domingo, 15 de setembro de 2024

[Livro] Lucíola + adaptação

 Autor: José de Alencar

Ano: 1862

Gênero: Drama, romance

Sinopse: Sob a perspectiva do personagem Paulo, conhecemos o relacionamento dele com uma cortesã do império por meio de cartas que ele envia à senhora G. M., nelas recorda o passado e compartilha seus sentimentos mais íntimos a respeito de Lúcia. Alencar constrói o romantismo com muita sensibilidade, ao mesmo tempo em que explora acontecimentos e cenários de maneira extremamente natural, trazendo fundos de veracidade e espelhando com maestria a corte imperial carioca. A crítica social está presente na construção dos personagens, em seus valores e atitudes, que trazem reflexões sobre os preconceitos da época e as mazelas de uma burguesia pautada por aparências.

Meu primeiro contato com José de Alencar foi na escola e não por obrigação das aulas, mas por interesse meu, numa época em que descobri romances históricos e estava apaixonada por eles. A biblioteca da escola era meu refúgio desde sempre, mesmo nas vezes em que foi remanejada para diferentes lugares conforme as reformas e as mudanças ocorriam, se estive longe dela em algum momento foi no período de um ano no qual dividíamos a escola dentro de outro colégio, misturado com os alunos de lá, de modo que não era a biblioteca da minha escola.

Lembro que, logo de cara, me vi apaixonada por Machado de Assis e sua Iaiá Garcia, mas torci o nariz para a Senhora de Alencar. Motivo? Por mais "estrambólica" que a prosa de Machado pudesse ser para meu eu de quatorze, dezesseis anos, ele usava de metáforas e intrínsecas melodias que muito me encantavam os olhos e soavam poéticas aos ouvidos. Enquanto Alencar usava aquela prosa mais "seca" permeada de um amontoado de palavras hiperbólicas que não me agradavam e dificultavam meu primário conhecimento literário.

Anos depois, após revisitar Iaiá Garcia e conhecer melhor outras obras de Machado, eis que faço nova tentativa de ler José de Alencar e, com sorte, tirar a primeira impressão ruim da adolescência.

A prosa é narrada do ponto de vista de Paulo, pernambucano recém-chegado ao Rio de Janeiro que se encanta por Lúcia, uma jovem que vê por acaso na ocasião de sua chegada. descobre ser esta uma famosa e cobiçada cortesã da corte com particularidades muito específicas no que diz respeito aos seus "clientes". Esta introdução lhe é feita por Sá, seu amigo que já tinha prévio conhecimento com a citada.

Incapaz de dissolver no esquecimento a beleza etérea da jovem, Paulo passa a ir até sua casa e tentar aproximar-se dela com claro intuito de tornar-se seu amante. A relação, inicialmente apenas moldada nos arremates da carne, vai aprofundando-se em algo mais complexo com o passar da convivência de ambos, que gera burburinho na sociedade e leva à mexericos que põem em xeque o relacionamento.

Tendo sido persuadido por seus invejosos amigos a deixar de lado essa relação infrutífera, Paulo se vê incapaz de resistir à Lúcia e a hipnótica dominância que ela tem sobre ele. Porém, a relação vai esfriando ao ponto de tornar-se uma amizade na qual ambos escondem seus verdadeiros sentimentos em nome de duvidosos segredos que por vezes são mal interpretados pelo febril Paulo.

Não tenho nem bagagem, nem conhecimento para tecer aqui análises profundas sobre a obra, por isso, vou me abster à minha impressão pessoal acerca da história e suas personagens sem buscar holofotes, tentando dar voltas em uma análise vazia de informações próprias ou tiradas de algum site qualquer. 

De fato, a prosa de Alencar não me cabe. É cheia de firulas que, embora se mostrem por vezes poéticas, são compostas de uma tessitura e cheias de hipérboles léxicas que me soam secas e talvez — não sem propósito do autor — carregadas de satírica ironia que quebram um pouco o uso ao qual eram primariamente destinadas de modo a não permitir ao leitor separar a impressão de seu propósito mesmo sendo esta sua vontade.

A obra me remeteu bastante à ópera La Traviata de Giuseppe Verdi que, inclusive, gosto bastante, esta por sua vez é baseada no livro A Dama das Camélias, de Dumas Filho, obra citada em Lucíola talvez como uma menção ou uma pista de lhe ser, de alguma forma, versão (não posso dizer, pois não li). Todavia, são semelhanças bem nítidas e pessoas que viram a ópera decerto notarão, incluindo o final trágico que se dá por razões distintas, mas em circunstâncias pares.

Paulo, que não julgo por sua ignorância dos ventos juvenis, era instável e dava-se com facilidade aos mexericos invejosos de seus "amigos" por conseguir-lhes a cobiçosa posse fugidia. Levado pela vida de aparências e futilidades, embora sabendo a verdade sobre a vida levada por Lúcia, nada dela de fato sabia e, ao mesmo em que ela lhe instava fidelidade, este a desejava enquanto a repelia em favor do próprio nome "social". Estava consciente dos sentimentos dela, mas não a assumia, tampouco se impedia de julgá-la ao menor sinal de dúbio acontecimento. O próprio admite sua boçalidade quando, enfim, a consciência experiente lhe permite compreender as nuanças que os cegos olhos apaixonados lhe subtraíam na obcecação do desejo.

Lúcia, de sua parte, começou como um enigma. Suas particularidades me deixavam a dúbia percepção dos seus pensamentos que eram intensificados pelo olhar nublado de Paulo. Entre idas e vindas do que me pareciam devaneios desvairados de uma possível insanidade, comecei a perceber, por fim, os arroubos de depressão que lhe sacudiam os sentidos devido à vida que levava e eram ainda mais violentos à luz dos seus sentimentos por Paulo. Descobrir a história dela e a revelação trágica no final apenas clareou mais essa percepção tardia. De alguma forma, ela me representava o clamor de uma igualdade jamais advinda, uma vez que, dado seu gênero e a vida levada, qualquer de suas ações eram interpretadas ao bel-prazer da sociedade hipócrita e moralista na qual vivia.

Embora não possa dizer que tenha tirado de todo a má impressão da primeira leitura de Alencar, afirmo que esta suavizou-se ao menos um pouco, embora não seria minha primeira opção escolhida entre os clássicos brasileiros. Talvez a semelhança muito grande com uma ópera da qual gosto bastante tenha sido útil no meu, se não agrado, mas perseverança na leitura e afastou por completo qualquer decepção que pudesse ter tido no final, uma vez que este era esperado desde certo ponto nos primeiros capítulos.

Adaptação

Tem 2 adaptações, um filme mudo de 1916 e outro filme já na década de 70, em 1975 que foi o que achei para ver, inclusive, acho que é o filme mais velho que já assisti. Tem no youtube para quem desejar. Foi roteirizado e dirigido por Alfredo Sternheim tendo no elenco Rossana Ghessa, Helena Ramos, Carlo Mossy, Clemente Viscaíno e Sérgio Hingst.

Eu não tenho nenhum tipo de conhecimento sobre cinema, então nem vou falar de coisas como fotografia, figurino ou coisa do tipo. Achei as interpretações um pouco "engessadas"? Achei. Mas não julguei o filme ruim, inclusive, foi mais fiel ao livro que muita adaptação feita hoje em dia. Teve pouquíssimas elipses na história, até mesmo os diálogos são tal e qual estão no livro de modo que é mesmo como se a gente estivesse vendo o filme da nossa cabeça enquanto lia na tela.

É um filme que eu indicaria? Não. Se fosse pra indicar, faria isso com o livro. Mas a título de curiosidade fui ver e para quem tem preguiça de ler por ser um clássico antigo com linguagem um tanto rebuscada, fica aí uma boa adaptação da obra.

[Bíblia] Tobias — Parte I

Informações introdutórias:
  • Foi escrito em aramaico na metade do século II a.C
  • Possivelmente ambienta-se em Nínive, no tempo do exílio
  • Importante didatismo religioso, salientando a virtude, a piedade e a fidelidade 
Tobit era da tribo de Nínive e foi levado ao cativeiro junto com os seus durante o tempo do rei dos Assírios. COntudo, manteve-se firme no caminho da verdade e compartilhava de tudo que tinha com seus irmãos de fé que partilhavam com ele do cativeiro. Mesmo sendo o mais jovem de sua tribo, era prudente e enquanto muitos dos seus irmãos se entregavam à idolatria do rei Jeroboão, ele fugia e ia ao templo do Senhor oferecer com fidelidade os tributos prescritos pela lei de Moisés.

Quando se tornou adulto, guardou-se de se casar com mulheres estrangeiras e escolheu por esposa uma mulher de sua tribo chamada Ana, com quem teve um filho que nomeou Tobias e a quem ensinou desde cedo a temer a Deus e abster-se do pecado. Por guardar com esmero em seu coração a lembrança de Deus e não contrair mancha alguma em meio ao cativeiro ao contrário de muitos dos seus irmãos, o Senhor tornou o rei dos Assírios simpático a ele, que lhe concedeu ir onde quisesse e fazer o que lhe agradasse. Tobit visitava os deportados para lhes dar conselhos.

Foi um dia a Ragés com dez talentos de prata que lhe foram concedidos pelo rei e lá entrou Gabael, um homem de sua tribo, que passava por grande dificuldade. Deu-lhe então a quantia que tinha mediante um recibo.

Quando morreu o rei da Assíria subiu seu filho Senaquerib ao trono. Este odiava os judeus. Tobit permanecia fiel à sua fé e era diligente na prática da caridade, vestia os nus, alimentava os famintos, dividia tudo que tinha e sepultava os mortos com particular solicitude.

Na ocasião de Senaquerib, ferido de peste pelo castigo de Deus, mandou assassinar um sem número de israelitas, Tobit sepulto seus cadáveres. Denunciaram-no ao rei que mandou matá-lo e confiscar todos os seus bens. Sem nada, fugiu com sua mulher e filho e por ter muitos amigos foi escondido até a morte do rei, assassinado por um de seus filhos. Tobit pôde então voltar para casa e todas as suas posses foram restituídas.

Em um dia de festa religiosa, preparada a ceia, pedia a seu filho que buscasse alguns homens piedosos de seu povo para cear com eles, tão logo saiu o rapaz, voltou anunciando que um dos israelitas jazia degolado na rua. Tobit levantou-se sem ao menos ter comido e foi buscar o corpo que escondeu m sua casa para enterrar à noite. Trêmulo, lembrou-se das palavras do profeta Amós, onde o Senhor anunciava transformar em luto suas festas por conta das iniquidades dos homens. Seus compatriotas o repreendiam pelo que fazia, mas Tobit temia mais a Deus que os reis e continuava seu trabalho.

Um dia, cansado, deitou-se junto à parede de sua casa e adormeceu. Caiu um ninho de andorinhas e o esterco quente queimou seus olhos tonando-o cego. Tendo temido a Deus toda sua vida e guardado seus mandamentos, não entregou-se à aflição e nem murmurou contra o Senhor, mas continuou lhe dando graças em todos os dias de sua vida. Os seus parentes e amigos escarneciam dele por permanecer com sua fé após castigo tão duro como recompensa por sua retidão, ele, porém, os repreendia por falarem dessa forma.

Quantas vezes, atingidos pela dificuldade, enxergamos apenas a nossa dor e culpamos ou reclamamos com Deus ao invés de, como Tobit, confiar em seus caminhos? Somos incapazes de ver que pela dor Deus nos prepara para planos melhores.

domingo, 8 de setembro de 2024

[Livro] A Casa dos Muitos Caminhos

 Original: House of Many Ways

Autora: Diana Wynne Jones

Gênero: Literatura fantástica

Sinopse: Charmain vive uma confortável e tranquila rotina – não tira os olhos dos livros não tem tarefas domésticas e, principalmente, é muito mimada pelos pais... Até que tia Semprônia lhe pede que cuide da casa do seu tio-avô, o Mago Norland, durante sua ausência. Ela imagina que a tarefa, no fim, valerá a pena – afinal, esta é sua única chance de sair de casa e tentar trabalhar na Biblioteca Real, seu maior desejo. Mas as tarefas domésticas das quais Charmain deve se ocupar são, naturalmente, quase todas mágicas. E, embora precise arrumar a bagunça que o tio-avô deixou, ela não entende absolutamente nada sobre magia!

Ao abrir a porta da casa, Charmain passa a ser responsável não apenas pelo lugar, mas também por um cachorro mágico e um muito atrapalhado aprendiz de mago. A aventura fica ainda mais arriscada quando a menina se torna alvo de uma aterrorizante criatura, e junta-se a uma equipe que vai ajudar o rei e a princesa a encontrar o misterioso dom de Elfo perdido. Como Charmain acabou no meio dessa confusão? E, mais importante: como vai sair dela?

Terceiro e último volume do Castelo Animado, o livro traz de volta os personagens adoráveis do primeiro livro e nos dão um vislumbre opaco da vida deles juntos, agora, com Howl e Sophie sendo pais do menino Morgan e ainda vivendo com Calcifer. Contudo, a protagonista do livro é Charmain, a filha imprestável de um rico casal. A mãe dela acha que garotas respeitáveis não podem fazer praticamente nada e não concorda nem um pouco com o uso de magia. Assim, Charmain não sabe fritar um ovo, é desagradável e preguiçosa, o que não contribui nem um pouco para nossa simpatia pela personagem.

Ela é recomendada pela tia avó para cuidar da casa do tio avô enquanto ele passa por um tratamento delicado. O tio avô dela é um mago muito respeitado, mas nenhum deles desconfia que Charmain nada sabe de magia, nada sabe sobre nada que não seja um nariz enfiado num livro e comer como uma desesperada faminta. Ainda assim, vê nisso uma oportunidade de escapar da superproteção dos pais e aceita, preparando uma carta para o rei se voluntariando a ser assistente da biblioteca real. Espera, longe da supervisão férrea da mãe, poder se aventurar por coisas que gosta de fazer. E o que ela gosta é enfiar o nariz em qualquer livro que lhe interesse.

Na casa do tio avô, Charmain encontra vários problemas, primeiro por não saber nada sobre magia, depois por não saber fazer nada e tampouco se importar. Por sorte, o tio avô se precaveu e encantou a casa para ajudá-la enquanto estivesse fora. Eles não contavam, contudo, com a chegada de Peter, o filho da bruxa de Montalbino que havia escrito avisando sua chegada antecipada para estudar como seu aprendiz. De início ele e a garota não se dão nada bem, embora eu tenha amado as partes que ele coloca ela no lugar.

Para sua surpresa, Charmain é aceita como auxiliar bibliotecária e descobre que o reino está falindo, o rei e a princesa estão à procura de um tesouro escondido que pode solucionar todos os problemas do castelo. Como a princesa está para receber convidados, a garota deve tomar seu lugar e ajudar o rei a procurar pistas no extenso arquivo real. E quem não é a visita da princesa senão Sophie! Com a sua chegada, não demora muito para que Howl, disfarçado de menino, apareça junto com Calcifer e o pequeno Morgan. Eles estão ali para descobrir o mistério do tesouro desaparecido e ajudar o rei a impedir que o tirano primo assuma o trono.

Enquanto descobre um pouco mais sobre si mesma e sua relação com a magia, Charmain acaba envolvida em todo o enigma e se vê encurralada em uma conspiração com seres muito perigosos que ameaçam o reino. 

A conclusão que eu tiro terminando esse terceiro volume é que nenhum dos dois se compara com o primeiro. Aqui, não apenas a personagem principal é bem antipática, o que torna difícil torcer por ela, como a própria construção da história soa bem insossa. Claro, não quer dizer que o livro é ruim, de maneira nenhuma, mas embora a presença de Howl, Sophie e Calcifer ajudem a narrativa a ficar um pouco mais legal, não é suficiente para fechar a história achando o melhor livro da trilogia.

Pra mim, a parte mais legal foi ver a dinâmica de Howl e Sophie como um casal, eu torci tanto por eles no primeiro volume, embora o romance lá seja muito sutil, no segundo eles quase não aparecem como eles mesmos e aqui, saber que eles construíram uma família dá aquele quentinho no coração. A dinâmica da casa também era um tanto confusa em alguns momentos, mas me soou bem crível com o universo mágico criado desde o primeiro livro. De dez, ganhou meu 6,0.

[Filme] O Jardim Secreto: Adaptações

Dirigido por Agnieszka Holland, foi lançado em 1993 contando com Kate Maberly, John Lynch, Maggie Smith, Heydon Prowse e Andrew Knott. 
O filme é uma adaptação fiel até certo ponto do livro. No longa, os pais de Mary morrem em um terremoto e não com uma epidemia como no livro. A mãe de Dikon, uma das melhores personagens do livro, não foi mostrada no filme, assim como o primo do pai dele, que é seu médico, deixando o pseudo antagonismo nas mãos da Senhora Madlock.
Embora as personalidades de Mary e Colin tenham sido preservadas, achei Dikon um tanto quanto menos encantador que no livro, ele perde um pouco sua aura mágica ficando meio apagado como se fosse de propósito para dar destaque aos outros dois personagens. Não gostei disso.
Além do mais, foi bem despropositado colocar essa aura romântica entre Colin e Mary, pelo amor de Deus, eles eram crianças de dez anos! Na fala que ele diz que quer se casar com ela eu pausei o filme e disse "oi?". Por mais que a criação de Colin justifique certas atitudes, a maneira como ele foi retratado no filme em relação à Mary me soou um tanto errônea. No livro, eles são apenas crianças sendo crianças, primos que se tornam amigos.
O longa tem aquela cara de sessão da tarde que dá uma nostalgia no coração, quando os filmes realmente eram bons e mágicos e tinham o poder de nos unir numa sala sem que cada pessoa ficasse preocupada com as notificações do celular ou batendo papos paralelos. Me senti de novo com seis anos, sentada no tapete da sala com os olhos grudados na tela e o meu finado avô sentado no sofá atrás de mim. Vale muito a pena se ver.

Dirigido por Dave Edwards, foi lançado em 1994. Que nostalgia! Sinto muita falta desse gráfico 2D antigo, que tem a cara da minha infância.
Assim como o live-action,a animação conta com algumas compressões de enredo. Ela é um pouco menor que o filme, mas em alguns aspectos mais fiel ao livro. Aqui, os pais de Mary morrem mesmo em uma epidemia de cólera na Índia e ela é encontrada pelos guardas. 
A relação de amizade tanto com Dikon quanto com Colin foi mantida como no livro, mas encurtada de modo considerável e a mãe do Dikon não aparece. O antagonismo ficou por parte da senhora Medlock e do doutor Craven que desejam matar Colin para ficar coma mansão, algo que não acontece no livro, embora em algum ponto de sinais que o médico não desejava a melhora do sobrinho, ele o encoraja, sim, a atividades que o ajudam a se curar.
Os animais ganham destaque na animação com voz e certo protagonismo o que se distancia um pouco do livro e dá um ar fantasioso para a história. Ainda assim, acho que vale muito a pena conferir e, não apenas isso, gostaria muito que pais mostrassem esse tipo de desenho pros filhos hoje em dia. Para mim, essas animações sim são desenho de verdade.

[Bíblia] Neemias

Neemias era copeiro do rei Ataxerxes I (465-424), quando um de seus compatriotas chega à cidade de Susã, ele lhe pede notícias sobre Jerusalém e o povo liberto do cativeiro, mas a resposta não serve senão para agustiá-lo. Hanani lhe conta que o povo está na miséria, os muros da cidade estão em ruínas e os portões incendiados.

Entendendo que, cronologicamente, este livro se insere depois de Esdras, supõe-se que a reforma estabelecida por ele não durou muito e o povo voltou a cair em pecado atraindo a fúria de Deus que lhes retirou o favor mais uma vez, deixando-os a mercê de seus inimigos. Consternado, Neemias faz uma fervorosa oração à Deus, suplicando misericórdia e pedindo para alcançar o favor do rei, podendo retornar à sua terra.

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Tal como seu antecessor, o livro de Neemias também é narrado em primeira pessoa, o que nos aproxima mais de sua pessoa, pois nos conecta com seus pensamentos e sentimentos e nos oferece uma visão parcial do mundo da época. Isso me faz pensar que a história nem sempre é escrita pelos vencedores, em boa parte, seu texto é tecido pelos sobreviventes. Esse pensamento se aplica com precisão a esses livros até aqui.

Após sua prece, Neemias buscou uma oportunidade de falar com o rei quando ele estivesse na presença da rainha para que, em caso de recusa, ela interviesse em seu favor. O rei, todavia, mostrou-se favorável a ele tão logo estipulou um prazo para sua volta. Assim, partiu o copeiro levando consigo algumas cartas do rei para conseguir passagem no além-rio.

Chegando à Jerusalém, atestou que seus muros estavam mesmo destruídos e suas portas consumidas pelas chamas. Cheio do espírito e temor de Deus, animou seus compatriotas à reconstrução independente da troça de seus inimigos que planejavam contra eles para impedi-los de reconstruir. Neemias enfrentava, contudo, mais que os povos opositores, mas uma facção do seu próprio povo que, a despeito da reforma de Esdras, compactuavam com os estrangeiros em favor de alianças matrimoniais.

As obras prosseguiram com cuidado redobrados, os homens precisavam trabalhar armados e fazer turnos de vigia para prever o ataque dos inimigos.

Além de toda essa dificuldade, o próprio povo se voltava contra os seus, aqueles que muito tinham tomavam por meio de juros os que quase nada possuíam forçando-os a vender os próprios filhos como forma de sobreviver. Enojado, Neemias os repreendeu duramente tão logo ouviu o lamento do povo, lembrando-lhes da lei do Senhor e da vergonha que sua nação representava para eles diante de Deus. Fê-los prometer devolver os bens cobrados a juro e não mais prosseguir de tal forma contra seu próprio povo.

Os inimigos dos judeus, vendo reconstruídas as muralhas e nem mais uma brecha, começaram a criar boatos sobre Neemias estar planejando uma revolta com a intenção de se tornar rei dos judeus e passaram a ameaçar levar essas fantasias ao rei. Enquanto isso, agora no posto de governador instituído pelo rei, ele continuava a obra sem cobrar seus direitos de posto para não oprimir o povo que já passava por dificuldades.

Prontas as muralhas no sexto mês, Neemias organizou os turnos de vigília e entregou a segurança a seu irmão Hananias, que era um homem de Deus. Feito isso, inspirado por Deus, ordenou um recenseamento do povo começando por aqueles que haviam sido libertados da Babilônia, entre os quais estava Mardoqueu, primo de Hadassa, que terá papel relevante no Livro de Ester.

No primeiro dia do sétimo mês, Neemias reuniu todo o povo diante da porta da água, em um pátio, e pediu ao sacerdote Esdras que trouxesse o livro da lei. O sacerdote apresentou o livro diante do povo e foi feita sua leitura da manhã até o meio-dia. Lia e explicava o sentido de cada parte distintamente para que se pudesse compreender a leitura. E temos aqui a primeira celebração da Palavra!

No vigésimo dia do mesmo mês, vestindo sacos e com a cabeça coberta de pó, os israelitas se reuniram para um jejum. Escutavam a palavra de Deus e por um quarto do dia, durante o outro quarto do dia confessavam seus pecados e prostravam-se diante do Senhor, e assim aconteceu a primeira confissão comunitária. É interessante ver nesse livro os primeiros passos do que se tornaria o rito da missa. Após uma grande prece, na qual é relembrada a trajetória do povo desde sua saída do Egito, faz-se a renovação da aliança na qual se comprometem a seguir os preceitos da lei.

Contudo, a realidade era menos brilhante que o entusiasmo fervoroso de Neemias. Tendo ele voltado para Susã, o povo voltou a transgredir a aliança e descumprir a lei. Em seu retorno, mais tarde, consternou-se ao atestar a facilidade com que se corrompia seus corações. Repreendeu-os duramente e trabalhou para recolocar as coisas em ordem, banindo, inclusive, alguns dos seus irmãos por graves transgressões contra o templo do Senhor.

O livro de Neemias traz, como o de Esdras, os primórdios da igreja a partir da observância de seus ritos e normas, mas também apresenta a intolerância religiosa por parte de alguns dentro do templo, um fato que prossegue até nos dias de hoje e nos recorda que, mesmo sendo Deus soberano e sábio, aqueles que lhe servem são homens falhos, destituídos de perfeição. Hoje mais do que nunca vejo esse povo intolerante e duro de Israel esculpido na sociedade individualista e egoísta que não percebe dos sinais da ira de Deus ao seu coração corrompido.

Estamos condenando a nós mesmos no caminho do fim. Nunca antes os homens foram mais cegos e ignorantes do que agora e cada vez menos são os chamados à conversão e claridade. Antes, era um papel de alguns, hoje é de cada um de nós. A igreja está perdendo sua voz, o povo escolhido seguiu um caminho sem volta, a humanidade perdeu o verdadeiro sentido da consciência e não consigo ver nada à frente além do grande castigo pelos nossos inúmeros pecados.

“Pois vós sois um Deus sempre pronto ao perdão, clemente e compassivo. Vagaroso em encolerizar-se e rico em bondade e assim não os abandonastes.” Nee 9,17

Setembro é o mês da bíblia, sei que ando sumida do blog, mas estou tendo dificuldades em administrar o meu tempo, querendo fazer muita coisa ao mesmo tempo. Vou tentar trazer mais posts da bíblia para cá esse mês já que é um tempo de incentivo ao conhecimento da palavra. 

sábado, 7 de setembro de 2024

[Drama] Snowfall FUI TROLLADA DE NOVO!

 Título nativo: 冰雪谣

Diretor: Li Mu Ge

Roteirista: Wang Hong

Gêneros: Thriller , Histórico , Romance , Fantasia

País: China

Episódios: 24

Sinopse: Durante a Era Republicana, Shen Zhi Heng, um vampiro famoso que viveu por mais de um século, quase foi assassinado por um grupo de soldados corruptos e foi salvo por uma garota cega chamada Mi Lan e seu melhor amigo, o doutor Situ Wei Lian. Sabendo que a situação doméstica de Mi Lan era abusiva, o vampiro solitário começou a prestar mais atenção e cuidar dela. Depois que a tentativa de assassinato falhou, o astuto Li Ying Liang, o diretor do departamento de operações militares, estava determinado a descobrir qual era o segredo de Shen Zhi Heng. Ele e seu chefe superintendente igualmente corrupto estavam tentando assumir diferentes negócios e outras operações para continuar com suas atividades obscuras. Enquanto isso, as vidas de Shen Zi Heng e Mi Lan se tornaram ainda mais interligadas enquanto ele procurava a razão pela qual ele se tornou o que era enquanto ela precisava de uma razão para viver. Juntas, essas duas almas solitárias se tornaram as linhas de vida uma da outra. Mas um vampiro centenário e uma garota mortal cega poderiam encontrar a verdadeira felicidade em seu mundo perigoso e caótico?

ESSA RESENHA CONTERÁ SPOILER, LEIA POR SUA CONTA.

Gao Wei Guang, foi esse rostinho carismático e sedutor que me levou para esse drama, me fazendo ignorar o fato de nunca acompanhar dramas em lançamento porque a China adora cagar (com o devido perdão da palavra) os finais de suas produções. Ainda assim, fingi que não sabia disso e comecei a assistir com infantil entusiasmo.

A história segue Shen Zhi Heng, um vampiro centenário que lidera uma cadeia jornalística na cidade de Haidong enquanto procura seu irmão perdido. Ele vai à uma festa na mansão da próspera família Mi e acaba descobrindo que uma das concubinas do velho Mi maltrata sua filha. Curiosamente, após ser brutalmente atacado durante sua volta para casa, ele é ajudado exatamente por essa jovem menina cega, Mi Lan, que promete buscar ajuda para ele. Com suas próprias dificuldades, ela consegue avisar Situ Weilian sobre a situação de Shen Zhi Heng, contudo, arruma problemas para si mesma sendo outra vez surrada pela mãe e trancada em casa.

Quando consegue se recuperar, junto à Situ Weilian, Zhiheng vai até a mansão Mi para tentar encontrar Mi Lan, mas é impedido pela mãe dela, contudo, ao ouvi-la cair ele invade a casa e a resgate muito doente. A partir desse dia, ele toma para si o dever de resgatar a garota e começa a jornada dos dois no perigoso mundo da noite. Shen Zhiheng encontrou na corrupção do chefe militar um inimigo e seu principal subordinado, Li Yilian, está na cola dele, sem medir esforços para atingi-lo. Sabendo que seus planos podem falhar a qualquer momento, o chefe militar pede ajuda para a família Mo que também é amaldiçoada como a família de Zhihen. No meio de tudo isso, Mi Lan está disposta a vencer suas dificuldades para ajudar a pessoa que lhe ensinou a ter vontade de viver.

A história é boa. São três famílias, cada uma ligada a um artefato mágico que lhes confere poder, mas cobram um preço alto por isso. Shen Zhiheng foi transformado em vampiro contra a sua vontade e desde então tenta viver da maneira mais humana possível, o drama, inclusive, falhou muito em esconder que Weilian era o irmão dele. Ficou na cara logo no começo. No decurso dos fatos, pelo modo como o enredo foi construído, havia todas as possibilidades de terminar de modo satisfatório, por mais que a pedra do sangue tenha sido ligada à Mi Lan, no momento que foi absorvida por Mo Lihua ela podia ter revertido a imortalidade de Mi Lan, assim os dois morriam juntos, ou o artefato da família Mo poderia ter revertido a fraqueza do Zhiheng e assim os dois terminavam felizes.

Negócio é que o final desse negócio é todo apressado e muito desnecessário. Aquela briga com a Mo Lihua que, sinceramente, podia ter morrido na explosão e terminado de maneira mais decente, só veio como um pretexto para terminar as coisas em choro. A gente não vê o que aconteceu com ninguém, só sabe que o Zhiheng morreu e deixou a Mi Lan sozinha. A raiva ainda nos últimos episódios os personagens começam a cometer burrices gratuitas para impulsionar o final ruim e nem chega a soar crível pra gente como expectador. Sendo franca, nem o trabalho de escrever fanfic desse negócio valeria a pena. Havia todas as brechas para terminar bem e eles só decidiram cagar mesmo o final.

É uma das coisas que eu não gosto em dramas chineses, boa parte deles insiste em tragificar uma coisa que é pra ser claramente boa sem qualquer propósito ou necessidade. Claro que não são todos, há vários com final bom, mas a boa maioria é sad ending sem qualquer motivo. Isso me irrita profundamente. E não sou o tipo de "Ah, a história foi boa então valeu a pena". Não. Se o final foi ruim eu sinto é que perdi o meu tempo e meus surtos vendo aquilo. Vou continuar preferindo spoilers.

[Livro] O Jardim Secreto

Original: The Secret Garden
Autor: Frances Hodgson Burnett
Ano: 1911
Gêneros: Literatura infantil, Ficção
Sinopse: Quando Mary Lennox deixa a Índia e chega à mansão de seu tio, tudo parece estranho para ela. Até que certo dia ouve falar de um jardim misterioso onde ninguém põe os pés há dez anos. Com a ajuda de alguns novos amigos, ela planeja descobrir esse segredo... e fazê-lo florescer novamente.

Mary Lennox nunca conheceu o amor de seus pais. Sua mãe jamais quis ter filhos e, após seu nascimento, a única exigência feita aos criados era que não deixassem a menina aparecer na sua frente e nem lhe permitissem ouvir seus gritos. Assim, na Índia, ela cresceu tendo todas as suas vontades atendidas pelos criados da casa, especialmente sua aia, sem ter qualquer contato real com os pais, a quem só via de longe e por quem não nutria qualquer tipo de afeto.
Quando a epidemia de cólera chegou, sua aia morreu e todos na mansão estavam tão assustados que não se lembravam dela. Seus pais morreram enquanto Mary dormia, todos na mansão foram levados pela doença e ela permaneceu esquecida no quarto, sozinha. Por fim, foi encontrada por dois oficiais do exército inglês que a deixaram aos cuidados do reverendo até ser encontrado o parente mais próximo a quem ela seria confiada.
Mary era desagradável, imperativa e antipática. Ninguém que a olhasse ou tentasse conversar dois minutos com ela conseguiria gostar da garota que sequer parecia ter dez anos. Foi, então, designada a morar com o tio, irmão de sua mãe, numa casa de campo na Inglaterra. Ela nada sabia dele e foi buscada por uma governanta austera e rígida, que lhe advertiu ser seu tio um homem duro e inflexível que não tolerava certos comportamentos e, durante sua estadia, ela não devia incomodá-lo nos parcos períodos em que estivesse na casa.
Conforme os dias iam passando, ela começou a se aproximar um pouco mais de Marta, uma das criadas da casa e ouvir histórias sobre um de seus irmãos apaixonados pela natureza, incentivada por ela a sair pela propriedade, Mary ouviu falar de um jardim secreto onde ninguém ia e se determinou a procurá-lo. Na sua jornada, conquistou novos amigos e passou a entender sobre afeto, amizade e cumplicidade. Para descobrir sobre o jardim, ela também precisará descobrir mais sobre si mesma e os segredos que sua nova casa esconde.
Esse é daqueles livros de quentinho no coração! Quando as adaptações saíram eu tinha entre 3 e 4 anos, de modo que vim a ver quando era maior pouca coisa e quase não me lembrava da história. Então, consegui aproveitar cada página do livro com a avidez da primeira vez. É tão bonitinho ver como Mary evolui e, sobretudo, o peso que a família tem na personalidade de uma criança. A menina tinha dez anos, mas às vezes não conseguia imaginá-la com essa idade no começo do livro. Da mesma forma, tem Colin e a rejeição do pai que o tonou uma criança retraída, medrosa e assustadoramente conformada com uma morte imaginária incutida em sua mente. Foi muito divertido quando Mary, uma menina diminuta, colocou ele no lugar.
Crianças precisam ser crianças, ar puro, imaginação, livros, inocência, enquanto lia, me recordava de poucos momentos da minha própria infância e lamentava a infância da atualidade, presa em telas, robotizada, com pouco espaço para criar, com poucos espaços verdes para sentirem a liberdade de um dia de sol ao ar-livre, me bateu uma tristeza tão grande ao imaginar que, futuramente, talvez as crianças realmente nem saibam que há a possibilidade de um mundo fora da tela de um celular. Por isso há tanta doença infantil. Tal como Passarinha, acho que todo mundo devia ler esse livro.

sexta-feira, 6 de setembro de 2024

[Anime] Horimiya Piece

 Título Original: ホリミヤ -piece-

Ano: 2023

Episódios: 13

Gênero: Romance, escolar, comédia

Sinopse: Apresentando histórias do mangá não adaptadas no anime principal.

Horimiya se tornou de longe um dos meus animes favoritos, subindo com rapidez para o top 3 por sua história divertida e que trata de assuntos relevantes de maneira sensível. Assisti a primeira temporada duas vezes e já revi diversas vezes de modo que, como parei de procurar animes por um tempo, essa temporada passou batida por mim, infelizmente. Mas foi um verdadeiro alívio e um achado quando a encontrei sem querer, estava não apenas órfã do anime, mas com vontade de ver alguma coisa leve para descontrair e ele desde o começo já entrega ótimas risadas.

Quem viu a primeira temporada, centrada na autoaceitação de Hori e Miyamura, terá a oportunidade de acompanhar mais da vida escolar deles, especialmente às vésperas da formatura e ficar por dentro da amizade com outros personagens. Não há, exatamente, um desenvolvimento mais aprofundado deles, mas as novidades acrescentam e muito ao enredo principal além de mostrar um pouco mais da dinâmica de relacionamento do nosso casalzão. Queria que fechassem o Toru com a Yuki? Queria. Mas não rolou.

Horimya é excelente, quem não viu precisa ver. Essa segunda parte do anime só vem a acrescentar ainda mais na comédia e na shippagem dessa galerinha adorável que nos lembra de ser autênticos e sempre dar o nosso melhor. Vale muito a pena conferir!