros assuntos (e críticas). Razão e Sensibilidade apresenta duas heroínas que, tal como Orgulho e Preconceito, envolve os adjetivos que o nomeia, e é através desses atributos que somos levados à uma história que enfatiza a hipocrisia, o preconceito, a covardia e a vida de fachada da sociedade da época. Emma é claramente uma obra satírica sobre a nobreza rural embora forneça alguns traços feministas muito interessantes por debaixo das críticas ferrenhas e deboches escrachados, do mesmo modo é A Abadia de Northanger que critica a literatura gótica em ascensão e sua influência no comportamento de jovens com pouca instrução ou inclinação para a inteligência crítica. Mansfiled Park, por sua vez, além de tratar dos problemas familiares e de assuntos como infidelidade e "liberdade sexual", evoca também a questão do casamento por conveniência entre outros assuntos.
Contudo, Persuasão, apesar de trazer sua cota de críticas sociais e reflexões acerca do comportamento, é um livro sobre amor, pura e simplesmente. E ainda que o estilo de Jane nada tenha alterado, percebemos que o tom da história é bem diferente dos demais. Um tanto quanto intimista, somos sempre trazidos de volta para os sentimentos de Anne e suas esperanças de retomar o amor que fora impedido oito anos atrás. Mesmo que ainda trate de assuntos como a mobilidade social - algo, por sinal, muito interessante -, suas personagens são, de uma forma ou de outra, envolvidas do drama romântico de Anne Elliot e além de romântico é um livro sobre espera. O foco concentra-se nisso e as duas personagens, com suas personalidades e a seu tempo, vão compreendendo a intensidade desse sentimento com a benfeitoria da maturidade que os anos de separação forneceram.
Com um punhado de personagens que, bem ao estilo característico de Jane, amamos ou odiamos, o antagonismo de Persuasão é praticamente todo interno. Mesmo Lady Russell, que poderia ser apontada como tal, não se enquadra no papel ao ser retratada como devotada à Anne e suas atitudes condizem com tal. Seu julgamento errado e, como consequência aconselhamento equívoco, pode ser explicado como uma falha estendida a qualquer pessoa em sua posição ou não, e não como uma forma de separar Anne de alguém cuja afeição era intensa apenas por algum benefício próprio como é comum nas outras obras da autora.
Ao contrário do que já ouvi por aí, não considero Jane uma autora que escreve o contrário do que suas personagens pregam. Ao defender o protagonismo feminino em suas heroínas, vejo o casamento como um acréscimo e não uma mudança de sua visão ou diminuição de sua personalidade ao longo da trama. Especialmente considerando a época em que as mulheres tinham muitas restrições e aos homens eram delegadas todas as liberdades, o fato das personagens acabarem bem casadas no final não significa que abdicaram de sua "autofelicidade" ou de seus ideais, mas apenas seguiram uma consequência óbvia daquele período do fato de se apaixonarem (algo, inclusive, raro nos arranjos da época). E nenhuma delas se casou por conveniência, mas por vontade de compartilhar sua vida com alguém de quem gostavam. Pelo menos é como enxergo.
Persuasão difere-se dos demais livros por não ter tantas camadas e ser simplesmente um livro sobre amor. O intuito claro aqui é o amor verdadeiro e a felicidade matrimonial atrelada à ele. Sem caminhos paralelos e sem muitos assuntos adicionais. Talvez por ser minha primeira leitura da obra, não consegui diferir realmente a maturidade de Jane através de suas palavras se comparado aos demais romances. Ainda assim, é indubitavelmente tão bom quanto os demais.
Adaptação de 2007
Direção: Adrian Shergold
Ano: 2007
Elenco:
Sally Hawkins
Rupert Penry-Jones
Há três adaptações desse livro, mas eu só assisti essa (e só achei essa também), então vou me resumir nela.
De um modo geral, pode-se dizer que é bem feita, como qualquer adaptação tiveram muitos cortes, alguns achei bem prudentes, outros senti falta. Eles mudaram muita coisa, o final, por exemplo, é diferente do livro.
No que diz respeito à personalidade dos personagens - e essa é geralmente a parte que mais me irrita quando mudam - não achei alterações muito grandes além da de Anne, no filme ela parece um pouco mais segura ao contrário do livro. Houve também alguns personagens, como os Croft, que imaginei jovens quando li, mas são senhores, isso foi estranho pra mim.
Algumas coisas, como a Sra. Smith poder andar livremente, fogem do livro em que ela tinha uma febre reumática que a impedia de se locomover sem ajuda, e algumas outras pequenas mudanças que, a meu ver, ficariam mais bonitas se fossem como está no livro. Entendo que são mídias diferentes e, por isso, recebem tratamentos diferentes, mas há coisas que dava sim para adaptar tal qual estava no livro.
Apesar de tudo isso, é sim uma boa adaptação. Ficaria melhor como Razão e Sensibilidade em uma minissérie, pelo menos. Mas gosto da composição do filme tirando algumas coisas como a mania de Anne de olhar para a câmera como também fizeram com Fanny em Mansfield Park.