Ano: 1886
Gêneros: Novela, Ficção filosófica
Páginas: 80
Sinopse: Ivan Ilitch é um burocrata, funcionário público do sistema judiciário da Rússia tsarista. Ambicioso e calculista, suas ações têm sempre como objetivo ascender na sociedade. Casa-se com Praskóvia Fiódorovna, não apenas porque enamora-se dela, mas principalmente porque as pessoas da alta classe social consideram a escolha acertada. O casal tem cinco filhos, dos quais sobrevivem dois. A vida vai seguindo seu curso, com dificuldades, bajulações, com desentendimentos cada vez mais constantes do casal e, finalmente, promoções.
Ivan Ilitch fere-se na região dos rins num acidente bobo em sua casa nova, quando cai de uma escadinha ao mostrar ao tapeceiro como queria as cortinas. O ferimento começa a incomodar, os médicos não acham um diagnóstico. Ivan Ilich piora a cada dia. Angustiado, vislumbra a proximidade da morte. É tomado por intensas reflexões solitárias sobre os mecanismos que regem as relações humanas. Dá-se que se sua morte é irremediável, sua vida também foi.
Das novelas mais poderosas já escritas, em que um homem julga-se e à própria existência humana quando a vida esvai-se dele, A morte de Ivan Ilitch é um retrato profundo da alma humana por um dos maiores escritores de todos os tempos.
Esse é meu segundo contato com a literatura russa. Exagerada como sou, minha porta de entrada foi de cara Dostoievsky e seu Crime e Castigo pelo qual me apaixonei, lembro bem. Não conhecia Tolstói, só de nome. Para muitos, essa novela é a introdução na literatura russa e, sendo sincera, acho um começo acertado. Por ser curta e de uma linguagem simples, que em nada diminui o poder de sua narrativa, pode ser um bom começo para quem nunca se aventurou nos livros desse país.
Na novela acompanhamos a vida de Ivan Ilitch, um funcionário público da área do direito que viveu e cresceu para seguir as regras sociais. Sempre fazia tudo "certo", visando promoção, relacionando-se com as pessoas certas e buscando benefícios para si. Era a fachada perfeita do homem bem sucedido que vivia para receber elogios e boas recomendações da sociedade. Casou-se por pura convenção, apenas porque era socialmente aceitável e isso lhe traria mais benefícios, lutou para atingir o máximo sucesso em seu trabalho porque significava mais dinheiro e, por consequência, mais status. Embora não fosse rico, vivia como tal e era indiferente ao casamento fracassado mantido apenas pelas aparências.
Um acidente doméstico, porém, muda tudo. Ivan começa a sentir um incômodo próximo ao rim, mas de início é suportável, até que a doença progride para algo sério e ele tem a certeza de que a morte se aproxima. Com essa certeza, passando de médico em médico e com o sentimento de ter se tornado um fardo para sua família, ele começa a repensar toda sua vida, as escolhas que fez e as decisões que tomou, quanto daquilo valeu a pena no final? Por que não conseguia sentir-se satisfeito com sua vida? Não havia a sensação de dever cumprido e calma. Ao mesmo tempo, Ivan se vê desejando a morte como alívio para sua dor insuportável. A dor no corpo e, sobretudo, a dor na alma. Esta última adquirida pelas últimas certezas de sua vida, a certeza de que não viveu em momento algum além da infância.
Para sua esposa, seu fim significa dinheiro e um alívio para os dias de irritação. Para seus "amigos" significa promoção. Alguém seria erguido ao seu posto e os demais também subiriam de cargo. O único que parece realmente ter sentido a morte de Ivan foi seu filho.
Sendo o segundo livro russo que leio, não tem como não notar que eles gostam bastante de explorar o pior do lado humano e talvez por isso sejam leituras tão fascinantes. Enquanto Crime e Castigo passeias nas sombras do lado escuro do inconsciente, movendo e torcendo o sentido de ética, certo e errado, A Morte de Ivan Ilitch nos convida a uma reflexão sobre nossa trajetória nessa jornada eterna chamada vida. Ivan se deu conta que toda sua vida foi moldada pela sociedade, pelo que os outros achavam ser certo e bom, em nome do status e da autopromoção, não pelo que ele realmente queria. A bem verdade ele nem sequer havia parado para pensar no que queria. Viu sua vinda findar sem jamais ter vivido nada, sempre em busca de enriquecer e manter aparências.
Enquanto lia, me fazia pensar no tanto de gente que eu conheço e se mata de trabalhar para comprar grandes casas, carros de luxo, ter toneladas de dinheiro no banco para, no fim da vida, se lamentar que não fez nada por si mesmo e, muitas vezes, sequer poder usufruir daquilo pelo que tanto lutou. Vale a pena? Essa sociedade colocou na nossa cabeça que precisamos de muito para ser feliz quando, na realidade, é o contrário. A gente precisa de tão pouco e nossa riqueza nada tem a ver com dinheiro. Não digo que dinheiro não é necessário, claro que é, mas não na proporção que se pinta. O que nos é indispensável é saúde, qualidade de vida (que nada tem a ver com posses), ter pessoas queridas que nos fazem bem por perto, sobretudo, observar as pequenas coisas que, lentamente, vão ficando de lado. Quando foi a última vez que você viu o nascer ou o pôr do sol?
É um livro pequeno, mas nada superficial. Em 80 páginas, Tolstói nos leva a refletir nosso papel como protagonistas da nossa própria história e quanto das nossas escolhas e atitudes é feita em prol da aprovação dos outros. No geral, gostei muito do livro, embora tenha sido diferente do que eu esperava. E, claro, recomendo fortemente. Acho que é um livro que todo mundo devia ler pelo menos uma vez na vida.
Nunca li nada da literatura russa, apesar de já ter ouvido falar de Crime e Castigo obviamente. Achei interessante a premissa desse livro e fiquei com vontade de ler. Realmente hoje está tão entranhado na mente das pessoas essa necessidade desenfreada de posse que nem adianta tentar convencer alguém sobre o mal que causa a si próprio. Como você disse, e concordo, o dinheiro é necessário no nosso sistema, mas muita gente está deixando de viver para acumular riquezas as quais não terá tempo de aproveitar.
ResponderExcluirAté breve;
Te espero nos meus blogs!
Helaina (Escritora || Blogueira)
https://hipercriativa.blogspot.com (Livros, filmes e séries)
https://universo-invisivel.blogspot.com (Contos, crônicas e afins)
Está aí um ótimo livro pra começar, acredito que vá gostar muito. E recomendo Crime e Castigo também, embora seja um pouco mais complexo e com uma linguagem mais rebuscada, a edição da 34 tem notas de rodapé que facilitam muito o entendimento e é uma história fascinante. É uma triste realidade que vemos agravar-se a cada dia. As pessoas estão se tornando cada vez mais máquinas e menos humanas. Sendo franca, não sei onde esse mundo vai parar, tenho medo de imaginar, mas quando leio livros como esse, escritos tanto tempo antes da tecnologia que temos hoje, vejo que essa doença que está nos matando agora já vem de muito antes.
ResponderExcluir