Original: All The Little Lights
Autor: Jamie McGuire
Gênero: YA
Ano: 2018
Páginas: 348
Sinopse: Quando Elliott Youngblood vê Catherine Calhoun pela primeira vez, ele é apenas um garoto com uma câmera nas mãos que nunca viu algo tão triste e tão belo. Os dois se sentem excluídos e logo se tornam amigos. Porém, no momento em que Catherine mais precisa dele, Elliott é forçado a sair da cidade. Alguns anos depois, Elliott finalmente retorna, mas ele e Catherine agora são pessoas diferentes. Ele é um atleta bem-sucedido, e ela passa todo o tempo livre trabalhando na misteriosa pousada de sua mãe. Catherine ainda não perdoou Elliott por abandoná-la num momento difícil, mas ele está determinado a reconquistar a amizade dela — e a ganhar seu coração. Bem quando Catherine está pronta para confiar outra vez em Elliott, ele se torna o principal suspeito em uma tragédia local. Apesar da desconfiança de todos na cidade, Catherine se agarra ao seu amor por Elliott. Mas um segredo devastador que ela esconde pode destruir qualquer chance de felicidade que os dois ainda têm.
Primeira leitura de Dezembro e 48ª do ano, não posso reclamar de não ter sido produtiva esse ano no que se refere a ler apesar de todos os percalços. Minha irmã me deu esse livro há um tempo, mas ainda não tinha tido vibe para ler, decidi dar uma chance para ele esse mês e foi uma grata surpresa para mim!
A história gira em torno de Catherine Calhoun (minha xará haha) e Elliot Youngblood (também conhecido como personagem que me faria casar se existisse de verdade). Quando criança, Elliot, de férias na casa de seus tios em Oak Creek queria tirar uma bonita foto do pôr do sol e para isso subiu no carvalho da casa de Catherine quando ela e o pai saíram de casa carregando uma trouxa. A proximidade entre eles e o rosto triste de Catherine chamaram a atenção de Elliot, curioso e incapaz de se mexer ele observou enquanto ela e o pai enterravam o cachorro da família, a aura de mistério que envolvia aquela menina e sua beleza singular chamaram a atenção do garoto de uma forma que ele não conseguia pôr em palavras (literalmente porque é ele que começa narrando o livro e depois alterna com o ponto de vista de Catherine que conta praticamente a história toda.) então o verão acabou deixando a única certeza de que ele um dia falaria com ela, porque algo dentro dele lhe dizia que ele precisava fazer isso.
Passam-se alguns anos e a situação na casa de Elliot pioram com as constantes brigas dos seus pais, quando abre suas malas na casa dos tios ele sabe que não vai passar apenas o verão ali, mas que vai ficar por um bom tempo coisa que ele não sente, de forma alguma, ser ruim. A calma da casa dos tios e a sensação de lar que impera entre o tio John e a tia Leigh funcionam para ele muito melhor do que a residência conturbada de um pai abusador e uma mãe infantil que continua insistindo nele apesar de todas as influências negativas que isso traz para o filho e Elliot não entende, tampouco aceita, o comportamento da mãe. Dos dois ele é muito mais adulto que ela. Por ser descendente de uma tribo indígena, Kay, a mãe dele, sempre sofreu muito preconceito em Oak Creek, por isso ela odeia a cidade e a ideia do seu filho morar lá é inaceitável para ela.
Catherine leva uma vida difícil desde que a família perdeu tudo e luta para sobreviver. Sua mãe, Mavis, continua instável e parece só piorar e é seu pai que funciona como âncora da casa e da sua vida. Ela ama o pai mais do que a si mesma e qualquer pessoa no mundo, então, ao descobrir que ele perdeu o emprego sabe que as coisas com a mãe dela vão ficar impossíveis e não quer estar lá para ver. É em um dia como esse que ela conhece Elliot Youngblood socando sua árvore com uma fúria assassina. O primeiro encontro dos dois poderia ser inusitado, mas contrariando a aparência de adolescente (e qualquer um sabe que ninguém é bonito nessa fase da vida) de quinze anos, o carisma e a personalidade forte de Elliot chamam atenção de Catherine o suficiente para ela aceitar seu convite para sair quando seus pais começam a gritar em casa. Apenas quando ele a defende de Presley Brubaker e suas clones é que ela tem certeza que quer ser amiga daquele garoto estranho que parece conhecê-la.
A amizade, como se imaginaria, vai evoluindo aos poucos junto com o verão. E do mesmo modo evolui os problemas na casa de Catherine e as complicações na família de Elliot. Quando o pai dela passa mal tudo que ele queria era estar ao lado dela e segurar sua mão, mas a mãe dele não está disposta a deixar o filho mais um segundo sequer naquela cidade, especialmente pelo fato de o sentimento por Catherine dar a ela a certeza que ele ficaria ali para sempre (algo que ela nunca permitiria.) Desesperado sem notícias dela e sem poder se despedir, Elliot é levado embora justamente no momento que a vida de Catherine queima e as cinzas voam ao vento sem que ela possa contar com ninguém.
Dois anos se passam e ela tem certeza não apenas que Elliot a abandonou, mas que sua vida não poderia estar pior. A sua casa virou uma pousada, a saúde da sua mãe está definhando cada dia mais ao ponto de assustá-la e os hóspedes a fazem trabalhar como escrava do dia a noite. Catherine ainda precisa lidar com o bullying na escola, com o ódio dos dois únicos amigos que ela tinha e precisou afastar e, agora, com o retorno de Elliot e sua insistência em ficar ao lado dela. Contudo, ela sabe que permitir que ele se aproxime (mesmo precisando desesperadamente dele e da sua proteção) implica colocá-lo em perigo porque dentro da sua casa gelada e sombria não é seguro e arrastá-lo para sua vida seria destruí-lo. Mas Elliot não está disposto a desistir do coração dela.
Quando Presley desaparece e Elliot se torna o principal suspeito (mais por racismo da polícia que por indícios de que ele fez alguma coisa) o segredo de Catherine é ameaçado e ela precisará fazer uma escolha entre salvar o amor de sua vida ou continuar mantendo preso o fardo secreto que guardou por dois anos na parede do velho casarão que guarda as sombras do seu passado.
Esse livro me surpreendeu muito, não apenas pelos personagens carismáticos e bem construídos, mas pela trama envolvente e bem amarrada. Catherine é meio irritante (e acho que é um traço de pessoas com esse nome porque até hoje nunca li um livro em que a personagem com esse nome não fosse irritante, instável e problemática), muitas vezes me irritava com a passividade dela, em especial com relação à mãe, entendo que há um vínculo forte entre a mãe e os filhos (quando se cresce em um lar minimamente saudável o que não é bem o caso dela, mas okay), contudo, a cegueira, passividade, egoísmo dela me tiravam do sério, se ela tivesse feito a coisa certa desde o início podia ter evitado muita coisa. Tentei olhar pela ótica de uma pessoa que perdeu o pai, a base racional da casa e pessoa que mais amava, o trauma e se ver apenas com a mãe como sua única família, mas nem assim consegui me colocar no lugar dela ao ponto de sentir empatia.
Desde o início as atitudes da mãe dela me irritavam. Ela mesma não parecia gostar muito da "mamãe" de quem não foi muito próxima. Fica claro no início do livro que Mavis passava por problemas psicológicos decorridos de uma infância de abuso por parte do pai, mas a forma como Catherine parecia alimentar o estado da mãe ao invés de procurar ajuda para ela e para si mesma apenas não entrava na minha cabeça. Tinha horas que eu apenas queria segurar a personagem pelos ombros e fazer ela cair na real. Muito do que ela passa nesse livro eu não teria suportado caladinha como ela fazia não. Nunca. Ia ser matar ou morrer e eu não estava nem aí.
Elliot é de longe o melhor desse livro. Claro que ele não é perfeito, acho que esse foi um dos pontos que mais gostei nele, era imperfeito ao ponto de ser muito real. Dentro do contexto familiar dele, só o fato de ele tentar tanto não ser como o pai já o deixava a coisa mais fofa desse planeta, a maneira como ele cuidava da Catherine e o jeito que ele demonstrava seus sentimentos sem precisar dizer eram as coisas que mais me encantavam. Ele tinha uma personalidade forte e mesmo sendo um pouco assustador a forma como em alguns momentos ele parecia obcecado por ela, não considerei uma relação abusiva, especialmente porque ele respeitava as escolhas dela mesmo sem concordar e nunca se cansava de tentar abrir os olhos da maldita personagem para uma verdade que estava diante do nariz dela.
O plot twist do livro me pegou de jeito. A autora pode até ter dado pistas, mas eu nunca suspeitaria daquele desfecho, não do jeito que foi. Sabia que tinha algo a ver com a pousada e com o que acontecia lá dentro, mas não imaginava que era exatamente aquele ponto. Acompanhar a evolução (lenta como uma lesma) da Catherine foi muito legal, mesmo com um final fechadinho e lindo, o livro dá a ideia do processo que é reprogramar sua mente gradualmente para se libertar dos grilhões de medo, indecisão e erros familiares que a prenderam no que ela é. Amei isso. A ideia de um começo novo e de esperança. Super recomendo!