Autor: Luiz Henrique F. Cunha
Ano: 2015
Páginas: 133
Gênero: Antologia
Onde Encontrar: Amazon
1. Leia se puder, se não puder esqueça
Nesse conto somos convidados a compartilhar das ideias de uma personagem que não quer ser personagem, mas quer saltar das páginas e, por ser personagem e não autor, não sabe contar história, mas conta apenas o que vê, nisso nos provoca, provoca nossa existência e pensamento crítico numa sociedade cada vez mais automática. Com uma prosa poética e até mesmo filosófica, essa personagem sem forma e nome nos faz perceber aquilo que nos passa batido por manter os olhos sempre nas telas e não na realidade que nos cerca. Afinal, quanto em nós é humano e quanto já é máquina fria e sem empatia?
"Todos estão ocupados em ser protagonistas de uma história de sucesso, aventura, amor verdadeiro, desilusão plena ou comédia pura. Aceitam figurantes e coadjuvantes sem problemas."
Até onde estamos sendo verdadeiros autores da nossa história? Será que não estamos apenas sendo protagonistas de algo escrito por outra pessoa que sequer sabe nossos sonhos e ambições (se é que os temos)? Forçando-nos a nos encaixar em um estereótipo que nos torna aceitos, mas não autênticos? E, sobretudo, esse foco todo no 'eu' que despreza e ignora o outro, o 'nós' acaba nos tornando ferramentas de um mundo materialista e egocêntrico que culminará na aniquilação de nós por nós mesmos.
"Os olhos presos ao celular nos roubam vozes ao redor, paisagens, pessoas que não vimos há tempos. Mas não devemos julgar quem perde paisagens tão cinzas, pessoas tão repetidas e vozes que revelam almas vazias."
Ao dizer que deseja ser esquecido - e afirmar que de fato o será - o personagem não deseja ser figura nesse mundo indiferente ao mesmo tempo em que deseja viver e, nesse paradoxo, nós começamos a nos questionar se estamos realmente lendo um personagem ou o personagem está nos lendo. Quem está de que lado? E até que ponto nossa indiferença está tornando dispensáveis pessoas, momentos, experiências em prol do mundo ilusório que criamos diante de nós nos displays?
2. História de 50 Metros
"E tentava responder a si mesmo o porquê de tantas lágrimas. Por mais que exagerasse no uso de palavras e enumerasse milhões de causas, no fim, "existir" parecia motivo suficiente."
Essa é uma prosa poética filosófica que usa de simbolismos para representar indagações humanas sem realmente respondê-las e, ao mesmo tempo, respondendo-as nos dando o caminho de encontrar nossas próprias resoluções. Uma personagem vai atravessando uma rua e se depara com um copo atrás de uma árvore, naqueles poucos metros que separam ela do objeto e do seu destino, ela cria uma história cheia de simbolismos imersa em filosofia que nos arremata em uma viagem na psique humana.
De início parece um tanto quanto desconexo e sem sentido, mas quando você começa a mergulhar no texto e entender suas nuances e os simbolismos nos apresentados, começa a perceber o turbilhão de emoções entre as linhas. Mais ou menos quando você se pega parado sem vontade de nada e começa a divagar sobre a vida e você mesmo.
3. Crônicas
Engana-se quem pensa que escrever contos e crônicas é mais fácil que escrever um romance. Amigos, eu sou escritora, acredite em mim quando digo que escrever um conto exige muito mais de você que um romance de 500 páginas. São sete contos que abordam situações diversas e refletem sobre a vida, o eu, o nós, o mundo. Precisos, diretos, surpreendentes, com alguma dose de humor em determinadas partes e sem abrir mão da prosa poética envolvente do professor.
Gostei muito do livro como um todo, Uma viagem externa-interna que nos leva a levantar reflexões e nos força a pensar.
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