Original: TINTENHERZ
Autora: Cornelia Funke
Gêneros: Romance, Literatura infantil, Fantasia, Mistério, Bildungsroman, Literatura fantástica, Ficção de aventura
Páginas: 456
Sinopse: Há muito tempo Mo decidiu nunca mais ler um livro em voz alta. Sua filha Meggie é uma devoradora de histórias, mas apesar da insistência não consegue fazer com que o pai leia para ela na cama. Meggie jamais entendeu o motivo dessa recusa, até que um excêntrico visitante noturno finalmente vem revelar o segredo que explica a proibição.
É que Mo tem uma habilidade estranha e incontrolável: quando lê um texto em voz alta, as palavras tomam vida em sua boca, e coisas e seres da história surgem como que por mágica. Numa noite fatídica, quando Meggie ainda era um bebê, a língua encantada de Mo trouxe à vida alguns personagens de um livro chamado Coração de tinta. Um deles é Capricórnio, vilão cruel e sem misericórdia, que não fez questão de voltar para dentro da história de onde tinha vindo e preferiu instalar-se numa aldeia abandonada. Desse lugar funesto, comanda uma gangue de brutamontes que espalham o terror pela região, praticando roubos e assassinatos. Capricórnio quer usar os poderes de Mo para trazer de Coração de tinta um ser ainda mais terrível e sanguinário que ele próprio. Quando seus capangas finalmente seqüestram Mo, Meggie terá de enfrentar essas criaturas bizarras e sofridas, vindas de um mundo completamente diferente do seu.
Não lembro a razão de ter me interessado em ler Coração de Tinta, assisti o filme na sessão da tarde faz mais de dez anos porque eu até esqueci quando parei de ver televisão! Mas surgiu a curiosidade de lê-lo e dei uma chance para Cornelia Funke, não lembro nada do filme além do fato que é com o Brendan Fraser, então a leitura foi bem desprendida e livre para que imaginasse cada detalhe sem referências.
O livro acompanha Meggie, uma adolescente de doze anos que vive com o pai, Mortimer (carinhosamente apelidado de Mo) um encadernador de livros. Sua mãe foi embora quando ela tinha três anos, de modo que a menina não lembra praticamente nada sobre ela além das coisas que o pai lhe conta. Em alguns momentos, Maggie chega a desconfiar se a mulher que o pai lhe descreve realmente existiu. Eles se mudam com frequência e, no momento, estão vivendo um uma espécie de sítio e tudo vai bem até, certa noite, a menina ver um homem estranho parado do lado de fora da casa sob uma pesada chuva.
Assustada, ela vai até o quarto do pai e lhe conta sobre o que vira, Mo ordena que ela volte para a cama e desce para receber o estranho. Claro que a garota não obedece ao pai tendo desde já um pressentimento ruim com relação àquele homem, ao espiar ela escuta Mo chamá-lo de Dedo Empoeirado enquanto este o chama de Língua Encantada, sem entender nada ela se empenha em ouvir o que eles dizem, mas não obtêm sucesso e ainda naquela madrugada o pai decide que os dois precisam ir embora.
Ele não explica para a filha do que estão fugindo e nem quem é aquele estranho. Contudo, a fuga não dá certo porque Dedo Empoeirado os surpreende e acaba indo de carona. Ele conta a Meggie sobre um ser chamado Capricórnio que persegue o pai dela por alguma razão - talvez o livro que ele mantêm escondido dela -, mas Mo não permite que ele entre em muitos detalhes. Eles partem juntos então para a casa de Elinor que é uma tia da mãe de Meggie.
A mulher, uma apaixonada por livros antissocial e praticamente eremita, não gosta muito de crianças e de cara não gosta nada de Dedo Empoeirado. Mo se hospeda com ela sob a incumbência de cuidar de seus livros raros necessitados de reparo. O fato de Elinor morar em uma propriedade privada afastada de tudo era só um detalhe. Porém, as coisas não saem como o esperado e os homens de Capricórnio, com a ajuda de Dedo Empoeirado, capturam Mo e o levam da casa.
Determinada a encontrar o pai, Meggie e Elinor partem, junto com Dedo Empoeirado, rumo à vila de Capricórnio para recuperar Mo usando o livro que ele achava que havia levado, mas que Elinor mantivera consigo. Meggie se inteira de toda a história envolvendo o pai e o sumiço de sua mãe, além das estranhas figuras que parecem ter saído do misterioso exemplar de Coração de Tinta, mas para vencer Capricórnio eles vão precisar de muito mais que coragem e, depois de conseguir buscar Mo, eles vão em busca de Fenóglio, o criador do livro.
Dedo Empoeirado quer voltar para seu livro, Mo quer a esposa de volta, Meggie quer o pai em seguraça, Elinor quer vingança pelos seus livros e Fenóglio quer conhecer suas criaturas, quando ler um livro pode se tornar uma armadilha mortal, eles vão juntar forças para derrotar o que poderia ser um dos vilões mais cruéis já criados em sua literatura.
O livro foi bem diferente do que eu imaginava, mas a surpresa foi boa. Funke escreve de uma forma que é difícil parar de ler. Mesmo nas partes que os capítulos parecem se arrastar você se vê mergulhada no livro sem conseguir tirar a cabeça do que poderá vir na página seguinte. É um livro para descobrir o prazer pela leitura e a curiosidade pela escrita, todo o processo de um livro é mostrado de forma implícita o que torna Coração de Tinta quase um manual para escrever uma boa trama.
Em alguns pontos a história me lembrou o drama W - Dois Mundos que pode sim ter sido inspirada nesse livro. As personagens são interessantes e apesar de ter achado Meggie meio chata achava a relação dela com o pai um amorzinho. A personagem que mais gostei certamente foi Elinor, além de ser muito bacana ver como o dom da garota vai se desenvolvendo aos poucos, era com Elinor que eu tinha as partes mais engraçadas e me identificava mais na história.
Uma das coisas muito bacanas nesse livro é que ele responde o grande "e se" de muitos leitores quando se imaginam dentro de seus livros favoritos ou quando imaginam como seria trazer um de seus personagens à vida, além de mostrar o ponto de vista dessas personagens de uma forma muito interessante. Embora seja considerado um livro infantil, não sou muito de acordo ler isso para uma criança, mesmo usando de uma violência velada tem umas partes realmente sinistras na história. Além do fato de ser um livro bem grande (não sei se porque eu li em ebook ou se porque ele é grande mesmo).
Concluindo, gostei muito da história em si, de todas as reviravoltas de suas personagens cheias de camadas, das reflexões que ele nos incute tanto sobre a natureza humana em si quanto sobre o processo da criação literária. Mais que recomendado para aqueles que amam os livros, para os que desejam se aventurar a criá-los e para os que ainda não descobriram a magia por dentro de suas capas.
Adaptação Cinematográfica
Original: Inkheart
Direção: Iain Softley
Ano: 2008 (Brasil)
Roteiro: DAVID LINDSAY-ABAIRE
Sinopse: Mo Folchart (Brendan Fraser) e sua filha Meggie (Eliza Bennett), de 12 anos, são apaixonados por livros. Desde pequena Meggie teve o hábito de leitura estimulado pelo pai, que trabalha como encadernador de livros. Além disto eles têm o poder de trazer à vida personagens dos livros caso o leia em voz alta, só que sempre que isto acontece uma pessoa real é inserida nos livros. Até que um dia, ao passear por um sebo, Mo ouve vozes de "Coração de Tinta", um livro que não lhe traz boas recordações. Sua história possui castelos medievais e estranhas criaturas, com este universo tendo aprisionado a mãe de Meggie quando ela tinha apenas três anos. Mo sempre desejou encontrar o livro e salvar a esposa, mas agora precisa lidar também com o sequestro de Meggie por Capricórnio (Andy Serkis), que deseja dar vida a diversas criaturas malignas.
Como era de se esperar de uma adaptação cinematográfica, já fui rever com a consciência de que seria bem pouco fiel à obra original o que, nesse caso, não é de um todo verdade. Apesar de ter muita coisa que foge do livro, Inkheart até que se mantem fiel ao seu livro, claro, os eventos precisaram ser bem reduzidos porque afinal é um livro de quase quinhentas páginas espremido em uma adaptação de uma hora e pouco, então algumas personagens foram cortadas tal como alguns eventos, outros foram suprimidos em um evento só, mas as cenas principais continuam lá.
No que diz respeito às personagens não achei que houve uma mudança muito brusca na personalidade deles, a história de Dedo Empoeirado talvez tenha sido a que sofreu mais modificações, Brendan Fraser entra muito bem no papel de Mortman e Andy Serkins oferece um Capricórnio meio caricato, mas ainda assim crível. Não vou me estender muito porque eu não entendo nada de cinema para ficar dando pitaco. Algumas cenas foram completamente criadas para o livro como o torado do Mágico de Oz e o aparecimento de Totó (já que no livro quem Meggie tira das páginas é Sininho).
O final de ambos também é diferente, acredito que por não existirem planos de produzir a continuação, já que é uma trilogia, eles decidiram dar um final fechado para as personagens, desse modo, temos dois desfechos o que eu achei bacana, teria sido meio que uma resposta para o "e se terminasse no primeiro livro?". Dessa forma, acho que Inkheart é um bom entretenimento sim e funciona como um resumão de sua obra, mas com um fim original.