Original: The Count of Monte Cristo
Ano: 1846
Autores: Alexandre Dumas, pai, Auguste Maquet
Gêneros: Romance, Série, Ficção de aventura, Ficção histórica, Romance de amor
Sinopse: Gira em torno de Edmond Dantè, que é preso por um crime que não cometeu. Ao sair da prisão, Edmond vai à busca de vingança contra seus inimigos. Uma trama repleta de reviravoltas dignas de um jogo de xadrez.
Esse é meu segundo contato com Dumas, tentei ler Os Três Mosqueteiros e, acredito por ter sido uma versão adaptada, não gostei muito. Já tinha um bom tempo que estava querendo ler O Conde de Monte Cristo, mas por ser uma obra muito grande, não me atrevia a ler em ebook e não queria cometer o erro do outro e acabar não gostando. Assim, quando surgiu a oportunidade de ler na íntegra com tradução direta do francês, não quis perder a chance. O mesmo havia acontecido com Crime e Castigo que demorei muito tempo para ler porque não queria versões adaptadas e a maioria das traduções vinha de outros idiomas, quando surgiu a edição da 34 com tradução direta do russo e texto integral, agarrei a chance e amei o livro.
No primeiro tomo, cerca de quinhentas e poucas páginas, somos apresentados aos primórdios da vida de Edmond e as pessoas que o cercam. Ele, jovem cheio de vigor, era um marinheiro experiente e respeitado em sua tripulação que se vê em um momento difícil com a morte de seu capitão tendo que ancorar na ilha de Elba onde estava, na época, exilado Napoleão. Edmond cuida de seu pai idoso a quem ama mais que a própria vida e tem sua noiva, Mercedes, uma bela jovem catalã por quem é apaixonado. Quando retorna de viagem, se vê incumbido de realizar o último desejo de seu capitão que se tratava de levar uma missiva a Paris.
Acontece, que Mercedes estava sendo cortejada pelo seu primo Fernando, que torcia muito que Edmond não voltasse vivo da viagem, pois queria com loucura casar-se com ela. E, como um marinheiro talentoso, é claro que Edmond também tinha muitos inimigos com inveja do seu sucesso ascendente. Desse modo, numa conspiração usando o ciúme de Fernando, vê-se a oportunidade de interromper a trajetória promissora do jovem. Ele é acusado de traição e levado à justiça como um dos partidários de Napoleão, em seu interrogatório não diz nada mais que a verdade, mas devido a conexões desonrosas do próprio juiz, é exilado no castelo de If, lugar para os piores e mais perigosos criminosos de onde só se saía morto.
Edmond luta pela sua inocência até o fim, mas sua insistência em ver o governador acaba colocando-o na masmorra com a certeza de jamais ver a luz do sol outra vez. Com o passar interminável dos dias, ele se conforma, entregando-se ao ódio e a melancolia. Até o dia que conhece o Abade Faria, um velho padre condenado de traição muitos anos atrás. Inteligente e versado em várias artes, ele havia bolado um plano para fugir e, renovando sua esperança, Edmond se junta a ele que lhe ensina tudo que sabe enquanto travam o plano da liberdade. Contudo, o abade estava muito doente e viu seu fim se aproximando antes da desejada liberdade.
Ele confidencia ao companheiro sobre o tesouro de Spada escondido na ilha de Monte Cristo e dá a Edmond as instruções de como encontrá-lo, legando a ele o tesouro. Com a perda do amigo, o mundo de Edmond volta a cair tornando-se solitário, imaginando a dificuldade de fugir sozinho, ele se coloca no lugar do cadáver imaginando conseguir fugir após ser enterrado, o que ele não sabia é que os mortos eram jogados no mar. Como um marinheiro experiente, ele consegue escapar da mortalha e nadar até um pedaço de terra mais próximo, o mais longe possível do seu cárcere.
Cansado e debilitado, Edmond encontra piratas a quem se junta escondendo sua identidade. Os anos haviam operado mudanças drásticas na sua aparência devido à falta de luz solar do confinamento e o abatimento pelo qual passou até conhecer o abade. Assumindo uma nova identidade, procura o momento propício para ir atrás do seu tesouro, ficando na companhia de contrabandistas ao longo de meses e conquistando reputação por sua inteligência além de seus conhecimentos marítimos. No momento propício, assumiu sua herança e, sob diversos disfarces, retornou ao lugar de origem para saber o destino daqueles que lhe eram caros.
As notícias não eram boas. Seu pai havia falecido de tristeza, sua noiva se casara com outro homem e seu antigo patrão estava à beira da falência por ter sido enganado por um de seus homens de confiança. A primeira ação de Dantés é ajudar seu antigo patrão que sempre o havia tratado como um filho e por quem nutria grande estima. Partindo para sempre daquele pedaço de terra que só lhe trazia memórias dolorosas de uma vida arrancada dele, partiu em busca de iniciar sua vingança.
Nesse ponto, o livro muda de perspectiva e vemos a ótica de um par de amigos franceses em tour pela Itália para os festejos de carnaval. Duas figuras se destacam aqui: Simbat, o marujo e O Conde de Monte Cristo, ambas personagens vividas por Dantés. Para quem conhece um pouco mais da história sabe que Albert é o filho de Mercedes e, portanto, o alvo de Dantés por isso toda a aproximação mirabolante entre eles. O tomo 1 termina com a promessa de Edmond em visitar Albert na sua casa em Paris para este lhe servir como guia na sociedade.
O estilo narrativo dessa obra é meu primeiro destaque. Ele usa um narrador onisciente que oscila com um narrador observador ou uma terceira pessoa focada e eu gosto muito disso. Por mais que seja uma leitura longa não fica, em nenhum momento, cansativa com suas subtramas elaboradas e personagens interessantes. A morte do abade Faria e do pai de Dantés foram os dois momentos mais tristes do livro pra mim, inclusive, Dumas soube expressar com perfeição o luto, o quase enlouquecimento do cárcere, tornando todo o processo que tornou Edmond no Conde de Monte Cristo indiferente, misterioso e frio, algo crível e até mesmo aceitável.
O livro passeia por subtramas que, por vezes, se parecem com novelas dentro do livro, e é até fácil esquecer um pouco da trama principal tamanha é a riqueza de detalhes com que tudo se apresenta. Infelizmente, nesse mundo cada vez mais preguiçoso onde tudo tem que ser feito com pressa para ser rápido, seria uma leitura pouco apreciada, é um livro com linguagem até simples, mas feita para leitores experientes, que realmente amam embarcar em um universo rico em detalhes, debates éticos e filosóficos, além de ser transportado para a França pós-napoleônica de instabilidades políticas e sociais.
Gostei muito. Já está nos meus planos ler os outros dois tomos! E indico bastante para aqueles que realmente amam ler, porque O Conde de Monte Cristo não é um livro para iniciantes.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Ao comentar seja sempre respeitoso à opinião do outro. Nem todo mundo pensa como você e a diversidade existe para isso. Exponha suas ideias sem ofender a crença ou a opinião de ninguém. Comentários com insultos ou discriminação de qualquer natureza serão excluídos.