domingo, 10 de novembro de 2024

[Bíblia] Macabeus I

Introdução

Os dois livros dos Macabeus eram originalmente distintos um do outro. Recebe esse nome por causa de Judas Macabeu. No primeiro livro, cobre-se o período de 40 anos indo  175-135 a.C, foi redigido na Palestina no início do século I em hebraico ou aramaico, mas só foi preservado na versão grega.

Salienta a predileção de Israel e sua luta contra os sírios e o paganismo na época logo após a morte de Alexandre Magno em 323. Um de seus sucessores, Antíoco Epífanes (175-163) usou todos os meios para converter os judeus ao helenismo, o que culminou na chamada revolta macabaia que logo se tornou uma guerra santa de independência.

Os romanos no ano de 63 a.C. foram quem, através de Pompeu, reduziram essa independência e sujeitaram os judeus que viviam inflamados de ódio contra eles. Nesse livro, ressalta-se o sentimento de uma fé ardente vinculada a uma fidelidade inviolável da lei e apego fanático à Jerusalém.

No segundo livro, diferente do primeiro, narra alguns episódios da primeira parte da luta contada no primeiro livro. Foi redigido em grego mais ou menos em 100 a.C. por um judeu que resumiu um escrito de Jasão de Cirene em 160, trazendo narrações mais episódicas do que históricas. Sua finalidade é avivar o patriotismo dos judeus em Alexandria. Além disso, nesse livro aparece uma crença nova no ensino religioso dos judeus: a imortalidade da alma. Dos livros históricos é o que apresenta menos conteúdo religioso.

1 Macabeus

Após a morte de Alexrandre Magno, Antíoco IV sobre ao trono e começa a espalhar terror sobre a terra, impondo sua conduta pagã sobre todos os povos sob pena de morte aos desobedientes. Muitos dos filhos de Israel sucumbiram à ordem, fosse por aceitá-la ou se revoltar contra ela.

Nesse cenário, Matatias, chamado Macabeu, levantou-se com seus filhos contra a idolatria, recusando-se a abandonar o culto a Deus e formando um exército para combater pelo povo que igualmente desejava manter sua fé a salvo da tirania do rei.

Antes de sua morte, tendo todo o exército organizado, deixou seu filho Judas Macabeu no comando em seu lugar. Corajosamente, Judas abraça a missão de proteger o povo  e com fé e determinação alcança as primeiras vitórias contra o rei, crescendo seu exército e seu nome pela terra. Em suas campanhas, consegue reaver Jerusalém, reconstruir o altar profanado e destruir os pontos de idolatria erguidos na terra santa, além de libertar os judeus cativos. Mesmo com a coligação dos seus inimigos contra eles, Deus manteve erguida a mão de Judas e seu exército, pois tinham o coração fiel à sua lei.

Contudo, com a morte de Antíoco e a despeito da sua última vontade, sobre o filho de Lísias ao trono, e, ao saber do avanço e das vitórias de Judas, une-se a um grande exército de aliados e consegue acuá-los, sitiando Jerusalém. Porém, Demétrio, verdadeiro herdeiro de Antíoco, cujo trono foi usurpado pelo tio, retorna de seu exílio como refém em Roma para ocupar seu trono de direito, matando os usurpadores.

Alcino, descendente de Aarão, voltou-se contra seu povo e acusou-o diante de Demétrio das maiores atrocidades. O rei o nomeou sacerdote e enviou junto ao seu general para buscar vingança. Mais uma vez, tempos de terror se abateram sobre Israel. Judas, vendo que o mal praticado por Alcino era ainda pior que o de Antíoco, marchou contra ele; mas covarde como era, ao ver a força de Judas, voltou para junto do rei e espalhou mais mentiras.

Judas faz então aliança com Roma contra a Grécia que oprimia Israel e sinto que é aqui que começam os futuros problemas. Mesmo essa aliança não impediu que os opressores voltassem a atacar e grande parte do exército de Judas desertou de medo. Ainda assim, ele leva 800 homens ao combate e perece sob a espada do inimigo sem qualquer ajuda vir de Roma. O povo lamentou sua morte vendo a sombra cair sobre eles.

Nomearam Jônatas como chefe no lugar do irmão e, após batalhas e fugas, ele e seu irmão Simão conseguiram um acordo de paz com Báquides que jurou não mais erguer a espada contra Israel e Alcino alcançou a morte ante o castigo de Deus, perecendo em grande sofrimento.

O que noto até aqui, além do fato de ser um livro muito bélico, é que o povo parece quase sempre depositar sua fé cada vez mais nos homens e menos em Deus, quase não há, inclusive, menção ao Senhor, embora preces sejam feitas a Ele. Se me lembro, só li o nome d'Ele duas ou três vezes ao longo de toda a narrativa. Também fica muito claro que, desde o livro de Esdras, Israel não luta somente contra nações inimigas, mas contra sua própria gente.

Muitos judeus se voltam contra sua raça por dinheiro, poder, fama ou favor. A própria nação começa a se dividir e com o passar dos livros isso se evidencia. Fico pensando se não são esses frutos ruins que remanescem e transformaram aquela região no que é hoje.

Jerusalém significa cidade da paz. Chega a ser irônico.

[Livro] Nihonjin

 Autor: Oscar Fussato Nakasato

Gênero: Ficção

Ano: 2012

Sinopse: Hideo Inabata é um japonês orgulhoso de sua nacionalidade, que chega ao Brasil na segunda década do século XX com o objetivo de enriquecer e cumprir a missão sagrada de levar recursos ao Japão, conforme orientação do imperador aos seus súditos. O árduo trabalho no campo, a difícil adaptação ao Brasil, a morte da primeira esposa e os conflitos com os filhos Haruo e Sumie são um teste para a inflexibilidade do nihonjin (japonês). O narrador, neto do protagonista e filho de Sumie, empresta voz e visão contemporânea à transformação do avô e do seu sonho de voltar rico para casa.

Peguei esse livro como referência para uma história que estou escrevendo e se passa, uma parte, durante a imigração japonesa no Brasil lá no começo de 1900. E o bacana é que ele acabou servindo como um complemento muito bom para outro livro que li com o mesmo propósito: Corações Sujos

Nessa história acompanhamos a vida da família Inabata, desde a sua chegada ao Brasil em um navio, lá em 1908, até a geração presente. O livro é narrado pelo neto do patriarca Hideo e vai narrando, ora sobre o que sabe, ora sob a perspectiva do avô, a trajetória da família nos difíceis anos de adaptação e consolidação em solo brasileiro. Como a maior parte dos japoneses vindos para cá, Hideo também queria conseguir dinheiro para voltar ao Japão e ter uma vida melhor. Fiel ao seu imperador, era casado com uma mulher delicada que em nada estava habituada ao trabalho braçal.

Era, inicialmente, casado com Kimie, que fizera amizade com uma negra também empregada da fazenda e mesmo contra as ordens do marido. A mesma Kimie que se apaixonou por outro homem e morreu de tristeza poucos anos depois da chegada, ainda esperando nevar no Brasil. Hideo era um homem típico de sua época e de seu país patriarcalista, homem duro, meio rude e com preconceitos frutos de seu conhecimento limitado.

Casou-se depois com Sumie, uma mulher mais forte que Kimie, acostumada ao trabalho braçal e subserviente. E é desta que o narrador da história é neto. Hideo enfrentou o preconceito dos brasileiros na época, conquistou, a duras penas, seu sonho de ter uma loja de utensílios, viveu os tempos difíceis da segunda guerra onde o governo de Vargas impôs regras duras para os membros do eixo aumentando ainda mais o preconceito dos brasileiros que desde o começo eram contra a imigração deles (quem diria que uns séculos depois iam pagar tanto pau pra cultura asiática).

Além disso, a história percorre também os descendentes de Hideo. Seu filho jornalista que, desde criança, aprendeu sobre o Brasil, começou a questionar alguns aspectos da sua cultura nipônica e alguns pensamentos do pai o que lhe causaram várias punições. Mais tarde, após a guerra, foi considerado traidor da pátria e assassinado pela Shindo Renmei da qual o próprio Hideo era parte. A filha que se apaixonou por um brasileiro e abandonou a própria família para viver seu amor, sendo expulsa para sempre da vida dos filhos (do qual o narrador faz parte).

De uma maneira bem sensível, a gente é conduzido pela trajetória da família até o mundo atual (que não é mencionado a época), o fim que tiveram e os arrependimentos tardios ou não de Hideo. Achei muito legal, em especial porque faz um retrato bastante fiel ao mundo da época e a sociedade naqueles difíceis anos. A gente tem a perspectiva dos japoneses sobre a nossa terra e um pouco  (bem pouco) do que foi o preconceito enfrentado por eles em solo brasileiro, mas, ainda mais, o preconceito deles em relação aos brasileiros.

Deu pra ver o outro lado da Shindo Renmei, embora não com muitos detalhes, Corações Sujos mostra uma visão meio brasileira de tudo, então ter essa perspectiva de japoneses e dos seus ideais, além da dinâmica da facção, foi bastante instrutivo e interessante. Quem tem curiosidade de conhecer um pouco mais sobre o assunto, acho que esse é um bom livro pra começar. Recomendo muito.

terça-feira, 5 de novembro de 2024

[Drama] In Blossom

Título original
: 花间令
Diretor: Zhong Qing
Roteirista: Yu Hai Lin, Zhong Jing
Gêneros: Thriller, Histórico, Romance, Fantasia
País: China
Episódios: 32
Ano: 2024
Sinopse: Na pecaminosa cidade de Heyang, o querido Pan Yue casou-se com Yang Cai Wei, que era desprezado por todos. No entanto, Yang Cai Wei foi assassinada no dia do casamento. O suposto culpado não era outro senão Pan Yue. Renascida dos mortos, Yang Cai Wei posou como a "mulher má" Shangguan Zhi. Ela voltou com uma atitude feroz, com a intenção de expor a verdadeira face de Pan Yue.

Quando eles enfrentaram bravamente os Quatro Clãs Maiores e descobriram os casos antigos, seus corações se aproximaram novamente. Yang Cai Wei descobriu que o verdadeiro culpado não era Pan Yue, que a amava profundamente o tempo todo. Justamente quando as coisas pareciam estar se encaixando, o cérebro por trás das cenas preparou outra armadilha para eles, empurrando-os para o abismo do desespero.

Quando crianças, Pan Yue e Yang Caiwei eram muito amigos. Pan Yue precisou conviver com uma vida difícil na casa do seu pai após o suicídio de sua mãe para aplacar os rumores de que ele não era um filho legítimo e isso teve impacto significativo na sua personalidade, mas Caiwei sempre esteve ao seu lado para afugentar os fantasmas e as pessoas que o maltratavam. Vendo sua amizade sincera, o imperador concedeu a eles um casamento.

Acontece que, na descoberta de uma conspiração envolvendo alguém com alto cargo dentro da corte, o pai de Caiwei é exilado e assassinado no meio do caminho, ela consegue escapar por pouco, mas recebe um corte muito feio no rosto. Tenta voltar à casa de Pan Yue, mas é expulsa. Vagando sozinha, se refugia em uma cidade costeira chamada Heyang onde é acolhida como aprendiz por um legista que a salva de uma situação ruim.

Dez anos depois, Pan Yue consegue a localização de Caiwei após pressionar o pai e vai atrás dela bem no momento que ela estava sendo torturada como uma criminosa para assumir um crime que não cometeu. Ele a salva e, após muitos contratempos, consegue convencê-la de seu sentimento sincero. Mas eis que aparece Shangguang Zhi, uma jovem rica que sempre foi obcecada por Pan Yue desde criança.

No dia do casamento, Shangguang Zhi sequestra Caiwei e troca de rosto com ela (não perguntem como, não explica) indo ao casamento no lugar de Caiwei a quem ela empurra de um penhasco (que não daria para ficar nem um osso dela inteiro, mas ela sobrevive! Como? Não perguntem, não explica. Nem Freud ia conseguir explicar isso!). O negócio é que, Se Pan Yue descobriu que Caiwei está viva, os inimigos da família dela também e ela é assassinada na noite do casamento, sem saberem, claro, que era, na verdade, Shangguang Zhi no corpo dela (isso é muito confuso, eu sei) e Caiwei acaba presenciando isso, acreditando que foi Pan Yue que a matou.

Agora, com a nova identidade da mulher que tentou matá-la, ela tem a chance de ficar perto de Pan Yue e descobrir a verdade sobre a sua “morte” e a dos seus pais. Enquanto tenta provar que Pan Yue é o responsável pela sua morte, ela precisa se lembrar de não acabar se apaixonando por ele de novo e lutar ao máximo para não revelar sua identidade. Juntos, eles começam a investigar casos que desafiam a lógica e a derrubar as quatro potências que dominam com mão de ferro a cidade enquanto buscam pistas de uma organização criminosa infiltrada no palácio.

Até o capítulo 26 posso dizer que gostei muito do drama, ele tinha aquele quê de comédia, misturando investigação e romance, tudo na medida certa. Os personagens são bastante carismáticos e é fácil se apegar a eles. As tramas são bem conectadas, mas, sendo franca, colocar magia num drama que não é fantasia e ainda mais do jeito que o recurso foi usado ficou muito sem sentido. É tipo: as duas trocaram de rosto, aceitem isso e não tem nenhuma explicação para aquilo, além de não ter nenhum tipo de magia em mais nenhum outro episódio e o drama, em praticamente todo o enredo, preza pela lógica.

O final não é ruim, mas tampouco é bom. Se a gente analisar a história como um todo e o tanto de gente que foi assassinada, incluindo as tentativas de morte do próprio Pan Yue e da Caiwei, fica bem difícil aceitar aquilo quando no final parece que o esforço dos dois foi em vão. Achei o desfecho do vilão muito fácil. E as duas mortes finais podiam claramente ter sido evitadas, por mais críveis que tenham sido, não gostei e pronto. Roteiro fez a gente terminar com cara de palhaço e ainda jura que nos convenceu do final “feliz”. Gente, o inferno que aqueles dois passaram e ainda não acabou? Como assim? E nem tem segunda temporada!

Shippei o casalzão? Shippei loucamente. Eles tinham química juntos, embora não explodisse nos momentos mais próximos, podiam ser sentidos nas interações mais simples entre eles. O casal secundário foi aquela tragédia desnecessária e, sendo franca, não me convenceu muito não. Eu shippava bem mais o casal de servos dos dois protas, eles eram uma fofura juntos. Aliás, esse ator, que fez o Jin Lin em The Untamed, conseguiu tirar o meu ranço da cara dele, foi incrível aqui. O plot era muito bom e foi uma pena que o desfecho tenha sido tão mais ou menos, miraram no plot twist e acertaram em nada. Fazer o que. Ainda assim, recomendo.

domingo, 3 de novembro de 2024

[Bíblia] Ester

O início do livro é bem conciso e temos apenas um resumo dos acontecimentos até a eleição de Ester como rainha. O conflito de Israel com Amalec foi abordado de modo breve anteriormente e será simbolicamente intensificado nesse livro. Ester, nascida Hadassa, era a prima do judeu Mardoqueu, trazido com os cativos de Nabucodonosor. Com a morte de seus pais ele a adotou como filha.

Encolerizado pela recusa da rainha Vasti em atender ao seu chamado diante dos príncipes das províncias, Assuero — segundo seus conselheiros — a destituiu do posto de rainha e envia um edito para que sejam trazidas ao palácio todas as virgens formosas com o propósito de encontrar entre elas uma nova rainha.

Ester é uma dessas virgens e, antes de ser levada, é proibida pelo primo a revelar suas origens. Embora nada se diga sobre sua personalidade, o livro conta que era estimada por todos que a conheciam e rapidamente ganhou o favor e a proteção do encarregado das mulheres, Egeu. Ele a favoreceu mais que as outras, colocando servas à sua disposição e lhe reservando o melhor aposento.

Uma a uma, as jovens eram levadas ao rei, mas nenhuma lhe manifestava interesse, até que, no décimo mês, Ester foi levada à sua presença. Não há nenhum detalhe desse encontro, o livro apenas diz que ele a preferiu a todas as outras e a corou rainha em lugar de Vasti.

Dois eunucos tramaram contra a vida do rei e, como se sentasse todos os dias à porta do palácio, Mardoqueu ouviu a trama e contou à rainha Ester que deu parte ao rei em nome do primo. Não é mencionado aqui a morte de Mamucã, mas o livro avança para a promoção de Amã. Este guardava profundo ódio de Mardoqueu simplesmente porque este se recusava a se curvar ou ajoelhar diante dele, assim, tramou para dizimar de todo o reino de Assuero o povo judeu. Contou uma historinha qualquer e ganhou o consentimento do rei para cuidar de sua vontade.

Foi promulgado então em todas as províncias do império na língua de cada uma o edito anunciando a morte de todos os judeus no dia 13 do mês de Adar, ou seja, dezembro. Tendo conhecimento disso, Mardoqueu cobriu-se de cinzas, rasgou suas vestes, cobrindo-se com um saco e correu por toda Susa ecoando gritos de dor, então foi ter com Ester para lhe pedir que intercedesse junto ao rei em favor do seu povo. Ora, fazia trinta dias que ela não era chamada à presença do imperador.

Mardoqueu a repreende dizendo que ela não estava livre do decreto apenas por estar no palácio e que fora provavelmente por essa razão que foi alçada ao mais alto posto. Ciente que o primo tinha razão ela pede ao povo de Israel que faça um jejum de três dias depois dos quais se apresentaria diante do rei.

No terceiro dia, Ester foi a presença do imperador e tomado por devoção ele estendeu o cetro para ela, afirmando que qualquer que fosse seu desejo este seria cumprido. Ela, cuidadosa, convidou o marido e Amã para um banquete que transcorreu como esperado, mas ao ser questionada sobre seu pedido, adiou-o ainda para o dia seguinte.

Amã estava se sentindo confiante por ter o favor do imperador e pelo convite da imperatriz, mas a presença de Mardoqueu minava sua alegria de modo que, aconselhado por sua mulher e amigos, mandou erguer uma forca para pendurá-lo antes do próximo banquete da rainha. Contudo, chega ao conhecimento de Assuero o cimplo dos eunucos e tendo chegado Amã com intenção de pedir-lhe a cabeça de Mardoqueu, indagou-o acerca das honrarias que deveria prestar-lhe e, pensando se tratar de si mesmo, diz para vestir o homem com trajes reais e monta-lo no cavalo do rei, passeando pelas ruas.

Qual não é a sua surpresa ao ser incumbido de fazer a honraria a Mardoqueu. Quando retorna, a esposa e os conselheiros o alertam a não comparecer ao banquete da rainha, mas ele vai mesmo assim e dessa vez Ester faz seu pedido pela vida do seu povo apontando Amã como o inimigo que deseja destruí-los.

O rei fica furioso ao ver o homem inclinando sobre Ester e acusa-o de tentar molestar a rainha, condenando-o a morte na mesma força que construiu para Mardoqueu. Ester lhe implora pela vida do seu povo e a sua, Assuero então dá o anel real à Mardoqueu para que publique em seu nome uma solução já que o decreto não podia ser revogado.

No dia marcado, ao invés do extermínio, os judeus venceram e exterminaram todos aqueles que ergueram as mãos contra eles. Ester ainda pediu a Assuero que fossem erguidos em forcas os dez filhos de Amã  e este concedeu se desejo. Ainda no dia 14 continuou o ataque e houve grande celebração ante a vitória dos judeus. Mardoqueu e Ester estipularam os dias 14 e 15 de Adar deviam ser comemorados como Purim, derivado da palavra pur (sorte) e esse costume mantido pela posteridade para sempre.

O livro tem sua grande parte ainda no original em hebraico, o autor é desconhecido e pode ter vivido no fim do século IV a.C., retratando a época persa, reino que durou em torno de 200 anos, destruídos pelos gregos. Embora comparado com outros livros do Antigo Testamento, a resolução desse conflito em particular — tal qual a motivação do mesmo — parece bem irrisória, contudo, igualmente reforça a ideia que Deus não é nenhum mágico que resolve as coisas com um estalar de dedos (embora possa se quiser), mas recorre à lógica em cada um de seus feitos, mesmo os prodígios. Além disso, há certa alusão ao papel de Maria como intercessora da humanidade, tanto é que a igreja católica coloca esse texto junto ao evangelho do milagre das bodas.

Apesar de abrir espaço para muitas indagações e reflexões, de uma primeira impressão, a história de Ester parece quase uma fábula romântica que destoa um pouco do texto principal da bíblia; o apêndice, entretanto, nos traz de volta ao propósito da história com as orações de Ester e Mardoqueu e quase funciona como um compensação ao tom pouco religioso de sua narrativa concisa.

Gente, cheguei ha pouco no livro de Isaías e, confesso, tanto o livro de Provérbios, quanto o Cantico dos Canticos me soaram difíceis de entender, então fui procurar explicações de algum padre no youtube e para minha sorte encontrei um curso completo e gratuito da bíblia. Já quero começar do gênesis, mas vou partir desses livros sapienciais que me deram mais dificuldade de entendimento. Estou deixando o link aqui para quem desejar conhecer mais profundamente a bíblia, achei a aula do padre muito satisfatória e fácil de entender:

Curso Padre Juarez de Castro - Youtube

Sei que ando meio afastada do blog, mas estou tentando encaixar uma rotina que funcione na minha vida, agora que comecei a academia e ando lidando com algumas coisas, não tem sido muito fácil acordo quatro e meia da manhã, mas ainda não consigo administrar direito as 24h do dia.

[Livro] O Conde de Monte Cristo - Tomo 1

 Original: The Count of Monte Cristo
Ano: 1846
Autores: Alexandre Dumas, pai, Auguste Maquet
Gêneros: Romance, Série, Ficção de aventura, Ficção histórica, Romance de amor
Sinopse: Gira em torno de Edmond Dantè, que é preso por um crime que não cometeu. Ao sair da prisão, Edmond vai à busca de vingança contra seus inimigos. Uma trama repleta de reviravoltas dignas de um jogo de xadrez.

Esse é meu segundo contato com Dumas, tentei ler Os Três Mosqueteiros e, acredito por ter sido uma versão adaptada, não gostei muito. Já tinha um bom tempo que estava querendo ler O Conde de Monte Cristo, mas por ser uma obra muito grande, não me atrevia a ler em ebook e não queria cometer o erro do outro e acabar não gostando. Assim, quando surgiu a oportunidade de ler na íntegra com tradução direta do francês, não quis perder a chance. O mesmo havia acontecido com Crime e Castigo que demorei muito tempo para ler porque não queria versões adaptadas e a maioria das traduções vinha de outros idiomas, quando surgiu a edição da 34 com tradução direta do russo e texto integral, agarrei a chance e amei o livro.

No primeiro tomo, cerca de quinhentas e poucas páginas, somos apresentados aos primórdios da vida de Edmond e as pessoas que o cercam. Ele, jovem cheio de vigor, era um marinheiro experiente e respeitado em sua tripulação que se vê em um momento difícil com a morte de seu capitão tendo que ancorar na ilha de Elba onde estava, na época, exilado Napoleão. Edmond cuida de seu pai idoso a quem ama mais que a própria vida e tem sua noiva, Mercedes, uma bela jovem catalã por quem é apaixonado. Quando retorna de viagem, se vê incumbido de realizar o último desejo de seu capitão que se tratava de levar uma missiva a Paris.

Acontece, que Mercedes estava sendo cortejada pelo seu primo Fernando, que torcia muito que Edmond não voltasse vivo da viagem, pois queria com loucura casar-se com ela. E, como um marinheiro talentoso, é claro que Edmond também tinha muitos inimigos com inveja do seu sucesso ascendente. Desse modo, numa conspiração usando o ciúme de Fernando, vê-se a oportunidade de interromper a trajetória promissora do jovem. Ele é acusado de traição e levado à justiça como um dos partidários de Napoleão, em seu interrogatório não diz nada mais que a verdade, mas devido a conexões desonrosas do próprio juiz, é exilado no castelo de If, lugar para os piores e mais perigosos criminosos de onde só se saía morto.

Edmond luta pela sua inocência até o fim, mas sua insistência em ver o governador acaba colocando-o na masmorra com a certeza de jamais ver a luz do sol outra vez. Com o passar interminável dos dias, ele se conforma, entregando-se ao ódio e a melancolia. Até o dia que conhece o Abade Faria, um velho padre condenado de traição muitos anos atrás. Inteligente e versado em várias artes, ele havia bolado um plano para fugir e, renovando sua esperança, Edmond se junta a ele que lhe ensina tudo que sabe enquanto travam o plano da liberdade. Contudo, o abade estava muito doente e viu seu fim se aproximando antes da desejada liberdade.

Ele confidencia ao companheiro sobre o tesouro de Spada escondido na ilha de Monte Cristo e dá a Edmond as instruções de como encontrá-lo, legando a ele o tesouro. Com a perda do amigo, o mundo de Edmond volta a cair tornando-se solitário, imaginando a dificuldade de fugir sozinho, ele se coloca no lugar do cadáver imaginando conseguir fugir após ser enterrado, o que ele não sabia é que os mortos eram jogados no mar. Como um marinheiro experiente, ele consegue escapar da mortalha e nadar até um pedaço de terra mais próximo, o mais longe possível do seu cárcere.

Cansado e debilitado, Edmond encontra piratas a quem se junta escondendo sua identidade. Os anos haviam operado mudanças drásticas na sua aparência devido à falta de luz solar do confinamento e o abatimento pelo qual passou até conhecer o abade. Assumindo uma nova identidade, procura o momento propício para ir atrás do seu tesouro, ficando na companhia de contrabandistas ao longo de meses e conquistando reputação por sua inteligência além de seus conhecimentos marítimos. No momento propício, assumiu sua herança e, sob diversos disfarces, retornou ao lugar de origem para saber o destino daqueles que lhe eram caros.

As notícias não eram boas. Seu pai havia falecido de tristeza, sua noiva se casara com outro homem e seu antigo patrão estava à beira da falência por ter sido enganado por um de seus homens de confiança. A primeira ação de Dantés é ajudar seu antigo patrão que sempre o havia tratado como um filho e por quem nutria grande estima. Partindo para sempre daquele pedaço de terra que só lhe trazia memórias dolorosas de uma vida arrancada dele, partiu em busca de iniciar sua vingança.

Nesse ponto, o livro muda de perspectiva e vemos a ótica de um par de amigos franceses em tour pela Itália para os festejos de carnaval. Duas figuras se destacam aqui: Simbat, o marujo e O Conde de Monte Cristo, ambas personagens vividas por Dantés. Para quem conhece um pouco mais da história sabe que Albert é o filho de Mercedes e, portanto, o alvo de Dantés por isso toda a aproximação mirabolante entre eles. O tomo 1 termina com a promessa de Edmond em visitar Albert na sua casa em Paris para este lhe servir como guia na sociedade.

O estilo narrativo dessa obra é meu primeiro destaque. Ele usa um narrador onisciente que oscila com um narrador observador ou uma terceira pessoa focada e eu gosto muito disso. Por mais que seja uma leitura longa não fica, em nenhum momento, cansativa com suas subtramas elaboradas e personagens interessantes. A morte do abade Faria e do pai de Dantés foram os dois momentos mais tristes do livro pra mim, inclusive, Dumas soube expressar com perfeição o luto, o quase enlouquecimento do cárcere, tornando todo o processo que tornou Edmond no Conde de Monte Cristo indiferente, misterioso e frio, algo crível e até mesmo aceitável.

O livro passeia por subtramas que, por vezes, se parecem com novelas dentro do livro, e é até fácil esquecer um pouco da trama principal tamanha é a riqueza de detalhes com que tudo se apresenta. Infelizmente, nesse mundo cada vez mais preguiçoso onde tudo tem que ser feito com pressa para ser rápido, seria uma leitura pouco apreciada, é um livro com linguagem até simples, mas feita para leitores experientes, que realmente amam embarcar em um universo rico em detalhes, debates éticos e filosóficos, além de ser transportado para a França pós-napoleônica de instabilidades políticas e sociais.

Gostei muito. Já está nos meus planos ler os outros dois tomos! E indico bastante para aqueles que realmente amam ler, porque O Conde de Monte Cristo não é um livro para iniciantes.

domingo, 6 de outubro de 2024

[Bíblia] Judite — Parte II

A Vitória do Povo Judeu

Chegando Holofernes a Betúlia, cortou o arqueduto que levava água para a cidade e pôs guardas em todas as fontes impedindo o fornecimento. O povo começou a se impacientar e dizer a Ozias que entregasse a cidade antes que começassem a morrer de sede. Este, porém, pediu-lhes que esperassem mais cinco dias pela resposta do Senhor. 

Ora, tudo isso chegou aos ouvidos de Judite, viúva de um rico homem que morrera no campo e mulher muito temente a Deus. Ela era muito estimada em sua comunidade e os repreendeu duramente por sua conduta que poderia inflamar a ira do Senhor contra eles. Aconselhando-os a mostrar sinceridade em seu clamor e orar por ela no empreendimento que planejava executar.


Judite então entrou em seu oratório e, prendendo seu cilício na altura dos rins, cobriu a cabeça de cinzas e fez uma prece suplicante para que o Senhor a atendesse e colocasse em suas mãos o inimigo que ameaçava seu povo. Terminando sua oração, saiu do oratório e desceu à sua casa, pedindo a sua criada para lhe ajudar a vestir, ornou-se com suas melhores vestes e joias e o Senhor lhe concedeu graça e formosura ainda maiores, a fim de que alcançasse seu propósito. Saiu então de Betúlia e desceu o caminho, sendo encontrada por guardas assírios que lhe indagaram quem era e para onde ia.

Ela, então, mentiu dizendo ter fugido do meio dos judeus, pois eles seriam mortos por Holofernes e, desse modo, unir-se-ia a ele para lhe revelar um meio de entrar com sucesso na cidade. Encantados por sua beleza, levaram-na para o general que imediatamente foi capturado pela formosura dela. Questionada novamente por ele a respeito de sua partida do meio de seu povo, proferiu um discurso sobre como Deus estava irado pela iniquidade do povo e a enviou como um sinal de que os entregaria nas mãos de Holofernes por intermédio dela. Agiu de maneira altiva, mas forjando certa submissão, encantando ainda mais o general. Rejubiloso por aquelas palavras, se viu muito satisfeito e concordou em proceder de acordo com as orientações dela.

Holofernes mandou instalar Judite em uma tenda, mas ela recusou o ouro e as provisões que lhe concedeu, pedindo apenas a liberdade para sair e orar a Deus, ao que o general ordenou aos seus homens que lhe permitissem sair quando lhe aprouvesse. Manteve-se, então, pura por três dias enquanto pedia a Deus que guiasse seus passos no empreendimento de libertar o seu povo.

O general de Nabucodonosor ofereceu, no quarto dia, um banquete aos seus convidados e enviou seu eunuco para persuadir Judite a se juntar a ele e ser sua concubina. Ela se vestiu com requinte e apresentou-se diante dele, mas cuidou de não tocar na comida pagã e comeu apenas o que sua serve preparou enquanto Holofernes embriagou-se. À noite, saindo todos os oficiais e o eunuco do general, Judite disse à serva que ficasse fora vigiando e orou pedindo força a Deus. Aproximou-se da cama onde Holofernes dormia bêbado e decepou-lhe a cabeça com sua própria espada. Enrolou-a no cortinado da cama e entregou à sua serva para colocar na cesta de provisões. Como tinha permissão para sair, ninguém as parou quando atravessaram o acampamento e, assim, retornou vitoriosa para Betúlia.

Sob sua orientação, após exibir a cabeça do inimigo, os hebreus saíram em marcha contra os assírios. Aos descobrirem morto seu general, foram tomados de pavor e fugiram sendo perseguidos pelos judeus que os aniquilaram. Todos os despojos abandonados no acampamento foram confiscados pelos judeus e grande festa se celebrou em toda a cidade. Aquior foi circuncidado e acolhido no meio do povo e Judite foi aclamada por todo povo pela demonstração de coragem, virtude e castidade.

O livro de Judite é um chamado à coragem em tempos difíceis. Deus favorece aqueles que andam em seu caminho e guardam seus mandamentos, protegendo-os do mal. Como uma guerreira, confiando naquele que lhe deu a vida, Judite não abdicou de sua pureza e não usou seu corpo para atingir seu objetivo. A sensualidade não deve ser confundida com promiscuidade ou vulgaridade. Somos templos do Senhor e nossa imagem deve refletir o conteúdo do nosso coração. Vale recordar que, no antigo testamento ainda prevalece a sangrenta lei de Talião onde a crueldade e a vingança eram os meios que justificavam os fins. Cristo, em sua vinda, ressignifica essa lei em favor da compaixão, mansidão, perdão e confiança na justiça divina. Não devemos jamais espelhar nossas ações na lei antiga, mas na nova aliança firmada por Jesus.

sexta-feira, 4 de outubro de 2024

[Drama] Can't Run Away From Love

 Original: どうせもう逃げられない

Roteirista e Diretor: Kawahara Eu

Gêneros: Romance , Drama

País: Japão

Episódios: 9

Ano: 2021

Sinopse: Nodakura Naho ansiava por uma vida comum como uma funcionária de escritório, mas ela não conseguia uma oferta de emprego. Para sobreviver, por enquanto, ela decide fazer uma entrevista para um emprego de meio período em uma empresa de design chamada Solo Design Office. No caminho, Naho encontra um homem e uma mulher tendo uma briga de amantes. Para se livrar da mulher, o homem agarra Naho, que por acaso está lá, e diz que ela é sua nova namorada. Naho fica brava e instintivamente o empurra para longe. Quando ela chega mais tarde ao Solo Design Office para sua entrevista, ela percebe que o homem que ela conheceu antes é na verdade o presidente da empresa, Sakisaka Takumi. Apesar de tudo o que aconteceu, Naho de alguma forma é contratado e começa a trabalhar meio período na empresa…

Depois de Snowfall fiquei com um pé atrás para assistir qualquer drama chinês, embora eles sejam meu foco, fica difícil quando não gosto de final ruim e praticamente todos eles são ruins! Tenho algumas produções bem grandes na lista, mas não me arrisco a começar algo em torno de 40 a 60 episódios no momento. Fui ao VIKI pra dar uma olhada por alto no que andava por lá e topei com esse drama do nada, como era pequeno, combinava com meu tempo corrido e decidi ver.

A história segue Nodakura Naho, uma jovem em busca de emprego para lidar com as dificuldades financeiras. Enquanto está indo para uma entrevista, ela se depara com um jovem sendo esbofeteado pela namorada que, provavelmente, traiu. Muito discreta, ela fica lá ouvindo a discussão prestes a ir comprar uma pipoca quando, do nada, o jovem vem em sua direção e a apresenta como atual namorada para a garota histérica com quem estava discutindo. Irritada por ter sido usada como escudo, ela o repreende e vai embora, só para descobrir que ele é o CEO da empresa onde ela será entrevistada.

De início, ela acha que não será contratada, mas para sua surpresa, ele a contrata como contadora e parece se divertir pregando todo tipo de peça nela. Aos poucos, Naho vai se sentindo à vontade no escritório e acaba por ser contratada como funcionária efetiva. Porém, com as brincadeiras e a gentileza de seu novo chefe, Takumi, começam a surgir outros sentimentos que ela não é capaz de controlar.

Takumi, por sua vez, demonstra corresponder a ela, desde que passaram a trabalhar juntos, é como se ele tivesse voltado a viver depois de muito tempo, mas há uma sombra do seu passado que limita sua felicidade e ele constantemente age para manter Naho longe, mesmo nos momentos que a quer perto dele. A esse comportamento, ela não entende e se sente magoada, mas tenta compreender das maneiras que consegue racionalizar. Quanto mais entra na vida do chefe, mais Naho se vê apaixonada, mas ela será capaz de lidar com os segredos que ele esconde?

Não é um drama fantástico, claro, mas daqueles para tirar a ressaca de algum muito bom ou muito ruim, ou mesmo só para passar o tempo. Há muito não via um drama japonês e foi como retornar às origens, já que comecei com eles. No geral, gostei, a história tem um ritmo bom, como aqueles contos que você lê "numa sentada só" e os personagens são simpáticos. Levou um tempo para me reacostumar com a dinâmica japonesa, mas curti. É um romancezinho fofo que lida com a questão do luto de uma maneira muito interessante. 

Cada pessoa tem o próprio tempo e a própria maneira de lidar com a perda, é uma evolução que precisa de apoio, mas, sobretudo, de respeito. Além de lembrar-nos de valorizar as pessoas que estão à nossa volta e são importantes para nós. Que possamos dar flores, reconhecimento, carinho aos vivos, enquanto ainda temos chance de demonstrar o que sentimos.

segunda-feira, 30 de setembro de 2024

[Bíblia] Judite — Parte I

Introdução: 

O texto não foi conservado no original hebraico, restando apenas a tradução grega. Situa-se na época de libertação da Betúlia, sitiada pelo general de Nabucodonosor, Holofernes. Foi provavelmente escrito em meio às lutas enfrentadas pelos judeus agudamente nos dois séculos que antecederam a era cristã.

As indicações do livro de Judite, geográficas e históricas, são em geral muito imprecisas. Os tradutores da versão grega divergem muito entre si.

Antecedentes do assédio de Betúlia

O rei Nabucodonosor, governante da Babilônia, no décimo segundo ano de seu reinado, fez guerra contra Arfaxad na grande planície de Ragau e venceu-o. Ora, ele havia enviado emissários para todas as cidades da Cilícia até os confins da Etiópia solicitando aliados em sua campanha contra Arfaxad, mas recebeu desprezo em resposta.

Tendo vencido e submetido o império de seu inimigo, orgulhou-se da grandeza do seu próprio e encolerizou-se no seu coração contra todos aqueles que desprezaram suas ordens. Chamou então seu marechal Holofernes enviando-lhe com grande exército para vingá-lo contra os que o desprezaram. Partiu Holofernes com grande exército, riqueza, e provisões espalhando terror por toda a terra.

Aterrorizados, os reis e príncipes de todas as cidades e províncias da Síria, Mesopotâmia, Líbia e Cilícia, enviaram delegados à Holofernes pedindo-he que cessasse a campanha contra eles e oferecendo-lhe a si e seus habitantes como escravos. O general aceitou a oferta, todavia ainda destruiu as cidades e derrubou todos os lugares de adoração, pois assim lhe ordenara Nabucodonosor que desejava ele mesmo ser o deus adorado por todos.

Recebendo essas notícias, os judeus se viram aterrorizados temendo que o mesmo fosse feito ao Templo do Senhor. Começaram então seus preparativos para a guerra, cercaram os muros, guarneceram e bloquearam as passagens das montanhas, estocaram trigo e enviaram mensagens às planícies vizinhas segundo a ordem do sacerdote Eliacim. E todo povo orou fervorosamente ao Senhor.

Ao descobrir que os judeus bloquearam as passagens nas montanhas e fortificaram os muros de suas cidades, Holofernes encheu-se de fúria  e mandou trazer o chefe dos amonitas, Aquior, para arguir acerca daquele povo que recusava a se submeter ao seu poder. O discurso de Aquior é um resumo de toda a história da aliança de Deus com Israel e vendo esse conhecimento proferido pela boca de um estrangeiro pagão percebemos todo o sentido especial desse ato que enaltece a grandeza do Senhor.

Aquior aconselha Holofernes a investigar se os israelistas estavam em pecado contra o Senhor, pois, do contrário, Deus combateria por eles e Holofernes perderia. Ao ouvi-lo, o general e todo conselho se encolerizou e queria queimar Aquior, jurando que o matariam junto com os judeus. Os escravos do general levaram o chefe dos amonitas até Betúlia e o amarraram em uma árvore fugindo dos atiradores judeus. Ele foi encontrado e, após narrar seu testemunho, acolhido pelo povo judeu.

domingo, 22 de setembro de 2024

[Biblia] Tobias — Parte II

 Em meio às lágrimas por sua provação, Tobit ora ao Senhor clamando misericórdia. Enquanto isso, naquele mesmo dia, a filha de Raguel, a quem Tobit emprestou dinheiro, também pedia clemência a Deus pela sua difícil situação. Acontece que ela já havia tido sete maridos e todos eles morriam vitimados por um demônio. Sem explicação mesmo, ele só matava e é isso. Sofrendo com a situação, Sara também faz uma súplica ao Senhor para se livrar daquela humilhação.

Em sua oração, Tobit havia pedido a Deus que tirasse sua vida e, crendo que seria atendido, chamou o filho para lhe dar orientações antes de partir. Disse-lhe para enterrá-lo quando se fosse e para honrar a mãe até o fim de sua vida quando deveria sepultá-la junto com ele. Conservasse sempre o pensamento de Deus em seu coração e jamais negligenciar seus preceitos; dar sempre esmola e nunca se desviar de um pobre, sendo sempre generoso de acordo com suas posses; que se conservasse de fornicação e escolhesse por esposa uma mulher de sua tribo; jamais permitisse que o orgulho dominasse seu espírito e suas palavras, pois era a origem de todo o mal.

Jamais fazer aos outros o que não gostaria que lhe fosse feito (conselho de ouro!) dividir com quem tem fome e vestir o nu; não se juntar à companhia dos pecadores; buscar conselhos com os sábios e bendizer a Deus todo o tempo. Quem dera ainda hoje os pais educassem seus filhos com esses conselhos tão ricos em amor e sabedoria! As instruções de Tobit são o segredo para a vida plena e do agrado do Senhor! Senti um calorzinho no coração lendo essa parte e grifei praticamente tudo!

Tobit manda que Tobias viaje até a Média para procurar Raguel e receber o dinheiro emprestado anos antes. O jovem se vê um tanto preocupado porque nunca viajou e não sabe chegar até lá, além do fato de não conhecer o homem. O pai então lhe entrega o recibo e manda que ele procure alguém para acompanha-lo na viagem. Tobias acaba topando com um jovem distinto que se prepara para viajar e, sem saber que era o arcanjo Rafael, o cumprimenta e pergunta se ele conhece o caminho até a Média, leva-o então até seu pai que após mais algumas perguntas se despede dos dois. Assim, começa a odisseia de Tobias.

Pararam à margem do Tigre para lavar os pés, eis que um enorme peixe se lança sobre Tobias, este, aterrorizado, clama ao Senhor e o anjo lhe instrui a pegar o animal pelas guelras, em seguida, tirar-lhe o coração, o fígado e o fel que seriam usados como remédio posteriormente. Curioso, Tobias pede que ele lhe explique o uso medicinal daquelas três partes, ao que arcanjo responde que o coração e o fígado servem para curar a aproximação de espíritos ruins e o fel como remédio para os olhos. Chegam, então, ao seu destino e o arcanjo instrui Tobias a tomar Sara como esposa, pois é sua parenta e lhe está destinada. Explica que os homens que se casaram com ela anteriormente foram mortos porque a desposaram com ímpeto da paixão e não o desejo de gerar filhos.


Raguel os recebeu com cordialidade e, ao descobrir que Tobias era o filho de seu primo Tobit, seu coração se encheu ainda mais de alegria. Instruído pelo anjo, Tobias pediu Sara em casamento a seu pai e vendo este hesitante pelo que aconteceu aos outros maridos da jovem, foi persuadido pelo anjo a aceitar o enlace, cedendo enfim. O casamento aconteceu e, tendo seguido as orientações do arcanjo, Tobias não só conservou a vida, como afastou o demônio de Sara e este foi cuidado por Rafael e preso no deserto. Tendo o sogro rogado que ficasse mais um tempo, pediu ao anjo que fosse buscar o dinheiro do pai e permaneceu na casa dos sogros. Semanas depois, orientado por Rafael, pôs o fel do peixe nos olhos do pai. Passados trinta minutos, Tobit recuperou a visão. Bendizendo a Deus, agradecia as grandes bênçãos recebidas.

O arcanjo Rafael se manifesta para eles e lhes explica todo o acontecido, dizendo ter sido pela bondade e generosidade de Tobit que sua fé foi testada e grandes bênçãos lhes foram concedidas. Orientou-lhes a bendizer o Senhor e publicar suas maravilhas e eles assim o fizeram. Tobit cantou a Deus em ação de graças e teve um tanto de anos em felicidade antes de morrer, aconselhou o filho a, tão logo enterrasse sua mãe, partisse de Nínive e Tobias seguiu o conselho do pai, mudou-se para a casa dos sogros e viveu toda a sua vida no temor do Senhor, assim como sua posteridade.

O livro de Tobias manifesta três pontos importantes: a caridade, o temor a Deus mesmo nas dificuldades e a educação familiar. Quando caminhamos no desejo do Senhor, vem o perigo, a calúnia e a zombaria, mas se perseveramos e mantemos viva a nossa fé, Ele nos protege. Sobretudo, a única coisa que deixamos para trás é a caridade que praticamos, como disse Paulo “a fé sem obras está morta”, o mundo urge de compaixão, de amor, de Deus. E mesmo que sejamos apenas uma única andorinha, façamos nossa parte, eduquemos nossos filhos como Tobit educou Tobias. Como as famílias estão fragmentadas hoje! Correspondamos às graças ofertadas por Deus em nossas vidas todos os dias, pois sua misericórdia vem com cada amanhecer em que somos chamados a ser melhores, a agir diferente!

[Anime] Hyouka

Original: 氷菓

Ano: 2012

Episódios: 22

Gênero: Mistério, comédia, suspense

Sinopse: A história gira em torno de Oreki Hotaro, um garoto do ensino médio que sempre age de forma passiva. Um dia, ele entra em um clube, recomendado pela sua irmã mais velha. Lá ele encontra Eru, Satoshi e Mayaka. Chitanda é uma garota linda e calma, mas que se transforma em uma encarnação de curiosidade. Fukube é um menino sorridente que se destaca pela sua memória, mas que nunca constrói sua própria dedução. Ibara é uma menina rigorosa com os outros e com ela mesma. Ela ama Fukube, mas ele sempre se esquiva quando ela se aproxima. Eles começam a investigar um caso ocorrido há 33 anos. Dicas deste mistério é enterrado em uma obra antiga coletada pelos ex-membros do clube.

O que quer que Oreki precise fazer, ele faz rápido, pois seu lema é "poupar energia o máximo possível", ele é um preguiçoso convicto. Assim, jamais participou de nenhum clube, fez qualquer atividade que exigisse muito esforço e mantinha pouquíssimos amigos. Contudo, as coisas mudam quando ele recebe uma carta da sua irmã ordenando que ele entre no clube de literatura clássica que estava ameaçado de fechar por falta de membros. Sem saída, ele acaba aceitando, afinal, se vai ser o único membro, pode matar o tempo dormindo ou fazendo nada.

Porém, para frustração dos seus planos, quando ele chega à sala do clube, já havia alguém lá. Se tratava de Chitanda, a primeira a entrar para o clube e, portanto, sua nova presidente. Ela fica intrigada por descobrir que havia sido trancada na sala e acaba envolvendo Oreki para investigar o mistério. Por alguma razão, ele não consegue negar e acaba buscando uma explicação lógica para a situação, algo que encanta Chitanda. Ela revela que tem um motivo particular para ter se inscrito no clube e não dá a ele nenhuma chance de se esquivar de ser um dos membros. Junto a eles, acaba aderindo o melhor amigo de Oreki, Fukube, uma verdadeira enciclopédia de conhecimentos, mas que não consegue ser tão bom com investigação como o amigo, embora se esforce muito para resolver os mistérios. 

Os três acabam se embrenhando no passado misterioso do festival anual da escola que parece ser sombrio, e onde o tio desaparecido de Chitanda é um dos personagens. Com essa investigação e vendo a genialidade com que Oreki desfaz os nós dos mistérios, a quarta integrande do time aparece na figura de Ibara, também colega da ex-escola de Oreki e apaixonada por Fukube. Conforme os mistérios vão se tornando mais complexos, Oreki começa a se dar conta da sua própria capacidade dedutiva que, surpreendentemente, nunca falha. Ele consegue abrir planos inteiros com poucas informações e chegar nos resultados mais surpreendentes como um verdadeiro Sherlock enquanto, gradualmente, seu olhar sobre Chitanda começa a mudar.

No começo, confesso que estava vendo o anime por curiosidade, ele estava na minha geladeira do banco de séries fazia um tempão, então decidi ver sem dar muito nele, mas me vi envolvida e incapaz de largar até terminar. É uma sensação muito boa achar um anime que me faz isso, me prende na história sem precisar apelar. Além de ser divertido, é bem bacana ver as pequenas transformações no Oreki ao longo da narrativa. Para quem é fã de mistério, Hyouka pode ser uma boa pedida, começa bem despretensioso, mas logo você se vê preso por ele querendo saber o que vem a seguir e como Oreki vai resolver aquela situação.

Particularmente não shippei ele com a Chitanda, embora o enredo tente empurrar eles como um futuro casal. Eu, inclusive, achava a Eru bem lerdinha a maior parte do tempo, sempre que via os dois juntos, mesmo com a promessa implícita ali, só os via como amigos mesmo. Gostei bastante do anime, ele é excelente, sabendo equilibrar bem mistério e comédia com um slice of life que quase nem se nota.

domingo, 15 de setembro de 2024

[Livro] Lucíola + adaptação

 Autor: José de Alencar

Ano: 1862

Gênero: Drama, romance

Sinopse: Sob a perspectiva do personagem Paulo, conhecemos o relacionamento dele com uma cortesã do império por meio de cartas que ele envia à senhora G. M., nelas recorda o passado e compartilha seus sentimentos mais íntimos a respeito de Lúcia. Alencar constrói o romantismo com muita sensibilidade, ao mesmo tempo em que explora acontecimentos e cenários de maneira extremamente natural, trazendo fundos de veracidade e espelhando com maestria a corte imperial carioca. A crítica social está presente na construção dos personagens, em seus valores e atitudes, que trazem reflexões sobre os preconceitos da época e as mazelas de uma burguesia pautada por aparências.

Meu primeiro contato com José de Alencar foi na escola e não por obrigação das aulas, mas por interesse meu, numa época em que descobri romances históricos e estava apaixonada por eles. A biblioteca da escola era meu refúgio desde sempre, mesmo nas vezes em que foi remanejada para diferentes lugares conforme as reformas e as mudanças ocorriam, se estive longe dela em algum momento foi no período de um ano no qual dividíamos a escola dentro de outro colégio, misturado com os alunos de lá, de modo que não era a biblioteca da minha escola.

Lembro que, logo de cara, me vi apaixonada por Machado de Assis e sua Iaiá Garcia, mas torci o nariz para a Senhora de Alencar. Motivo? Por mais "estrambólica" que a prosa de Machado pudesse ser para meu eu de quatorze, dezesseis anos, ele usava de metáforas e intrínsecas melodias que muito me encantavam os olhos e soavam poéticas aos ouvidos. Enquanto Alencar usava aquela prosa mais "seca" permeada de um amontoado de palavras hiperbólicas que não me agradavam e dificultavam meu primário conhecimento literário.

Anos depois, após revisitar Iaiá Garcia e conhecer melhor outras obras de Machado, eis que faço nova tentativa de ler José de Alencar e, com sorte, tirar a primeira impressão ruim da adolescência.

A prosa é narrada do ponto de vista de Paulo, pernambucano recém-chegado ao Rio de Janeiro que se encanta por Lúcia, uma jovem que vê por acaso na ocasião de sua chegada. descobre ser esta uma famosa e cobiçada cortesã da corte com particularidades muito específicas no que diz respeito aos seus "clientes". Esta introdução lhe é feita por Sá, seu amigo que já tinha prévio conhecimento com a citada.

Incapaz de dissolver no esquecimento a beleza etérea da jovem, Paulo passa a ir até sua casa e tentar aproximar-se dela com claro intuito de tornar-se seu amante. A relação, inicialmente apenas moldada nos arremates da carne, vai aprofundando-se em algo mais complexo com o passar da convivência de ambos, que gera burburinho na sociedade e leva à mexericos que põem em xeque o relacionamento.

Tendo sido persuadido por seus invejosos amigos a deixar de lado essa relação infrutífera, Paulo se vê incapaz de resistir à Lúcia e a hipnótica dominância que ela tem sobre ele. Porém, a relação vai esfriando ao ponto de tornar-se uma amizade na qual ambos escondem seus verdadeiros sentimentos em nome de duvidosos segredos que por vezes são mal interpretados pelo febril Paulo.

Não tenho nem bagagem, nem conhecimento para tecer aqui análises profundas sobre a obra, por isso, vou me abster à minha impressão pessoal acerca da história e suas personagens sem buscar holofotes, tentando dar voltas em uma análise vazia de informações próprias ou tiradas de algum site qualquer. 

De fato, a prosa de Alencar não me cabe. É cheia de firulas que, embora se mostrem por vezes poéticas, são compostas de uma tessitura e cheias de hipérboles léxicas que me soam secas e talvez — não sem propósito do autor — carregadas de satírica ironia que quebram um pouco o uso ao qual eram primariamente destinadas de modo a não permitir ao leitor separar a impressão de seu propósito mesmo sendo esta sua vontade.

A obra me remeteu bastante à ópera La Traviata de Giuseppe Verdi que, inclusive, gosto bastante, esta por sua vez é baseada no livro A Dama das Camélias, de Dumas Filho, obra citada em Lucíola talvez como uma menção ou uma pista de lhe ser, de alguma forma, versão (não posso dizer, pois não li). Todavia, são semelhanças bem nítidas e pessoas que viram a ópera decerto notarão, incluindo o final trágico que se dá por razões distintas, mas em circunstâncias pares.

Paulo, que não julgo por sua ignorância dos ventos juvenis, era instável e dava-se com facilidade aos mexericos invejosos de seus "amigos" por conseguir-lhes a cobiçosa posse fugidia. Levado pela vida de aparências e futilidades, embora sabendo a verdade sobre a vida levada por Lúcia, nada dela de fato sabia e, ao mesmo em que ela lhe instava fidelidade, este a desejava enquanto a repelia em favor do próprio nome "social". Estava consciente dos sentimentos dela, mas não a assumia, tampouco se impedia de julgá-la ao menor sinal de dúbio acontecimento. O próprio admite sua boçalidade quando, enfim, a consciência experiente lhe permite compreender as nuanças que os cegos olhos apaixonados lhe subtraíam na obcecação do desejo.

Lúcia, de sua parte, começou como um enigma. Suas particularidades me deixavam a dúbia percepção dos seus pensamentos que eram intensificados pelo olhar nublado de Paulo. Entre idas e vindas do que me pareciam devaneios desvairados de uma possível insanidade, comecei a perceber, por fim, os arroubos de depressão que lhe sacudiam os sentidos devido à vida que levava e eram ainda mais violentos à luz dos seus sentimentos por Paulo. Descobrir a história dela e a revelação trágica no final apenas clareou mais essa percepção tardia. De alguma forma, ela me representava o clamor de uma igualdade jamais advinda, uma vez que, dado seu gênero e a vida levada, qualquer de suas ações eram interpretadas ao bel-prazer da sociedade hipócrita e moralista na qual vivia.

Embora não possa dizer que tenha tirado de todo a má impressão da primeira leitura de Alencar, afirmo que esta suavizou-se ao menos um pouco, embora não seria minha primeira opção escolhida entre os clássicos brasileiros. Talvez a semelhança muito grande com uma ópera da qual gosto bastante tenha sido útil no meu, se não agrado, mas perseverança na leitura e afastou por completo qualquer decepção que pudesse ter tido no final, uma vez que este era esperado desde certo ponto nos primeiros capítulos.

Adaptação

Tem 2 adaptações, um filme mudo de 1916 e outro filme já na década de 70, em 1975 que foi o que achei para ver, inclusive, acho que é o filme mais velho que já assisti. Tem no youtube para quem desejar. Foi roteirizado e dirigido por Alfredo Sternheim tendo no elenco Rossana Ghessa, Helena Ramos, Carlo Mossy, Clemente Viscaíno e Sérgio Hingst.

Eu não tenho nenhum tipo de conhecimento sobre cinema, então nem vou falar de coisas como fotografia, figurino ou coisa do tipo. Achei as interpretações um pouco "engessadas"? Achei. Mas não julguei o filme ruim, inclusive, foi mais fiel ao livro que muita adaptação feita hoje em dia. Teve pouquíssimas elipses na história, até mesmo os diálogos são tal e qual estão no livro de modo que é mesmo como se a gente estivesse vendo o filme da nossa cabeça enquanto lia na tela.

É um filme que eu indicaria? Não. Se fosse pra indicar, faria isso com o livro. Mas a título de curiosidade fui ver e para quem tem preguiça de ler por ser um clássico antigo com linguagem um tanto rebuscada, fica aí uma boa adaptação da obra.

[Bíblia] Tobias — Parte I

Informações introdutórias:
  • Foi escrito em aramaico na metade do século II a.C
  • Possivelmente ambienta-se em Nínive, no tempo do exílio
  • Importante didatismo religioso, salientando a virtude, a piedade e a fidelidade 
Tobit era da tribo de Nínive e foi levado ao cativeiro junto com os seus durante o tempo do rei dos Assírios. COntudo, manteve-se firme no caminho da verdade e compartilhava de tudo que tinha com seus irmãos de fé que partilhavam com ele do cativeiro. Mesmo sendo o mais jovem de sua tribo, era prudente e enquanto muitos dos seus irmãos se entregavam à idolatria do rei Jeroboão, ele fugia e ia ao templo do Senhor oferecer com fidelidade os tributos prescritos pela lei de Moisés.

Quando se tornou adulto, guardou-se de se casar com mulheres estrangeiras e escolheu por esposa uma mulher de sua tribo chamada Ana, com quem teve um filho que nomeou Tobias e a quem ensinou desde cedo a temer a Deus e abster-se do pecado. Por guardar com esmero em seu coração a lembrança de Deus e não contrair mancha alguma em meio ao cativeiro ao contrário de muitos dos seus irmãos, o Senhor tornou o rei dos Assírios simpático a ele, que lhe concedeu ir onde quisesse e fazer o que lhe agradasse. Tobit visitava os deportados para lhes dar conselhos.

Foi um dia a Ragés com dez talentos de prata que lhe foram concedidos pelo rei e lá entrou Gabael, um homem de sua tribo, que passava por grande dificuldade. Deu-lhe então a quantia que tinha mediante um recibo.

Quando morreu o rei da Assíria subiu seu filho Senaquerib ao trono. Este odiava os judeus. Tobit permanecia fiel à sua fé e era diligente na prática da caridade, vestia os nus, alimentava os famintos, dividia tudo que tinha e sepultava os mortos com particular solicitude.

Na ocasião de Senaquerib, ferido de peste pelo castigo de Deus, mandou assassinar um sem número de israelitas, Tobit sepulto seus cadáveres. Denunciaram-no ao rei que mandou matá-lo e confiscar todos os seus bens. Sem nada, fugiu com sua mulher e filho e por ter muitos amigos foi escondido até a morte do rei, assassinado por um de seus filhos. Tobit pôde então voltar para casa e todas as suas posses foram restituídas.

Em um dia de festa religiosa, preparada a ceia, pedia a seu filho que buscasse alguns homens piedosos de seu povo para cear com eles, tão logo saiu o rapaz, voltou anunciando que um dos israelitas jazia degolado na rua. Tobit levantou-se sem ao menos ter comido e foi buscar o corpo que escondeu m sua casa para enterrar à noite. Trêmulo, lembrou-se das palavras do profeta Amós, onde o Senhor anunciava transformar em luto suas festas por conta das iniquidades dos homens. Seus compatriotas o repreendiam pelo que fazia, mas Tobit temia mais a Deus que os reis e continuava seu trabalho.

Um dia, cansado, deitou-se junto à parede de sua casa e adormeceu. Caiu um ninho de andorinhas e o esterco quente queimou seus olhos tonando-o cego. Tendo temido a Deus toda sua vida e guardado seus mandamentos, não entregou-se à aflição e nem murmurou contra o Senhor, mas continuou lhe dando graças em todos os dias de sua vida. Os seus parentes e amigos escarneciam dele por permanecer com sua fé após castigo tão duro como recompensa por sua retidão, ele, porém, os repreendia por falarem dessa forma.

Quantas vezes, atingidos pela dificuldade, enxergamos apenas a nossa dor e culpamos ou reclamamos com Deus ao invés de, como Tobit, confiar em seus caminhos? Somos incapazes de ver que pela dor Deus nos prepara para planos melhores.

domingo, 8 de setembro de 2024

[Livro] A Casa dos Muitos Caminhos

 Original: House of Many Ways

Autora: Diana Wynne Jones

Gênero: Literatura fantástica

Sinopse: Charmain vive uma confortável e tranquila rotina – não tira os olhos dos livros não tem tarefas domésticas e, principalmente, é muito mimada pelos pais... Até que tia Semprônia lhe pede que cuide da casa do seu tio-avô, o Mago Norland, durante sua ausência. Ela imagina que a tarefa, no fim, valerá a pena – afinal, esta é sua única chance de sair de casa e tentar trabalhar na Biblioteca Real, seu maior desejo. Mas as tarefas domésticas das quais Charmain deve se ocupar são, naturalmente, quase todas mágicas. E, embora precise arrumar a bagunça que o tio-avô deixou, ela não entende absolutamente nada sobre magia!

Ao abrir a porta da casa, Charmain passa a ser responsável não apenas pelo lugar, mas também por um cachorro mágico e um muito atrapalhado aprendiz de mago. A aventura fica ainda mais arriscada quando a menina se torna alvo de uma aterrorizante criatura, e junta-se a uma equipe que vai ajudar o rei e a princesa a encontrar o misterioso dom de Elfo perdido. Como Charmain acabou no meio dessa confusão? E, mais importante: como vai sair dela?

Terceiro e último volume do Castelo Animado, o livro traz de volta os personagens adoráveis do primeiro livro e nos dão um vislumbre opaco da vida deles juntos, agora, com Howl e Sophie sendo pais do menino Morgan e ainda vivendo com Calcifer. Contudo, a protagonista do livro é Charmain, a filha imprestável de um rico casal. A mãe dela acha que garotas respeitáveis não podem fazer praticamente nada e não concorda nem um pouco com o uso de magia. Assim, Charmain não sabe fritar um ovo, é desagradável e preguiçosa, o que não contribui nem um pouco para nossa simpatia pela personagem.

Ela é recomendada pela tia avó para cuidar da casa do tio avô enquanto ele passa por um tratamento delicado. O tio avô dela é um mago muito respeitado, mas nenhum deles desconfia que Charmain nada sabe de magia, nada sabe sobre nada que não seja um nariz enfiado num livro e comer como uma desesperada faminta. Ainda assim, vê nisso uma oportunidade de escapar da superproteção dos pais e aceita, preparando uma carta para o rei se voluntariando a ser assistente da biblioteca real. Espera, longe da supervisão férrea da mãe, poder se aventurar por coisas que gosta de fazer. E o que ela gosta é enfiar o nariz em qualquer livro que lhe interesse.

Na casa do tio avô, Charmain encontra vários problemas, primeiro por não saber nada sobre magia, depois por não saber fazer nada e tampouco se importar. Por sorte, o tio avô se precaveu e encantou a casa para ajudá-la enquanto estivesse fora. Eles não contavam, contudo, com a chegada de Peter, o filho da bruxa de Montalbino que havia escrito avisando sua chegada antecipada para estudar como seu aprendiz. De início ele e a garota não se dão nada bem, embora eu tenha amado as partes que ele coloca ela no lugar.

Para sua surpresa, Charmain é aceita como auxiliar bibliotecária e descobre que o reino está falindo, o rei e a princesa estão à procura de um tesouro escondido que pode solucionar todos os problemas do castelo. Como a princesa está para receber convidados, a garota deve tomar seu lugar e ajudar o rei a procurar pistas no extenso arquivo real. E quem não é a visita da princesa senão Sophie! Com a sua chegada, não demora muito para que Howl, disfarçado de menino, apareça junto com Calcifer e o pequeno Morgan. Eles estão ali para descobrir o mistério do tesouro desaparecido e ajudar o rei a impedir que o tirano primo assuma o trono.

Enquanto descobre um pouco mais sobre si mesma e sua relação com a magia, Charmain acaba envolvida em todo o enigma e se vê encurralada em uma conspiração com seres muito perigosos que ameaçam o reino. 

A conclusão que eu tiro terminando esse terceiro volume é que nenhum dos dois se compara com o primeiro. Aqui, não apenas a personagem principal é bem antipática, o que torna difícil torcer por ela, como a própria construção da história soa bem insossa. Claro, não quer dizer que o livro é ruim, de maneira nenhuma, mas embora a presença de Howl, Sophie e Calcifer ajudem a narrativa a ficar um pouco mais legal, não é suficiente para fechar a história achando o melhor livro da trilogia.

Pra mim, a parte mais legal foi ver a dinâmica de Howl e Sophie como um casal, eu torci tanto por eles no primeiro volume, embora o romance lá seja muito sutil, no segundo eles quase não aparecem como eles mesmos e aqui, saber que eles construíram uma família dá aquele quentinho no coração. A dinâmica da casa também era um tanto confusa em alguns momentos, mas me soou bem crível com o universo mágico criado desde o primeiro livro. De dez, ganhou meu 6,0.

[Filme] O Jardim Secreto: Adaptações

Dirigido por Agnieszka Holland, foi lançado em 1993 contando com Kate Maberly, John Lynch, Maggie Smith, Heydon Prowse e Andrew Knott. 
O filme é uma adaptação fiel até certo ponto do livro. No longa, os pais de Mary morrem em um terremoto e não com uma epidemia como no livro. A mãe de Dikon, uma das melhores personagens do livro, não foi mostrada no filme, assim como o primo do pai dele, que é seu médico, deixando o pseudo antagonismo nas mãos da Senhora Madlock.
Embora as personalidades de Mary e Colin tenham sido preservadas, achei Dikon um tanto quanto menos encantador que no livro, ele perde um pouco sua aura mágica ficando meio apagado como se fosse de propósito para dar destaque aos outros dois personagens. Não gostei disso.
Além do mais, foi bem despropositado colocar essa aura romântica entre Colin e Mary, pelo amor de Deus, eles eram crianças de dez anos! Na fala que ele diz que quer se casar com ela eu pausei o filme e disse "oi?". Por mais que a criação de Colin justifique certas atitudes, a maneira como ele foi retratado no filme em relação à Mary me soou um tanto errônea. No livro, eles são apenas crianças sendo crianças, primos que se tornam amigos.
O longa tem aquela cara de sessão da tarde que dá uma nostalgia no coração, quando os filmes realmente eram bons e mágicos e tinham o poder de nos unir numa sala sem que cada pessoa ficasse preocupada com as notificações do celular ou batendo papos paralelos. Me senti de novo com seis anos, sentada no tapete da sala com os olhos grudados na tela e o meu finado avô sentado no sofá atrás de mim. Vale muito a pena se ver.

Dirigido por Dave Edwards, foi lançado em 1994. Que nostalgia! Sinto muita falta desse gráfico 2D antigo, que tem a cara da minha infância.
Assim como o live-action,a animação conta com algumas compressões de enredo. Ela é um pouco menor que o filme, mas em alguns aspectos mais fiel ao livro. Aqui, os pais de Mary morrem mesmo em uma epidemia de cólera na Índia e ela é encontrada pelos guardas. 
A relação de amizade tanto com Dikon quanto com Colin foi mantida como no livro, mas encurtada de modo considerável e a mãe do Dikon não aparece. O antagonismo ficou por parte da senhora Medlock e do doutor Craven que desejam matar Colin para ficar coma mansão, algo que não acontece no livro, embora em algum ponto de sinais que o médico não desejava a melhora do sobrinho, ele o encoraja, sim, a atividades que o ajudam a se curar.
Os animais ganham destaque na animação com voz e certo protagonismo o que se distancia um pouco do livro e dá um ar fantasioso para a história. Ainda assim, acho que vale muito a pena conferir e, não apenas isso, gostaria muito que pais mostrassem esse tipo de desenho pros filhos hoje em dia. Para mim, essas animações sim são desenho de verdade.

[Bíblia] Neemias

Neemias era copeiro do rei Ataxerxes I (465-424), quando um de seus compatriotas chega à cidade de Susã, ele lhe pede notícias sobre Jerusalém e o povo liberto do cativeiro, mas a resposta não serve senão para agustiá-lo. Hanani lhe conta que o povo está na miséria, os muros da cidade estão em ruínas e os portões incendiados.

Entendendo que, cronologicamente, este livro se insere depois de Esdras, supõe-se que a reforma estabelecida por ele não durou muito e o povo voltou a cair em pecado atraindo a fúria de Deus que lhes retirou o favor mais uma vez, deixando-os a mercê de seus inimigos. Consternado, Neemias faz uma fervorosa oração à Deus, suplicando misericórdia e pedindo para alcançar o favor do rei, podendo retornar à sua terra.

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Tal como seu antecessor, o livro de Neemias também é narrado em primeira pessoa, o que nos aproxima mais de sua pessoa, pois nos conecta com seus pensamentos e sentimentos e nos oferece uma visão parcial do mundo da época. Isso me faz pensar que a história nem sempre é escrita pelos vencedores, em boa parte, seu texto é tecido pelos sobreviventes. Esse pensamento se aplica com precisão a esses livros até aqui.

Após sua prece, Neemias buscou uma oportunidade de falar com o rei quando ele estivesse na presença da rainha para que, em caso de recusa, ela interviesse em seu favor. O rei, todavia, mostrou-se favorável a ele tão logo estipulou um prazo para sua volta. Assim, partiu o copeiro levando consigo algumas cartas do rei para conseguir passagem no além-rio.

Chegando à Jerusalém, atestou que seus muros estavam mesmo destruídos e suas portas consumidas pelas chamas. Cheio do espírito e temor de Deus, animou seus compatriotas à reconstrução independente da troça de seus inimigos que planejavam contra eles para impedi-los de reconstruir. Neemias enfrentava, contudo, mais que os povos opositores, mas uma facção do seu próprio povo que, a despeito da reforma de Esdras, compactuavam com os estrangeiros em favor de alianças matrimoniais.

As obras prosseguiram com cuidado redobrados, os homens precisavam trabalhar armados e fazer turnos de vigia para prever o ataque dos inimigos.

Além de toda essa dificuldade, o próprio povo se voltava contra os seus, aqueles que muito tinham tomavam por meio de juros os que quase nada possuíam forçando-os a vender os próprios filhos como forma de sobreviver. Enojado, Neemias os repreendeu duramente tão logo ouviu o lamento do povo, lembrando-lhes da lei do Senhor e da vergonha que sua nação representava para eles diante de Deus. Fê-los prometer devolver os bens cobrados a juro e não mais prosseguir de tal forma contra seu próprio povo.

Os inimigos dos judeus, vendo reconstruídas as muralhas e nem mais uma brecha, começaram a criar boatos sobre Neemias estar planejando uma revolta com a intenção de se tornar rei dos judeus e passaram a ameaçar levar essas fantasias ao rei. Enquanto isso, agora no posto de governador instituído pelo rei, ele continuava a obra sem cobrar seus direitos de posto para não oprimir o povo que já passava por dificuldades.

Prontas as muralhas no sexto mês, Neemias organizou os turnos de vigília e entregou a segurança a seu irmão Hananias, que era um homem de Deus. Feito isso, inspirado por Deus, ordenou um recenseamento do povo começando por aqueles que haviam sido libertados da Babilônia, entre os quais estava Mardoqueu, primo de Hadassa, que terá papel relevante no Livro de Ester.

No primeiro dia do sétimo mês, Neemias reuniu todo o povo diante da porta da água, em um pátio, e pediu ao sacerdote Esdras que trouxesse o livro da lei. O sacerdote apresentou o livro diante do povo e foi feita sua leitura da manhã até o meio-dia. Lia e explicava o sentido de cada parte distintamente para que se pudesse compreender a leitura. E temos aqui a primeira celebração da Palavra!

No vigésimo dia do mesmo mês, vestindo sacos e com a cabeça coberta de pó, os israelitas se reuniram para um jejum. Escutavam a palavra de Deus e por um quarto do dia, durante o outro quarto do dia confessavam seus pecados e prostravam-se diante do Senhor, e assim aconteceu a primeira confissão comunitária. É interessante ver nesse livro os primeiros passos do que se tornaria o rito da missa. Após uma grande prece, na qual é relembrada a trajetória do povo desde sua saída do Egito, faz-se a renovação da aliança na qual se comprometem a seguir os preceitos da lei.

Contudo, a realidade era menos brilhante que o entusiasmo fervoroso de Neemias. Tendo ele voltado para Susã, o povo voltou a transgredir a aliança e descumprir a lei. Em seu retorno, mais tarde, consternou-se ao atestar a facilidade com que se corrompia seus corações. Repreendeu-os duramente e trabalhou para recolocar as coisas em ordem, banindo, inclusive, alguns dos seus irmãos por graves transgressões contra o templo do Senhor.

O livro de Neemias traz, como o de Esdras, os primórdios da igreja a partir da observância de seus ritos e normas, mas também apresenta a intolerância religiosa por parte de alguns dentro do templo, um fato que prossegue até nos dias de hoje e nos recorda que, mesmo sendo Deus soberano e sábio, aqueles que lhe servem são homens falhos, destituídos de perfeição. Hoje mais do que nunca vejo esse povo intolerante e duro de Israel esculpido na sociedade individualista e egoísta que não percebe dos sinais da ira de Deus ao seu coração corrompido.

Estamos condenando a nós mesmos no caminho do fim. Nunca antes os homens foram mais cegos e ignorantes do que agora e cada vez menos são os chamados à conversão e claridade. Antes, era um papel de alguns, hoje é de cada um de nós. A igreja está perdendo sua voz, o povo escolhido seguiu um caminho sem volta, a humanidade perdeu o verdadeiro sentido da consciência e não consigo ver nada à frente além do grande castigo pelos nossos inúmeros pecados.

“Pois vós sois um Deus sempre pronto ao perdão, clemente e compassivo. Vagaroso em encolerizar-se e rico em bondade e assim não os abandonastes.” Nee 9,17

Setembro é o mês da bíblia, sei que ando sumida do blog, mas estou tendo dificuldades em administrar o meu tempo, querendo fazer muita coisa ao mesmo tempo. Vou tentar trazer mais posts da bíblia para cá esse mês já que é um tempo de incentivo ao conhecimento da palavra.