Em meio a todo caos e violência de Juízes, Rute aparece como uma parábola, uma pausa para nos trazer reflexão e amenizar um pouco a tão difícil leitura do seu antecessor. Com um dos parcos protagonismos femininos da bíblia do lado de Ester e Judite, Rute é uma das poucas a ganhar destaque com um livro.
Ela não era hebreia, mas moabita casada com um judeu. Em decorrência da morte de seu sogro, cunhado e marido, se viu sozinha com a sogra Noemi e a cunhada. Sabendo que não tinha muito a fazer por elas que ainda eram jovens, Noemi as dispensa de volta às suas famílias para que se casem de novo e formem nova família. Apesar de a cunhada logo aceitar a oferta, Rute declina e se recusa a abandonar a sogra sozinha.
As duas voltam juntas à Belém, terra natal de Noemi, e Rute começa a trabalhar para um dos parentes da sogra a fim de sustentá-la. Com alguns arranjos de Noemi, Rute acaba se casando com esse homem e continuando o nome do falecido marido além de zelar pela sogra. Um livro sobre piedade filial. Apesar de ser uma história até bonitinha, percebe-se como as mulheres valem pouco na sociedade judaica. Como ainda hoje, suscetíveis aos horrores dos homens, muitas vezes nem salvas pelo casamento, sempre submissas e com o rosto por terra...
Uma coisa interessante de observar, e volto a salientar, é que Rute não era judia. Devemos perceber que houve pouco favor dos povos que cercavam os judeus ao longo dos livros até aqui. E, desde o início, a ordem de Deus era destruir todos os povos que ocupavam a terra prometida, embora presumo que Ele já soubesse que eles não iam fazer... Então, esse acontecimento ilustra, a meu ver, claro, uma certa abertura para nós, povos que não foram escolhidos, mas acolhidos por Cristo e, mesmo assim, vale lembrar que o ministério de Jesus era direcionado especificamente aos judeus, a gente tá falando de uma época bem anterior a isso.
Rute era viúva do filho de Noemi, mas não tinha motivo algum para continuar ao lado dela, mulheres não tinham voz e vez na sociedade e elas provavelmente passariam fome sem a proteção de um homem. Contudo, ao contrário da cunhada, cuja nacionalidade não é mencionada, ela permanece ao lado da sogra porque sabe que, com a perda dos filhos, ela não vai ter ninguém para olhar por ela, mesmo se alojando na casa de algum parente homem. E essa atitude de Rute, generosa e desprendida, nos remete ao mandamento de honrar pai e mãe, pois, no momento em que se casou, a mãe do marido passa a ser sua também. Pelo menos é como devia ser. E tem certo cunho pedagógico ao mostrar que ser fiel e obediente rende bons frutos ao filho.
Ainda assim, é uma história bonita, dá esperança. E conheci de onde veio o juramento parabatai feito por Cassandra Clare.
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