Desde
já, o texto reforça algo que Cristo pregará com palavras e ações: ações injustas contra os pobres e o povo são
ações contra Deus. “Em tudo que fizerdes lembra do teu fim e jamais pecarás”.
Inclusive, há o conselho de não censurar ou apontar os pecados alheios porque
nós também somos pecadores.
Como
todos os livros do antigo testamento há passagens que podem soar bem “problemáticas”
para nossos ouvidos, por isso é preciso
contemporizar que essa é uma visão machista e antiga que vê a mulher como
um objeto e fonte de pecado. A bíblia vai evoluindo e a visão também, Cristo
coloca homem e mulher lado a lado. Vale lembrar que esse livro é um alerta aos
judeus que viviam no meio da influência grega para que não se distanciassem dos
valores e das leis de Deus.
O
orgulho é a raiz de todo pecado. Quando, no paraíso, o homem pecou o fez por
orgulho, por renegar a Deus, querer se igualar a ele. Tal é a sociedade
pecadora da atualidade, um mundo que renega Deus. Muitos dos ensinamentos desse
livro serão, posteriormente, mencionados nas cartas de Paulo. Fica claro no
decorrer da leitura que o autor é alguém que confia pouco nas ações humanas
colocando toda sua fé na providência divina.
Ele
volta a bater na tecla da riqueza criticando aqueles que vivem para acumular,
dedicando a vida inteira a isso esquecendo a própria finitude. Não é que Deus
julgue o dinheiro como algo ruim, mas é o que essa riqueza provoca no coração e
no caráter do homem. A verdadeira riqueza é desfrutar a vida com quem amamos,
ter o necessário é suficiente, pois nada se leva desse mundo. E, por isso
também, o autor critica quem faz distinção de pessoas por sua aparência. A
pessoa soberba não é capaz de ver a providência divina, pois acredita que tudo
vem por si mesmo quando, na verdade, tudo que acontece na vida vem de Deus.
O
capítulo 12 vem falar sobre a prática do bem e o verdadeiro amigo. Até aqui,
nota-se que nesse livro o “fazer o bem” é algo muito seletivo, voltado apenas
para os amigos e, mais uma vez, é preciso contextualizar a época em que foi
escrito. Ao dizer que não se deve fazer o bem ao inimigo e ao pecador — mas
deixar Deus puni-los — Ben Sirac se refere aos gregos, eles eram, nessa época,
os “inimigos” dos judeus. Por isso, o autor orienta a não fazer o bem ao
inimigo, contrariando o ensinamento de Cristo que mais tarde ensina que se deve
amar os inimigos.
Num
segundo momento, fica muito claro que só
conhecemos os amigos no momento do sofrimento. O perigo da bíblia é ler e
tirar o texto do seu contexto, isso é usado como pretexto para fazer o mal, não
devemos ler os textos, especialmente da velha aliança, sem compreender o
período e o intuito em que foram escritos.
Faz-se
uma descrição duríssima da realidade. O rico finge amabilidade para sugar o
pobre até a última gota e a palavra critica com dureza o orgulho do rico,
fazendo um alerta para nos afastarmos de pessoas orgulhosas. Essa comparação
entre rico e pobre já era abordada nas fábulas de Esopo, escritas antes do
Eclesiástico.
O
rico nunca vai ver o pobre como seu semelhante. Aquele que se torna amigo do
rico carrega o fardo dele e na
necessidade será por ele abandonado.
Contudo, vale lembrar que essa é uma constatação
da realidade, não um ensinamento da
bíblia. A vinda de Cristo muda essa visão, mostrando qe ricos e pobres,
justos e pecadores, podem sim conviver em harmonia.
No
capítulo 14 volta a questão do acúmulo de riquezas e da condenação à avareza,
esse ponto e o cuidado com a língua são dois tópicos muito repetidos no livro.
Então vem a questão do livre arbítrio
que é a liberdade concedida ao homem de escolher
o caminho que quer seguir. Deus dá a orientação,
mas somos nós que tomamos a decisão
e sofremos as consequências dela.
Tudo pode ser reparado desde que haja comprometimento e arrependimento sincero.
E aqui entra a questão da justiça divina.
Ao mesmo tempo que Deus é misericordioso, é igualmente justo, e dará a cada um
conforme suas ações.
Um
exemplo são aqueles que não entraram na terra prometida, a destruição de Sodoma
e Gomorra, etc. Deus vai retribuir o bem e o mal que fazemos, ninguém
se esconde do Senhor! Por isso, é preciso escolher o bem e a justiça enquanto se vive nesta terra, pois após
a morte nada mais há de ser feito, será apenas prestação de contas. A grandeza
de Deus é incompreensível à razão humana, como nada somos, precisamos
constantemente da sua misericórdia e, após tomar consciência real disso, da
nossa insignificância, conseguimos observar melhor nossas atitudes e viver
segundo a vontade daquele que nos deu a vida.
Volta-se
à questão da língua e de como é melhor ouvir mais e falar menos, evitando
fofocas, preconceitos e pré-julgamentos, além da necessidade de corrigir
aqueles que vivem no erro, aconselhando-os. Essa parte tem uma grande
influência dos filósofos da época, por isso há grande semelhança com alguns
provérbios filosóficos de pensadores da região asiática. Por exemplo:
Ø O
tolo fala muito, o sábio fica mais calado;
Ø A
mentira é a pior das artimanhas do ser humano;
Ø O
silêncio nem sempre é a prova de sabedoria, podendo ocultar estupidez;
Ø A
recompensa do bem feito é o ato, ele não espera retribuição;
Ø A
desgraça às vezes traz benefícios como a sorte pode trazer o mal;
Ø A
justiça não coaduna com a violência, é inútil tentar fazê-la por esse meio.