quinta-feira, 3 de setembro de 2015

O Pequeno Príncipe - Antoine de Saint - Exupéry

Informações:

Título Original: Le Petit Prince
Título no Brasil: O Pequeno Príncipe
Autor: Antoine de Saint - Exupéry
País de Origem: França
Ano de publicação: 1943
Gênero: Lit. Infanto-juvenil, novela


Sinopse: A história começa quando o personagem principal fala sobre um desenho que ele fez quando tinha 6 anos de idade e que tratava de uma jiboia que engoliu um elefante, mas todos os adultos acharam que o garoto havia desenhado um chapéu. O personagem principal renunciou ao 6 anos de idade a carreira de ser pintor, e se tornou piloto. E voando, teve uma pane no seu avião no "Deserto do Saara". Tentando consertar seu avião, adormece... E é acordado por um menino que o autor define que tem "cabelos de ouro" e que lhe pede para desenhar um carneiro.
Conforme a história passa o personagem descobre que o menino vive no asteroide B 612, e que só tem uma rosa que fala com ele, e que tem três vulcões (um deles está extinto), e que o principezinho assiste quarenta e três pôr-do-sol para se divertir ou quando está triste.
O autor conta um pouco da história dele, a história de como o principezinho havia chegado ao Deserto do Saara, fala de como são as crianças e de como são as pessoas grandes; e envolve o leitor em mais um mistério no capítulo XXVII: que fala que o carneiro que desenhou para o principezinho poderia comer a sua flor.

"O Império do homem é interior." 

O que eu achei: Você vive, sobrevive ou apenas existe? Sim, há uma grande diferença entre os três conceitos, quando começamos a ler o Pequeno Príncipe passamos a refletir sobre o sentido desses conceitos. Para começo, um piloto cai no meio do deserto e encontra um interessante menino que lhe pede para desenhar um carneiro. Enquanto começa a conversar com ele e descobrir sua trajetória até chegar à terra, o piloto passa a refletir sobre suas atitudes, seu olhar "adulto" para o mundo e percebe-se um homem tolhido dos seus sonhos infantis que, provavelmente, esqueceu a magia de ser criança.

"Adultos adoram números. Quando vocês contam que tem um novo amigo, eles não ligam para o que é importante. Nunca perguntam: "Qual a voz dele?" "De que ele gosta de brincar?" "Ele faz coleção de borboletas?" Os adultos preferem perguntar: "Que idade ele tem?" "Quantos irmãos?" "Quanto pesa" "Quanto ganha o pai dele?" (página 25)

Ao longo do livro - que infelizmente não é grande o suficiente - nós somos levados a refletir sobre a vida e sobre como olhamos para o mundo. Como nessa passagem acima, em que refletimos o modo como tudo é contável para nós, deixamos de lado a essência das pessoas, aquilo que realmente a tornam valiosas, para olhar futilidades, avaliá-las por quantitativo e não vê-las por seus qualitativos. Entendi finalmente porque esse livro é tão recomendado, já foi tão traduzido e encantou tantas pessoas ao redor do mundo, voltamos a ter aquela sensação nostálgica de quando tínhamos aquele olhar puro e infantil sobre o mundo, quando sabíamos ver a beleza real das coisas. Hoje, vejo as crianças deixando esse mundo imaginário e colorido de lado, isoladas em um universo digital que tolhe sua capacidade de experimentar coisas essenciais na vida e isso me lembrou um pouco de Ponte para Therabítia, uma personagem que vivia de livros e imaginação, que era diferente de todos na sua escola, que não via televisão, que aproveitava o melhor da vida. 

"As flores são frágeis. E ingênuas. Defendem-se como podem. Julgam-se poderosas com seus espinhos." (página 37)

Para chegar à terra, o pequeno príncipe viaja do seu planetas por outros planetas e neles conhece as facetas da humanidade. No primeiro planeta, conhece o rei, encaramos esse encontro como o início do "poder" do homem sobre o homem. O rei, em seu mundo de absolutismo, que não tem ninguém sobre quem reinar, e que quer fazer do pequeno príncipe seu súdito. O príncipe percebe que ele é um homem solitário, mas que seria impossível ser amigo de alguém tão autoritário. As pessoas esquecem que a vida é feita de cooperação, que precisamos enxergar o outro como um semelhante e não como um inferior a nós.

"Então, você será juiz de si mesmo - sugeriu o rei. - Sei que é muito difícil. É bem mais fácil julgar a si mesmo, que julgar os outros. Se conseguir julgar a si mesmo, provará que é um verdadeiro sábio." (Página 55)

Quantas vezes julgamos as pessoas pelo que parecem ser ou por algo que fazem e que, no nosso ver, é errado e esquecemos de que não somos exemplos de vida para ninguém? Já começou a contar? Quem somos nós para acharmos que sabemos o que é certo e errado quando ninguém sobre a terra pensa da mesma maneira?
No segundo planeta habitava um vaidoso. "Óbvio que para os vaidosos todas as pessoas são suas fãs." Desse, o princepezinho que buscava um amigo, também não podia oferecer seu cativante coração, pessoas vaidosas são egocêntricas demais para aceitar ou ouvir qualquer coisa que não sejam elogios a si mesmas. A vaidade é uma cela que isola as pessoas.
No terceiro planeta, morava um bêbado. Ele buscava na bebida a fuga para a vergonha que tinha de beber. E que pena causava, fazendo um dano a si mesmo na tentativa de fugir ou transformar sua realidade. "Os adultos são mesmo muito estranhos."
No quarto planeta morava um homem de negócios. Ocupado demais para dar atenção a quem quer que fosse, julgava-se dono das estrelas e do universo. Lembra as pessoas gananciosas, imersas demais em sua sede de ter e poder para se importar com quem quer que seja.

"- E para que serve possuir estrelas?
- Isso faz eu me sentir rico.
- E que adianta ser rico?
- Posso comprar mais estrelas que forem localizadas.
'Esse sujeito' - refletiu o pequeno príncipe - 'faz-me lembrar aquele bêbado.' (...)
-Possuo uma flor - explicou o pequeno príncipe -, que rego todos os dias. Tenho três vulcões nos quais faço faxina toda semana. Limpo inclusive um que está extinto. É melhor prevenir. Meus vulcões e minha flor são úteis. Porém, você não pode fazer nada de útil com as estrelas..." (página 66/67)

No quinto planeta encontrou um acendedor de lampiões. Era um homem extremamente dedicado ao seu trabalho e com zelo pelo regulamento, mas, no entanto, não se comprazia totalmente com o que fazia uma vez que não descansava nunca. No entanto, o pequeno príncipe refletiu enquanto falava com ele que de todos que havia encontrado até ali, morava naquele planeta minusculo que mal cabia seu próprio dono, o único com potencial de ser seu amigo.

"Esse homem também é maluco. Porém, menos maluco que o rei, o vaidoso, o homem de negócios e o bêbado. Ao menos seu trabalho tem sentido. Quando acende o lampião é como se fizesse nascer mais uma estrela ou uma flor. Quando o apaga, faz adormecer a estrela ou a flor. É um belo trabalho. Um trabalho útil, além de belo." (página 69)

Mesmo assim, aquele homem tão ocupado que nunca tinha tempo para descanso, também não podia ser seu amigo. Avançando ao próximo planeta, ele conheceu o geógrafo. Um homem com um trabalho aparentemente interessantíssimo, mas que nunca havia explorado nada do que catalogava com tanto esmero, usava apenas o trabalho de outros que haviam visto as maravilhas que ele escrevia em seu livro. O pequeno príncipe julgou um trabalho vago, pois em seu planeta, sequer tinha a beleza que ele escrevia. Avançou então para  o planeta terra.

"Chegou então ao sétimo planeta: a terra. A terra não é um lugar qualquer. Ela abriga 111 reis (claro, sem esquecer os reis negros), 7 mil geógrafos, 900 mil homens de negócio, 7 milhões e meio de beberrões, 311 milhões de vaidosos - enfim, cerca de 7 bilhões de adultos." (página 90)

Na terra ele passeou por diversos lugares, conheceu diversas coisas e descobriu outras - como o fato de sua flor não ser "exclusiva", mas não encontrou nenhum amigo. Até conhecer uma raposa que ensinou aquele príncipe muito mais que o sentido da amizade, mas o sentido das coisas que acontecem em nossa vida, das pessoas que nela estão e que para ela trazemos.

"- Só se conhece o que se cativa - observou a raposa. - As pessoas já não tem tempo de conhecer nada. Preferem comprar tudo pronto nas lojas. Como não existem lojas que vendem amigos, as pessoas não tem mais amigos."

E que passagem mais reveladora sobre os nossos dias, não? É o que faz o pequeno príncipe uma obra ainda mais atual! Essa é uma verdade ainda mais pungente nos dias de hoje, as pessoas, cada vez mais presas no individualismo tecnológico, não tem mais o gosto pelo conhecer, pelo explorar, preferem isolar-se, ir pelo caminho mais fácil, comprar pronto e acabado. Para que conhecer pessoas? Elas são tão complexas! Eu me encaixei nessa passagem, sou uma individualista acredito que como milhões de pessoas no mundo, mesmo com meus motivos é minha "zona de conforto", mas ainda assim, dentro de mim arde esse desejo pelo conhecer, pelo explorar, pelo sentir. Como estamos vendo o mundo hoje? O que estamos fazendo para que ele seja melhor? Como contribuímos para o nosso próprio bem? Eram essas as perguntas que eu me fazia enquanto lia o livro. O pequeno príncipe nos leva a ver as coisas pequenas da vida, as que tem real importância e que deveriam ser diariamente apreciadas, mas que nós deixamos passar pela nossa pressa do amanhã, pelo nosso imediatismo, pela correria de uma vida que tornamos tão curta e muitas vezes tão sem sentido.

"Conheço um planeta onde vive um sujeito vermelho. Ele nunca sentiu o perfume de uma flor. Jamais contemplou uma estrela. Nunca amou ninguém. A única coisa que ele fez na vida foi contas. E todo dia ele repetia como você: 'Sou um homem sério! Sou um homem sério!'  e isso o enchia de orgulho. Ora, isso não é um homem, é um cogumelo!" (página 38)

Na viagem pelos planetas, o pequeno príncipe reflete sobre o isolamento das pessoas, cada qual presa no seu "planeta" de individualismo, no seu próprio mundo, incapazes de interagir ou conviver com outras pessoas, seja porque estão ocupadas demais ou porque são intolerantes demais, e enquanto conhece cada uma dessas pessoas, ele descobre a complexidade humana e descobre o que o torna diferente delas, ele é um ávido por conhecer, por explorar, por se permitir abrir-se para outros mundos sem esquecer do seu, sem esquecer de quem é. Essa é a maior mensagem que ele tem para nos passar, a vida é tão curta, passa tão rápido, somos como um sopro no horizonte desértico do Saara, a areia que corre livre nos vendavais desse deserto e, em um segundo, deixa de existir no ar. Não é preciso muito para encontrar o que se procura, a resposta está enterrada dentro de nós, como o poço que acharam no deserto, o segredo para ser feliz é invisível aos olhos, precisamos aprender a olhar com o coração, aprender a enxergar as pequenas coisas da vida que é o que realmente dão sentido ao fato de existirmos.
Então eu volto à pergunta inicial: você vive, sobrevive ou apenas existe? Se você vive, parabéns! Poucas pessoas no mundo (principalmente hoje) podem dar essa resposta, pois estão ocupadas demais com seu próprio mundo para se abrirem a outros planetas, como fez o pequeno príncipe. Se você sobrevive aos dias, esperando um momento oportuno ao invés de criar o seu próprio momento e ser o ator principal da sua vida, ou mesmo se você só existe, vendo a vida passar, com olhos inertes, sem fazer diferença de quanto tempo ainda tem, deveria de verdade ler esse livro.

Outros Quotes:

Há coisas que não posso compreender! Acho que deveria tê-la julgado por seus atos e não por suas palavras. Ela era perfumada e me alegrava. Nunca deveria tê-la abandonado. Deveria ter captado sua ternura por trás de seu jeito rude. Como as flores são complicadas! Mas eu era ainda muito jovem para saber amá-la.” (Página 45)
“Vocês são belas, mas sem conteúdo  disse a elas. Ninguém está disposto a morrer por vocês. Com certeza alguém que passe por aqui pode achar vocês e minha rosa se parecerem.  Mas ela é especial, é para mim mais importante que vocês, pois tratei de regá-la, de protegê-la na redoma de vidro, de abrigá-la com o biombo. Por ela matei as larvas (exceto dias ou três por causa das borboletas).  Eu a vi se queixar e se alegrar, ou mesmo se calar às vezes. Porque é a minha rosa. (Página 100/101)
Adeus!   retrucou a raposa. Eis meu  segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos. (...) É o cuidado que você dedicou a sua rosa que a faz tão especial. (...) As pessoas esquecem essa verdade frisou a raposa. Mas você não deve esquecê-la. Você se torna eternamente responsável por aquilo que cativa. (Página 101)
Eles se preocupam em conduzir rápido os passageiros? Indagou o pequeno príncipe.
Não se preocupam com coisa alguma. Lá dentro, os passageiros bocejam ou dormem. Apenas as crianças espremem o nariz no vidro das janelas.
Só as crianças sabem o que querem. Afirmou o pequeno príncipe. São capazes de perder tempo cuidando de uma boneca de trapos, e isso é tão importante para elas que, se alguém tira delas a boneca, elas choram...
Elas é que são felizes. admitiu.
Estou de acordo   disse o pequeno príncipe. Seja a casa, as estrelas ou o deserto, o que imprime a beleza é invisível! Fico feliz em saber que você concorda com minha raposa.

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