terça-feira, 23 de setembro de 2025

[Bíblia] Eclesiástico — Parte II

Desde já, o texto reforça algo que Cristo pregará com palavras e ações: ações injustas contra os pobres e o povo são ações contra Deus. “Em tudo que fizerdes lembra do teu fim e jamais pecarás”. Inclusive, há o conselho de não censurar ou apontar os pecados alheios porque nós também somos pecadores.

Como todos os livros do antigo testamento há passagens que podem soar bem “problemáticas” para nossos ouvidos, por isso é preciso contemporizar que essa é uma visão machista e antiga que vê a mulher como um objeto e fonte de pecado. A bíblia vai evoluindo e a visão também, Cristo coloca homem e mulher lado a lado. Vale lembrar que esse livro é um alerta aos judeus que viviam no meio da influência grega para que não se distanciassem dos valores e das leis de Deus.

O orgulho é a raiz de todo pecado. Quando, no paraíso, o homem pecou o fez por orgulho, por renegar a Deus, querer se igualar a ele. Tal é a sociedade pecadora da atualidade, um mundo que renega Deus. Muitos dos ensinamentos desse livro serão, posteriormente, mencionados nas cartas de Paulo. Fica claro no decorrer da leitura que o autor é alguém que confia pouco nas ações humanas colocando toda sua fé na providência divina.

Ele volta a bater na tecla da riqueza criticando aqueles que vivem para acumular, dedicando a vida inteira a isso esquecendo a própria finitude. Não é que Deus julgue o dinheiro como algo ruim, mas é o que essa riqueza provoca no coração e no caráter do homem. A verdadeira riqueza é desfrutar a vida com quem amamos, ter o necessário é suficiente, pois nada se leva desse mundo. E, por isso também, o autor critica quem faz distinção de pessoas por sua aparência. A pessoa soberba não é capaz de ver a providência divina, pois acredita que tudo vem por si mesmo quando, na verdade, tudo que acontece na vida vem de Deus.

O capítulo 12 vem falar sobre a prática do bem e o verdadeiro amigo. Até aqui, nota-se que nesse livro o “fazer o bem” é algo muito seletivo, voltado apenas para os amigos e, mais uma vez, é preciso contextualizar a época em que foi escrito. Ao dizer que não se deve fazer o bem ao inimigo e ao pecador — mas deixar Deus puni-los — Ben Sirac se refere aos gregos, eles eram, nessa época, os “inimigos” dos judeus. Por isso, o autor orienta a não fazer o bem ao inimigo, contrariando o ensinamento de Cristo que mais tarde ensina que se deve amar os inimigos.

Num segundo momento, fica muito claro que só conhecemos os amigos no momento do sofrimento. O perigo da bíblia é ler e tirar o texto do seu contexto, isso é usado como pretexto para fazer o mal, não devemos ler os textos, especialmente da velha aliança, sem compreender o período e o intuito em que foram escritos.

Faz-se uma descrição duríssima da realidade. O rico finge amabilidade para sugar o pobre até a última gota e a palavra critica com dureza o orgulho do rico, fazendo um alerta para nos afastarmos de pessoas orgulhosas. Essa comparação entre rico e pobre já era abordada nas fábulas de Esopo, escritas antes do Eclesiástico.

O rico nunca vai ver o pobre como seu semelhante. Aquele que se torna amigo do rico carrega o fardo dele e na necessidade será por ele abandonado. Contudo, vale lembrar que essa é uma constatação da realidade, não um ensinamento da bíblia. A vinda de Cristo muda essa visão, mostrando qe ricos e pobres, justos e pecadores, podem sim conviver em harmonia.

No capítulo 14 volta a questão do acúmulo de riquezas e da condenação à avareza, esse ponto e o cuidado com a língua são dois tópicos muito repetidos no livro. Então vem a questão do livre arbítrio que é a liberdade concedida ao homem de escolher o caminho que quer seguir. Deus dá a orientação, mas somos nós que tomamos a decisão e sofremos as consequências dela. Tudo pode ser reparado desde que haja comprometimento e arrependimento sincero. E aqui entra a questão da justiça divina. Ao mesmo tempo que Deus é misericordioso, é igualmente justo, e dará a cada um conforme suas ações.

Um exemplo são aqueles que não entraram na terra prometida, a destruição de Sodoma e Gomorra, etc. Deus vai retribuir o bem e o mal que fazemos, ninguém se esconde do Senhor! Por isso, é preciso escolher o bem e a justiça enquanto se vive nesta terra, pois após a morte nada mais há de ser feito, será apenas prestação de contas. A grandeza de Deus é incompreensível à razão humana, como nada somos, precisamos constantemente da sua misericórdia e, após tomar consciência real disso, da nossa insignificância, conseguimos observar melhor nossas atitudes e viver segundo a vontade daquele que nos deu a vida.

Volta-se à questão da língua e de como é melhor ouvir mais e falar menos, evitando fofocas, preconceitos e pré-julgamentos, além da necessidade de corrigir aqueles que vivem no erro, aconselhando-os. Essa parte tem uma grande influência dos filósofos da época, por isso há grande semelhança com alguns provérbios filosóficos de pensadores da região asiática. Por exemplo:

Ø O tolo fala muito, o sábio fica mais calado;

Ø A mentira é a pior das artimanhas do ser humano;

Ø O silêncio nem sempre é a prova de sabedoria, podendo ocultar estupidez;

Ø A recompensa do bem feito é o ato, ele não espera retribuição;

Ø A desgraça às vezes traz benefícios como a sorte pode trazer o mal;

Ø A justiça não coaduna com a violência, é inútil tentar fazê-la por esse meio.

segunda-feira, 22 de setembro de 2025

[Livro] O Amor é Seu Destino

 Original: Rafferty's Bride

Autor: Mary Burton

Ano: 2003

Páginas: 219

Sinopse: A Vingança era sua missão. O amor era seu dever. Nenhuma mulher conseguira despertar um desejo tão intenso em Travis Rafferty quanto a enfermeira da guerra civil, Meredith Carter. Ainda assim, quando ele tentou escapar do campo de prisioneiros, ela o traiu. Agora, anos depois, o desejo de vingança o levava de volta ao Oeste. E desta vez, Meredith não escaparia... Meredith precisava convencer Travis de sua inocência. Mas como poderia fazê-lo se reagia de forma tão intensa à sua proximidade? Cuidar de seus ferimentos e ficar com ele era a única maneira de provar que jamais seria capaz de trai-lo, pois, se fizesse isso, estaria traindo seu próprio coração.

Dois anos atrás, Travis ficou preso em uma cela com seus companheiros de regimento sob a mira dos rebeldes, mas recebeu auxílio para um amigo ferido da esposa de um rebelde. Contudo, o ferido deixou escapar sobre o plano de fuga e a emboscada levou embora vários dos amigos de Travis que jurou vingança contra Meredith Carter. Da sua parte, Meredith nunca traiu a confiança daqueles homens, mesmo não sendo simpatizante da União, sua missão era salvar vidas independente do que essas vidas defendiam. Assim, quando soube que a fuga deu errado, teve certeza que Travis viria atrás dela um dia tirar satisfações, mesmo não tendo sido culpa dela o fracasso da empreitada.

Dois anos mais tarde, ali estava ele na sua cozinha, com um mandado de prisão para levá-la de volta a Washington onde enfrentaria um julgamento como traidora. Não importa quantas vezes tente dizer a ele que nunca fez mal a nenhum dos seus homens, Travis não está disposto a acreditar em nada, mas nem mesmo ele contava com dois homens tentando matar a mulher que ele planejava levar à justiça e, no embate, ele é baleado, ficando sob os cuidados da sua inimiga e sem conseguir controlar a atração intensa que sente por ela.

A convivência forçada e as circunstâncias acabam aos poucos fazendo Travis duvidar se seu ódio por Meredith realmente tem algum fundamento, primeiro porque ela não mede esforços para mantê-lo vivo, segundo porque alguém tão querido na região não pode ser um traidor de sangue frio responsável pela morte de tantos homens. Ainda assim, seu senso de justiça sempre se sobrepõe a sua razão mesmo quando todos os seus instintos são empurrados contra o fato de que aquela mulher pode ser inocente e ele odiou a pessoa errada durante os dois últimos anos.

Olha, só de não ter sido o típico romance tóxico com macho escroto já valeu muito. Esses livros amam romantizar um estupro, então, foi um alívio ler uma história de consentimento e sem violência desnecessária ou abuso disfarçado de cuidado. Não que eu esteja isentando Travis de todas as culpas, ele foi idiota em boa parte dos momentos sim, mas pelo menos de uma forma respeitosa. Confesso que achei o desfecho bem óbvio, metade do livro já estava bem claro quem era o verdadeiro culpado, nenhuma surpresa, se algo me deixou levemente surpresa foi o motivo por trás da traição, embora ele seja humano o suficiente para soar bem plausível.

A lenga lenga desnecessária do "você não confia em mim, como podemos ser felizes?" pelo menos durou pouco o suficiente para minha paciência não esgotar. Não achei o livro fantástico, mas é o tipo de história que eu pegaria de novo num domingo de chuva que eu só quisesse ler algo pra passar o tempo. É bem aquele tipo de romancinho de banca que já estamos acostumadas e vacinadas desde a época da escola. Em vista de outras atrocidades que já li dentro desse nicho, esse foi bom.

[Livro] Por que Não pediram a Evans? (+Adaptação)

 Original: Why Didn't They Ask Evans?

Autor: Agatha Christie

Ano: 1934

Gênero: Suspense, crime, mistério

Páginas: 288

Sinopse: Após uma tacada especialmente ruim, Bobby Jones lança sua bola de golfe em um precipício. Ao procurá-la, encontra um homem acidentado que parece estar em seus momentos finais. Pouco antes de morrer, o moribundo abre os olhos e proclama suas últimas palavras: “Por que não pediram a Evans?” Assombrados pela pergunta, Bobby e sua amiga Frankie tentam descobrir quem é Evans e o que exatamente não lhe foi pedido. Porém, os dois logo percebem que, por mais que não sejam detetives profissionais, os perigos dessa investigação são muito reais…

Embora seja engenhoso como todos os livros de Agatha ou, a meu ver, boa parte deles, Por que não pediram a Evans não conseguiu me prender. Já entendi que não sou muito fã das histórias sem Poirot, e embora esse livro trabalhe bem com o tema de mistério intrincado, personagens interessantes e alguma ação, a história em si não me agradou muito e achei o vilão até bem óbvio demais no fim das contas.

Conta a história de Bobby que, em uma partida de golfe, acaba ouvindo um grito e quando sua bola cai em um precipício ele acaba encontrando o corpo de um homem que, possivelmente, caiu por não enxergar o trecho coberto pela neblina. O amigo de Bobby, médico, diz que o sujeito não tem mais salvação e vai atrás da polícia, deixando o jovem na vigília do morto. Contudo, Bobby havia prometido ao pai, vigário, que tocaria órgão na missa das seis da tarde e quando um estranho de passagem aparece se oferecendo para tomar seu lugar de carpideira, ele cede e vai ao seu compromisso.

É sabido no dia seguinte, no inquérito, que o sujeito era um homem viajante, a irmã e o cunhado vão reconhecer o corpo, mas Bobby, junto à sua amiga Frankie, desconfiam que há mais por trás daquela história do que aparentam as coisas. Eles começam então a investigar, usando subterfúgios e disfarces, as pessoas possivelmente envolvidas na morte do sujeito que, no fim, não era quem o casal que o reconheceu diziam ser. Enquanto se envolvem mais no mistério por trás, não apenas dessa, mas de outras mortes relacionadas a ela, Frankie e Bobby podem acabar entrando de cabeça num campo muito perigoso que vai pôr em xeque suas vidas e seus sentimentos.

Demorei bem mais do que gostaria pra terminar de ler, isso por si só já é prova que o livro não engajou no meu caso. A revelação da outra vilã da história só tornou tudo ainda pior, não porque eu não desconfiei dela, já tô mais que habituada à tia Agatha me fazendo de trouxa, mas porque pra mim não fez muito sentido e toda a história da resolução do caso ter sido explicada numa carta do próprio vilão só deixou a coisa toda com mais cara de "E Não Sobrou Nenhum". Sei lá, não consegui comprar a história. O livro é ruim? Não. Mas já li melhores dela. Pra quem gosta, fica aqui meu cumprimento. Feliz que a tua experiência foi melhor que a minha.

Adaptação de 1980

Direção: John Davies, Tony Wharmby
Lançamento: 30 de Março de 1980
Duração: 3h 58min

Essa adaptação é bem fiel ao livro, os acontecimentos, a ordem e os personagens são tal e qual foram escritos por Agatha. Para um fã do livro não há frustração com isso! Queria que todas as adaptações fossem tão fiéis quanto! Houve pouquíssimas mudanças no roteiro em relação ao livro, mais para perto do final algo que eu achei desnecessário, mas entendi que, para uma obra audiovisual fez muito sentido. Algo que não gostei muito foi não terem mostrado o epílogo direito, com Bobby e Frankie se resolvendo de verdade, ainda assim, achei a adaptação boa, se comparada com outras que já vi. Atuações muito boas e incrível como um filme da década de 80 consegue dar rasteira em muitos da atualidade. Pra quem tem preguiça de ler o livro, fica aí uma adaptação que vale a pena.

sexta-feira, 19 de setembro de 2025

[Filme] Paixão de Aluguel

Original: The Perfect Man

Ano: 2005

Diretor: Mark Rosman

Autores: Michael McQuown, Heather Robinson, Katherine Torpey

Gêneros: Romance, Comédia, Comédia romântica, Infantil, Melodrama, Drama, Adolescente, filme familiar

Sinopse: Toda vez que Jean rompe um relacionamento amoroso, se muda com as duas filhas para algum lugar. Decidida a se fixar em Nova York, o último destino da família, a filha mais velha, Holly, inventa um admirador secreto on-line para a mãe, baseado no tio de uma amiga. Porém, o falso romance progride, e Holly começa a ter problemas quando a mãe acredita na mentira. Enquanto isso, a própria Holly acaba se interessando pelo charmoso colega de classe Adam.

Fazendo uma limpeza e organização no arquivo do meu blog, encontrei uma porção de indicações antigas de filmes e livros que eu simplesmente joguei sem resenhar nada. O que, em parte, foi bem propício, pois me deu material não só para novas postagens, mas a chance de revisitar esses filmes e livros que indiquei sem dar muitos detalhes da história ou de como ela me impactou. E foi igualmente bom porque agora o blog está muito mais limpo e com apenas as postagens que são realmente necessárias.

O primeiro filme da lista foi Paixão de Aluguel que eu vi um ano depois que lançou porque peguei na locadora (sim, meus amigos, locadora! Entreguei minha idade agora). Conta a história de Holly, uma adolescente que vive se mudando de um lado para o outro porque sua mãe tem um gosto tenebroso para homens, ela sempre escolhe cafajestes que a tratam como objeto e nunca apoiam seus sonhos, além de traí-la na primeira oportunidade e, para lidar com a frustração do rompimento, ela se muda e leva as filhas no pacote e Holly, saturada, já começa a preparar as malas sem nunca fazer amigos de verdade ou participar de nada.

Dessa vez elas se mudam para Nova Iorque onde a mãe dela tem uma oferta de emprego na padaria de uma amiga como confeiteira. Ela é uma confeiteira de mão cheia e Holly só queria que ela acreditasse mais em si mesma. Na escola nova ela conhece Adam, um cara descolado que desenha quadrinhos e tem pinta de galã. E fica amiga de Amy uma garota alternativa que é sobrinha de um renomado chef de cozinha proprietário de um restaurante-bar muito sofisticado.

Para tentar fazer a mãe desistir de cair na lábia de um idiota errado de novo, Holly arma com Amy para se passar pelo tio de Amy, Ben, que ela acredita ser o homem perfeito para sua mãe. No meio de toda a confusão, a mentira acaba escapando do controle, envolvendo Adam também e o que era para ser apenas uma tentativa de salvar a própria pele de uma nova mudança vira uma verdadeira avalanche na vida de Holly mudando tudo à sua volta para sempre.

Esse filme era um dos meus queridinhos na adolescência/juventude e ainda hoje revejo de vez em quando porque tem aquela vibe de sessão da tarde gostosinha pra assistir com a família por perto e dar umas boas risadas. Pra mim, um dos melhores da Hillary Duff no seu auge como atriz. Confesso que me irrita bastante a personagem da mãe dela que tem aquela ideia fixa que ela só pode ser uma mulher completa se tiver um homem pendurado no braço, eu não digo isso por uma visão feminista nem nada do tipo, é só que eu não consigo entender esse tipo de pensamento, sabe? Ela era talentosa na confeitaria e ao invés de mostrar para as filhas que era possível ter sucesso e ser feliz consigo mesma, ficava pulando de um homem pro outro porque era incapaz de ser feliz sozinha. Era mais do que claro que ela nunca encontraria felicidade com ninguém e quando a Holly passou isso indiretamente na cara dela algumas vezes foi como lavar a minha alma, porque esse tipo de personagem me irrita bastante.

Em contrapartida, tem o Adam, de longe um dos meus personagens favoritos, não apenas pela personalidade dele que era encantadora, mas a maneira como ele abordava a Holly sempre com muito respeito e gentileza. Eu ficava caidinha e dei umas boas shippadas neles viu! A Amy é o alívio cômico da coisa toda, ela era maluquinha e divertida, assim como a irmã da Holly que também tinha umas tiradas muito legais. O Ben era um caso a parte, o tipo boa pinta, maduro e inteligente, entendia mais sobre mulheres do que as próprias mulheres desse filme e era, de fato, o par perfeito para a Jean, mãe da Holly. É um filme muito gostosinho e vale a pena ser visto ou rever para quem é fã de uma comédia romântica divertida e com umas cenas de vergonha alheia bem constrangedoras haha.

Tenho uma lista bem grande de filmes para revisitar e trazer pra cá agora haha, então esperem por novidades em breve. 

quarta-feira, 17 de setembro de 2025

[Livro] A Doceria Mágica da Rua do Anoitecer

Original: The Amberglow Candy Store in the Night Alley

Autor: Hiyoko Kurisu

Gêneros: Ficção, Realismo mágico

Páginas: 176

Sinopse: Situada na fronteira entre o mundo real e o mundo dos espíritos, a Rua do Anoitecer só pode ser vista por criaturas sobrenaturais ou por pessoas que se encontram vulneráveis devido a alguma angústia.

No fim dessa estranha rua, a Doceria Mágica Âmbar é a única loja aberta, e vez por outra acaba sendo encontrada por um humano perdido.

O proprietário – um jovem de grande beleza, olhos dourados e... serão orelhas de raposa? – vende confeitos com poderes mágicos, capazes de promover mudanças sutis na vida de quem os compra.

Poderia uma simples bala atrair coisas boas ao longo do dia? Seria possível um doce tornar alguém invisível? E uma maçã do amor poderia nos fazer enxergar o que as pessoas sentem de verdade?

Nem sempre aquilo que mais desejamos é o que realmente queremos ou precisamos. São seis contos que exploram isso, os sentimentos humanos e a necessidade de atitudes que nem sempre conseguimos ver por estarmos muito focados em nós mesmos e nos nossos próprios desejos.

No primeiro conto, Kana é uma jovem estudante que está preocupada com a distância do namorado mergulhado nos estudos por causa do vestibular próximo e do cursinho. Ela não conversa com ele sobre suas inseguranças temendo ser vista como uma namorada grudenta e chata. Porém, quando vai ao templo rezar pela sua relação, acaba descobrindo uma rua comercial estranha onde há uma loja incomum de doces com um proprietário inusitado. Kana compra um pacote de "balas da ambição" e recebe instruções de não comer mais de uma por dia. Contudo, ao descobrir o poder delas associados aos seus desejos, poderá resistir a tentação de querer sempre mais?

No segundo conto, Koguma é um corretor imobiliário que odeia sua aparência. Ele passou por uma situação muito ruim na escola e isso minou sua autoestima de modo que ele sempre pensa que as pessoas estão falando sobre ele de modo negativo e não gosta quando associam sua aparência a simpatia ou diminuem sua capacidade em torno disso. Ele queria ser invisível. Um dia, cansado por algumas questões de trabalho, ele acaba indo parar no templo e encontra a rua comercial incomum, findando na doceria mágica de Kogetsu, o proprietário inusitado. Lá ele compra o "Wosabon da invisibilidade" e seu maior desejo se torna realidade, porém, ele acaba descobrindo que ser invisível não resolve seus problemas e, ainda mais, que a forma como ele se vê pode não ser a mesma com que é visto.

No terceiro conto, Yui é uma universitária que tem duas amigas de quem gosta muito. Ela não é muito popular e teme ser julgada pelas coisas que gosta ou por sua maneira de pensar, por isso, sempre se mantêm cuidadosa em dizer as coisas certas para não magoar e perder suas amigas. Quando uma delas começa a namorar, as coisas na amizade se tornam mais difíceis porque a amiga não consegue falar de outra coisa e isso acaba incomodando não só Yui, mas sua outra amiga também. Um dia, indo ao templo para tirar fotos de um gatinho que há por lá, ela acaba encontrando a rua comercial do anoitecer e parando na doceria de Kogetsu. Instigada por seus sentimentos, ela acaba levando o Monaka de Castanha Inocultável e, depois de comer, começa a falar o que pensa de modo direto sem ter controle disso. O que essa atitude poderá causar na sua amizade?

No quarto conto, Risa é parte do clube de música e está se preparando para uma audição de uma apresentação importante. Contudo, ela teme perder para Ayaka que, embora não seja tão boa tocando como ela, foi escolhida como líder do clube por causa de suas boas notas. Risa não quer perder para Ayaka ou para qualquer outra pessoa, ela está irritada com seu azar, porque não é apenas nos estudos ou no clube que ela tem problemas, mas na sua vida tudo parece conspirar para sempre dar errado. Ela deseja dar seu azar para outra pessoa por mais horrível que isso seja. Quando vai rezar para se dar bem na audição, ela encontra a rua do anoitecer e a loja de doces de Kogetsu que, sondando seus sentimentos, lhe sugere os caramelos da substituição e, desde esse dia, a sorte parece sorrir para Risa enquanto o azar chega para pessoas próximas a ela, será mesmo que vale a pena ter sorte às custas do fracasso de outrem?

No penúltimo conto, Maçã do Amor do Desejo de Confirmação, Chika está começando a duvidar do amor do marido por ela desde o nascimento de sua filha, Sakura, e isso a está consumindo dia após dia. Ela acaba descobrindo a rua do anoitecer após visitar o templo e Kogetsu a persuade a comprar duas maçãs do amor. Ao comer uma, Chika passa a ver uma aura vermelha em torno do marido e da filha, tendendo a ser o nível de amor que eles nutrem por ela. Será mesmo que seu casamento está por um fio ou apenas falta diálogo entre ela e o marido?

Enfim, no último conto, Mamedaifuku do Adeus, conhecemos a história de como Kogetsu se tornou o proprietário da loja de doces e sua motivação para recolher sentimentos humanos como forma de entender nossa natureza. 

A escrita é bem simples e traz muita sensibilidade. Os contos evocam reflexão e são ótimos para quem procura uma leitura leve, mas não rasa, com um pouco da cultura e do folclore japonês. Eu gostei bastante, terminei querendo saber mais sobre os personagens e suas vidas, mas, sobretudo, sobre Kogetsu e seu amigo. Outro ponto bem interessante se refere a fabricação dos doces japoneses, os wagashi, que além de terem todo um preparo especial e artesanal cheio de significados e processos, se tornam um personagem das histórias desse livro também. Para quem tem interesse no tema, o drama Watashitachi wa douka shiteiru (Cursed in Love) de 2020 aborda esse tema com uma pitada de suspense e vale muito a pena ver. Está disponível no NewZect Fansub.


domingo, 7 de setembro de 2025

[Livro] Clave de Dó

 Autor: Camila Pelegrini

Gêneros: Ficção, Romance de amor

Ano: 2023

Páginas: 25

Sinopse: Layla vive e respira música. É seu trabalho, e também seu hobby. Vicente Callalta, um de seus músicos favoritos, é a personificação desse amor tão grande. Assistir ao seu show é um de seus sonhos, finalmente realizado quando o cantor se muda para sua cidade. Entre marcações em posts e stories, o direct de Vicente acaba se tornando seu bloco de notas, um jeito prático e fácil de anotar lembretes.

Tudo funciona até o dia em que uma mensagem de "visualizado" aparece na conversa. Vicente Callalta conhece agora sua existência e detalhes embaraçosos de sua vida. Layla está determinada a se esconder em um buraco para sempre, mas dentre todas as notas, o acaso parece desconhecer o Dó.

Layla finalmente está num show de Vicente Callalta, simplesmente seu cantor favorito. Endividada? Sim, mas ela tem certeza que valerá a pena. Durante o show ela tem certeza que aquele cantor maravilhoso e cheio de talento sorriu para ela. No dia seguinte, ela vai trabalhar cansada, mas extremamente feliz e, como o whatsapp está fora do ar, decide usar o direct de Vicente no instagram como bloco de notas (porque provavelmente é difícil demais baixar um se o dela não vem com um instalado de fábrica).

Layla é cantora e compositora anônima, se apresentando em bares para ganhar um dinheiro extra e, numa dessas, ela nem faz ideia que Vicente Callalta, junto com a irmã, estão no mesmo bar assistindo seu show. A verdade é que Vicente se mudou para sua cidade e, mesmo sabendo disso, ela não julga que vá conseguir encontrá-lo e continua usando o direct dele no instagram como bloco de notas. A coisa é que Vicente e ela acabam, por via das circunstâncias, frequentando a mesma academia.

Quando ele visualiza suas mensagens, e lê todas elas, nota que há algo diferente naquela garota desastrada e começa uma improvável relação que deixa o mundo de Layla de cabeça para baixo. Entre confusões de conhecer seu cantor favorito, músicas e encontros inimagináveis, ela está prestes a descobrir que Vicente Callalta é, como toda pessoa, alguém incrível, mas humano.

Olha, confessar que as narrações desse livro não estavam tão boas não, a voz do cara que fez o Vicente me dava muita agonia... muita mesmo! Achei também os diálogos não foram expressivos, como se os atores estivessem só lendo mesmo, sem nenhuma emoção. Sei lá. A história é boazinha sim, meio clichê, confesso que até pensei que o curso ia mostrar o lado ruim de celebridades e coisa assim, mas no fim foi só o clichê fofinho mesmo e a maneira como o casal se apaixona foi bacaninha.

Pra quem tá atrás de um livrinho leve e engraçado em algumas partes, é uma boa pedida. Me diverti ouvindo, talvez acabe descolando a versão ebook depois para ver se o desenvolvimento é melhor. 

[Bíblia] Eclesiástico — Parte I

 Como disse antes, a partir desse livro eu comecei a fazer o curso do Pe. Juarez de Castro no youtube, porque as leituras começaram a ficar além do meu conhecimento muito limitado sobre a história e a cultura judaica. O texto se tornou mais complexo e, na entrada dos profetas, a linguagem metafórica fugia completamente do meu entendimento. Assim, as postagens podem ficar mais lentas a partir daqui, porque eu faço uma aula por dia quando o desânimo me permite.

As minhas anotações podem ficar um pouco malucas em algumas partes, então me perdoem, eu escrevo tudo num rascunho e depois passo a limpo e muitas vezes me disperso ficando perdida em Nárnia, quando volto à mim às vezes nem lembro o que tava fazendo hahahaha. Mas dá pra entender (espero!).

Introdução:

  • Ø Escrito por Jesus Ben Sirac por volta de 180 a. C. em hebraico que se perdeu e, mais tarde, é encontrado por seu neto que traduz para o grego. Muito próximo dos Evangelhos, é um livro “recente” na cronologia antiga.
  • Ø Eclesiástico vem do ekkalein = Eclésia significa “referente à Igreja”.
  • Ø Feito durante a época selêucida durante o domínio do império grego que, impondo seus costumes helênicos, queria destruir os judaicos, assim, o livro surge para preservar esses costumes e conhecimento.
  • Ø Josué, no original em hebraico, também se chamava Jesus (Yeshua) um nome muito comum no hebraico. Ben Sirac significa “filho de Sirac”. O nome Josué foi mudado no português para evitar confusão.
  • Ø Jesus Ben Sirac era um escriba e professor reconhecido em Jerusalém e presente nos anais. Ao contrário de muitos livros na Bíblia, onde o autor é desconhecido, o eclesiástico é assinado por ele, como sua tradução feita pelo neto assinala e sua autoria reconhecida.

O primeiro capítulo apresenta conceitos de sabedoria e temor de Deus. A sabedoria, que é o próprio Deus, vem antes da criação e criou todas as coisas, pois Deus o fez e Ele existe antes de tudo.

O temor de Deus é a obediência a Deus e à sua palavra, não o medo de Deus. É a atitude de quem crê: amor e obediência a Deus.

Quem não conhece os mandamentos e não obedece não alcança a sabedoria e tampouco se torna justo. Se nos preparamos para cumprir a obra a Deus, seremos perseguidos como afirma o segundo capítulo. A obediência ao Senhor atrai o sofrimento, mas há certeza de que ele nos fortalece para vencer as provações.

O mal não quer que a obra de Deus cresça, por isso, colocará obstáculos para nos afastar do caminho e nos impedir de perseverar no caminho certo. Só se vence o mal perseverando no bem que se faz. Desde aqui, a palavra já reforça o futuro ensinamento de Cristo sobre a humildade e o mandamento de honrar os pais, pois a benção de Deus recai sobre quem honra e cuida dos pais.

Há ainda uma forte advertência aos judeus da época a respeito da filosofia grega que, naquele tempo, acreditava-se afastar a fé e igualmente acautela sobre o orgulho, o pecado elemental que fundamenta todos os outros. O orgulhoso perece no próprio mal. Ninguém chega a Deus sem passar pelo pobre e o coração generoso com quem necessita mostra a extensão do nosso amor, tanto Jesus quanto João Batista vão reforçar essa ideia em seus ministérios. Deus vê com olhos diferentes quem olha pelos pobres e o próprio Cristo optou por eles.

Tal como todos os livros sapienciais, esse bate constantemente na tecla da sabedoria como caminho para a santidade. Essa advertência sobre ser prudente vem do fato de estar meio na “moda” ser grego e muitos judeus estavam ocultando sua origem e abandonando seus costumes em função disso, é um puxão de orelha para aqueles que se envergonhavam do seu Deus. Ben Sirac dá muita ênfase àquilo que se fala, dando enfoque no cuidado com o que se diz.

O quinto capítulo ainda é categórico ao afirmar que a pessoa que confia na riqueza não confia em Deus já reforçando aqui a fala de Cristo de que não se pode servir dois senhores. A riqueza geralmente é a fonte do orgulho e da autossuficiência que leva a esquecer de Deus. Tanto quanto é misericordioso, o Senhor é igualmente justo e cobrará de nós todos os nossos crimes. Quando nos tornamos conscientes da nossa precariedade e nos voltamos para Deus, a riqueza nos dá a falsa segurança de que somos eternos nos afastando de nossa brevidade o que é um perigo para a vida espiritual.

Por isso, o problema não é o dinheiro, mas o espaço que ele ocupa na nossa vida. Riquezas injustas adquiridas por meio de mentira e falsidade nunca trarão felicidade. Seguindo, temos uma explanação sobre a amizade que é considerada um dos maiores tesouros da vida e, tal como o amor, é constante e necessita ser cultivada. Por isso, a palavra adverte no cuidado ao escolher os amigos, se almejamos a sabedoria devemos andar na companhia de sábios. A sabedoria é um dom que vem do próprio Deus e escolhe apenas aqueles que buscam com disciplina e desejo sincero.

[Livro] Uma Dama nada Perfeita

Autor: Andrea Romão
Ano: 2023 
Páginas: 22
Formato: audiobook
Sinopse: Helena dedicou sua vida a bajular sua rica e insuportável tia Iolanda, na esperança de herdar sua fortuna. No entanto, quando Iolanda morre e deixa sua herança para o primo desconhecido, Astolfo, Helena vê seu plano desmoronar. Determinada a conquistar Astolfo e sua riqueza, ela recorre à ajuda de Bento, o mordomo do herdeiro. Em meio a um jogo de sedução e reviravoltas, Helena e Bento são levados a questionar suas ambições, descobrindo que o verdadeiro tesouro pode estar onde menos esperam.

No leito de morte, a tia Iolanda de Helena conta para a garota que ela não é sua herdeira porque não era digna do sobrenome uma vez que sua mãe fugiu para se casar com um operário pobre. Toda a fortuna, que foi negada à mãe de Helena, ficaria para um primo distante chamado Astolfo. Iolanda ainda a encoraja a seduzir o homem para conseguir permanecer na casa e conseguir a fortuna que ela passou anos bajulando para herdar. 

Chateada, Helena sai do quarto da tia e vai para o sótão, seu lar nos últimos anos em que viveu de favor ali após a morte dos pais. Resta-lhe ficar na casa e esperar o herdeiro, sendo surpreendida por um homem intragável, feio e esquisito, acompanhado de uma horda de criados e um mordomo. Helena está enojada, mas decide dar o golpe do baú no desagradável primo. 

Para isso, ela vai contar com a ajuda de Bento, o mordomo de Astolfo que, além de bonito e agradável, é infinitamente inteligente e conhece o patrão como a palma da mão. Contudo, quanto mais seu plano avança, mais Helena começa a se perguntar se conseguir a afeição de um homem tão insuportável como Astolfo vale mesmo a pena como preço pela fortuna que a sua mãe renunciou por amor.

Ainda estou me acostumando com audiobooks, a narração desse foi bem legal, entonações boas que davam para entender os personagens, mas, sendo franca, não é a mesma coisa que ler de fato, não pra mim pelo menos. A história foi bem diferente do que eu esperava, confesso, mas também eu não li a sinopse antes de ouvir. Não foi divertida, mas eu shippei muito o casal e consegui me conectar com eles. Embora o final fosse bem previsível dado o andar das coisas, achei bonitinho, mas confesso que esperava um pouco mais. Porém, indico, se você procura algo leve e rapidinho. 
 

sexta-feira, 5 de setembro de 2025

[Livro] O Livro das Portas

Original: The Book of Doors

Autor: Gareth Brown

Gêneros: Literatura fantástica, Fantasia contemporânea, Realismo mágico, Romance de amor, Viagem no tempo

Sinopse: Cassie Andrews leva uma vida simples em Nova York. Ela divide um apartamento com sua melhor amiga e tem um trabalho do qual gosta, em uma livraria. Mas, ainda assim, desde que perdeu o avô, ela sente que falta alguma coisa em sua vida tão pacata…

É quando um de seus clientes favoritos lhe deixa um livro incomum de presente, cheio de escritas estranhas, desenhos misteriosos e uma única frase como instrução na primeira página: Este é o Livro das Portas. Segure-o, e qualquer porta será todas as portas.

O que Cassie está prestes a descobrir é que o Livro das Portas é um livro mágico, que concede a quem o possui o incrível poder de ir e vir a todos os lugares possíveis, apenas ao visualizar o local em sua mente. E mal sabe ela que existem outros livros que podem ser tão incríveis quanto, assim como podem desencadear coisas terríveis se caírem nas mãos de pessoas erradas. Pessoas estas que agora estão atrás dela.

De repente, Cassie é confrontada pela violência e pelo perigo, e a única pessoa que parece poder ajudá-la é o misterioso Drummond Fox, um homem que aparenta saber quase tudo a respeito desses livros. Agora, unidos pelo mesmo objetivo de se manterem vivos, Cassie e Drummond vão precisar usar todo o tempo — e livros — a seu favor para derrotar alguém que quer reunir todos os livros mágicos para mergulhar o mundo no mais profundo sofrimento.

Certo, vamos por partes porque o negócio é mais complicado do que a sinopse faz parecer.

Cassie trabalha em uma livraria no centro de Nova York, ela tem o turno vespertino e noturno, sendo a responsável por fechar o estabelecimento. Há um cliente regular com quem ela costuma conversar, o senhor Webber, enquanto ele está lá lendo seu livro e tomando seu café, Cassie conversa com ele e faz seus afazeres, mas, para seu choque, o velhinho acaba falecendo em sua cadeira, deixando para ela um livro estranho.

Após o choque, Cassie volta para casa levando consigo o livro esquisito e o exemplar do Conde de Monte Cristo que o senhor Webber estava lendo quando faleceu. Ela comenta com sua amiga Izzy sobre o acontecido e, após uma conversa leve, decide ir ao banheiro quando descobre que a porta agora dá em Veneza! Chocada, ela chama Izzy para ver aquilo e as duas debatem sobre ser o livro que causou aquilo. Elas decidem experimentar o livro e se deparam com um estranho homem.

Após isso, Cassie começa a perceber que aquele homem passa a aparecer com mais frequência no seu caminho e tudo muda quando elas são atacadas em uma lanchonete por um estranho que mata pessoas na sua frente, usando o livro das portas, elas conseguem fugir para Veneza e Cassie dá ao estranho a chance de se explicar, é quando ela descobre sobre outros livros semelhantes ao livro que ela tem e, ainda mais, sobre o perigo que é possuí-los.

Enquanto embarca em uma jornada para sobreviver e impedir que seu livro seja destruído, Cassie passeia entre passado e presente para encontrar uma maneira de deter a Mulher, que deseja possuir todos os livros para espalhar dor pelo mundo.

Olha, confessar pra vocês que esse livro não foi nada do que eu esperava. Contudo, não desgostei também, é um que leria de novo em outro momento. Uma fantasia urbana que faz a gente pensar em bastante coisa. O negócio é que eu não consegui me afeiçoar aos personagens, os que mais gostei foram justamente os que morreram hahahaha. 

A maneira como a história vai e volta do passado pode ficar um pouco confusa no início, e levei mais tempo do que gostaria para me acostumar com isso. A história é, de fato, bem amarrada, tem umas partes bem gore que eu não estava esperando, mas houve umas coisas que não me soaram muito críveis mesmo pra um livro de fantasia. 

Primeiro, a origem da Mulher. Achei aquilo ali absurdo e sem fundamento, não consegui comprar a ideia de uma vilã tão puramente maligna ser originada daquele propósito tão sem nexo. Segundo, a criação dos livros. Eu preferia, sinceramente, que ele não tivesse explicado isso. Pra mim não convenceu, ao contrário eu fiquei meio ???? e outra, se a criação dos livros se deu daquela forma, porque a criadora não era capaz de controlá-los ou, no mínimo, ser imune a eles se eram parte dela?

A dinâmica do livro me lembrou mais ou menos o que eu não gostei em O Sonho do Tigre, tudo parece que ficou condicionado às idas e vindas de Cassie ao passado, como se fosse um ciclo interminável de vivência das mesmas coisas. Claro, isso não anula o fato da história ser boa e é apenas a minha opinião sobre o que me incomodou, porque eu não gosto de narrativas cíclicas. Ainda assim, acho uma boa história para quem curte fantasia com uma pegada mais "pé no chão" se é que dá pra chamar assim.

segunda-feira, 25 de agosto de 2025

[Bíblia] Sabedoria [II]

 O estilo de texto lembra um pouco o de Provérbios nessa primeira parte, como uma espécie de guia para a vida. Logo no capítulo dois uma reflexão interessante sobre a ideologia do "carpe diem", não que haja, realmente, uma ideia errada sobre ela, mas sua interpretação pode gerar alguns comportamentos duvidosos.

É verdade que somos livres, mas nem tudo na liberdade nos cabe, a misericórdia de Deus não é permissiva e nem cega a condutas erradas conscientes sem reflexão ou verdadeiro arrependimento e este se traduz no compromisso de não repetir a conduta ofensiva ao Senhor. Só porque "a vida é curta" não implica que devemos vivê-la de modo desenfreado nos entregando nas mãos da perdição para "aproveitar ao máximo", de que vale alguns anos de êxtase aqui para uma eternidade de sofrimento? Nós já vivemos em um mundo com a praticamente ausência do temor a Deus e estamos diante dos resultados, uma eternidade disso não parece nada atraente.

Precisamos resguardar nossa alma e tentar viver da forma mais plena e santa possível às nossas limitações, é por esquecer os valores divinos que o mundo mergulhou nessa escuridão.

Outro ponto que me tocou, este no capítulo um, se refere ao poder do nosso pensamento na nossa relação com Deus. Embora a ciência muito nos alerte sobre a força deles na vida, a bíblia fala que o mesmo se aplica ao Senhor, pensamentos ruins afastam Deus de nós e nós dele, tal como a força das nossas palavras, tão poderosas para o bem ou o mal quanto nossa mente. E a palavra é clara, cada pequena palavra saída da nossa boca tem um peso que será cobrado de nós. Então devemos nos abster de criticar o outro, maldizer, praguejar e amaldiçoar.

Desde Provérbios, os livros vêm com certo enfoque na sabedoria, ora ela se personifica como alguém advindo de Deus, uma força sobrenatural provinda do alto, ora ela é mostrada como o próprio Deus, Senhor e dono de todas as coisas. Por isso, os autores a buscam com afinco e expressam de modo ardoroso seu desejo de alcançá-la porque apenas através dela é possível viver de uma maneira que agrada ao Senhor e conhecer sua vontade. A oração de Salomão pela sabedoria é belíssima e mostra, mesmo antes de receber o sopro sábio do Senhor, quão sábio já era em si.

Além de reconhecer as obras criadas por Deus e a trajetória do papel dela na história do povo, o livro aponta um ponto importante que culmina na vinda de Cristo e, usando a história do povo, dá como prova o fato irrefutável do amor de Deus para com a humanidade. Se a vinda de Cristo foi o ponto alto do amor de Deus, ao longo do caminho que a antecedeu esse amor já se manifestava.

Teria sido fácil para Deus, em diversas ocasiões, ter destruído toda a humanidade egoísta e desobediente. Mas, mesmo em sua cólera, prevalece sempre a misericórdia, o desejo que houvesse conversão, arrependimento. Ele punia duramente, mas sempre com peso calculado para mostrar onde se estava errado e oferecer chance de rendenção. Até o último segundo, Deus tenta nos salvar, mesmo conhecendo nossa natureza perversa, seu coração continua esperando nosso retorno.

Para minha surpresa, o livro mostra o que seria a origem da idolatria e vem de um pai que, devastado pela perda precoce do filho, manda fazer uma imagem dele e passa a lhe prestar culto, passando essa tradição aos outros membros de sua família e estabelecendo certos rituais. Isso me lembrou bastante a cultura do culto aos ancestrais do continente Asiático. Na verdade, todo esse capítulo soou como uma dura crítica a religiões como o xintoísmo, fundamentada no culto à natureza. E desde aqui o livro já alertava sobre seitas com preceitos estranhos que podemos acompanhar ao longo da história e que, vez ou outra, são descobertas por aí.

domingo, 24 de agosto de 2025

[Livro] E Não Sobrou Nenhum (+minissérie)

 Original: And Then There Were None

AutorAgatha Christie

Ano: 1939

Gênero: Suspense, mistério, crime

Sinopse: Uma ilha misteriosa, um poema infantil, dez soldadinhos de porcelana e muito suspense são os ingredientes com que Agatha Christie constrói seu romance mais importante. Na ilha do Soldado, antiga propriedade de um milionário norte-americano, dez pessoas sem nenhuma ligação aparente são confrontadas por uma voz misteriosa com fatos marcantes de seus passados.

Convidados pelo misterioso mr. Owen, nenhum dos presentes tem muita certeza de por que estão ali, a despeito de conjecturas pouco convincentes que os leva a crer que passariam um agradável período de descanso em mordomia. Entretanto, já na primeira noite, o mistério e o suspense se abatem sobre eles e, num instante, todos são suspeitos, todos são vítimas e todos são culpados.

É neste clima de tensão e desconforto que as mortes inexplicáveis começam e, sem comunicação com o continente devido a uma forte tempestade, a estadia transforma-se em um pesadelo. Todos se perguntam: quem é o misterioso anfitrião, mr. Owen? Existe mais alguém na ilha? O assassino pode ser um dos convidados? Que mente ardilosa teria preparado um crime tão complexo? E, sobretudo, por quê?

São essas e outras perguntas que o leitor será desafiado a resolver neste fabuloso romance de Agatha Christie, que envolve os espíritos mais perspicazes num complexo emaranhado de situações, lembranças e acusações na busca deste sagaz assassino. Medo, confinamento e angústia: que o leitor descubra por si mesmo porque E não sobrou nenhum foi eleito o melhor romance policial de todos os tempos.

“Dez soldadinhos saem para jantar, a fome os move;

Um deles se engasgou, e então sobraram nove.

Nove soldadinhos acordados até tarde, mas nenhum está afoito;

Um deles dormiu demais, e então sobraram oito.

Oito soldadinhos vão a Devon passear e comprar chiclete;

Um não quis mais voltar, e então sobraram sete.

Sete soldadinhos vão rachar lenha, mais eis

Que um deles cortou-se ao meio, e então sobraram seis.

Seis soldadinhos com a colmeia, brincando com afinco;

A abelha pica um, e então sobraram cinco.

 Cinco soldadinhos vão ao tribunal, ver julgar o fato;

Um ficou em apuros, e então sobraram quatro

 Quatro soldadinhos vão ao mar; um não teve vez,

Foi engolido pelo arenque defumado, e então sobraram três.

 Três soldadinhos passeando pelo Zoo, vendo leões e bois,

O urso abraçou um, e então sobraram dois.

 Dois soldadinhos brincando ao sol, sem medo algum;

Um deles se queimou, e então sobrou só um.

Um soldadinho fica sozinho, só resta um;

Ele se enforcou,

E não sobrou nenhum.”

Posso dizer, sem medo de errar, que esse livro merece a fama que tem!

Oito pessoas chegam à Ilha do Soldado convidadas por conhecidos que não veem há muito ou por outros meios, com propósitos diferentes: desfrutar férias, investigar algo, cuidar de alguém, trabalhar, etc. O que há em comum com todas elas? Todas estão de algum modo envolvidas em mortes que passaram incólumes pela justiça.

São um grupo insólito e diversificado e, logo ao chegarem, são recepcionados por um casal de serviçais que havia sido contratado dois dias antes e que nada sabia além de uma pequena série de instruções deixadas por escrito. Tão logo todo grupo é reunido, uma gravação de gramofone denuncia os crimes dos quais cada um é acusado e uma balbúrdia começa. 

Quando o primeiro deles morre, atenta-se ao fato de que em cada quarto há na parede um poeminha infantil (esse citado acima) que vai guiar o leitor durante toda a jornada de desconfiança e tensão das páginas e enquanto um a um as peças do jogo são eliminadas, a charada que parece insolúvel desemboca em um desenrolar de deixar até o detetive mais experiente de cabelo em pé!

Já li vários livros geniais de Agatha, pelo menos no que diz respeito à minha pequena opinião. Dentre meus favoritos figuram O Assassinato de Roger Ackroyd e, recentemente, Depois do Funeral, por terem assassinos realmente imprevisíveis e que passam batidos por mim, mas nenhum me pareceu tão magistral, macabro e instigante quanto este! Foi uma verdadeira viagem imersiva não apenas no clima pesado e sombrio da história, mas, acima de tudo, na alma humana e suas corrupções. Em diferentes graus a gente acompanha a luta pela sobrevivência de pessoas que estão, ao mesmo tempo, tentando sobreviver aos próprios demônios internos.

A maneira como o poeminha sombrio se encaixa de forma sinistra na narrativa só serve para nos deixar ainda mais interessados e o fato dos capítulos serem curtíssimos aumenta o nosso nível de tensão e a velocidade de leitura de uma maneira proposital e de uma inteligência magnífica. O recurso do ticking clock é usado de maneira tão explícita nesse livro que chega a ser uma aula! Todo hype desse livro é muito merecido, Agatha Christie ganhou todo o meu respeito como uma contadora de mistérios sem igual.

Tal como toda a adaptação, nós temos aqui uma minissérie parcialmente fiel ao livro. Olha, para ser três episódios de quase uma hora cada um, achei que poderiam ter adaptado de modo fiel ao livro, mas não aconteceu. Quando a gente vai assistir depois de ler não tem muita graça porque meio que sabemos o que esperar e é aí que o roteiro dá suas "escapadelas", talvez para fugir um pouco do que é esperado pelo leitor do livro.

A personalidade dos personagens foi quase fiel, concordo, embora Miss Brent não tenha parecido tão dura e fanática quanto no livro. Além disso, a maneira como Vera se torna histérica e quase louca destoa muito da personagem criada por Agatha. Sem contar que várias das mortes, como a da própria Miss Brent e de Blore foram drasticamente mudadas e não entendi o motivo, porque do jeito que acontece no livro era totalmente possível de ser adaptada especialmente quando eles literalmente partiram Rogers em dois quando, no livro, ele tem só a cabeça partida.

O final, talvez, seja o mais... não digo "sem sentido", mas, não casou com a história. No livro, e isso é um spoiler, então pule se não quiser saber o assassino escreve uma carta revelando como cometeu cada assassinato e dando sua justificativa para tê-lo feito. Além de como descobriu todas as histórias dos personagens. Essa carta é colocada numa garrafa e jogada no mar, encontrada pelo capitão de um navio e entregue à Scotland Yard. A maneira como o roteiro escolheu mostrar o assassino, descartando o trabalho da polícia e as deliberações, meio que tirou o brilho genial que Agatha teve ao criar os pormenores. Como adaptação do livro, eu dou uma nota 7,0 por ter sido fiel em algumas partes, mas não me satisfez e não acho que fez jus ao livro.


sábado, 23 de agosto de 2025

[Filme] Coração de Fogo

OriginalОн - дракон — I Am a Dragon

Ano: 2015

País: Rússia

Diretor: Indar Dzhendubaev

Sinopse: Durante o ritual de seu casamento, a princesa Miroslava é sequestrada por um dragão e levada para seu covil em uma ilha remota, deixando para trás família, amigos e seu noivo. Apesar de ilesa, a princesa é mantida em uma gaiola de pedra, sob os cuidados de um misterioso jovem chamado Arman. Aos poucos, Miroslava começa a desvendar os mistérios da ilha e de seu captor. Porém, ela começa a se apaixonar por Arman, e descobre que o amar um dragão pode ser muito assustador.

Vi uma cena desse filme no Instagram e achei muito interessante. Minha irmã é apaixonada por dragões, então queria ver se era bom pra poder assistir com ela e, te contar, não é que me surpreendi bastante?

A história se passa em uma remota comunidade em meio à neve que cultua um ritual sangrento onde suas jovens são oferecidas a um dragão que atormenta o povo com o medo. Até um dia, um homem inconformado com a perda da amada, decide ir atrás dela para recuperá-la, mas, diante da descoberta de sua morte, ele fica enfurecido e mata o dragão. Muitos anos se passam e agora a família deste matador de dragões é respeitada na comunidade. 

Miroslava, uma jovem duquesa, está prestes a se casar com Igor, o neto do matador de dragões. Ainda guardando em si uma curiosidade infantil e uma coragem inexplorada, durante a cerimônia de casamento, ela é sequestrada por um dragão e levada para uma ilha. O que a princípio parecia um pesadelo, logo mostra a Mira que ela precisa de coragem e toda a sua inteligência se quiser escapar viva do covil do dragão.

Contudo, ao contrário do que ela esperava, um segredo tão antigo quanto sua própria vila vai por em xeque não apenas a realidade da história que ela conheceu, mas mudará para sempre o seu próprio futuro.

Esse é um daqueles filmes com um toque de conto de fadas e ao mesmo tempo uma carga sombria maravilhosa! Tanto os efeitos especiais quanto a fotografia são deslumbrantes! E, além disso, conta com vários simbolismos que eu achei poéticos e sensíveis. Mira é aquele tipo de personagem que no começo parece frágil e vulnerável, mas aos poucos vai mostrando a força que tem escondida em si. Ela não é uma donzela em perigo, mas, ao mesmo tempo, não abre mão da fragilidade de uma protagonista simplesmente humana.

Arman é o tipo de herói à moda antiga, ele não é perfeito, mas se esforça para ser a melhor versão de si mesmo. Ele representa com magistralidade poética a dualidade existente não apenas no homem, mas em todo ser humano. Somos divididos entre uma parte humana e uma parte bestial que se revela de acordo com nossa própria escolha e com o meio no qual somos inseridos.

É um tipo de filme lento, mas a beleza dele está justamente nisso. Ele não se apressa para se contar, ele envolve a gente em cada cena. E, a melhor parte, ele não precisa se apegar aos clichês esperados para se fechar, foi uma das coisas que eu achei mais fascinantes! A mitologia por trás dos dragões, não sei bem se é algo relacionado à cultura Russa, pois tenho zero conhecimento deles, mas achei fascinante. Um longa lindo demais, com uma trilha sonora poderosa e uma história belíssima. Bem o tipo de filme que eu gosto de ver.

Recomendo demais!
 

segunda-feira, 18 de agosto de 2025

[Livro] Depois do Funeral

 Original: After the funeral

Autor: Agatha Christie

Ano: 1953

Gêneros: Mistério, Ficção policial

Sinopse: Até então, a súbita morte do abastado Richard Abernethie não parecia nada além de natural para um homem da idade dele. Ainda assim, uma pessoa permanece desconfiada: Cora Lansquenet, sua irmã.

Certa de que Richard foi assassinado, a mulher expõe a suspeita durante a leitura do testamento, logo depois do funeral. Mas por que ela esperou até aquele momento? Apesar de nenhum dos demais familiares acreditarem na ocorrência de um crime, quando Cora é assassinada a machadadas, a única escolha da família é investigar ambas as mortes.

Por sorte, o advogado responsável pelo testamento de Richard, Mr. Entwhistle, conhece alguém perfeito para solucionar este estranho caso: o detetive Hercule Poirot.


Após o funeral de Richard Ambernethie, sua irmã mais nova, Cora, solta na pequena reunião com o advogado que ele foi assassinado e não morreu de causas naturais como afirmam os médicos. O choque que se passa entre todos eles é imediato, e mesmo todos tentando não dar atenção ao que poderia muito bem ser mais um delírio de atenção de Cora, aquilo fica preso na mente de Entwhistle, o advogado da família e amigo muito próximo de Richard e de todos os demais. A divisão dos bens do falecido geral controvérsias quando ele legou a divisão por igual a todos os familiares, sem favorecer nenhum deles em especial, algo que revolta seu irmão, Thimoty, mas que vem a calhar para todos eles, cada um com seu motivo pessoal para precisar de dinheiro.

Porém no dia seguinte, Cora é assassinada a machadadas no chalé onde vivia com sua empregada. O crime, um verdadeiro choque para todos, reforça a ideia que Richard Ambernethie não morreu de fato de causas naturais e uma investigação minunciosa começa com o proprio Mr. Entwhistle como executor, mas ele logo chega a um beco sem saída e resta pedir ajuda à Hercule Poirot, seu amigo de longa data, para que dê uma luz sobre o quebra-cabeças aparentemente insolúvel. 

Olha, mais de dez anos lendo Agatha e ainda me pego surpreendida. Eu criei, pelo menos, seis teorias diferentes desde o começo da história, nenhuma estava certa e as pistas que ela dá são tão sutis e quase imperceptíveis que é realmente difícil acertar o assassino dessa vez. E, se por um lado foi bom, pelo outro não foi tanto. O lado bom é que eu tive uma experiência muito parecida com o Assassinato de Roger Ackroyd, que me deixou realmente chocada no final, foi uma leitura imersiva e que me prendeu até o fim na curiosidade de saber quem tinha cometido aquele crime tenebroso e, se lembro bem, acho que o mais brutal de Agatha que eu li (mano, machado?).

Porém, em contrapartida, também foi um pouco complicado, porque embora os livros de Poirot sejam sem dúvida meus favoritos, aqui ele aparece muito pouco e senti saudade dos seus métodos de investigação, das suas "xeretices" de vez em quando e, sobretudo, dos seus interrogatórios e observações nas cenas de crime. Basicamente, aqui a gente vai conhecendo os personagens por trás do mistério em diversas situações e não exatamente uma investigação direta de Poirot que só vai acontecer nos capítulos finais, praticamente. Isso foi um ponto que me incomodou um pouco, talvez por estar acostumada com os outros livros dele, o fio que segura a história é que a gente quer saber o quem e o por que. 

Ainda assim, ganhou minhas quatro estrelas. Achei genial. Embora o crime brutal tenha tido uma motivação bem ridícula na minha opinião, isso o torna, de alguma forma, mais real. Não havia loucura de fato no ato, mas raiva, indignação e certo desespero por assim dizer, embora tenha sido bem difícil eu comprar a ideia de início hahaha. Mas recomendo.


[Bíblia] Sabedoria [Introdução]

Tecnicamente, agora eu deveria discorrer sobre o Cântico dos Cânticos, o problema é que eu fiz um comentário de literalmente um parágrafo sobre esse livro porque, bem, é um grande poema de amor pra dizer de um jeito simples. Porém, há um motivo pra ter um poema erótico na biblia né? Então, eu decidi voltar no curso do Pe. Juarez e estudar esse livro pra entender melhor. Assim, vou avançar para os posteriores e trago ele depois.

Introdução ao Livro da Sabedoria

O conteúdo deste livro é um louvor à sabedoria divina, divido em três partes: a sabedoria nas obras de vida do homem; na vida de Salomão e na criação do mundo. A finalidade é atingir os judeus que viviam no Egito e alertá-los do perigo  de serem levados pela filosofia grega abandonando o culto do Deus ´nico, se entregando ao paganismo.

Apenas a sabedoria vinda de Deus é guia seguro para a vida religiosa e moral e salvaguarda contra os terríveis castigos do culto aos falsos deuses. Muito provavelmente o livro foi escrito em grego. A primeira parte tem estilo similar a poesia hebraica e o restante do livro, de estilo mais livre, se aproxima mais da língua grega (mas claro que a gente não vai notar isso porque está lendo uma tradução).

É de autor desconhecido. Esse livro também contem as primeiras revelações sobre a imortalidade da alma e seu destino eterno, estabelecendo uma transição entre a antiga aliança e a revelação evangélica e eu já fiz uns super intertextos com o Fédon de Platão? Sim. 
 

domingo, 3 de agosto de 2025

[Livro] Sonhando com o Amor

 Autor: Jillian Hart

Ano: 2002 

Páginas: 219

Sinopse: Ela sonhava com o "felizes para sempre", mas para ele o amor só existia nos contos de fadas.

Montana, 1884.

Sarah prometera a si mesma que, se algum dia se apaixonasse novamente, seu amor teria de ser correspondido. Então Gage Gatlin apareceu em sua vida... Um homem maravilhoso, que poderia oferecer tudo a Sarah... menos seu coração!

Tudo em Sarah atraía Gage: seu jeito simples e prático, seu andar feminino, a maneira carinhosa como tratava a filha dele... Sem dúvida, era uma mulher que queria ter para sempre. Mas Sarah sonhava demais com o amor, e Gage sabia que esse tipo de amor só existia em romances!


Da série livros que li na escola e encontrei de novo depois de velha. Após a morte do marido e com a filha doente, Sarah encontra "ajuda" com sua tia Pearl numa fazenda decrépita onde é acolhida em troca de trabalho doméstico. Cheia de dívidas médicas e com mais empregos do que seu corpo franzino suportaria, ela vive uma vida em corda bamba sonhando com um amor intenso e uma casa onde sua filha Emma possa viver feliz. 

No meio desse cenário, aparece Gage. Ele é um másculo cavaleiro que está prestes a se mudar para a fazenda vizinha e, enquanto passa pela estrada, ajuda Sarah com a fuga de algumas galinhas por uma cerca quebrada. A atração é quase imediata, mas ao contrário dos sonhos de Sarah, Gage não está a procura de um amor, ao contrário, ele está fugindo de compromissos desde a partida de sua esposa, após um casamento traumático.

A gente tá falando dos EUA de 1800, então machismo, papéis bem definidos e mulheres "lerdas" são temas recorrentes e o mínimo esperado, era a sociedade da época. Sarah, como uma viúva, era constantemente vítima de críticas, fofocas e qualquer passo fora do "decoro" seria exclusão completa da sociedade diminuta daquelas regiões. Gage, o assunto do momento, também tem uma filha da mesma idade de Emma, chamada Lucy, ao contrário do pai que não quer saber de relacionamentos, a menina urge por uma nova mãe.

É claro que, eventualmente, os caminhos dos dois continuam se cruzando e suas filhas ficam amigas. A saúde de Emma oscila, mas Sarah se mantem otimista na recuperação da menina. A atração dela por Gage, embora recíproca, leva os dois a se manterem longe, ela por causa da imagem, ele por saber que aquilo era problema, mas é óbvio que isso não dura muito tempo. Sarah começa a trabalhar na fazenda de Gage após várias tentativas vãs de encontrar outro emprego para sair da casa dos tios. 

A proximidade leva ao delírio luxurioso que leva ao ato em si e a relação deles fica de início daquele jeito clandestino até Gage ter a brilhante ideia de pedir Sarah em casamento pela conveniência do ato em si, para ela isso é quase um insulto, casar sem amor é inadmissível. E vem mais daquele dramalhão de "quero, mas não posso" onde só quem sofre de verdade são as filhas deles. Ela vai embora, procurar emprego em outra cidade, ele fica enfrentando problemas na fazenda causados pelo marido da tia dela.

Quando a gente envelhece, nota como adolescente é um ser peculiar. Já é o terceiro livro de banca que eu releio da época da escola e tudo que eu consigo me perguntar é o que eu tinha na cabeça pra gostar tanto disso hahahaha. A história não é exatamente ruim, aqueles romancinhos bem água com açúcar pra quando você não quer nada além de passar um tempo, mas a dinâmica do casal — e isso vale pra maioria esmagadora desse tipo de livro — é o que realmente me irrita. 

Ou eles não têm diálogo praticamente nenhum (e aqui me refiro a conversa de verdade) e ficam só no sentimento no meio dos lençóis, ou parece que não falam o mesmo idioma. Assim, qual a dificuldade de sentar e conversar de verdade? Colocar os sentimentos em pratos limpos? Acho que é por isso que eu prefiro ficar solteira, zero paciência. Enquanto Sarah podia muito bem ter assumido suas convicções e dito um não sonoro pro pedido de casamento ANTES, ela fica protelando aquilo até fazer o homem passar por ridículo na frente da cidade toda só porque ele "não a ama" e ela não pode casar sem amor, isso quando ele tinha deixado bem claro antes o motivo de estarem juntos. 

Aquele dramalhão desnecessário no penúltimo capítulo com uma separação tão desnecessária quanto pro cara se dar conta que gosta dela, tipo, querido, você era cego ou o quê? E a volta que culmina naquele finalzinho bem mais ou menos que mostra sem mostrar nada sobre o casal que, novamente, não conversa direito. Mas, em vista de outros que eu gostei na época da escola, esse ainda se safa por não envolver estupro romantizado.

quarta-feira, 23 de julho de 2025

[Livro] Contos de Fadas Australianos

Autor: James Hume-Cook

Ano: 2023 

Páginas: 120

Ano: 1925

Sinopse: reúne uma série de contos criados pelo autor para atender as demandas de seus filhos, que desejavam ouvir histórias que povoam o imaginário infantil em um lugar conhecido para eles: Austrália.

Vou falar pouca coisa, porque esse livro é pequeno e não foi nada do que eu estava esperando quando dei de cara com o título. Realmente, são contos, mas não sei se consideraria isso de "fadas". Talvez a nossa noção de fada seja muito específica e influenciada por uma cultura diferente da australiana, concordo, mas não foi só a diferença da "espécie" foi a magia, a empolgação, a aventura que normalmente envolve esse tipo de conto e aqui ficou faltando.

Narrativa insossa, cansativa e embaralhada. Histórias paralelas se mesclam, algumas de cunho religioso, outras meio fabulescas e todas ligadas a uma linha principal envolvendo uma família real de "fadas" cujo príncipe se tornou lendário ao instituir um reino em uma terra longínqua e devastada pelas tais "fadas do deserto". Não me senti conectada nem envolvida na narrativa. Uma pena, queria ter gostado.