sábado, 11 de outubro de 2025

[Bíblia] Eclesiástico — Parte Final

 O capítulo 38 apresenta uma visão mais evoluída da ação de Deus, deixando claro que ele é quem cura, sim, mas o faz por intermédio daqueles a quem deu inteligência para tratar as doenças e os remédios — manipulados pelo homem a partir da natureza — isso muda um pouco a visão “milagrosa” da ação divina a partir do nada, embora ela permaneça como tal em alguns momentos.

Mais de dois mil anos atrás já se alertava sobre a duração da tristeza (no luto e demais momentos da vida) que poderia levar a uma doença, hoje conhecida como depressão. “Pois a tristeza apressa a morte, tira o vigor (saúde)”. Não é a primeira vez que a bíblia alerta do impacto dos sentimentos sobre o corpo e, tampouco, é coincidência ela lembrar e repetir constantemente para “alegrar-nos”.

No capítulo 39, a comparação entre o sábio e o trabalhador é muito egípcia, colocando um trabalho acima do outro, hierarquizando a sociedade em colunas.

·        A benção dele é como um rio que transborda

Pode ser uma alusão ao rio Nilo, cujas cheias fertilizavam a terra, mas pode também estar ligado ao dilúvio que alguns estudiosos acreditam ter sido uma grande enchente do rio Eufrates.

·        Assim como ele transformou as águas em aridez e ressecou a terra, e o seu comportamento é determinado pelo deles, assim, em sua ira, seu comportamento é movido de queda para os pecadores.

Alusão a destruição de Sodoma e Gomorra onde, inclusive, passa o mar morto. A região até hoje é árida, um chamado deserto de sal.

·        Fogo, granizo, fome e morte, tudo isso foi criado para vingança.

Essa passagem foi tirada de um livro apócrifo que circulava na época chamado Testamento de Levi; neste, afirmava existirem sete céus e, no segundo, existiam fogo e gelo para o juízo final. Então, é uma influência desse livro que não é reconhecido pela igreja nem entrou no cânone da bíblia.

O medo, as preocupações, as aflições e inquietações são parte da condição humana independente da classe social. É fruto do pecado original (a desobediência) e de tudo que ele desarmonizou em nós. O temor a Deus é o que dá sentido à nossa vida. Quem põe a confiança no Senhor não teme a morte, pois não vive para o mundo, mas para a alma entregue a Deus, o castigo é uma consequência das nossas ações e não uma punição de Deus.

É muito interessante como é possível fazer alguns intertextos entre a filosofia e a visão cristã da alma, da vida de retidão e da morte. Embora vistas muitas vezes como vertentes distintas — e, de fato, o são — minha leitura de Fédon mostra que a visão de Sócrates sobre a alma, a retidão e a morte (uma passagem para a eternidade) são muito afins com o ensinamento bíblico desde antes da era Cristã. O próprio Pe. Juarez reforça que, na formação teológica dos padres, a filosofia é um componente curricular, além de reforçar o próprio preceito bíblico sobre estarmos abertos a todo o conhecimento como forma de consolidar nossa própria fé.

O eclesiástico faz uma espécie de releitura da lei judaica em um momento de crise da fé pela influência helênica e, salvo sua visão retrógrada em alguns pontos, é indiscutível que ele faz um grande resumo das leis e dos primeiros profetas.

A partir do capítulo 46, o autor compõe um grande elogio aos antepassados indo desde os primórdios antes dos patriarcas até os últimos reis justos e os profetas, com isso, fazendo um grande resgate histórico de toda a história do povo. Caleb foi, junto com Josué um dos doze espiões enviados por Moisés para averiguar a terra prometida e, por serem os únicos a agir com otimismo, ao contrário dos outros dez, foi-lhe permitido entrar com o povo. O nome de Salomão significa paz.

A “volta de Elias” se dá no nascimento de João Batista. O Josué citado por Bem Sirac é o sumo sacerdote que reorganiza o templo e o culto quando o povo volta do exílio e não o Josué que sucedeu Moisés. É provável que o autor tenha convivido com o sumo sacerdote Simão, último da linhagem de Sadoc e o admirasse bastante. O livro finaliza com uma oração do autor e uma reflexão da busca da sabedoria. Na bíblia, buscar sabedoria é buscar a Deus.

O Eclesiástico evoca muito os conselhos de um pai que guia o filho a se guardar dos prazeres passageiros do mundo e cultivar tesouros na eternidade, ver as aulas do Pe. Juarez me fez ler o livro com muito mais clareza e me dar conta de complexidade e riqueza cultural e histórica.

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