quarta-feira, 13 de abril de 2022

[Livro] Crisálida

 

Autor: Andressa Tabaczinski

Ano: 2019

Gênero: Crime Mistério Mistério, Thriller e Suspense, LGBT

Páginas: ‎ 277

Sinopse: Quando o corpo de Amélia Moura é encontrado após ser desenterrado em uma forte chuva, a polícia percebe que cometeu um erro. O caso, que tinha sido arquivado precocemente, tem que ser reaberto. Amélia não fugira como todo mundo havia pensado. Marcas de esganadura indicam que alguém a queria morta — e conseguiu.

Agora, a delegada Ana Cervinski e o policial Júlio Bragatti estão à procura do assassino da filha de um influente deputado estadual de Curitiba. Para isso, terão que investigar suas últimas semanas e descobrir segredos que alguém preferia que ficassem ocultos.

O motivo de eu ter colocado Crisálida na minha lista de leitura é porque tenho vontade de ler mais autores nacionais, mas Deus sabe que os livros nacionais custam bem mais caros que os gringos, infelizmente, e muitas vezes a gente não acaba apoiando um autor pela verba e não pela falta de vontade. Por sorte, peguei esse livro de graça na Amazon (toque da própria autora no skoob, por sinal!) e não perdi tempo.

A história começa com um casal de irmãos pegando um atalho para chegar em casa e encontrando, após um forte temporal, o corpo de uma jovem mulher parcialmente enterrado. Já no dia seguinte a notícia já está em todos os veículos de comunicação e a terrível verdade vêm à tona para a delegada responsável pelo caso, Ana Cervinski: trata-se de Amélia Moura, a filha de um deputado da cidade de Curitiba.

Quando a garota desapareceu, de forma muito suspeita a família dela fez de tudo para encerrar as investigações e dar a  entender que Amélia apenas tinha fugido para viver sua vida em outro lugar. Ovelha negra de uma família rígida que vivia de aparências, Amélia era professora de literatura, dividia um apartamento com uma das funcionárias de seu noivo e, ao contrário do irmão, era a dor de cabeça dos pais.

Imediatamente a investigação é reaberta e as críticas contra o trabalho da polícia na época do desaparecimento começam a chover sobre a delegada e sua equipe. Para contornar a situação, Ana é afastada do caso e substituída por um delegado que gosta de empurrar as coisas com a barriga e puxar o saco dos superiores, algo que a delegada nunca fez.

Sozinha e tendo de lidar com seus próprios demônios, a vida de Ana parece piorar ainda mais quando seu pai sofre um AVC e é internando, deixando a mãe, com Alzaimer, aos seus cuidados. Presa em uma espécie de apatia, ela é trazida de volta pelo seu irmão mais novo, Ariel, que lhe propõe investigar o caso por conta própria e, para isso, ela conta com a ajuda de Júlio, seu colega de trabalho.

Paralelo a investigação que ocorre no presente, somos transportados ao passado para a vida da jovem Amélia, presa em um mundo de aparências, tentando se encaixar numa família disfuncional e corrupta, com um noivo que não ama e com quem não se sente bem até o momento crucial que muda toda a sua vida: seu encontro com Luana.

De início, ela diz a si mesma que é apenas coisa da sua cabeça, enquanto volta a tentar manter o mundo que conhece com as rígidas paredes de marfim intactas, mas ela sabe que aquele encontro destinado abriu fendas que nunca mais se fechariam novamente no seu mundo. Contudo, filha de um pai intolerante, membro da bancada evangélica e atolado em corrupção, uma mãe que só cobra e não entende, vivendo num mundo de aparências e um irmão de quem nunca foi muito próxima, não é de admirar que a liberdade que Luana oferece represente, ao mesmo tempo, um receio e uma oportunidade para a jovem professora.

Mas muito além disso, é com Luana que Amélia começa a se descobrir de verdade, desvendar-se de cada parte de si e experimentar a felicidade em todas as suas ramificações e, lentamente, conquistando a coragem de sair da crisálida da sua vida engessada na qual não se encaixava, para assumir sua verdadeira identidade.  Uma batalha interna realmente difícil e que não teve, como sabemos desde o início do livro, um desfecho favorável para ela.

Enquanto isso, Ana, Ariel e Júlio se embrenham na lama da família Moura na tentativa de enquadrar Rafael Salvattori, o noivo de Amélia e principal suspeito do assassinato. Contudo, enquanto seus pescoços correm sério risco de serem partidos, eles vão acabar desenterrando segredos da caixa de Pandora que é a família de Amélia.

Como disse na resenha do instagram, não gostei de Amélia, ela tem tudo que eu mais detesto numa personagem, aquele tipo de mulher que vive para agradar um homem escroto porque não é capaz de viver por si mesma. Juro, eu odeio personagens que precisam de homem para se validar. Uma coisa é você ter certa dose de fragilidade, outra é você se anular em função de outra pessoa. Okay, o contexto dela contribui para esse pensamento, até certo ponto eu consigo entender, mas que dava raiva ela se sujeitando a ele, isso dava.

Em alguns pontos, a leitura pode até soar um tanto subversiva dependendo da maneira como você a encara. Mesmo sendo bem construída, não tinha como eu não achar alguns aspectos da Amélia e mesmo de outras personagens bem forçados. Mas o suspense constante do livro torna esses detalhes até irrelevantes quando somos completamente sugados pela atmosfera sempre tensa da história levantando hipóteses sobre quem matou Amélia e por que. E nesse aspecto posso dizer que a Andressa não deixa em nada a desejar.

Inclusive, a montagem da estrutura desse livro se parece bastante com o romance americano Reconstruindo Amélia no fato de intercalar o presente com a história da protagonista narrada no passando montando, lentamente, o quebra cabeça que culminou na sua morte. Fiquei bem surpresa com a revelação do assassino, confesso que não esperava que fosse aquela pessoa de jeito nenhum o que mostra que a autora foi brilhante na montagem do seu enredo e na construção das suas personagens.

O livro ainda traz algumas discussões como a homofobia, a hipocrisia religiosa, a corrupção generalizada, violência contra a mulher, relacionamentos abusivos e os conflitos familiares e é bem interessante como é o segundo livro que leio nessa mesma semana abordando a problemática das famílias disfuncionais e como elas refletem em crianças e adultos com diversos distúrbios de personalidade. Sem contar que, para pessoas um tanto mais sensíveis, a história aborda temas sensíveis e é preciso ter um pouco de cuidado.

Fiquei bem surpresa por gostar tanto da história, minhas outras tentativas de encontrar literatura nacional contemporânea não foram exatamente um sucesso. Recomendo demais Crisálida para todos aqueles que são apaixonados pelo gênero suspense e mesmo para aqueles que já tentaram ler outras vezes e não conseguiram ir muito longe, é uma excelente aposta para começar. Andressa promete ser um frescor revigorante no suspense nacional e aguardarei ansiosa outros romances dela já que meu contato com o Rafael Montes, por três vezes, não deu certo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Ao comentar seja sempre respeitoso à opinião do outro. Nem todo mundo pensa como você e a diversidade existe para isso. Exponha suas ideias sem ofender a crença ou a opinião de ninguém. Comentários com insultos ou discriminação de qualquer natureza serão excluídos.