segunda-feira, 25 de novembro de 2024

[Drama] Cherry Magic Thai

 Título original: 30 ยังซิง

País: Tailândia

Episódios: 12

Ano: 2023

Diretor: X Nuttapong Mongkolsawas

Roteirista: Lemon Waneepan Huaphoklang, Jarini Thanomkat, Suwanan Phokutsai

Gêneros: Romance, Sobrenatural

Sinopse: Achi chegou aos 30 anos de idade ainda virgem e, por isso, adquiriu o poder de ler a mente das pessoas. Ele é funcionário de um escritório e acidentalmente toca em Karan, o homem bonito e mais popular da empresa, descobrindo que Karan está apaixonado por ele. O que Achi fará agora?

Sempre sou cautelosa com remakes de dramas que eu gosto, especialmente porque na maioria dos casos não funciona muito bem (Boys over Flowers que o diga!). Cherry Magic está no meu top 3 de BLs favoritos, então quando saiu essa adaptação tailandesa fiquei com um pé atrás, em especial porque já tinha começado um drama com esses atores (perdoem, mas esses nomes tailandeses são impronunciáveis) e não tinha gostado, acho que era dark blue kiss o nome, não lembro.

A história segue quase a mesma premissa, mas adaptada ao contexto tailandês, claro, são países com costumes distintos então é claro que haveria novidades. Achi e Karan trabalham em uma empresa japonesa de papelaria, isso pra mim soou meio estranho, não quero dizer que não tenha empresas japonesas na Tailândia, mas esse fato não tinha qualquer relevância pro enredo, podendo se passar em qualquer lugar de trabalho tailandês.

Quando completa trinta anos, Achi se descobre com o poder de ler a mente das pessoas quando toca nelas, mas embora esse fato seja quase enlouquecedor, o remake reduziu isso apenas ao Karan, tirando a tortura que isso representa para o personagem. Com o pressuposto de que os expectadores já teriam a base do original, a história se permite resumir bastante coisa, focando quase exclusivamente no casal principal. Quando descobre os sentimentos do colega de trabalho, Achi fica muito sem reação (normal) e, conforme vai conhecendo melhor Karan, seus sentimentos também vão mudando.

Aqui acontece algumas liberdadezinhas, a personagem da secretária que era apaixonada pelo Adachi, aqui é uma fujoshi de carteirinha e maior defensora do casal imaginário do escritório. Inclusive, ela ganha seu próprio interesse romântico o que, a meu ver, foi até acertado, embora o casal não tenha peso quase nenhum no drama. Algumas coisas como a proibição de relacionamentos na empresa e a cliente que insiste em assediar o Karan para ele dormir com ela, bem, isso foi um drama bem desnecessário.

Achi não é fofinho como Adachi, ele se mostra mais forte e mais confiante em si mesmo ao contrário do tímido e retraído Adachi que só percebe as coisas em si mesmo quando passa a se ver pelos olhos de Kurosawa. Inclusive, não posso dizer que Karan é uma versão melhorada de Kurosawa, a personalidade dele, embora seja fofa até certo ponto, não funciona de contraponto pro Achi, sendo só um complemento dos sentimentos que o outro começa a enxergar. Senti falta desse desenvolvimento no remake. Ainda assim, é inegável que os dois deram o melhor no papel, e não quero dizer de jeito nenhum que o remake ficou ruim, só não pode ser comparado em nenhum ponto ao original.

O casal secundário me incomodava bastante na versão original. Eu não conseguia shippar os dois, talvez pela disparidade de idade, talvez pela nítida falta de química dos atores, embora eles tenham tido seus momentos fofos, não conseguia criar um vínculo com eles como acontecia com Kurosawa e Adachi. A mesma coisa acontece aqui, Jinta é pintado como um personagem caricato, infantil com seus momentos de lucidez quase súbita que tornam o personagem instável e dificulta muito comprar a ideia dele sendo um adulto quando o Min parece ter muito mais maturidade que ele. 

Enquanto na versão japonesa a comédia envolvendo esses personagens soava natural, tanto pela cultura envolta neles, quanto pela própria construção, na tailandesa soa tão forçado que a gente sente mais vergonha alheia que graça. Claro, eles têm alguns momentos acertados, sim, mas na maioria das vezes não dá pra torcer por eles não. Pelo menos foi como me senti. E olhando aquela cara de 20 fica bem difícil comprar o Jinta como um "tio" como tentaram pintar ele, mesmo com toda a triste questão da idade envolvendo a Ásia.

Se fosse pra dar uma nota, o drama ganharia meu 7,0. Não é ruim, inclusive oferece uma perspectiva diferente pela mudança cultural, mas não se compara nem de longe com a fofa e bem construída história japonesa que soube dar um brilho particular para o desenvolvimento dos personagens e do seu romance. 

Soube a pouco que fizeram o contrário agora, uma versão japonesa de Love in The Air, vou esperar completar e decidir se vou ou não ver, considerando que do mesmo jeito que aconteceu aqui, as chances de erro também são grandes. 

[Filme] O Pálido Olho Azul

 Original: The Pale Blue Eye

Diretor: Scott Cooper

Ano: 2022

Gênero: Mistério/thriller

Sinopse: Um detetive aposentado recruta um cadete chamado Edgar Allan Poe para ajudar a investigar um terrível assassinato na Academia Militar dos EUA.

Baseado na obra de Louis Bayard

Eu entendo o que de cinema? Nada. Li esse livro? Muito menos. Então tudo que vou falar aqui é um julgamento não embasado em nada além da minha experiência de expectadora de um filme de suspense.

Um detetive aposentado é chamado à Academia Militar dos EUA para investigar a violação de um cadáver, cujo coração foi arrancado. De início, ele não quer aceitar o trabalho, mas se vê forçado a isso. A filha dele desapareceu anos atrás, colocando-o em uma profunda melancolia. Após examinar o cadáver, ele sai sem muitas conclusões, mas recebe uma dica de um dos cadetes, o excêntrico Edgar Allan Poe (sim, o autor de O Corvo).

Quando animais aparecem mutilados na floresta e um novo cadáver surge, as suspeitas de um serial killer se tornam maiores e, junto a Poe, o detetive embarca em uma jornada de sociedades secretas e seitas religiosas envolvendo uma família da alta sociedade.

O que me levou a querer ver esse filme foi a sinopse do livro. É o tipo de história que a minha irmã gosta, mas escolhi comprar O Eco dos Livros Antigos na BF da Amazon no lugar dele, então fiquei só com o filme mesmo e vi com ela na noite do sábado. A montagem do roteiro foi muito inteligente — digna de Agatha Christie! — e nos imerge mesmo na melancólica sociedade inglesa do século dezoito. Poe, um jovem excêntrico e boêmio amante de poesia com uma mente brilhante e incompreendida, foi interpretado de modo brilhante por Harry Melling (Harry Potter), a maquiagem e a caracterização o deixaram uma cópia muito fiel ao Poe que imagino na juventude.

Christian Bale dispensa comentários, trazendo uma atuação visceral e cheia de emoções (como sempre, aliás) no seu personagem cinza e cheio de mistérios. Como mencionei antes, a montagem do roteiro foi realmente brilhante, de início, pensei que ia ser só mais um filme de suspense recaindo em uma seita satânica qualquer cujos membros eram motivados por uma razão de força maior, no caso, a doença incurável da filha. Todavia, nos momentos finais, o filme vira 360° empurrando todas as nossas, até então, convicções formadas para o fundo do penhasco.

Um plot twist bem feito assim só vi em O Assassinato de Roger Ackroyd, para mim a obra mais inteligente de Agatha. Tanto minha irmã quanto eu ficamos realmente surpresas e foi uma reviravolta muito bem-vinda em uma onda de filmes que se repetem dentro do gênero. Recomendo bastante.

domingo, 24 de novembro de 2024

[Livro] Mais uma Vez

 Autora: Aione Simões

Ano: 2024

Páginas: 100

Editora: Pormenor

Sinopse: Não há um dia sequer que Letícia não se pergunte como seria sua vida se ela não tivesse sido promovida a diretora de criação, um ano antes. Estaria mais feliz? Menos cansada? Não teria se afastado de Jéssica, sua melhor amiga? Da mesma forma, por mais que tenha tentado seguir em frente, Letícia não consegue deixar de pensar na noite inesquecível com Felipe, que conheceu anos antes em pleno Réveillon de São Paulo — e de quem nunca mais teve notícias.

Peguei esse livro no skeelo e foi o primeiro que "li" na plataforma, na verdade ele veio em versão audiobook e, além daqueles "Conte outra Vez" da minha infância, essa foi minha primeira experiência com esse formato de livro. Confesso que foi bem ambígua, gostei porque a narração deixa a coisa mais imersiva e, ao mesmo tempo, achei muito estranho porque estou acostumada a acompanhar a leitura e nesse caso foi só ouvir mesmo.

A história acompanha Letícia, que está tendo um dia ruim. Desde que foi promovida no trabalho, sua amizade de anos com Jessica encontrou um fim, o cara que ela conheceu quatro anos antes e por quem se apaixonou desapareceu sem deixar rastros e seu atual ex-namorado era um idiota que a traiu. Pensando em como seriam as coisas se o curso da sua vida tivesse tomado um rumo diferente, nesse dia péssimo ela acaba encontrando uma senhora que lhe oferece um presente inusitado e some. Chegando em casa, Letícia deixa o celular cair na privada bem no momento que queria aceitar a solicitação de Felipe, o cara que ela conheceu quatro anos atrás.

Desesperada, ela mergulha o aparelho no saco de arroz dado pela velhinha e... volta no tempo! Antes de se envolver com o canalha do ex-namorado, antes de perder a amizade com Jessica, ser promovida no emprego e de comprar a casa dos sonhos. Infelizmente, não antes de retomar o contato com Felipe. Ela decide aproveitar essa oportunidade para mudar o curso da sua história. Primeiro, arranja para que Jessica seja promovida em seu lugar, segundo, evita a todo custo se encontrar com o babaca e continua no seu cargo.

O problema é que Jessica não é nem um pouco competente para o cargo e, após várias falhas sérias, ela é demitida e a empresa vem à falência, o que atrapalha de toda forma a amizade delas já que, incapaz de assumir a responsabilidade de sua incompetência, Jessica coloca em Letícia a culpa do seu fracasso. Sem ter o que fazer, ela acaba se candidatando a um emprego na empresa do seu ex babaca e consegue o emprego, evitando todas as investidas dele. O destino lhe sorri e ela acaba encontrando Felipe que trabalha no mesmo lugar.

Esse é um daqueles livros pra ler numa tarde preguiçosa em que você não quer pensar muito em nada. Levinho, divertido até e nitidamente focado na jornada da heroina, Mais uma Vez remete a filmes como De repente 30. A autora usa vários bordões nossos de maneira acertada contribuindo para mais familiaridade com a história. O romance fica em segundo plano enquanto o desenvolvimento pessoal da personagem rouba a cena e tudo é sempre consequência da evolução dela como pessoa e da reflexão sobre o rumo da sua vida. Gostei bastante.

domingo, 10 de novembro de 2024

[Bíblia] Macabeus I

Introdução

Os dois livros dos Macabeus eram originalmente distintos um do outro. Recebe esse nome por causa de Judas Macabeu. No primeiro livro, cobre-se o período de 40 anos indo  175-135 a.C, foi redigido na Palestina no início do século I em hebraico ou aramaico, mas só foi preservado na versão grega.

Salienta a predileção de Israel e sua luta contra os sírios e o paganismo na época logo após a morte de Alexandre Magno em 323. Um de seus sucessores, Antíoco Epífanes (175-163) usou todos os meios para converter os judeus ao helenismo, o que culminou na chamada revolta macabaia que logo se tornou uma guerra santa de independência.

Os romanos no ano de 63 a.C. foram quem, através de Pompeu, reduziram essa independência e sujeitaram os judeus que viviam inflamados de ódio contra eles. Nesse livro, ressalta-se o sentimento de uma fé ardente vinculada a uma fidelidade inviolável da lei e apego fanático à Jerusalém.

No segundo livro, diferente do primeiro, narra alguns episódios da primeira parte da luta contada no primeiro livro. Foi redigido em grego mais ou menos em 100 a.C. por um judeu que resumiu um escrito de Jasão de Cirene em 160, trazendo narrações mais episódicas do que históricas. Sua finalidade é avivar o patriotismo dos judeus em Alexandria. Além disso, nesse livro aparece uma crença nova no ensino religioso dos judeus: a imortalidade da alma. Dos livros históricos é o que apresenta menos conteúdo religioso.

1 Macabeus

Após a morte de Alexrandre Magno, Antíoco IV sobre ao trono e começa a espalhar terror sobre a terra, impondo sua conduta pagã sobre todos os povos sob pena de morte aos desobedientes. Muitos dos filhos de Israel sucumbiram à ordem, fosse por aceitá-la ou se revoltar contra ela.

Nesse cenário, Matatias, chamado Macabeu, levantou-se com seus filhos contra a idolatria, recusando-se a abandonar o culto a Deus e formando um exército para combater pelo povo que igualmente desejava manter sua fé a salvo da tirania do rei.

Antes de sua morte, tendo todo o exército organizado, deixou seu filho Judas Macabeu no comando em seu lugar. Corajosamente, Judas abraça a missão de proteger o povo  e com fé e determinação alcança as primeiras vitórias contra o rei, crescendo seu exército e seu nome pela terra. Em suas campanhas, consegue reaver Jerusalém, reconstruir o altar profanado e destruir os pontos de idolatria erguidos na terra santa, além de libertar os judeus cativos. Mesmo com a coligação dos seus inimigos contra eles, Deus manteve erguida a mão de Judas e seu exército, pois tinham o coração fiel à sua lei.

Contudo, com a morte de Antíoco e a despeito da sua última vontade, sobre o filho de Lísias ao trono, e, ao saber do avanço e das vitórias de Judas, une-se a um grande exército de aliados e consegue acuá-los, sitiando Jerusalém. Porém, Demétrio, verdadeiro herdeiro de Antíoco, cujo trono foi usurpado pelo tio, retorna de seu exílio como refém em Roma para ocupar seu trono de direito, matando os usurpadores.

Alcino, descendente de Aarão, voltou-se contra seu povo e acusou-o diante de Demétrio das maiores atrocidades. O rei o nomeou sacerdote e enviou junto ao seu general para buscar vingança. Mais uma vez, tempos de terror se abateram sobre Israel. Judas, vendo que o mal praticado por Alcino era ainda pior que o de Antíoco, marchou contra ele; mas covarde como era, ao ver a força de Judas, voltou para junto do rei e espalhou mais mentiras.

Judas faz então aliança com Roma contra a Grécia que oprimia Israel e sinto que é aqui que começam os futuros problemas. Mesmo essa aliança não impediu que os opressores voltassem a atacar e grande parte do exército de Judas desertou de medo. Ainda assim, ele leva 800 homens ao combate e perece sob a espada do inimigo sem qualquer ajuda vir de Roma. O povo lamentou sua morte vendo a sombra cair sobre eles.

Nomearam Jônatas como chefe no lugar do irmão e, após batalhas e fugas, ele e seu irmão Simão conseguiram um acordo de paz com Báquides que jurou não mais erguer a espada contra Israel e Alcino alcançou a morte ante o castigo de Deus, perecendo em grande sofrimento.

O que noto até aqui, além do fato de ser um livro muito bélico, é que o povo parece quase sempre depositar sua fé cada vez mais nos homens e menos em Deus, quase não há, inclusive, menção ao Senhor, embora preces sejam feitas a Ele. Se me lembro, só li o nome d'Ele duas ou três vezes ao longo de toda a narrativa. Também fica muito claro que, desde o livro de Esdras, Israel não luta somente contra nações inimigas, mas contra sua própria gente.

Muitos judeus se voltam contra sua raça por dinheiro, poder, fama ou favor. A própria nação começa a se dividir e com o passar dos livros isso se evidencia. Fico pensando se não são esses frutos ruins que remanescem e transformaram aquela região no que é hoje.

Jerusalém significa cidade da paz. Chega a ser irônico.

[Livro] Nihonjin

 Autor: Oscar Fussato Nakasato

Gênero: Ficção

Ano: 2012

Sinopse: Hideo Inabata é um japonês orgulhoso de sua nacionalidade, que chega ao Brasil na segunda década do século XX com o objetivo de enriquecer e cumprir a missão sagrada de levar recursos ao Japão, conforme orientação do imperador aos seus súditos. O árduo trabalho no campo, a difícil adaptação ao Brasil, a morte da primeira esposa e os conflitos com os filhos Haruo e Sumie são um teste para a inflexibilidade do nihonjin (japonês). O narrador, neto do protagonista e filho de Sumie, empresta voz e visão contemporânea à transformação do avô e do seu sonho de voltar rico para casa.

Peguei esse livro como referência para uma história que estou escrevendo e se passa, uma parte, durante a imigração japonesa no Brasil lá no começo de 1900. E o bacana é que ele acabou servindo como um complemento muito bom para outro livro que li com o mesmo propósito: Corações Sujos

Nessa história acompanhamos a vida da família Inabata, desde a sua chegada ao Brasil em um navio, lá em 1908, até a geração presente. O livro é narrado pelo neto do patriarca Hideo e vai narrando, ora sobre o que sabe, ora sob a perspectiva do avô, a trajetória da família nos difíceis anos de adaptação e consolidação em solo brasileiro. Como a maior parte dos japoneses vindos para cá, Hideo também queria conseguir dinheiro para voltar ao Japão e ter uma vida melhor. Fiel ao seu imperador, era casado com uma mulher delicada que em nada estava habituada ao trabalho braçal.

Era, inicialmente, casado com Kimie, que fizera amizade com uma negra também empregada da fazenda e mesmo contra as ordens do marido. A mesma Kimie que se apaixonou por outro homem e morreu de tristeza poucos anos depois da chegada, ainda esperando nevar no Brasil. Hideo era um homem típico de sua época e de seu país patriarcalista, homem duro, meio rude e com preconceitos frutos de seu conhecimento limitado.

Casou-se depois com Sumie, uma mulher mais forte que Kimie, acostumada ao trabalho braçal e subserviente. E é desta que o narrador da história é neto. Hideo enfrentou o preconceito dos brasileiros na época, conquistou, a duras penas, seu sonho de ter uma loja de utensílios, viveu os tempos difíceis da segunda guerra onde o governo de Vargas impôs regras duras para os membros do eixo aumentando ainda mais o preconceito dos brasileiros que desde o começo eram contra a imigração deles (quem diria que uns séculos depois iam pagar tanto pau pra cultura asiática).

Além disso, a história percorre também os descendentes de Hideo. Seu filho jornalista que, desde criança, aprendeu sobre o Brasil, começou a questionar alguns aspectos da sua cultura nipônica e alguns pensamentos do pai o que lhe causaram várias punições. Mais tarde, após a guerra, foi considerado traidor da pátria e assassinado pela Shindo Renmei da qual o próprio Hideo era parte. A filha que se apaixonou por um brasileiro e abandonou a própria família para viver seu amor, sendo expulsa para sempre da vida dos filhos (do qual o narrador faz parte).

De uma maneira bem sensível, a gente é conduzido pela trajetória da família até o mundo atual (que não é mencionado a época), o fim que tiveram e os arrependimentos tardios ou não de Hideo. Achei muito legal, em especial porque faz um retrato bastante fiel ao mundo da época e a sociedade naqueles difíceis anos. A gente tem a perspectiva dos japoneses sobre a nossa terra e um pouco  (bem pouco) do que foi o preconceito enfrentado por eles em solo brasileiro, mas, ainda mais, o preconceito deles em relação aos brasileiros.

Deu pra ver o outro lado da Shindo Renmei, embora não com muitos detalhes, Corações Sujos mostra uma visão meio brasileira de tudo, então ter essa perspectiva de japoneses e dos seus ideais, além da dinâmica da facção, foi bastante instrutivo e interessante. Quem tem curiosidade de conhecer um pouco mais sobre o assunto, acho que esse é um bom livro pra começar. Recomendo muito.

terça-feira, 5 de novembro de 2024

[Drama] In Blossom

Título original
: 花间令
Diretor: Zhong Qing
Roteirista: Yu Hai Lin, Zhong Jing
Gêneros: Thriller, Histórico, Romance, Fantasia
País: China
Episódios: 32
Ano: 2024
Sinopse: Na pecaminosa cidade de Heyang, o querido Pan Yue casou-se com Yang Cai Wei, que era desprezado por todos. No entanto, Yang Cai Wei foi assassinada no dia do casamento. O suposto culpado não era outro senão Pan Yue. Renascida dos mortos, Yang Cai Wei posou como a "mulher má" Shangguan Zhi. Ela voltou com uma atitude feroz, com a intenção de expor a verdadeira face de Pan Yue.

Quando eles enfrentaram bravamente os Quatro Clãs Maiores e descobriram os casos antigos, seus corações se aproximaram novamente. Yang Cai Wei descobriu que o verdadeiro culpado não era Pan Yue, que a amava profundamente o tempo todo. Justamente quando as coisas pareciam estar se encaixando, o cérebro por trás das cenas preparou outra armadilha para eles, empurrando-os para o abismo do desespero.

Quando crianças, Pan Yue e Yang Caiwei eram muito amigos. Pan Yue precisou conviver com uma vida difícil na casa do seu pai após o suicídio de sua mãe para aplacar os rumores de que ele não era um filho legítimo e isso teve impacto significativo na sua personalidade, mas Caiwei sempre esteve ao seu lado para afugentar os fantasmas e as pessoas que o maltratavam. Vendo sua amizade sincera, o imperador concedeu a eles um casamento.

Acontece que, na descoberta de uma conspiração envolvendo alguém com alto cargo dentro da corte, o pai de Caiwei é exilado e assassinado no meio do caminho, ela consegue escapar por pouco, mas recebe um corte muito feio no rosto. Tenta voltar à casa de Pan Yue, mas é expulsa. Vagando sozinha, se refugia em uma cidade costeira chamada Heyang onde é acolhida como aprendiz por um legista que a salva de uma situação ruim.

Dez anos depois, Pan Yue consegue a localização de Caiwei após pressionar o pai e vai atrás dela bem no momento que ela estava sendo torturada como uma criminosa para assumir um crime que não cometeu. Ele a salva e, após muitos contratempos, consegue convencê-la de seu sentimento sincero. Mas eis que aparece Shangguang Zhi, uma jovem rica que sempre foi obcecada por Pan Yue desde criança.

No dia do casamento, Shangguang Zhi sequestra Caiwei e troca de rosto com ela (não perguntem como, não explica) indo ao casamento no lugar de Caiwei a quem ela empurra de um penhasco (que não daria para ficar nem um osso dela inteiro, mas ela sobrevive! Como? Não perguntem, não explica. Nem Freud ia conseguir explicar isso!). O negócio é que, Se Pan Yue descobriu que Caiwei está viva, os inimigos da família dela também e ela é assassinada na noite do casamento, sem saberem, claro, que era, na verdade, Shangguang Zhi no corpo dela (isso é muito confuso, eu sei) e Caiwei acaba presenciando isso, acreditando que foi Pan Yue que a matou.

Agora, com a nova identidade da mulher que tentou matá-la, ela tem a chance de ficar perto de Pan Yue e descobrir a verdade sobre a sua “morte” e a dos seus pais. Enquanto tenta provar que Pan Yue é o responsável pela sua morte, ela precisa se lembrar de não acabar se apaixonando por ele de novo e lutar ao máximo para não revelar sua identidade. Juntos, eles começam a investigar casos que desafiam a lógica e a derrubar as quatro potências que dominam com mão de ferro a cidade enquanto buscam pistas de uma organização criminosa infiltrada no palácio.

Até o capítulo 26 posso dizer que gostei muito do drama, ele tinha aquele quê de comédia, misturando investigação e romance, tudo na medida certa. Os personagens são bastante carismáticos e é fácil se apegar a eles. As tramas são bem conectadas, mas, sendo franca, colocar magia num drama que não é fantasia e ainda mais do jeito que o recurso foi usado ficou muito sem sentido. É tipo: as duas trocaram de rosto, aceitem isso e não tem nenhuma explicação para aquilo, além de não ter nenhum tipo de magia em mais nenhum outro episódio e o drama, em praticamente todo o enredo, preza pela lógica.

O final não é ruim, mas tampouco é bom. Se a gente analisar a história como um todo e o tanto de gente que foi assassinada, incluindo as tentativas de morte do próprio Pan Yue e da Caiwei, fica bem difícil aceitar aquilo quando no final parece que o esforço dos dois foi em vão. Achei o desfecho do vilão muito fácil. E as duas mortes finais podiam claramente ter sido evitadas, por mais críveis que tenham sido, não gostei e pronto. Roteiro fez a gente terminar com cara de palhaço e ainda jura que nos convenceu do final “feliz”. Gente, o inferno que aqueles dois passaram e ainda não acabou? Como assim? E nem tem segunda temporada!

Shippei o casalzão? Shippei loucamente. Eles tinham química juntos, embora não explodisse nos momentos mais próximos, podiam ser sentidos nas interações mais simples entre eles. O casal secundário foi aquela tragédia desnecessária e, sendo franca, não me convenceu muito não. Eu shippava bem mais o casal de servos dos dois protas, eles eram uma fofura juntos. Aliás, esse ator, que fez o Jin Lin em The Untamed, conseguiu tirar o meu ranço da cara dele, foi incrível aqui. O plot era muito bom e foi uma pena que o desfecho tenha sido tão mais ou menos, miraram no plot twist e acertaram em nada. Fazer o que. Ainda assim, recomendo.

domingo, 3 de novembro de 2024

[Bíblia] Ester

O início do livro é bem conciso e temos apenas um resumo dos acontecimentos até a eleição de Ester como rainha. O conflito de Israel com Amalec foi abordado de modo breve anteriormente e será simbolicamente intensificado nesse livro. Ester, nascida Hadassa, era a prima do judeu Mardoqueu, trazido com os cativos de Nabucodonosor. Com a morte de seus pais ele a adotou como filha.

Encolerizado pela recusa da rainha Vasti em atender ao seu chamado diante dos príncipes das províncias, Assuero — segundo seus conselheiros — a destituiu do posto de rainha e envia um edito para que sejam trazidas ao palácio todas as virgens formosas com o propósito de encontrar entre elas uma nova rainha.

Ester é uma dessas virgens e, antes de ser levada, é proibida pelo primo a revelar suas origens. Embora nada se diga sobre sua personalidade, o livro conta que era estimada por todos que a conheciam e rapidamente ganhou o favor e a proteção do encarregado das mulheres, Egeu. Ele a favoreceu mais que as outras, colocando servas à sua disposição e lhe reservando o melhor aposento.

Uma a uma, as jovens eram levadas ao rei, mas nenhuma lhe manifestava interesse, até que, no décimo mês, Ester foi levada à sua presença. Não há nenhum detalhe desse encontro, o livro apenas diz que ele a preferiu a todas as outras e a corou rainha em lugar de Vasti.

Dois eunucos tramaram contra a vida do rei e, como se sentasse todos os dias à porta do palácio, Mardoqueu ouviu a trama e contou à rainha Ester que deu parte ao rei em nome do primo. Não é mencionado aqui a morte de Mamucã, mas o livro avança para a promoção de Amã. Este guardava profundo ódio de Mardoqueu simplesmente porque este se recusava a se curvar ou ajoelhar diante dele, assim, tramou para dizimar de todo o reino de Assuero o povo judeu. Contou uma historinha qualquer e ganhou o consentimento do rei para cuidar de sua vontade.

Foi promulgado então em todas as províncias do império na língua de cada uma o edito anunciando a morte de todos os judeus no dia 13 do mês de Adar, ou seja, dezembro. Tendo conhecimento disso, Mardoqueu cobriu-se de cinzas, rasgou suas vestes, cobrindo-se com um saco e correu por toda Susa ecoando gritos de dor, então foi ter com Ester para lhe pedir que intercedesse junto ao rei em favor do seu povo. Ora, fazia trinta dias que ela não era chamada à presença do imperador.

Mardoqueu a repreende dizendo que ela não estava livre do decreto apenas por estar no palácio e que fora provavelmente por essa razão que foi alçada ao mais alto posto. Ciente que o primo tinha razão ela pede ao povo de Israel que faça um jejum de três dias depois dos quais se apresentaria diante do rei.

No terceiro dia, Ester foi a presença do imperador e tomado por devoção ele estendeu o cetro para ela, afirmando que qualquer que fosse seu desejo este seria cumprido. Ela, cuidadosa, convidou o marido e Amã para um banquete que transcorreu como esperado, mas ao ser questionada sobre seu pedido, adiou-o ainda para o dia seguinte.

Amã estava se sentindo confiante por ter o favor do imperador e pelo convite da imperatriz, mas a presença de Mardoqueu minava sua alegria de modo que, aconselhado por sua mulher e amigos, mandou erguer uma forca para pendurá-lo antes do próximo banquete da rainha. Contudo, chega ao conhecimento de Assuero o cimplo dos eunucos e tendo chegado Amã com intenção de pedir-lhe a cabeça de Mardoqueu, indagou-o acerca das honrarias que deveria prestar-lhe e, pensando se tratar de si mesmo, diz para vestir o homem com trajes reais e monta-lo no cavalo do rei, passeando pelas ruas.

Qual não é a sua surpresa ao ser incumbido de fazer a honraria a Mardoqueu. Quando retorna, a esposa e os conselheiros o alertam a não comparecer ao banquete da rainha, mas ele vai mesmo assim e dessa vez Ester faz seu pedido pela vida do seu povo apontando Amã como o inimigo que deseja destruí-los.

O rei fica furioso ao ver o homem inclinando sobre Ester e acusa-o de tentar molestar a rainha, condenando-o a morte na mesma força que construiu para Mardoqueu. Ester lhe implora pela vida do seu povo e a sua, Assuero então dá o anel real à Mardoqueu para que publique em seu nome uma solução já que o decreto não podia ser revogado.

No dia marcado, ao invés do extermínio, os judeus venceram e exterminaram todos aqueles que ergueram as mãos contra eles. Ester ainda pediu a Assuero que fossem erguidos em forcas os dez filhos de Amã  e este concedeu se desejo. Ainda no dia 14 continuou o ataque e houve grande celebração ante a vitória dos judeus. Mardoqueu e Ester estipularam os dias 14 e 15 de Adar deviam ser comemorados como Purim, derivado da palavra pur (sorte) e esse costume mantido pela posteridade para sempre.

O livro tem sua grande parte ainda no original em hebraico, o autor é desconhecido e pode ter vivido no fim do século IV a.C., retratando a época persa, reino que durou em torno de 200 anos, destruídos pelos gregos. Embora comparado com outros livros do Antigo Testamento, a resolução desse conflito em particular — tal qual a motivação do mesmo — parece bem irrisória, contudo, igualmente reforça a ideia que Deus não é nenhum mágico que resolve as coisas com um estalar de dedos (embora possa se quiser), mas recorre à lógica em cada um de seus feitos, mesmo os prodígios. Além disso, há certa alusão ao papel de Maria como intercessora da humanidade, tanto é que a igreja católica coloca esse texto junto ao evangelho do milagre das bodas.

Apesar de abrir espaço para muitas indagações e reflexões, de uma primeira impressão, a história de Ester parece quase uma fábula romântica que destoa um pouco do texto principal da bíblia; o apêndice, entretanto, nos traz de volta ao propósito da história com as orações de Ester e Mardoqueu e quase funciona como um compensação ao tom pouco religioso de sua narrativa concisa.

Gente, cheguei ha pouco no livro de Isaías e, confesso, tanto o livro de Provérbios, quanto o Cantico dos Canticos me soaram difíceis de entender, então fui procurar explicações de algum padre no youtube e para minha sorte encontrei um curso completo e gratuito da bíblia. Já quero começar do gênesis, mas vou partir desses livros sapienciais que me deram mais dificuldade de entendimento. Estou deixando o link aqui para quem desejar conhecer mais profundamente a bíblia, achei a aula do padre muito satisfatória e fácil de entender:

Curso Padre Juarez de Castro - Youtube

Sei que ando meio afastada do blog, mas estou tentando encaixar uma rotina que funcione na minha vida, agora que comecei a academia e ando lidando com algumas coisas, não tem sido muito fácil acordo quatro e meia da manhã, mas ainda não consigo administrar direito as 24h do dia.

[Livro] O Conde de Monte Cristo - Tomo 1

 Original: The Count of Monte Cristo
Ano: 1846
Autores: Alexandre Dumas, pai, Auguste Maquet
Gêneros: Romance, Série, Ficção de aventura, Ficção histórica, Romance de amor
Sinopse: Gira em torno de Edmond Dantè, que é preso por um crime que não cometeu. Ao sair da prisão, Edmond vai à busca de vingança contra seus inimigos. Uma trama repleta de reviravoltas dignas de um jogo de xadrez.

Esse é meu segundo contato com Dumas, tentei ler Os Três Mosqueteiros e, acredito por ter sido uma versão adaptada, não gostei muito. Já tinha um bom tempo que estava querendo ler O Conde de Monte Cristo, mas por ser uma obra muito grande, não me atrevia a ler em ebook e não queria cometer o erro do outro e acabar não gostando. Assim, quando surgiu a oportunidade de ler na íntegra com tradução direta do francês, não quis perder a chance. O mesmo havia acontecido com Crime e Castigo que demorei muito tempo para ler porque não queria versões adaptadas e a maioria das traduções vinha de outros idiomas, quando surgiu a edição da 34 com tradução direta do russo e texto integral, agarrei a chance e amei o livro.

No primeiro tomo, cerca de quinhentas e poucas páginas, somos apresentados aos primórdios da vida de Edmond e as pessoas que o cercam. Ele, jovem cheio de vigor, era um marinheiro experiente e respeitado em sua tripulação que se vê em um momento difícil com a morte de seu capitão tendo que ancorar na ilha de Elba onde estava, na época, exilado Napoleão. Edmond cuida de seu pai idoso a quem ama mais que a própria vida e tem sua noiva, Mercedes, uma bela jovem catalã por quem é apaixonado. Quando retorna de viagem, se vê incumbido de realizar o último desejo de seu capitão que se tratava de levar uma missiva a Paris.

Acontece, que Mercedes estava sendo cortejada pelo seu primo Fernando, que torcia muito que Edmond não voltasse vivo da viagem, pois queria com loucura casar-se com ela. E, como um marinheiro talentoso, é claro que Edmond também tinha muitos inimigos com inveja do seu sucesso ascendente. Desse modo, numa conspiração usando o ciúme de Fernando, vê-se a oportunidade de interromper a trajetória promissora do jovem. Ele é acusado de traição e levado à justiça como um dos partidários de Napoleão, em seu interrogatório não diz nada mais que a verdade, mas devido a conexões desonrosas do próprio juiz, é exilado no castelo de If, lugar para os piores e mais perigosos criminosos de onde só se saía morto.

Edmond luta pela sua inocência até o fim, mas sua insistência em ver o governador acaba colocando-o na masmorra com a certeza de jamais ver a luz do sol outra vez. Com o passar interminável dos dias, ele se conforma, entregando-se ao ódio e a melancolia. Até o dia que conhece o Abade Faria, um velho padre condenado de traição muitos anos atrás. Inteligente e versado em várias artes, ele havia bolado um plano para fugir e, renovando sua esperança, Edmond se junta a ele que lhe ensina tudo que sabe enquanto travam o plano da liberdade. Contudo, o abade estava muito doente e viu seu fim se aproximando antes da desejada liberdade.

Ele confidencia ao companheiro sobre o tesouro de Spada escondido na ilha de Monte Cristo e dá a Edmond as instruções de como encontrá-lo, legando a ele o tesouro. Com a perda do amigo, o mundo de Edmond volta a cair tornando-se solitário, imaginando a dificuldade de fugir sozinho, ele se coloca no lugar do cadáver imaginando conseguir fugir após ser enterrado, o que ele não sabia é que os mortos eram jogados no mar. Como um marinheiro experiente, ele consegue escapar da mortalha e nadar até um pedaço de terra mais próximo, o mais longe possível do seu cárcere.

Cansado e debilitado, Edmond encontra piratas a quem se junta escondendo sua identidade. Os anos haviam operado mudanças drásticas na sua aparência devido à falta de luz solar do confinamento e o abatimento pelo qual passou até conhecer o abade. Assumindo uma nova identidade, procura o momento propício para ir atrás do seu tesouro, ficando na companhia de contrabandistas ao longo de meses e conquistando reputação por sua inteligência além de seus conhecimentos marítimos. No momento propício, assumiu sua herança e, sob diversos disfarces, retornou ao lugar de origem para saber o destino daqueles que lhe eram caros.

As notícias não eram boas. Seu pai havia falecido de tristeza, sua noiva se casara com outro homem e seu antigo patrão estava à beira da falência por ter sido enganado por um de seus homens de confiança. A primeira ação de Dantés é ajudar seu antigo patrão que sempre o havia tratado como um filho e por quem nutria grande estima. Partindo para sempre daquele pedaço de terra que só lhe trazia memórias dolorosas de uma vida arrancada dele, partiu em busca de iniciar sua vingança.

Nesse ponto, o livro muda de perspectiva e vemos a ótica de um par de amigos franceses em tour pela Itália para os festejos de carnaval. Duas figuras se destacam aqui: Simbat, o marujo e O Conde de Monte Cristo, ambas personagens vividas por Dantés. Para quem conhece um pouco mais da história sabe que Albert é o filho de Mercedes e, portanto, o alvo de Dantés por isso toda a aproximação mirabolante entre eles. O tomo 1 termina com a promessa de Edmond em visitar Albert na sua casa em Paris para este lhe servir como guia na sociedade.

O estilo narrativo dessa obra é meu primeiro destaque. Ele usa um narrador onisciente que oscila com um narrador observador ou uma terceira pessoa focada e eu gosto muito disso. Por mais que seja uma leitura longa não fica, em nenhum momento, cansativa com suas subtramas elaboradas e personagens interessantes. A morte do abade Faria e do pai de Dantés foram os dois momentos mais tristes do livro pra mim, inclusive, Dumas soube expressar com perfeição o luto, o quase enlouquecimento do cárcere, tornando todo o processo que tornou Edmond no Conde de Monte Cristo indiferente, misterioso e frio, algo crível e até mesmo aceitável.

O livro passeia por subtramas que, por vezes, se parecem com novelas dentro do livro, e é até fácil esquecer um pouco da trama principal tamanha é a riqueza de detalhes com que tudo se apresenta. Infelizmente, nesse mundo cada vez mais preguiçoso onde tudo tem que ser feito com pressa para ser rápido, seria uma leitura pouco apreciada, é um livro com linguagem até simples, mas feita para leitores experientes, que realmente amam embarcar em um universo rico em detalhes, debates éticos e filosóficos, além de ser transportado para a França pós-napoleônica de instabilidades políticas e sociais.

Gostei muito. Já está nos meus planos ler os outros dois tomos! E indico bastante para aqueles que realmente amam ler, porque O Conde de Monte Cristo não é um livro para iniciantes.