domingo, 24 de agosto de 2025

[Livro] E Não Sobrou Nenhum (+minissérie)

 Original: And Then There Were None

AutorAgatha Christie

Ano: 1939

Gênero: Suspense, mistério, crime

Sinopse: Uma ilha misteriosa, um poema infantil, dez soldadinhos de porcelana e muito suspense são os ingredientes com que Agatha Christie constrói seu romance mais importante. Na ilha do Soldado, antiga propriedade de um milionário norte-americano, dez pessoas sem nenhuma ligação aparente são confrontadas por uma voz misteriosa com fatos marcantes de seus passados.

Convidados pelo misterioso mr. Owen, nenhum dos presentes tem muita certeza de por que estão ali, a despeito de conjecturas pouco convincentes que os leva a crer que passariam um agradável período de descanso em mordomia. Entretanto, já na primeira noite, o mistério e o suspense se abatem sobre eles e, num instante, todos são suspeitos, todos são vítimas e todos são culpados.

É neste clima de tensão e desconforto que as mortes inexplicáveis começam e, sem comunicação com o continente devido a uma forte tempestade, a estadia transforma-se em um pesadelo. Todos se perguntam: quem é o misterioso anfitrião, mr. Owen? Existe mais alguém na ilha? O assassino pode ser um dos convidados? Que mente ardilosa teria preparado um crime tão complexo? E, sobretudo, por quê?

São essas e outras perguntas que o leitor será desafiado a resolver neste fabuloso romance de Agatha Christie, que envolve os espíritos mais perspicazes num complexo emaranhado de situações, lembranças e acusações na busca deste sagaz assassino. Medo, confinamento e angústia: que o leitor descubra por si mesmo porque E não sobrou nenhum foi eleito o melhor romance policial de todos os tempos.

“Dez soldadinhos saem para jantar, a fome os move;

Um deles se engasgou, e então sobraram nove.

Nove soldadinhos acordados até tarde, mas nenhum está afoito;

Um deles dormiu demais, e então sobraram oito.

Oito soldadinhos vão a Devon passear e comprar chiclete;

Um não quis mais voltar, e então sobraram sete.

Sete soldadinhos vão rachar lenha, mais eis

Que um deles cortou-se ao meio, e então sobraram seis.

Seis soldadinhos com a colmeia, brincando com afinco;

A abelha pica um, e então sobraram cinco.

 Cinco soldadinhos vão ao tribunal, ver julgar o fato;

Um ficou em apuros, e então sobraram quatro

 Quatro soldadinhos vão ao mar; um não teve vez,

Foi engolido pelo arenque defumado, e então sobraram três.

 Três soldadinhos passeando pelo Zoo, vendo leões e bois,

O urso abraçou um, e então sobraram dois.

 Dois soldadinhos brincando ao sol, sem medo algum;

Um deles se queimou, e então sobrou só um.

Um soldadinho fica sozinho, só resta um;

Ele se enforcou,

E não sobrou nenhum.”

Posso dizer, sem medo de errar, que esse livro merece a fama que tem!

Oito pessoas chegam à Ilha do Soldado convidadas por conhecidos que não veem há muito ou por outros meios, com propósitos diferentes: desfrutar férias, investigar algo, cuidar de alguém, trabalhar, etc. O que há em comum com todas elas? Todas estão de algum modo envolvidas em mortes que passaram incólumes pela justiça.

São um grupo insólito e diversificado e, logo ao chegarem, são recepcionados por um casal de serviçais que havia sido contratado dois dias antes e que nada sabia além de uma pequena série de instruções deixadas por escrito. Tão logo todo grupo é reunido, uma gravação de gramofone denuncia os crimes dos quais cada um é acusado e uma balbúrdia começa. 

Quando o primeiro deles morre, atenta-se ao fato de que em cada quarto há na parede um poeminha infantil (esse citado acima) que vai guiar o leitor durante toda a jornada de desconfiança e tensão das páginas e enquanto um a um as peças do jogo são eliminadas, a charada que parece insolúvel desemboca em um desenrolar de deixar até o detetive mais experiente de cabelo em pé!

Já li vários livros geniais de Agatha, pelo menos no que diz respeito à minha pequena opinião. Dentre meus favoritos figuram O Assassinato de Roger Ackroyd e, recentemente, Depois do Funeral, por terem assassinos realmente imprevisíveis e que passam batidos por mim, mas nenhum me pareceu tão magistral, macabro e instigante quanto este! Foi uma verdadeira viagem imersiva não apenas no clima pesado e sombrio da história, mas, acima de tudo, na alma humana e suas corrupções. Em diferentes graus a gente acompanha a luta pela sobrevivência de pessoas que estão, ao mesmo tempo, tentando sobreviver aos próprios demônios internos.

A maneira como o poeminha sombrio se encaixa de forma sinistra na narrativa só serve para nos deixar ainda mais interessados e o fato dos capítulos serem curtíssimos aumenta o nosso nível de tensão e a velocidade de leitura de uma maneira proposital e de uma inteligência magnífica. O recurso do ticking clock é usado de maneira tão explícita nesse livro que chega a ser uma aula! Todo hype desse livro é muito merecido, Agatha Christie ganhou todo o meu respeito como uma contadora de mistérios sem igual.

Tal como toda a adaptação, nós temos aqui uma minissérie parcialmente fiel ao livro. Olha, para ser três episódios de quase uma hora cada um, achei que poderiam ter adaptado de modo fiel ao livro, mas não aconteceu. Quando a gente vai assistir depois de ler não tem muita graça porque meio que sabemos o que esperar e é aí que o roteiro dá suas "escapadelas", talvez para fugir um pouco do que é esperado pelo leitor do livro.

A personalidade dos personagens foi quase fiel, concordo, embora Miss Brent não tenha parecido tão dura e fanática quanto no livro. Além disso, a maneira como Vera se torna histérica e quase louca destoa muito da personagem criada por Agatha. Sem contar que várias das mortes, como a da própria Miss Brent e de Blore foram drasticamente mudadas e não entendi o motivo, porque do jeito que acontece no livro era totalmente possível de ser adaptada especialmente quando eles literalmente partiram Rogers em dois quando, no livro, ele tem só a cabeça partida.

O final, talvez, seja o mais... não digo "sem sentido", mas, não casou com a história. No livro, e isso é um spoiler, então pule se não quiser saber o assassino escreve uma carta revelando como cometeu cada assassinato e dando sua justificativa para tê-lo feito. Além de como descobriu todas as histórias dos personagens. Essa carta é colocada numa garrafa e jogada no mar, encontrada pelo capitão de um navio e entregue à Scotland Yard. A maneira como o roteiro escolheu mostrar o assassino, descartando o trabalho da polícia e as deliberações, meio que tirou o brilho genial que Agatha teve ao criar os pormenores. Como adaptação do livro, eu dou uma nota 7,0 por ter sido fiel em algumas partes, mas não me satisfez e não acho que fez jus ao livro.


sábado, 23 de agosto de 2025

[Filme] Coração de Fogo

OriginalОн - дракон — I Am a Dragon

Ano: 2015

País: Rússia

Diretor: Indar Dzhendubaev

Sinopse: Durante o ritual de seu casamento, a princesa Miroslava é sequestrada por um dragão e levada para seu covil em uma ilha remota, deixando para trás família, amigos e seu noivo. Apesar de ilesa, a princesa é mantida em uma gaiola de pedra, sob os cuidados de um misterioso jovem chamado Arman. Aos poucos, Miroslava começa a desvendar os mistérios da ilha e de seu captor. Porém, ela começa a se apaixonar por Arman, e descobre que o amar um dragão pode ser muito assustador.

Vi uma cena desse filme no Instagram e achei muito interessante. Minha irmã é apaixonada por dragões, então queria ver se era bom pra poder assistir com ela e, te contar, não é que me surpreendi bastante?

A história se passa em uma remota comunidade em meio à neve que cultua um ritual sangrento onde suas jovens são oferecidas a um dragão que atormenta o povo com o medo. Até um dia, um homem inconformado com a perda da amada, decide ir atrás dela para recuperá-la, mas, diante da descoberta de sua morte, ele fica enfurecido e mata o dragão. Muitos anos se passam e agora a família deste matador de dragões é respeitada na comunidade. 

Miroslava, uma jovem duquesa, está prestes a se casar com Igor, o neto do matador de dragões. Ainda guardando em si uma curiosidade infantil e uma coragem inexplorada, durante a cerimônia de casamento, ela é sequestrada por um dragão e levada para uma ilha. O que a princípio parecia um pesadelo, logo mostra a Mira que ela precisa de coragem e toda a sua inteligência se quiser escapar viva do covil do dragão.

Contudo, ao contrário do que ela esperava, um segredo tão antigo quanto sua própria vila vai por em xeque não apenas a realidade da história que ela conheceu, mas mudará para sempre o seu próprio futuro.

Esse é um daqueles filmes com um toque de conto de fadas e ao mesmo tempo uma carga sombria maravilhosa! Tanto os efeitos especiais quanto a fotografia são deslumbrantes! E, além disso, conta com vários simbolismos que eu achei poéticos e sensíveis. Mira é aquele tipo de personagem que no começo parece frágil e vulnerável, mas aos poucos vai mostrando a força que tem escondida em si. Ela não é uma donzela em perigo, mas, ao mesmo tempo, não abre mão da fragilidade de uma protagonista simplesmente humana.

Arman é o tipo de herói à moda antiga, ele não é perfeito, mas se esforça para ser a melhor versão de si mesmo. Ele representa com magistralidade poética a dualidade existente não apenas no homem, mas em todo ser humano. Somos divididos entre uma parte humana e uma parte bestial que se revela de acordo com nossa própria escolha e com o meio no qual somos inseridos.

É um tipo de filme lento, mas a beleza dele está justamente nisso. Ele não se apressa para se contar, ele envolve a gente em cada cena. E, a melhor parte, ele não precisa se apegar aos clichês esperados para se fechar, foi uma das coisas que eu achei mais fascinantes! A mitologia por trás dos dragões, não sei bem se é algo relacionado à cultura Russa, pois tenho zero conhecimento deles, mas achei fascinante. Um longa lindo demais, com uma trilha sonora poderosa e uma história belíssima. Bem o tipo de filme que eu gosto de ver.

Recomendo demais!
 

segunda-feira, 18 de agosto de 2025

[Livro] Depois do Funeral

 Original: After the funeral

Autor: Agatha Christie

Ano: 1953

Gêneros: Mistério, Ficção policial

Sinopse: Até então, a súbita morte do abastado Richard Abernethie não parecia nada além de natural para um homem da idade dele. Ainda assim, uma pessoa permanece desconfiada: Cora Lansquenet, sua irmã.

Certa de que Richard foi assassinado, a mulher expõe a suspeita durante a leitura do testamento, logo depois do funeral. Mas por que ela esperou até aquele momento? Apesar de nenhum dos demais familiares acreditarem na ocorrência de um crime, quando Cora é assassinada a machadadas, a única escolha da família é investigar ambas as mortes.

Por sorte, o advogado responsável pelo testamento de Richard, Mr. Entwhistle, conhece alguém perfeito para solucionar este estranho caso: o detetive Hercule Poirot.


Após o funeral de Richard Ambernethie, sua irmã mais nova, Cora, solta na pequena reunião com o advogado que ele foi assassinado e não morreu de causas naturais como afirmam os médicos. O choque que se passa entre todos eles é imediato, e mesmo todos tentando não dar atenção ao que poderia muito bem ser mais um delírio de atenção de Cora, aquilo fica preso na mente de Entwhistle, o advogado da família e amigo muito próximo de Richard e de todos os demais. A divisão dos bens do falecido geral controvérsias quando ele legou a divisão por igual a todos os familiares, sem favorecer nenhum deles em especial, algo que revolta seu irmão, Thimoty, mas que vem a calhar para todos eles, cada um com seu motivo pessoal para precisar de dinheiro.

Porém no dia seguinte, Cora é assassinada a machadadas no chalé onde vivia com sua empregada. O crime, um verdadeiro choque para todos, reforça a ideia que Richard Ambernethie não morreu de fato de causas naturais e uma investigação minunciosa começa com o proprio Mr. Entwhistle como executor, mas ele logo chega a um beco sem saída e resta pedir ajuda à Hercule Poirot, seu amigo de longa data, para que dê uma luz sobre o quebra-cabeças aparentemente insolúvel. 

Olha, mais de dez anos lendo Agatha e ainda me pego surpreendida. Eu criei, pelo menos, seis teorias diferentes desde o começo da história, nenhuma estava certa e as pistas que ela dá são tão sutis e quase imperceptíveis que é realmente difícil acertar o assassino dessa vez. E, se por um lado foi bom, pelo outro não foi tanto. O lado bom é que eu tive uma experiência muito parecida com o Assassinato de Roger Ackroyd, que me deixou realmente chocada no final, foi uma leitura imersiva e que me prendeu até o fim na curiosidade de saber quem tinha cometido aquele crime tenebroso e, se lembro bem, acho que o mais brutal de Agatha que eu li (mano, machado?).

Porém, em contrapartida, também foi um pouco complicado, porque embora os livros de Poirot sejam sem dúvida meus favoritos, aqui ele aparece muito pouco e senti saudade dos seus métodos de investigação, das suas "xeretices" de vez em quando e, sobretudo, dos seus interrogatórios e observações nas cenas de crime. Basicamente, aqui a gente vai conhecendo os personagens por trás do mistério em diversas situações e não exatamente uma investigação direta de Poirot que só vai acontecer nos capítulos finais, praticamente. Isso foi um ponto que me incomodou um pouco, talvez por estar acostumada com os outros livros dele, o fio que segura a história é que a gente quer saber o quem e o por que. 

Ainda assim, ganhou minhas quatro estrelas. Achei genial. Embora o crime brutal tenha tido uma motivação bem ridícula na minha opinião, isso o torna, de alguma forma, mais real. Não havia loucura de fato no ato, mas raiva, indignação e certo desespero por assim dizer, embora tenha sido bem difícil eu comprar a ideia de início hahaha. Mas recomendo.


[Bíblia] Sabedoria [Introdução]

Tecnicamente, agora eu deveria discorrer sobre o Cântico dos Cânticos, o problema é que eu fiz um comentário de literalmente um parágrafo sobre esse livro porque, bem, é um grande poema de amor pra dizer de um jeito simples. Porém, há um motivo pra ter um poema erótico na biblia né? Então, eu decidi voltar no curso do Pe. Juarez e estudar esse livro pra entender melhor. Assim, vou avançar para os posteriores e trago ele depois.

Introdução ao Livro da Sabedoria

O conteúdo deste livro é um louvor à sabedoria divina, divido em três partes: a sabedoria nas obras de vida do homem; na vida de Salomão e na criação do mundo. A finalidade é atingir os judeus que viviam no Egito e alertá-los do perigo  de serem levados pela filosofia grega abandonando o culto do Deus ´nico, se entregando ao paganismo.

Apenas a sabedoria vinda de Deus é guia seguro para a vida religiosa e moral e salvaguarda contra os terríveis castigos do culto aos falsos deuses. Muito provavelmente o livro foi escrito em grego. A primeira parte tem estilo similar a poesia hebraica e o restante do livro, de estilo mais livre, se aproxima mais da língua grega (mas claro que a gente não vai notar isso porque está lendo uma tradução).

É de autor desconhecido. Esse livro também contem as primeiras revelações sobre a imortalidade da alma e seu destino eterno, estabelecendo uma transição entre a antiga aliança e a revelação evangélica e eu já fiz uns super intertextos com o Fédon de Platão? Sim. 
 

domingo, 3 de agosto de 2025

[Livro] Sonhando com o Amor

 Autor: Jillian Hart

Ano: 2002 

Páginas: 219

Sinopse: Ela sonhava com o "felizes para sempre", mas para ele o amor só existia nos contos de fadas.

Montana, 1884.

Sarah prometera a si mesma que, se algum dia se apaixonasse novamente, seu amor teria de ser correspondido. Então Gage Gatlin apareceu em sua vida... Um homem maravilhoso, que poderia oferecer tudo a Sarah... menos seu coração!

Tudo em Sarah atraía Gage: seu jeito simples e prático, seu andar feminino, a maneira carinhosa como tratava a filha dele... Sem dúvida, era uma mulher que queria ter para sempre. Mas Sarah sonhava demais com o amor, e Gage sabia que esse tipo de amor só existia em romances!


Da série livros que li na escola e encontrei de novo depois de velha. Após a morte do marido e com a filha doente, Sarah encontra "ajuda" com sua tia Pearl numa fazenda decrépita onde é acolhida em troca de trabalho doméstico. Cheia de dívidas médicas e com mais empregos do que seu corpo franzino suportaria, ela vive uma vida em corda bamba sonhando com um amor intenso e uma casa onde sua filha Emma possa viver feliz. 

No meio desse cenário, aparece Gage. Ele é um másculo cavaleiro que está prestes a se mudar para a fazenda vizinha e, enquanto passa pela estrada, ajuda Sarah com a fuga de algumas galinhas por uma cerca quebrada. A atração é quase imediata, mas ao contrário dos sonhos de Sarah, Gage não está a procura de um amor, ao contrário, ele está fugindo de compromissos desde a partida de sua esposa, após um casamento traumático.

A gente tá falando dos EUA de 1800, então machismo, papéis bem definidos e mulheres "lerdas" são temas recorrentes e o mínimo esperado, era a sociedade da época. Sarah, como uma viúva, era constantemente vítima de críticas, fofocas e qualquer passo fora do "decoro" seria exclusão completa da sociedade diminuta daquelas regiões. Gage, o assunto do momento, também tem uma filha da mesma idade de Emma, chamada Lucy, ao contrário do pai que não quer saber de relacionamentos, a menina urge por uma nova mãe.

É claro que, eventualmente, os caminhos dos dois continuam se cruzando e suas filhas ficam amigas. A saúde de Emma oscila, mas Sarah se mantem otimista na recuperação da menina. A atração dela por Gage, embora recíproca, leva os dois a se manterem longe, ela por causa da imagem, ele por saber que aquilo era problema, mas é óbvio que isso não dura muito tempo. Sarah começa a trabalhar na fazenda de Gage após várias tentativas vãs de encontrar outro emprego para sair da casa dos tios. 

A proximidade leva ao delírio luxurioso que leva ao ato em si e a relação deles fica de início daquele jeito clandestino até Gage ter a brilhante ideia de pedir Sarah em casamento pela conveniência do ato em si, para ela isso é quase um insulto, casar sem amor é inadmissível. E vem mais daquele dramalhão de "quero, mas não posso" onde só quem sofre de verdade são as filhas deles. Ela vai embora, procurar emprego em outra cidade, ele fica enfrentando problemas na fazenda causados pelo marido da tia dela.

Quando a gente envelhece, nota como adolescente é um ser peculiar. Já é o terceiro livro de banca que eu releio da época da escola e tudo que eu consigo me perguntar é o que eu tinha na cabeça pra gostar tanto disso hahahaha. A história não é exatamente ruim, aqueles romancinhos bem água com açúcar pra quando você não quer nada além de passar um tempo, mas a dinâmica do casal — e isso vale pra maioria esmagadora desse tipo de livro — é o que realmente me irrita. 

Ou eles não têm diálogo praticamente nenhum (e aqui me refiro a conversa de verdade) e ficam só no sentimento no meio dos lençóis, ou parece que não falam o mesmo idioma. Assim, qual a dificuldade de sentar e conversar de verdade? Colocar os sentimentos em pratos limpos? Acho que é por isso que eu prefiro ficar solteira, zero paciência. Enquanto Sarah podia muito bem ter assumido suas convicções e dito um não sonoro pro pedido de casamento ANTES, ela fica protelando aquilo até fazer o homem passar por ridículo na frente da cidade toda só porque ele "não a ama" e ela não pode casar sem amor, isso quando ele tinha deixado bem claro antes o motivo de estarem juntos. 

Aquele dramalhão desnecessário no penúltimo capítulo com uma separação tão desnecessária quanto pro cara se dar conta que gosta dela, tipo, querido, você era cego ou o quê? E a volta que culmina naquele finalzinho bem mais ou menos que mostra sem mostrar nada sobre o casal que, novamente, não conversa direito. Mas, em vista de outros que eu gostei na época da escola, esse ainda se safa por não envolver estupro romantizado.

quarta-feira, 23 de julho de 2025

[Livro] Contos de Fadas Australianos

Autor: James Hume-Cook

Ano: 2023 

Páginas: 120

Ano: 1925

Sinopse: reúne uma série de contos criados pelo autor para atender as demandas de seus filhos, que desejavam ouvir histórias que povoam o imaginário infantil em um lugar conhecido para eles: Austrália.

Vou falar pouca coisa, porque esse livro é pequeno e não foi nada do que eu estava esperando quando dei de cara com o título. Realmente, são contos, mas não sei se consideraria isso de "fadas". Talvez a nossa noção de fada seja muito específica e influenciada por uma cultura diferente da australiana, concordo, mas não foi só a diferença da "espécie" foi a magia, a empolgação, a aventura que normalmente envolve esse tipo de conto e aqui ficou faltando.

Narrativa insossa, cansativa e embaralhada. Histórias paralelas se mesclam, algumas de cunho religioso, outras meio fabulescas e todas ligadas a uma linha principal envolvendo uma família real de "fadas" cujo príncipe se tornou lendário ao instituir um reino em uma terra longínqua e devastada pelas tais "fadas do deserto". Não me senti conectada nem envolvida na narrativa. Uma pena, queria ter gostado. 



domingo, 6 de julho de 2025

[Bíblia] Eclesiastes

 "Vaidade das vaidades, tudo é vaidade"

A frase significa que tudo que se faz debaixo do sol é vaidade e aflição de espírito. A palavra "vaidade" vem do latim vanitas que significa qualidade do que é vão, fútil e ilusório. Segundo a bíblia, a vaidade é algo enganoso, sem valor, que leva a ostentação e a idolatria.

Filosoficamente, a vaidade pode se referir a um senso mais amplo de egoísmo e orgulho. Basicamente, fala de como nos cansamos dia após dia por coisas passageiras. A conclusão "tudo é vaidade" não é para dizer que não há esperança em nada, mas para mostrar que nunca estaremos totalmente satisfeitos ou realizados com as coisas dessa vida. Vivemos em um mundo caído e, até que o Senhor venha, não pode ser corrigido.

"Porque no acúmulo de sabedoria, acumula-se tristeza, e quem aumenta a ciência, aumenta a dor." (Ecle 1,18)

Eclesiastes, pelo que percebi, tem um tom explicitamente filosófico que destoa das outras vozes da bíblia até agora e, tal como a filosofia, mostra certo pessimismo diante da vida ao mesmo tempo em que provoca reflexões sobre como passamos os nossos dias. Em parte, me lembrou um pouco o pensamento de Sêneca sobre a brevidade da vida e a maneira como nos prendemos a futilidades e negligenciamos aquilo que é realmente importante.

"A minha sorte será a mesma que a do insensato, então, para que me serve toda a minha sabedoria?" (Ecle 2,15)

Segundo a introdução, foi escrito em III a. C. e traz algo da orientalidade, talvez tenha conquistado alguma influencia filosófica da época, ainda que se atenha à moral religiosa monoteísta. Particularmente, gosto de filosofia, então a tarefa de buscar significado nas entrelinhas me foi bastante prazerosa embora meu conhecimento seja bastante limitado.

Assim como os filósofos eram amantes da "Sofia", o Eclesiastes, ao mesmo tempo em que a considera o bem mais precioso, igualmente a tomo como causa da sua angústia diante do mundo sombrio — assustadoramente parecido com o nosso! — e quão vã pode ser esse acúmulo de conhecimento para findar num mesmo ponto mórbido.

Inclusive, esse mesmo Eclesiastes julga injusto ímpios e justos terem o mesmo fim (a morte) dando a entender que esse é um dos motivos pelo qual a maldade invade o coração do homem.

"Entre tudo que se faz debaixo da terra, é uma desgraça só existir para todos um mesmo destino." (Ecle 9,3)

Aconselha, porém, além do temor a Deus — que concede, por consequência, a vida sábia — o trabalho árduo, juntamente com o necessário descanso que leva a desfrutar dos frutos desse trabalho e afirma que aqueles cujo coração se volta para ajuntar riquezas jamais aproveitará delas.

Viver os dias felizes, refletir nos dias de tristeza. Uma passagem que me intrigou foi a de não ser justo em excesso nem sábio além da medida (7,16) não sei bem se entendi o sentido e, parando pra pensar, não lembro desse livro sendo usado na liturgia (posso estar enganada). Os próprios tradutores da bíblia em suas notas afirmam que a sabedoria de Eclesiastes, embora falha, não é pagã.

Achei um livro bem interessante, especialmente por essa abordagem mais filosófica, ora seca, ora poética que evoca reflexões acerca do nosso papel no mundo, a vida é breve e apenas Deus sabe o exato número dos nossos dias, nosso papel é buscar a felicidade no temor de Deus aproveitando cada etapa da nossa vida com equilíbrio, sabendo desfrutar dos momentos de alegria e dos frutos do nosso esforço e consolo na angústia. Um lugar e um tempo para cada coisa, aprendamos a conquistar o necessário sem apego aos bens que passam, mas o merecimento da vida eterna. Porque essa vida é breve, rápida, o que se deve engrandecer é a alma, não vamos levar nada daqui além do bem que fizemos e do amor que conquistamos.

Então viva, sem acumular, sem se privar, sem se prender. Seja livre.

domingo, 8 de junho de 2025

[Livro] Assassinato no Beco

 Original: Murder in the mews

Autor: Agatha Christie

Ano: 1937

Gêneros: Mistério, Conto, História de detetives

Sinopse: Nos contos aqui reunidos, o detetive belga terá ainda de usar seus neurônios para encontrar os planos secretos de um submarino em “O roubo inacreditável”, vingar um cliente em “O espelho do homem morto” e tentar impedir o perigo que ronda um casal jovem em “O triângulo de Rodes”. Quatro histórias envolventes, para serem lidas de um só fôlego.

Li esse livro pela primeira vez em 2012, mas não lembrava mais se tratar de uma antologia. São quatro histórias, sendo a primeira a que dá nome ao título.

Em Assassinato no Beco, acompanhamos a investigação de um assassinato mascarado de suicídio de uma jovem noiva rica que estava sendo chantageada por um major a respeito de um segredo do passado. Junto ao inspetor Japp, Poirot precisa refazer os passos da jovem socialite para conseguir desvendar o segredo de sua morte.

No Roubo Inacreditável, um jantar é oferecido por um rico militar e planos militares de suma importância acabam desaparecendo. Convidado a resolver o enigma no meio da madrugada, por se tratar de um assunto nacional, Poirot tem nas mãos um complicado quebra-cabeças que aponta para espionagem, conspirações e segredos.

No Espelho do Homem morto, um suicídio claro na mansão de um aristocrata chama a atenção de Poirot por uma série de eventos inexplicáveis que podem levar a uma morte não tão desesperada assim. Todos na casa são suspeitos, mas o escritório estava trancado e a chave no bolso do morto. Com sua sagacidade e observação aos mínimos detalhes, Poirot vai precisar resolver um difícil quebra-cabeças.

Por fim, no triângulo de Rodhes, o caso menos interessante da antologia, enquanto está de férias, Poirot testemunha um conflito muito inteligente entre um casal impedido de ficar junto por um matrimônio. É o único caso do livro que termina aberto.

Confesso que não é o melhor livro que li dela, foi bom para distrair, mas não achei os casos tão entusiasmáticos assim. Não é ruim, longe disso, mas não me arrancou muito da realidade. O terceiro conto é o maior e o mais detalhado, mas a sensação é de já ter lido isso em outros livros dela, sabe? Não tinha mesmo novidade.

[Bíblia] Provérbios

 Eu poderia facilmente descrever Provérbios como um grande almanaque de conselhos, mas isso seria reduzir o tesouro desse livro que é um guia para uma vida santa e com sabedoria, em resumo uma vida que agrada a Deus. Estava bastante curiosa sobre esse livro, até porque muitas passagens de livros anteriores, na minha cabeça, eram dele.

Procurar o conhecimento e a intimidade com Deus, não usar de mentira ou falso testemunho contra o outro, buscar a sabedoria, obedecer os conselhos e ensinamentos dos pais, afastar de si o orgulho, a preguiça, a luxúria, a inveja; que sua língua não comente o segredo que te foi confiado,  a vida do outro que não te diz respeito. São alguns dos ensinamentos obtidos em Provérbios.

A fé, seguida de um comportamento reto e obras de justiça, é o caminho para alcançar a sabedoria e um convívio de maior intimidade com Deus. Há forte apelo à confiança no Senhor e a fé, profunda crítica à apostasia e ao comportamento egoísta. Ao contrário do que se prega por aí, o livro não nos aconselha a se fiar no nosso coração ou nosso entendimento, mas buscar orientação no Espírito, afim de não se desviar.

Igualmente como diz São Paulo "a fé sem obras é morta", o livro nos convida a olhar por aqueles mais necessitados e jamais desviar o olhar do pobre ou humilhá-lo. A caridade é uma prática amada por Deus e aqui vale a uma reflexão a respeito, quando se fala em doação muita gente pensa "naquilo que não me serve mais", infelizmente acontece muito de se receberem em igrejas ou ongs coisas que não servem para ninguém e isso é uma falta de empatia muito grande. Caridade não é sobra, antes de algo a uma pessoa pense se você mesmo gostaria de receber algo naquele estado. Deus retribui à medida que damos. Um lençol velho e púido é capaz de aplacar alguém açoitado pelo frio? Precisamos começar a ter mais consciência e empatia nas nossas ações.

"Não terás a recear nem terrores repentinos,
nem a tempestade que cai sobre o ímpio
porque o Senhor é a tua segurança e preservará
teu pé de toda a cilada.
Não negues um benefício a quem o solicita
quando está em teu poder concede-lho.
Não digas ao teu próximo "vai, volta depois! Eu te darei amanhã",
quando dispões de meios." Pr 3, 26-8

A fome tem pressa, a necessidade urge. Pensemos naqueles que, ao contrário de nós, não tem meios de aplacar o que dói.

O livro ainda alerta para comportamentos como a fofoca, a prostituição e a vantagem sobre os outros. O tolo vive acreditando que suas atitudes não terão consequências enquanto o sábio está ciente de que Deus tudo testemunha e cobra dos seus segundo sua atitude.

Outra coisa que me chamou a atenção foram os conselhos a respeito da conduta com o tolo, tal como a sabedoria popular diz "quando a estupidez fala, a sabedoria se cala" a palavra não incentiva a discussão com o tolo, uma vez que é um esforço inútil. Não aprende nada aquele que acha já saber tudo. O sábio, por sua vez, se alegra com a correção, pois ela auxilia no seu crescimento e impulsiona o seu conhecimento. Também é um conselho desse livro fugir de situações perigosas para poupar a vida e alerta que o ódio é o caminho para a morte. Além disso, incentiva o trabalho duro do qual provém o sustento e alerta para a riqueza do espírito ser sempre superior a material.

Fiquei bem surpresa com a divisão do livro e creio que seja o tipo de leitura que se deve consultar sempre! Um verdadeiro manual para uma vida de plenitude, felicidade e proximidade com Deus. FIcam meus outros destaques:

13,7-3
14,10-13
21
30
15, 5 e 16
16,1-3;8-9
17,1; 15-21
20,22
22,16
23,5-22
24,17-18
26,4
28, 25-27
30,17
31,8-9

segunda-feira, 2 de junho de 2025

[Livro] A Biblioteca das Histórias Não Contadas

 Autora: Gabriela Campos

Páginas: 96

Ano: 2023

Gênero: Fantasia

Sinopse: Ser escrita ou ser esquecida, essas são as duas únicas maneiras de sair da biblioteca das histórias não contadas. Pelo menos foi isso o que disseram.

Quando uma protagonista é arrancada de seu mundo e vai parar em uma biblioteca cheia de personagens, acaba descobrindo que não passa de mais uma dentre várias criações de uma Autora em crise. Agora, ela não pode voltar para seu mundo até que sua história volte a ser escrita, o que não parece muito provável diante dos tormentos do passado que assombram a sua Autora e ameaçam a existência de todas as histórias da biblioteca.

Conta a história de uma personagem, inicialmente sem nome, que é transportada da sua história para um lugar estranho lotado de pessoas e criaturas dos mais diversos tipos. Ela descobre que é o fruto da criação de alguém chamado Autora e que sua história foi congelada no momento que ela saiu porque esta autora parou de escrevê-lo. A única maneira de sair dali é se a autora voltar a escrever ou se a esquecer. 

Tentando entender sua situação, ela descobre que todos os personagens ali são frutos de histórias igualmente abandonadas por causa de uma história em particular, a de Relicta, uma personagem perversa cujo livro desencadeou um mal enorme dentro da biblioteca. Enquanto tenta voltar para casa, a personagem vai descobrindo os segredos da biblioteca e da autora.

E é isso de informação porque com 96 páginas não dá pra dizer muita coisa sem deslizar um spoiler. Eu enrolei pra caramba pra terminar esse livro, apenas não é aquele tipo de leitura que te dá "fome", mas nem por isso é ruim. A história é interessante, inclusive se você também escreve vai se sentir bem mal por todas as histórias que engavetou hahaha, eu passei a olhar as minhas com mais empatia depois disso. Geralmente, quando leio coisas muito curtas me pego pensando em desdobramentos e caminhos que poderiam ter sido mais explorados naquele universo, mas com esse livro não aconteceu, eu achei a história "pronta e acabada" do jeito que ela é, como se ela fosse perfeita para esse tamanho mesmo, não ficou qualquer espaço sem desenvolver.

No último capítulo, é apresentada uma "chama", posso ter entendido errado, mas para mim soou como uma metáfora para a fé e a criatividade. No estado de ânimo que a Autora se encontrava, perseguida por um mal que pode igualmente ser interpretado de várias formas, quando a personagem trouxe de volta essa "chama" para a mente dela (e, a meu ver, essa chama estava no coração) ela conseguiu reverter o mal. Achei uma metáfora inteligente. Entre tantas outras interpretações que a gente pode tirar das portas queimadas, da árvore no corredor, da porta de ferro, da porta dourada, enfim. A ideia do livro não é ser filosófica, mas acaba sendo hahaha. 

Achei maravilhoso? Não. É muito bom. Ideia criativa, bom desenvolvimento, a personagem não é simpática, mas dentro das suas limitações também não é insuportável. Quem procura um livro curto, mas que levanta boas reflexões e, sobretudo, quem gosta de símbolos, é uma boa pedida. Acabou não sendo nada do que eu esperava, mas valeu a experiência.

domingo, 18 de maio de 2025

[Drama] Something is Not Right

Título original: 무언가 잘못되었다

País: Coreia do Sul

Episódios: 8

Ano: 2025

Gêneros: Comédia, Romance

sinopse: Ba U e Ji Hun são amigos de infância, e Ba U sempre escondeu os sentimentos que nutria pelo amigo. Um dia, ele tenta cortar contato com Ji Hun, que fica confuso de início, mas continua agindo como se nada tivesse acontecido. Então, em uma última tentativa desesperada que mudar sua situação, Ba U segue o conselho que ouviu de outra pessoa e pede a Ji Hun para namorar com ele por uma semana, e ele aceita. No entanto, enquanto Ba U lida com emoções complexas, Ji Hun fica preocupado com o fato de Ba U estar sendo perseguido por Ha Min e decide usar seu atual status de namorado para afastar o stalker. Agora, apesar de o fim definitivo do relacionamento deles estar próximo, Ba U ainda terá mais uma chance de conquistar o coração de Ji Hun.

Depois de um tempão sem ver BL, finalmente encontrei um que chamou minha atenção!

Conta a história de Do Ba Woo e Ji Hoon, dois amigos de longa data que estão na mesma universidade, o fato é que, agora, Ba Woo quer cortar laços com Ji Hoon. Lento como só ele, Ji Hoon não faz a menor ideia que o motivo é o fato de Ba Woo ter sentimentos por ele. Fato esse que é descoberto quando Jun Ha Min encontra o caderno de Ba Woo e deseja usá-lo para criar seu roteiro de webtoon para um concurso, acreditando se tratar de uma história fictícia. Como está "inacabada" ele sugere a Ba Woo que o personagem convide o outro para sair por uma semana e, sem dar muito crédito, o garoto faz a sugestão para Ji Hoon que aceita a oferta.

Enquanto tenta lidar com seus sentimentos unilaterais e a lerdeza de Ji Hoon, Ba Woo acaba se aproximando de Ha Min e engatando uma amizade forte, especialmente quando este é o único com quem ele pode falar sobre seus sentimentos. Porém, Ha Min vai desenvolvendo sentimentos por Ba Woo enquanto tenta ajudá-lo a lidar com seu amor secreto por Ji Hoon. E tudo se torna uma confusão de sensações, perseguições e aceitação.

Confessar, esse drama dividiu opiniões, de alguma forma eu gostei bastante embora ele tenha me arrancado um 9 e não um 10. O problema é que o roteiro derrapa no desenvolvimento do casal principal. Em meio a todo o "sistema lento" de Ji Hoon nós começamos a shippar o Ba Woo com o Ha Min e se observarmos bem, por mais que a história tente a todo momento nos mostrar a relação entre Ba Woo e Ji Hoon ao longo do tempo, Ha Min continua parecendo o par ideal para ele.

Negócio é que eu sou a masoquista dos amores sofridos, quanto mais lascado é o background de um casal, mais eu quero shippar. E talvez isso tenha me feito entender as pessoas que não gostaram da história e, de fato, elas não estão erradas, porque o roteiro tem mesmo essa falha, mas ao mesmo tempo ter ficado feliz com o casal principal junto. Porque eu consegui shippar eles embora quisesse dar na cara do Ji Hoon a maior parte do tempo. Fiquei bastante triste pelo Ha Min não ter conseguido um par e também shippei ele com o Ba Woo embora fosse evidente que não havia correspondência.

Outro erro no roteiro foi no capítulo final  SPOILER |quando o Ji Hoon vai contar para o Ba Woo que começou a gostar dele primeiro, mas tinha medo de admitir e acabar com a amizade dos dois| FIM DO SPOILER  ficou bem pouco verossímil porque o drama todo o Ji Hoon age de maneira ambígua, sim, mas com a maior cara de inocente como se visse o Ba Woo como um amigo mesmo. Então ficou parecendo um pouco forçado, ainda assim passa pelo aceitável. 

Eu gostei. Tem aquele gosto de história fofa da época que eu comecei a ver o gênero, ainda mais pelo fato da Coréia minimizar algumas coisas muito erradas que os BLs tailandeses costumam normalizar. Não todos, claro, mas boa parte. Dava para desenvolver muita coisa legal na história, mas não sou apta a escrever fanfic BL, porém, se alguém se dispuser a escrever uma corrigindo os erros do roteiro eu queria muito ler. Não sei se tem o webtoon desse drama disponível, talvez eu procure, por enquanto fica aí a indicação.

[Livro] O Eco dos Livros Antigos

 Original: The Echo of Old Books

Autor: Barbara Davis

Ano: 2024

Gêneros: Romance de amor, Realismo mágico, Ficção histórica, Fantasia histórica

Sinopse: Um par de livros misteriosos. Um romance condenado. Os ecos de um amor que nunca morreu.

A afinidade da revendedora de livros raros Ashlyn Greer com os livros vai além do cheiro inebriante de papel velho, de tinta e de couro. Ela pode sentir os ecos dos antigos proprietários dos livros ― uma impressão digital emocional que só ela consegue ler. Quando Ashlyn descobre dois volumes belamente encadernados que parecem nunca ter sido publicados, seu dom logo se torna uma obsessão.

Não apenas cada um está marcado com uma acusação surpreendente, mas os autores, Hemi e Belle, contam lados conflitantes de um romance trágico. Sem nenhum vestígio de como esses livros misteriosos vieram ao mundo, Ashlyn é envolvida em um mistério literário de décadas, atraída por dois corações em ruínas, quem quer que tenham sido, onde quer que estejam.

Determinada a descobrir a verdade por trás da história dos amantes condenados, ela continua lendo, seguindo uma trilha de promessas quebradas e traições aparentemente imperdoáveis. Quanto mais Ashlyn aprende sobre Hemi e Belle, mais perto ela chega de encerrar a história de amor deles ― e dos capítulos inacabados de sua própria vida.

Eu peguei a dica desse livro pela indicação de um book influencer no instagram. A síntese dele pareceu muito interessante e, na book friday da Amazon do ano passado, minha irmã caiu pela sinopse e a gente decidiu comprar. No começo, não me prendeu muito não, ele só veio se tornar realmente interessante para mim ali pelo capítulo cinco.

A história acompanha Ashlyn (que nome hein?) uma livreira e restauradora de livros que cuida de uma livraria pacata especializada em livros antigos. Sua relação com livros começou muito cedo e durante toda a sua vida, Ashlyn teve neles sua companhia mais segura num mundo de pessoas que parecia abandoná-la sempre. Ela construiu uma vida segura para si, com poucos amigos, clientes fiéis e nenhum relacionamento complicado.

Porém, as coisas no seu mundo seguro começam a mudar quando seu amigo Kevin lhe conta sobre uma nova leva de livros doados e, ao conferir se algo podia ser do seu interesse, Ashlyn topa com um livro cujos ecos — como ela chama suas habilidades psicométricas — ressoam nela com mais violência que qualquer outro que já tocou. Não há qualquer informação sobre o autor, a editora ou o ano da publicação, embora seja uma edição bem encadernada e conservada. Curiosa, ela decide levá-lo para casa.

A história, narrada por um homem, conta o trágico romance entre um jornalista e uma milionária com casamento marcado, os dois se conhecem na festa de noivado dela e sentem uma atração imediata. Ashlyn sente certa veracidade nos fatos e em alguns eventos pontuais que parecem ter ocorrido na época da segunda guerra mundial, antes dos EUA aderirem formalmente ao conflito. Com a ajuda de sua amiga bibliotecária, ela começa uma pesquisa a respeito de alguns personagens e vai atrás de Kevin na tentativa de encontrar o doador dos livros.

Kevin lhe entrega o que seria a correspondência do dono dos livros, encontrada dentro da caixa, e o telefone leva Ashlyn a Ethan Hillard, o filho do falecido dono do volume encadernado. O primeiro contato dos dois não é muito cordial, deixando uma primeira impressão bem ruim do personagem, e ele demonstra certo desprezo pela história da sua família, afirmando não querer se envolver com seja lá o que a história conta. Porém, dias depois acaba entrando em contato com a livreira para dizer que descobriu um segundo volume que parece idêntico ao primeiro e uma resposta sob o ponto de vista da mulher.

Juntos, os dois entram por uma instigante história de amor cheia de empecilhos e mal entendidos que pode não ser tão literária quanto parece e tem a ver com uma família que Ethan desconhece. Segredos sombrios do passado começam a se revelar enquanto Ashlyn, cada vez mais presa na história, passa a lidar com seus próprios fantasmas em busca de redenção.

No fim, pelo título, o livro não foi nada do que eu estava esperando. Quando vi a primeira vez eu pensei que ia ser algo mais na linha de A Intuitiva de Hannah Howell, mas não foi nada disso. Os "livros antigos" no título se refere as obras encontradas por Ashlyn e Ethan que datam de quarenta e três anos antes, nem tão antigo assim. A história se passa nos anos 80 e 40, alternando em pontos de vista, cheia de reviravoltas e com um fundo histórico muito bem feito.

Demorou bastante para eu começar, de verdade, a torcer pelo casal Ashlyn-Ethan, a minha primeira impressão dele foi péssima e a tentativa de se redimir da primeira vez falhou. O passado doloroso da Ashlyn, embora consiga explicar algumas de suas atitudes, não conseguiu me convencer em outras, assim como a família conturbada de Ethan e seu casamento não tenha me convencido muito a aceitar sua postura inicial com a protagonista. O casal secundário, Belle e Hemi, com sua história cheia de mal entendidos, até me despertou o lado mais romântico e sonhador de torcer por uma resolução, mas a atitude bem infantil da Belle em vários momentos era muito irritante.

O que eu gostei bastante foi a história comovente de Helene, a mãe de Belle, embora tenha sido bastante triste, até cruel, se tornou linda e nos fez desejar que o pai dela tivesse tido um fim pior pelo que fez com ela. 

Personagens instigantes, fundos históricos envolventes e uma trama que se amarra com perfeição, o livro merece o hype que tem e vale muito a pena.


[Bíblia] Provérbios - Introdução

 



Introdução:

Embora, por uma ficção literária, o livro de provérbios seja atribuído a Salomão, na realidade é uma coleção composta de oito partes: 1. Exortações personificadas pela própria sabedoria; 2. A grande coleção salomônica; 3/4. Duas pequenas coleções atribuídas aos "sábios"; 5. Provérbios salomônicos recolhidos pelo rei Ezequias; 6. Um fragmento atribuído a Argur, autor desconhecido; 7. Conselhos de uma rainha mãe a seu filho; 8. Poema que faz elogio à mulher forte.

Entre as sentenças contidas nesse livro, grande número é de origem popular, como os rifões. Os provérbios atribuídos a sábios, aliás desconhecidos, devem ter sido compostos antes do exílio, embora os capítulos 30 e 31 pareçam posteriores a ele.

Acham-se no livro de provérbios numerosas passagens nas quais se pode descobrir frisante parentesco com textos egípcios e orientais. Não se sabe em que medida o autor inspirado utilizou de predecessores estrangeiros, mas é certo que os hebreus sofreram influência dessas grandes civilizações.

A moral de provérbios, fundada na crença e na revelação de um único Deus, mostra-se superior a de todos os produtor pagãos da mesma espécie. Por sábio deve-se entender aquele que é inteligente, bem avisado, virtuoso e íntegro. Entre os insipientes devem ser enumerados os maus, mentirosos, negadores, ladrões, malfeitores e perjuros.

De modo especial, acentua a piedade filial e a educação das crianças. Em todo livro se manifesta viva fé numa retribuição, recompensa ou castigo, mas não existe ainda a ideia de uma vida eterna. O Temor do Senhor é o começo da sabedoria. Essa sabedoria só pode provir de Deus mesmo, é ela que nos faz compreender algo da justiça e dos juízos divinos, como também é ela que produz a verdadeira humildade.


Nota: Eu ando bem procrastinadora esses tempos, mas não deixei de estudar a bíblia, só que com o curso do Pe. Juarez esse processo se tornou um pouco mais lento, a partir do livro de Eclesiástico a leitura se torna muito complexa para fazer sozinha, o nível de entendimento diminui bastante e o auxílio do curso me ajudou a compreender o livro, mas ao mesmo tempo tornou o processo muito mais lento. Assim, as postagens da tag vão ficar um pouco menores e a partir do eclesiástico terão mais partes por causa das muitas informações das aulas.

[Anime] Honey Lemon Soda

 Original: ハニーレモンソーダ

Autor: Mayu Murata

Direção Hiroshi Nishikiori

Ano: 2025

Episódios: 12

Sinopse: Depois do ginásio, com todo o bullying e apelidos, Uka Ishimori está empolgada para um novo começo no Colégio Hachimitsu. Kai Miura, um cara legal e desinibido, senta do lado dela na aula. Uka se lembra que conheceu Kai no ginásio e com uma única palavra ele convenceu ela a ir para o Hachimitsu. Apesar de ser popular, Kai apoia Uka em seus esforços para se encaixar com os novos colegas. (Via crunchyroll)

O anime saiu depois do filme e é a primeira vez que eu vejo acontecer (pode ter acontecido antes, mas não tive conhecimento). Já tem um tempinho que eu resenhei o live-action (leia aqui), mas revi logo que terminei o anime para poder refrescar a memória e fazer uma comparação melhor.

A história vai girar em torno de Ishimori Uka, uma adolescente que sofreu bullying durante todo ensino fundamental e aprendeu a agir como uma "pedra" a fim de evitar suas emoções e não preocupar os pais. Contudo, isso acabou causando um dano muito forte na sua personalidade e, aliado à superproteção do seu pai, ela se tornou uma pessoa passiva que tem medo de enfrentar as coisas, falar sobre seus sentimentos, entender o mundo onde está inserida e se relacionar com as outras pessoas.

Com a pressão do pai para que frequente uma escola para meninas com regras muito rígidas, ela se vê em um dilema quando sente vontade de ir para uma escola mais flexível e o encontro com um belo garoto de cabelos loiros faz com que ela tome de vez essa decisão sendo a primeira vez que contraria seu pai. Aos poucos, com a ajuda desse garoto, Miura Kai, Uka começa a se abrir para um novo mundo onde pode ser ela mesma, aprender a defender suas ideias e conviver em turma, fazer seus primeiros amigos e falar o que pensa.

Isso também faz com que ela comece a desenvolver sentimentos por Kai, que de início ela não compreende muito bem e depois são tolhidos pela sua autoestima muito baixa. Para se aproximar dele e quebrar a parede que Kai ergueu em torno de si, ela precisa antes de tudo entender a si mesma e superar as próprias limitações e conta para isso com a ajuda de suas novas amigas.

Em relação ao filme o anime traz muito mais informações a respeito de Uka, especialmente do seu meio familiar, e a relação dela com o pai que é crucial para entender a maneira como a sua personalidade foi formada. É algo além do bullying, mas que veio antes. Isso faz toda diferença porque ela sai de uma personagem "traumatizada" para uma personagem "superprotegida" que aprende aos poucos a sair dessa gaiola de restrições criadas para protegê-la da dor. 

Há muitos momentos muito bonitinhos que eu queria ter visto no live-action como alguns pontos do festival de esportes e do festival da escola. O desenvolvimento evolutivo de Uka se torna muito mais visível na animação, assim como o do próprio Kai que sai de um garoto fechado e impassível para alguém mais aberto e expressivo, embora a animação não dê praticamente nenhum plano de fundo para o personagem (o que imagino ser explorado no mangá).

Eu gostei bastante da história, evoca muito aquele clima Kimi ni Todoke, embora o traço dessa animação não tenha me agradado tanto por alguma razão que não sei explicar hahaha. A personalidade do Kai é aquela coisa mais misteriosa, fechada e introspectiva, ao contrário do refrescante e ciumento Kazehaya, mas ele serve como um contraponto muito bom para a determinada e inocente Uka. A relação deles é muito docinha de acompanhar e faz a gente shippar muito. Recomendo demais.

quinta-feira, 17 de abril de 2025

[Livro] Fédon

Original:  Φαίδων

Autor: Platão

Ano: Mais ou menos 347 a.C.

Sinopse: Fédon de Élis, discípulo de Sócrates, encontra-se com o pitagórico Equécrates, provavelmente na pátria de este último. Ali, Fédon narra o sucedido nas últimas horas de vida de Sócrates e do que se falou nessa ocasião. Isto permite a Platão dispor de um narrador que possa apresentar ao leitor não só o diálogo em si, mas também toda a cena e ações dos protagonistas.

O diálogo discorrido por Fedón situa-se na prisão em que Sócrates esperava o momento de sua execução. Os interlocutores principais de Sócrates são Símias e Cebes, velhos discípulos de outro filósofo.

Embora gostasse muito das aulas de filosofia na escola, não sou versada no assunto. Sempre o achei fascinante, mas denso demais para meu conhecimento limitado sobre tudo. Esse foi meu primeiro contato com Platão e aconteceu na faculdade, li para fazer um trabalho de ética na época. Fazendo meu caderno de leitura e rememorando os livros que fizeram parte da minha trajetória a partir de certa idade (porque contabilizar os lidos quando criança seria impossível) deparei-me com este ainda não resenhado e decidi reler para recordar do que se tratava.

O livro, escrito em forma de diálogo, retrata os últimos momentos de Sócrates na prisão antes de tomar o veneno, pena firmada pelos juízes para sua execução. Rodeado por alguns de seus discípulos, o filósofo mostra uma postura otimista sobre a morte e começa a discutir com eles a respeito da imortalidade da alma, até o diálogo se tornar uma verdadeira batalha de argumentos e contra-argumentos sobre o assunto. Usando analogias bem cotidianas, Sócrates consegue se fazer entender e provar seu raciocínio convencendo os discípulos que aquele é apenas o fim do seu corpo material, mas, por ter dedicado sua vida ao aperfeiçoamento de sua alma, ela será eternizada junto aos deuses onde viverá. Seus discípulos, embora terminem concordando com suas afirmações, são incapazes de aceitar sua morte de forma tão otimista, desabando em lágrimas quando chega o momento final, narrado em detalhes.

Interessante observar que, pouco mais de 400 anos antes de Cristo, já se falava sobre a imortalidade da alma, algo que só vem a ser tratado de forma um pouco tardia no antigo testamento. Inclusive, embora fosse grego, Sócrates se mostra crente em uma divindade única, recusando a crença nos deuses atenienses. Isso também me chamou a atenção, embora não possa afirmar ser o Deus que cultuamos no cristianismo, entendi se tratar da mesma linha de pensamento. Claro, dentro de toda a sua vertente mitológica a respeito do pós-vida, sua dialética sobre a imortalidade da alma e a importância de viver em função de fortalecer o espírito me soou até muito cristã.

2.500 anos atrás, ele levanta pontos que ainda são relevantes na atualidade como se tivessem sido escritos no dia anterior.

"Outra causa não têm as guerras senão o amor do dinheiro e dos bens que nos vemos forçados a adquirir por causa do corpo, visto sermos obrigados a servi-lo."

Lendo a bíblia até agora, pude fazer alguns intertextos sobre os ensinamentos adotados em livros como Eclesiastes e Provérbios e o diálogo do filósofo sobre o cultivo de uma vida virtuosa que se distancia dos prazeres mundanos, valorizando a sabedoria, a coragem, a temperança e a justiça, para, irrepreensível, ser merecedor de alcançar as bem-aventuranças do fim da jornada. Essa ideia é muito similar àquela apresentada por Cristo e pela igreja como modelo de uma vida cristã. Enquanto ia lendo, observava como ele descrevia, já na sua época, a sociedade que vivemos hoje, pautada em vaidades e valores supérfluos que se esvaem tão logo finda a jornada vazia com a qual boa parte da humanidade leva suas vidas.

Fica claro, desde o começo, que o principal fato dos homens temerem a morte está no fato de não conseguirem desapegar daquilo que é passageiro. Nós temos de forma inerente em nós uma rejeição natural ao fim da vida, evitamos pensar nisso, chegamos mesmo a tratar como uma forma literária ficcional e tendemos a viver com a certeza do amanhã. Assim, ao perder um parente ou receber um diagnóstico que coloque em risco essa certeza, desabamos. E, pra mim, isso fez muito sentido. Repassando o número de vezes que fui derrubada pelo luto e o inúmero de crises ansiosas que já sofri diante de um fim emimente, a tranquilidade de Sócrates e sua postura diante da morte evocou reflexões acerca de como estava vivendo até aqui minha própria vida.

"Há de haver para nós outros algum atalho direto, quando o raciocínio nos acompanha na pesquisa; porque enquanto tivermos corpo e nossa alma se encontrar atolada em sua corrupção, jamais poderemos alcançar o que almejamos."

Isso me levou a pensar, também, sobre o papel da religião na minha vida. Nasci e cresci em uma família católica, mesmo tendo poucas lembranças da minha infância, trago comigo alguns testemunhos pueris da fé na qual fui mergulhada desde o nascimento. E entendo, igualmente, a razão dos padres estudarem filosofia na sua formação teológica, ao contrário do que muita gente ainda acredita. Mesmo se tratando de vertentes distintas, elas, em alguns pontos, convergem. Pensar, afinal, é o que nos distingue das demais criaturas e, embora essa tenha sido uma prática cada vez menos usada pela humanidade, vale como um cutucão à nossa raiz existencial. A dimensão da fé não é um conforto mero diante da dificuldade ou mesmo da finitude, mas o guia que nos impulsiona a tratar como primordial aquilo que é realmente importante: nosso interior.

Em um mundo cada vez mais individualista, robótico e frio, viver em prol do nosso crescimento espiritual pode se tornar perigoso, pois viola as vertentes das grandes massas e dos organismos manipuladores por trás delas. O diferente, não importa em que época se encontre, tende a atrair a destruição de si mesmo pelos "iguais". Basta olhar o curso da história para encontrar diversos exemplos desse fato. E se estamos caminhando rumo a uma autodestruição cada dia mais inevitável, aquilo a que a igreja chama "conversão" não se trata apenas da escolha de um lado, mas da adoção de uma postura que priorize a elevação daquilo mais caro em nós: nossa humanidade

"Pois conhecer, de fato, consiste apenas no seguinte: conservar o conhecimento adquirido, sem vir nunca a perdê-lo."

Fédon é um livro pequeno, pouco mais de cem páginas, mas não é de longe o tipo de leitura que você faz numa sentada só no início da tarde. É um livro denso, que puxa reflexões  não somente a respeito da vida e da morte, da conduta de nossa trajetória como seres humanos em uma jornada finita cujo significado facilmente se corrompe. E, embora seja um diálogo essencialmente sobre morte, usando de várias analogias e comparações para provar suas argumentações, é igualmente um manual sobre a vida. Sobre aquilo essencial na nossa maneira de lidar com nossa trajetória breve sobre essa terra e o legado que deixaremos para aqueles que conviveram conosco. O otimismo demonstrado em suas linhas leva a uma profunda reflexão sobre o motivo da nossa existência e me recordava uma frase repetida diversas vezes por um padre da minha região: "Se não vivemos para servir, não servimos para viver". 

Acho que, embora complexo em alguns momentos, é uma leitura que todo mundo devia fazer uma vez na vida. 

"Então, o que importa é não desanimares, disse; é possível que ainda venhas a ouvi-las. Talvez te pareça estranho que entre todos os casos seja este o único simples e que não comporte como os demais, decisões arbitrárias, segundo as circunstâncias, a saber: que é melhor estar morto do que vivo. E havendo pessoas para quem a morte, de fato, é preferível, não saberás dar a razão de ser vedado aos homens procurarem para si mesmos semelhante benefício, mas precisarem esperar por benfeitor estranho."

 

[Bíblia] Salmos - Destaques

 Estamos chegando na culminância da Semana Santa, um dos períodos mais importantes para a igreja católica, momento onde celebramos a redenção do mundo pelo sacrifício de Cristo e o fim da morte com a sua ressurreição. Durante todo o período em que passou no deserto se preparando para esse momento até o último segundo antes de ser preso, Jesus rezou. Por isso, quero trazer hoje, na quinta-feira santa, algumas passagens de salmos que se destacaram durante a minha leitura e recomendo serem usados como modelos de oração para diversos momentos da vida.

Lembrando sempre que a oração é nosso diálogo com Deus, a maneira mais íntima que temos de nos comunicar com Ele. Atualmente, sigo no livro do Eclesiástico, a partir desse ponto, a bílbia se mostrou um pouco mais desafiadora de entender e, por isso, precisei procurar ajuda externa, o curso do Pe. Juarez de Castro, disponível no Youtube, trabalha os livros da bíblia capítulo a capítulo e isso faz com que o entendimento seja melhor, mas mais demorado. Assim, as postagens dessa tag podem rarear mais a partir de agora.

"Porque o Senhor vela pelo caminho dos justos,
ao passo que o dos ímpios leva à perdição." (Sl 1,6)

"Apenas me deito, logo adormeço em paz, 
porque a segurança do meu repouso vem de
vós só, Senhor." (Sl 4,9)

"Corromperam-se os homens, sua conduta é abominável,
não há um só que faça o bem. O Senhor, do alto do céu, 
observa os filhos dos homens, para ver se, acaso, existe 
alguém sensato que busque a Deus. Mas todos eles se
extraviaram e se perverteram." (Sl 13, 1-3)

"O Senhor é minha luz e minha salvação,
a quem temerei? O senhor é o protetor da
minha vida, de quem terei medo?" (Sl 26,1)

"Sim, Senhor, a salvação vem de vós.
Desça vossa benção sobre o vosso povo." (Sl 3,9)

"Salvai-nos, Senhor, pois desaparecem os 
homens piedosos, e a lealdade se extingue
entre os homens." (Sl 11,2)

"Por isso meu coração se alegra e minha alma exulta,
até meu corpo descansará seguro, porque vós não 
abandonareis minha alma na habitação dos mortos,
nem permitirá que vosso santo conheça a corrupção."
(Sl 15,9-10)

"Quem será digno de subir o monte do Senhor?
Ou de permanecer no seu lugar santo? O que
tem as mãos limpas e o coração puro, cujo espírito
não busca vaidades nem perjura para enganar
seu próximo." (Sl 23,3-4)



segunda-feira, 7 de abril de 2025

[Livro] Pelo Andar da Carruagem

 Autor: Aimee Oliveira

Ano: 2024

Duração: 2h

Sinopse: O doutor Daniel tem um compromisso importante Afinal, todos os compromissos eram importantes para um jovem advogado que busca se estabelecer em sua profissão. Cada detalhe conta. Contudo, nesta tarde de terça-feira em específico sua pontualidade é comprometida pelo inconveniente de um quase atropelamento de uma lavadeira distraída que anda pelas ruas com uma pilha de roupas sem se dar ao trabalho de prestar atenção no tráfego. E que, para piorar, após o acidente exige ser levada de volta para casa de carruagem para compensar os danos causados.

Clarissa, a jovem lavadeira, não dará colher de chá para o doutor que sujou as roupas da dona Firmina, por mais bonito que ele fosse. Só o que Ihe importa é entregar um serviço eficiente e de qualidade aos seus clientes, caso contrário, sua mãe a mataria. E, se aquele rapaz teve o desplante de arruinar o seu trabalho, ele teria que arcar com as consequências. Assim, o destino é desviado de um dos cafés mais nobres do Rio de Janeiro para uma área repleta de cortiços e nada aprazível da cidade. Naquela carruagem, doutor Daniel irá perceber que Clarissa é muito mais do que aparenta ser e Clarissa verá que a vida não precisa ser tão dura quanto ela acha. Eles têm um longo caminho pela frente.

Daniel é um advogado que subiu na vida com muito suor e hoje luta para manter o seu lugar entre a alta sociedade carioca. No caminho para encontrar um cliente, decidindo tomar uma rota alternativa porque não quer se atrasar, ele acaba quase atropelando uma jovem no meio do caminho. Clarissa é uma lavadeira estabanada que ama sanduíche de presunto e trabalha para ajudar sua mãe e irmã. No caminho para uma entrega, é quase atropelada por uma carruagem em alta velocidade e todas as roupas branquinhas que carregava em sua trouxa são jogadas no meio da lama.

Em meio a uma discussão com o dono engomado da carruagem, ela o obriga a levá-la até em casa, onde vai tentar salvar aquelas roupas e entregar no dia seguinte. Um impasse se passa entre os dois, ao mesmo tempo que os preconceitos de Clarissa se chocam com aquele homem bem vestido de nariz empinado, o jeito impetuoso e sarcástico dela vai de encontro a realidade sofisticada de Daniel. No decorrer do percurso, uma série de mal entendidos e novos acidentes aproximam os dois fazendo brotar sentimentos antes desconhecidos para ambos, mas como poderão superar as diferenças entre eles?

Ainda é um pouco estranho lidar com audiobooks, mas estou me acostumando mais rápido do que imaginava. Achei a história bem levinha e engraçada, ela não se esforça para parecer séria e, ao mesmo tempo, se leva a sério. Ela se passa no Rio de Janeiro colonial, bom para quem gosta de histórias de época, mas não se aprofunda muito nisso, o foco da narrativa se concentra nos sentimentos dos personagens indo direto ao ponto. Acredito que na edição física alguns detalhes e panos de fundo são mais explorados, porém, no geral, achei uma trama bem construída, personagens carismáticos, um romance que, embora de imediato não faça muito sentido, aos poucos a gente vai conseguindo comprar a ideia, creio que na edição física esse estranhamento seja amenizado pelo melhor desenvolvimento dos personagens. Gostei bastante, me diverti no processo e foi muito gostosinho de ouvir. Recomendo.

domingo, 6 de abril de 2025

[Bíblia] Salmos (II)

 Minhas considerações:

Percebe-se a depressão de Davi com mais clareza através de seus salmos, onde ele exprime com liberdade seus medos, angústia e tristeza diretamente para Deus. 

É realmente impressionante como já nos primeiros salmos é feito um retrato fidedigno do mundo atual, com homens cegos pelo poder, sem nenhuma compaixão no coração, destruindo e perseguindo com impiedade os menos favorecidos. Conforme Davi vai fazendo suas súplicas à misericórdia do Senhor, dá para sentir o quanto aquele mundo assustador o angustia e mesmo tendo sua confiança posta em Deus ele não consegue evitar sentir-se ansioso exatamente como muitos de nós face às transições sombrias que cercam as nações lideradas por homens cada vez mais bárbaros e sedentos de sangue.

O Poder da Oração:

Pe. Patrick  disse, em uma de suas pregações, que nós não sabemos como rezar. O próprio Paulo reforça essa afirmação, isso porque apenas despejamos sobre Deus nossas "vontades" e pedimos que Ele nos livre do deserto, tire o peso de nossa cruz quando, na verdade, nossa oração deve estar voltada para o outro lado, devemos pedir para o Senhor nos ensinar e guiar na travessia do deserto, nos apoie e suporte para que saibamos levar nossas cruzes com leveza e sabedoria.

Isso não quer dizer, claro, que não devemos fazer nossos pedidos ao Senhor, apresentar a ele nossas angústias e medos, mas devemos aprender a olhar esses desertos como trajetória para nosso amadurecimento, para viver aquilo que Deus está preparando para nós. Muitas vezes, em meio ao sofrimento, achamos que aquele deserto não tem fim, mas se confiamos no alto, conseguimos enxergar não o que ainda falta percorrer, mas o quanto nós já atravessamos.

Cada vez mais, especialmente na atualidade, nós precisamos aprender a rezar, a manter essa sintonia com Deus e, ainda mais, fortalecer nossa confiança no Senhor, passar a enxergar que Ele vê adiante, aquilo que não sabemos, jamais faria nada para nos ferir, mas nos transforma e nos molda na dor, "tudo que nos acontece — parafraseando Pe. Chrystian — ou é benção ou é lição. Que os salmos nos ensinem como rezar e nos inspirem a desejar nos aproximar cada vez mais de Deus, do Deus que nos ama incondicionalmente, está sempre nos esperando voltar ao ponto de oferecer o próprio filho por amor a nós.