Série: Doador de Memórias #3
Autora: Lois Lowry
Gênero: Ficção científica
Ano: 2012
Páginas: 160
Sinopse: Há seis anos, Matty chegou ao pacato Vilarejo. Sob os cuidados de Vidente, um cego que tem uma visão especial, ele amadureceu e se adaptou à nova vida. Agora, espera receber seu nome verdadeiro, que determinará seu valor ali, como ocorre com todos os habitantes. Contudo, algo nefasto está se infiltrando no Vilarejo, e os moradores, antes orgulhosos de receber forasteiros, passam a exigir que as fronteiras sejam fechadas para se protegerem. Por ser um hábil mensageiro, Matty é encarregado de avisar os outros povoados sobre o bloqueio. Sua missão também tem outro grande objetivo: buscar Kira, a filha de Vidente, antes que seja tarde demais. Ele é o único capaz de viajar pela Floresta, que já provocou algumas mortes. O problema é que ela também está se tornando um lugar perigoso para o garoto. Mas muitos dependem de Matty. Então, armado apenas de um poder recém-descoberto, ainda incompreensível e incontrolável, ele se arriscará a fazer o que talvez seja sua última viagem.
Pois é, vou logo avisando que vou spoilar adoidado aqui porque estou com muita raiva. Quando li o primeiro livro dessa série (porque eu queria ler antes de ver o filme, ainda bem), fiquei muito empolgada e, ao mesmo tempo, decepcionada porque não tinha final e eu sabia que o segundo livro era uma história totalmente diferente. Contudo, lá vai eu querendo dar continuidade a série porque é muito boa, gente e a mulher escreve de um jeito que faz você viajar nas páginas enquanto lê!
O negócio é que a série não é linear, são vários pontos do mesmo universo e nenhum deles se fecha. Contudo, nesse terceiro livro pelo menos em parte os dois primeiros se complementam, embora ainda aconteça muita lacuna. O protagonista de O Mensageiro é Matty, o garotinho ajudado por Kira no livro dois, claro que a gente só descobre isso mais pra frente. Ele foi levado para o vilarejo do pai de Kira, Vidente, e criado pelo homem, agora é um jovem educado que vive num vilarejo unido e próspero liderado por Jonas, do primeiro livro, que adotou o nome de Líder. A coisa que mais orgulha Matty é que ele é o único que pode atravessar a floresta que divide o vilarejo dos outros, uma vez que aqueles que se atrevem a atravessá-la nem sempre são permitidos retornar.
O pai de Kira não podia entrar ali de novo. Quando saíra para visitar a filha e retornara para casa com Matty, o homem recebera o aviso da floresta de que não poderia voltar outra vez, ou seria morto. Por alguma razão, Matty é o único para quem a floresta sempre se abre e, por isso, ele é o encarregado de levar mensagens no vilarejo, principalmente quando essas mensagens precisam alcançar além da floresta. Contudo, a paz do lugar parece estar ameaçada e Matty começa a sentir as pessoas à sua volta - gente que ele conheceu durante a vida quase inteira - se tornando estranha e tomando atitudes que vão contra ao ideal coletivo de comunidade, bem comum e democracia instaurados por Jonas.
A primeira coisa que me perguntei nessa parte foi, okay, o Líder é Jonas, onde foi parar o bebê que ele quase morreu tentando salvar no primeiro livro? Não explica isso. Nem se menciona essa criança! Dei até uma pesquisada no quarto e último livro da série e, pelo que entendi, ela vai voltar ao vilarejo de Jonas (ou a um muito parecido com ele) no primeiro livro e contar uma história totalmente diferente que nada tem a ver com essas três até agora com exceção de se passar no mesmo mundo distópico.
Bem, voltando a história, uma petição chega ao Líder para fechar as fronteiras do vilarejo e impedir que novos "refugiados" de outros lugares entrem, muito triste com a decisão, Jonas acaba tendo que honrar sua liderança democrática e aceitar a decisão da maioria, cabe a Matty atravessar a floresta e colar cartazes sobre a restrição de entrada, mas sua principal missão é levar Kira, a filha de Vidente, para morar com o pai. Nesse entremeio, Matty descobre do dom que tem de curar, mas Jonas o adverte que não deve desperdiçá-lo, pois precisará dele mais tarde. Inclusive, o próprio dom de Jonas é revelado nesse livro, no primeiro a gente sabe que ele tem a função de receber as memórias do doador, suportá-las e quando atravessa a barreira do lugar onde morava todas essas memórias são libertadas, mas não se falava sobre seu dom de "ver além".
Quando realiza sua entrada na floresta, Matty descobre de cara que tem algo diferente, ela está se fechando a sua volta, repelindo-o, sair dela pode até não ser impossível, mas voltar para casa provavelmente será e isso o preocupa. Ele descobre um pouco mais do dom de Kira, de "bordar o futuro", e se oferece para curar a perna dela, mas a jovem recusa. Na empreitada de volta ao vilarejo, a floresta parece ainda pior do que estava quando Matty a atravessou para chegar à Kira, Jonas sabe que o lugar não vai permitir que eles atravessem e sai do vilarejo para salvá-los, porém a floresta também começa a repeli-lo, vendo-se prestes a morrer, ele consegue alcançar Kira com sua mente e pede que ela diga a Matty para usar seu dom.
O menino já sem forças coloca as mãos na lama e começa a curar a floresta e todas as pessoas no seu vilarejo, mas o esforço exige demais dele por ser um lugar muito grande e muitas pessoas e ele morre no processo. Jonas consegue chegar a Kira e ao cadáver do garoto e dá a ele o que ele tanto queria, seu verdadeiro nome. Ponto. Não explica o que rolou na floresta, porque ela era "mágica", não diz nada sobre o bebê que Jonas salvou, não diz o que tava rolando naquela feira de troca que o povo começou a agir feito louco, mostra só um pouco do que aconteceu com as pessoas no vilarejo e pronto. Fim do livro e da minha sanidade. Sabe a sensação que dá com o final? A de que não tem esperança mais, sabe? Que não importa o quanto a gente tente construir uma sociedade igualitária que vise o bem comum, isso sempre vai acabar errado, sempre vai resultar na morte de gente inocente.
A coisa bacana dessa série é que o mundo nela é um espelho do nosso, nos apresenta possibilidades e furos nessas possibilidades que a gente imagina do "mundo perfeito", uma vez que o problema não é o mundo, mas nós. Ela nos leva a refletir sobre o nosso papel na sociedade, na vida das outras pessoas, o significado real de coisas como liberdade, diversidade, democracia, entre tantos outros, mas o sentimento de desesperança desse livro me tirou até a vontade de ler o próximo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Ao comentar seja sempre respeitoso à opinião do outro. Nem todo mundo pensa como você e a diversidade existe para isso. Exponha suas ideias sem ofender a crença ou a opinião de ninguém. Comentários com insultos ou discriminação de qualquer natureza serão excluídos.