segunda-feira, 11 de abril de 2016

[Tag Escrita] Enredo II e atividade

Oi, pessoas!
Voltando com a tag escrita, vamos aprofundar os passos apresentados no post passado e conversar um pouco sobre a dinâmica do enredo. Como eu falei, enredo é o "recheio" do seu livro, vem como a forma que a história é contada e o que acontece nela. Geralmente, a personagem principal sai de um estado A rumo a um estado B mesmo que ela não perceba isso, é algo que a move rumo a um objetivo. Usando o mesmo esquema do post da semana passada, vamos exemplificar esses passos de forma a torná-los mais claros para que não restem dúvidas.
Para uso dessa exemplificação, vou usar o livro Os Quatro Grandes da diva Agatha Christie. Para quem não lembra, o esquema é o seguinte:
É o mais comum, então, vamos trabalhar com ele. Primeiro observando a dinâmica que fala do enredo de uma maneira geral. Usando o livro como exemplo, nós temos no estado inicial Hastings que pretende fazer uma visita ao seu velho amigo Poirot, esse é o seu objetivo inicial. Ele sabe um pouco sobre o trabalho e a personalidade do melhor amigo, mas toda a sua motivação é revê-lo em uma breve visita e desfrutar da sua companhia. Entra então a complicação, é a apresentação do problema, ao chegar na casa de Poirot, Hastings descobre que ele está de partida em uma viagem para investigar um curioso caso de assassinato que pode estar ligado a uma organização criminosa que age no mundo inteiro, ao apresentar essa complicação, a personagem de Hastings passa por um pequeno conflito interno e se vê na alternativa de voltar para seu estado inicial ou embarcar ao lado do amigo em uma jornada. Ele opta pela segunda opção e a cadeia de fatores e assassinatos que está ligada a essa organização começa a fechar um cerco em torno dele, o que nos leva para o pico do clímax, a introdução é quando Hastings é sequestrado e ameaçado a entregar Poirot caso não queira que sua esposa, Cinderela (sim, esse é o nome dela), passe por uma tortura inimaginável por parte do líder da organização. Essa é a introdução do clímax. A elevação da ação se dá quando a personagem cai na armadilha e leva Poirot para o local combinado, há uma emboscada e ele é levado pelos criminosos. O declínio da ação procede com a explosão do local e a suposta morte do detetive e o dénouement ou desfecho, que é a descoberta do cerco de assassinos e a ligação das mortes com o propósito da organização, esse desfecho do clímax está ligado a resolução do enredo que levará ao estado final, os impactos da experiência da personagem Hastings após tudo que passou física e principalmente psicologicamente. Houve uma modificação da pessoa que ele era no início da história para a pessoa que conclui a história. E isso fecha o livro, olhando desse jeito fica bem simples entender, não é?
Para construir um bom enredo precisamos ter segurança sobre aquilo que vamos escrever, isso nos remete aos posts anteriores da tag, uma pesquisa sólida, uma base competente de quem são suas personagens e de onde você planeja chegar. Uma maneira bem simples de começar é pensar em por que você quer escrever esse livro? Quando a gente pensa em escrever um livro precisamos pensar no que nos torna diferentes das outras pessoas que já fizeram isso antes, do que nós podemos contar de diferente dentro de algo que já foi feito ou do que podemos criar dentro de um mar de possibilidades ainda não exploradas. E não, isso não é fácil como parece. Muitas vezes, os autores fazem uma outline para auxiliar o percurso, quando se perdem tem a possibilidade de voltar ao plano para lembrarem onde queriam chegar, até hoje eu escrevi outlines para serem ignoradas, muitas vezes o que me guia é simplesmente uma cena, eu a mentalizo, muitas vezes esboço, e construo situações que levem até ali considerando a vontade da minha personagem ou a minha, depende do contexto.
Por isso que eu disse no post da semana passada que há personagens que não pedem uma trilogia ou uma saga, o enredo que o autor constrói não permite isso, não abre espaço para tal. Vamos pegar como exemplo a saga Beautiful Creatures, Lena é uma conjuradora que se apaixona por um mortal graças a uma maldição envolvendo antepassados dos dois e cujo desfecho aponta para direções trágicas. No primeiro livro eles se conhecem e ficam a par do que envolve sua relação. No segundo livro há uma quebra da relação por motivos de medo por parte de Lena que começa a ficar sombria. No terceiro livro há as primeiras reviravoltas, a apresentação de uma possibilidade de desfecho para a maldição, o que gerará o clímax do terceiro para o quarto livro onde ocorrerá o desfecho. Mas para isso, foi criada uma série de forma inteligente (como tantas outras) para que a história suportasse uma continuação, o que não é algo simples de se fazer por isso que eu sempre aconselho a finalizar pelo menos dois livros inteiros e únicos antes de se aventurar na construção de um enredo "a longo prazo". Até porque, um dos maiores problemas de tentar isso sem a prática necessária são os furos de enredo (dizer que a personagem é loira no primeiro livro e ela ficar naturalmente morena no segundo), mudanças bruscas na personalidade das personagens e acontecimentos que não tem qualquer ligação com o conflito principal.
ATIVIDADE
Bem, para finalizar esse post, quero que vocês construam um conto, não precisa ser enorme, mas que tenha os princípios do gráfico que foi usado acima e que tenha como objetivo a cena abaixo:

-Não! Por favor, não faça isso!
A voz de súplica da mulher e as lágrimas que escorriam incessantes pelos seus olhos azuis seriam comoventes a qualquer um que não tivesse o mesmo coração frio do qual a figura à sua frente estava munida agora. Ela arrastava o corpo ensanguentado para trás deixando um rastro de sangue no chão, fraca, sem escapatória, sozinha. Não havia por quem gritar, não viria nenhum socorro. A figura travestida de negro avançava com o olhar faminto, a lâmina respingava sangue no chão, seu sangue. O silêncio sepulcral, assim como as paredes repletas de azulejos brancos, eram as únicas testemunhas daquele acontecimento, a lâmina ergueu-se cortando o ar e um segundo deu-se entre o grito de pavor da mulher, o som da carne dilacerada e o silêncio total. A figura fitou o corpo inerte sobre a poça de sangue que escorria por todos os lados, os olhos ainda abertos expressavam um pavor incomensurável. Seu sofrimento terminara.
Um sorriso frio formou-se em seus lábios quando seus olhos ergueram-se na direção da pequena janela retangular sobre o box, o céu estava pálido, o sol caía no horizonte. Virou-se calmamente sem esboçar uma mínima emoção e partiu deixando-a ali, mas não sem proferir suas últimas palavras:
- Toda ação tem uma reação. É mais que física, Mabel. É a lei da vida.

Ou seja, seu conto precisa de uma sequência lógica de acontecimentos que chegue a esse desfecho ou que suceda a uma explicação a esse desfecho. 
Por enquanto é isso! Espero que tenha ficado claro! No próximo post vamos conversar um pouco sobre Erotismo X Pornografia na literatura!


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