Autor: J. R. R. Tolkien
Ano: 1949
País: Reino Unido
Gêneros: Literatura infantil, Fantasia
Sinopse: Esta divertida história, escrita pelo autor de O Hobbit, é ambientada no vale do Tâmisa, na Inglaterra, num passado maravilhoso e distante, quando ainda existiam gigantes e dragões. Seu herói, Mestre Gil, é na realidade um fazendeiro totalmente desprovido de heroísmo, mas que, graças à boa sorte e à ajuda do cachorro Garm, da égua cinzenta e da espada mágica Caudimordax (ou Morde-cauda), amansa o dragão Chrysophylax e ganha enorme fortuna.
Minha irmã comprou esse livro, junto de outros dois Boxes numa promoção do submarino. Verdade seja dita, ela só comprou por causa do dragão, ela sequer sabia quem era Tolkien (hahaha) e já estava com um pé atrás sobre o livro antes mesmo de pô-lo no carrinho, mas como o preço estava muito barato (certa de seis reais) ela acabou comprando junto, até porque não sabemos quando vamos poder comprar livros de novo.
Bem, peguei-o para ler quando minha meta de leitura do ano havia acabado e adicionei-o, junto à Peter Pan para completar 40 livros. Vou passar dezembro lendo alguns dos ebooks que tenho, mas estou satisfeita com a meta de 2018 apesar de ter sido um ano horrível. Bem, o livro é apenas um conto curtíssimo que, não fosse o trabalho e nanowrimo, teria lido de uma vez em meia hora numa tarde qualquer. E a história é bem simples, havia um fazendeiro rabugento chamado Aegidius Ahenobarbus Julius Agrícola de Hammo, ou só mestre Gil que é muito mais prático, que vivia tranquilo em sua vididnha no vilarejo com seu cachorro covarde (não, não é o Coragem) Garm e a esposa.
Bacamarte (FONTE: Wikipédia) |
Certa noite, um gigante perdido e muito pouco inteligente (além de surdo e meio cego) acabou entrando nas terras de Gil que, furioso, conseguiu enganá-lo e atirar nele com seu bacamarte que tinha uma boca enorme o bastante para ele colocar de bolas a panelas. Depois disso, graças a Garm que acordou a cidade inteira pra ver seu mestre lutando contra o "temível gigante", mestre Gil passou a receber um tratamento de heroi na cidade e os boatos a seu respeito eram de tal forma que chegaram aos ouvidos do rei fazendo com que seu feito fosse reconhecido com uma espada velha que havia no arsenal (e de cuja existência o monarca sequer lembrava) junto a uma carta com todos os dez nomes do rei em tinta vermelha.
Quando mestre Gil estava com a bola cheia, eis que surge o obstáculo para pôr a prova sua valentia e esse obstáculo vem na forma do dragão Chrysophylax, o mais rico de sua espécime que, enganado pelo gigante, foi em busca de terras com comida em abundância e sem nenhum caçador. Logo que as notícias a respeito do dragão começam a se espalhar, tal qual os detalhes de sua destruição, todo o povo começa a ficar apavorado e apelam a mestre Gil que os salve. O próprio rei ordena que o fazendeiro vá caçar o dragão uma vez que este aparecera no meio de festividades importantes e seus cavaleiros estão impossibilitados de deixar suas atividades.
É claro que de início o fazendeiro se recusa, pelo menos até descobrir que a espada que recebera do rei era a lendária morde-cauda, uma matadora exímia de dragões. Com uma armadura improvisada, o cachorro e sua égua, Gil parte em busca de Chrysophylax, mas, ao encontrá-lo as coisas não saem bem com planejando e usando a espada e sua pouca sagacidade, Gil consegue entrar em um acordo com o dragão, ele deve trazer à cidade todo o seu tesouro e dividi-lo entre os habitantes do contrário o fazendeiro iria matá-lo. Contudo, ao descobrir a façanha, o rei reivindica o tesouro que o dragão não está disposto a dar a ninguém e a partir daí um desfecho interessante segue.
Esse foi meu primeiro contato com Tolkien e confesso que se por um lado me surpreendi com o tom infantil e até simpático de sua escrita, por outro foi um pouco desapontador não poder ter um pouco mais do requinte que tanto falam em O Senhor dos Anéis, embora saiba que esse é um conto infantil. O livrinho é divertido até, a gente se entretém com as peripécias do fazendeiro que, por sua pura sorte, consegue grandes feitos e até mesmo uma amizade improvável. Gostei e fica aí minha recomendação de leitura leve e rápida.
Ano: 1911
Autor: J.M. Barrie
Páginas: 253
Gênero: Fantasia
Sinopse: Estranhas folhas de árvore no chão do quarto das crianças, um menino, vestido de folhas e de limo, que aparece subitamente… Bem que a intuição da senhora Darlin lhe dizia que algo estava para acontecer. Logo, seus filhos estariam envolvidos numa incrível viagem à Terra do Nunca, onde os adultos não entram e de onde muitas crianças não voltam jamais!
Peter Pan foi uma surpresa muito boa para mim. Creio que foi um dos últimos filmes da Disney que assisti na época dos VHS's verdes. Quando minha irmã comprou o box (que não brilha nada no escuro) pela bagatela de 42 dinheiros eu quase não acreditei nela até ver o boleto. E como já havia lido antes tanto Alice quanto O Mágico de Oz, esse foi o escolhido para finalizar minha meta de leitura de 2018.
Como fazia muito tempo que havia visto o filme da Disney e a adaptação de 2003 eu tinha apenas uma vaga lembrança da história o que foi muito bom, pois me permitiu aproveitar melhor as surpresas que vieram dentro do livro e uma das primeiras coisas que percebi foi como as adaptações iniciais amenizaram e muito as coisas.
Basicamente, o livro gira em torno da família Darling, cujo pai se preocupa em como vão cuidar dos filhos com um orçamento tão baixo quanto o deles. Ainda assim, a senhora Darling faz de tudo para que o marido não se desfaça dos filhos e eles se tornam uma família feliz com as três crianças e Naná, a cadela "babá". Sempre que dormem e a senhora Darling vai "organizar suas mentes" (sim, isso mesmo) ela acaba percebendo as várias menções a Peter Pan embora não faça ideia de quem ele é. Pelo menos até vê-lo pela primeira vez no quarto de seus filhos à noite. No susto ela acaba fechando a sombra do menino dentro de casa e ela é "cortada" dele quando foge pela janela.
Com a ajuda de sininho, uma fadinha minúscula e desaforada, Peter volta à casa dos Darling para pegar sua sombra de volta e é quando está tentando colá-la de volta em si mesmo que ele conhece Wendy. A menina acorda ao vê-lo chorando por não conseguir pregar de novo a sombra no seu corpo e o ajuda costurando-a (literalmente) no pé do menino. Ele começa a lhe conta que vai ali todas as noites para ouvir as histórias da mãe dela e também lhe diz as maravilhas da terra do nunca onde vive despertando em Wendy o desejo de ir para lá.
Ela e os dois irmãos são levados por Peter e Sininhos (altamente contrariada) até o lar dos meninos perdidos, uma ilha cheia de perigos e belezas além da imaginação. Por dias eles voam a esmo pelo céu seguindo Peter que, por vezes, desaparecia e esquecia-se deles. Mas finalmente conseguem chegar e muito enciumada Sininho quase faz com que Wendy seja morta pelos meninos o que causa a fúria de Peter. Acompanhamos então as aventuras deles na ilha, os conflitos que existem entre as feras, os índios e os piratas, como Peter age de forma diplomática com todos eles (exceto os piratas, claro) e como a realidade e o faz de contra se entrelaçam.
Contudo, quanto mais tempo passam na terra do nunca, mais Wendy e os irmãos começam a esquecer da sua vida antiga, que parece pertencer a um passado longínquo. A menina faz o que pode para não deixar os mais novos esquecerem-se dos pais quando eles começam a acreditar que ela é mesmo mãe deles. Então, é decidido que é hora de ir para casa. Mas nem Gancho nem Peter tem a pretensão de deixar Wendy voltar pra casa.
Como disse, confesso que esse livro me surpreendeu de muitas formas, principalmente pelas inúmeras interpretações que a gente pode tirar de vários aspectos do enredo. A começar pela concepção do personagem, Barrie o idealizou em homenagem ao seu irmão que morrera de traumatismo craniano após a queda de um patins, só esse fato já torna a nossa visão da personagem outra, além disso tem questões como a insistência em permanecer criança pelo medo das responsabilidades adultas (prazer, eu) que, contudo, se contrapõe ao papel de Peter durante toda a narrativa uma vez que além de todo o faz de conta e diversão, ele assume responsabilidade pelas crianças e por Wendy uma vez que decide protegê-la.Tanto é que essas responsabilidades acabam confundindo-o em determinado momento do livro a ponto de ele não saber mais se é real ou ficção:
"― Eu estava pensando ― disse ele, com um pouco de medo. ― É só faz de conta, não é, que eu sou o pai deles?
― É, sim ― Disse Wendy, um pouco chateada.
― Sabe o que é? ― continuou Peter, num tom de quem pede desculpas. ― É que, seu eu fosse o pai deles de verdade, isso ia me fazer parecer tão velho.
― Mas eles são nossos, Peter. Meus e seus.
― Mas não de verdade, não é, Wendy? ― perguntou ele, ansioso."
(BARRIE, 1911 p. 154)
Essa questão de debater-se sobre crescer ou não talvez nem fosse exatamente o foco planejado pelo autor, na mente dele aquele menino era apenas como seu irmão que nunca cresceu, o que e leva a outro foco do livro: a terra do nunca. Não havia como eu não encará-la como um mundo além do faz de conta, na minha concepção enquanto lia a história ela parecia com algo como o purgatório ou o submundo como quiser chamar, um lugar para onde os mortos iam. Eu cheguei até a cogitar em algo como o Éden, mas com todas aquelas disputas e sangue vertendo, acabei descartando a possibilidade. E essa é outra questão que me surpreendeu muito: a violência. Crianças matando pessoas, nos últimos capítulos foi nítido Peter esfaqueando piratas, além da batalha dos piratas contra os pele vermelhas que me remeteu muito ao massacre dos índios americanos durante as expedições inglesas à América.
O fato de voar me remeteu como uma alusão à imaginação e à inocência. Os adultos não conseguem voar porque perdem ambos quando crescem, por isso só crianças que tem esse olhar esperançoso e inocente para o mundo, além do poder de imaginar e recriar tudo, conseguem voar e alcançar a terra do nunca. E, ali nas entrelinhas, implícito, está o despertar da sexualidade presentes em Wendy e Sininho ambas apaixonadas por Peter que ainda é inocente demais para entender tudo aquilo. Não sou entendida do assunto, mas acho que dava um bom trabalho sob a luz de Freud essa questão da sexualidade presente nessa história. Inclusive, há um diálogo entre Peter e Wendy que ilustra bem essa questão:
"(...)Peter ―disse Wendy, tentando falar com firmeza ―, o que exatamente você sente por mim?
― Eu sou como se fosse seu filho, Wendy.
― Foi o que pensei ― disse ela.
E Wendy foi sentar sozinha na outra ponta da sala.
― Você é tão esquisita ― disse Peter, sem entender nada. ― E a princesa Tigrinha é igual. Ela quer ser alguma coisa minha, mas diz que não quer ser minha mãe.
― Aposto que não! ― retrucou Wendy com muita ênfase.
(...) ―Então ela quer ser o quê?
―Uma dama não fala dessas coisas."
(BARRIE, 1911 p. 155)
Enfim, gostei muito de Peter Pan, além de todas essas e outras interpretações que fiz enquanto lia, essas questões mais adultas na história me pegaram um pouco de surpresa, mas ainda assim foi de um jeito bom. Especialmente porque uma criança nunca as notaria (e nesse ponto me sinto triste por ter crescido). Peter Pan te dá aquela nostalgia da infância de mundos imaginários e aventuras sem sair do lugar, te faz pensar sobre si mesmo e sobre quem você se tornou de um modo amplo e muito interessante. Vale muito a pena a leitura.
Disney (1953)
Direção: Clyde Geronimi, Hamilton Luske, Wilfred Jackson, Jack Kinney
Autores: J. M. Barrie, Bill Peet, Ted Sears, Winston Hibler, Erdman Penner, William Cottrell, Joe Rinaldi, Ralph Wright, Milt Banta
O filme da Disney é, até certo ponto, fiel à obra original, apesar do espaço-tempo ser divergente do livro (o filme passa tudo como se fosse um dia) a animação cobre alguns dos principais eventos do livro. Claro que toda a violência expressa no livro é muito amenizada na animação (até porque é a Disney, né?) e o desenho tem um quê mais infantil que o livro, focando mais na comédia e, por incrível que pareça, com menos elementos fantásticos dos que são apresentados na obra original.
A caracterização das personagens está fofinha, em contraponto, alguns aspectos de suas personalidades foi modificado, mas de uma forma que não descaracteriza os personagens. Senti falta de algumas cenas que poderiam ser interessantes, mas em compensação o desenho nos dá uma prova doce do livro e se torna um deleite extra para quem já conhece a obra.
Peter Pan (2003)
Direção: P. J. Hogan
Roteiro: P. J. Hogan, Michael Goldenberg
Elenco: Jeremy Sumpter
Ludivine Sagnier
Rachel Hurd-Wood
Jason Isaacs
Nostalgia de sessão da tarde! Não sei quantas vezes esse filme passou na televisão durante minha infância e pré-adolescência, mas com quase certeza eu assisti todas elas. Aquele primeiro shipp que a gente nunca esquece e sofre pra sempre de nunca ter se concretizado (ah se eu soubesse a existência das fanfics naquela época! ai ai)
Se comparado ao da Disney, essa adaptação é muito mais fiel ao livro, tanto em cronologia quanto em detalhes. Claro que teve ali aquela licença poética pra mudar uns diálogos, cortar umas ceninhas e acrescentar algumas coisas que não acontecem na obra original, mas isso só aumentou mais a magia do filme, sem dúvida minha adaptação preferida de Pan.
Ao contrário do filme da Disney esse foca um pouco mais no lado romântico de Peter e Wendy que não acontece no livro, inclusive, até mesmo o envolvimento de tigrinha no "quadrado amoroso" Peter-Wendy-Sininho-Tigrinha foi cortado aqui o que, por um lado, ficou bem interessante. Esse filme consegue ser fiel ao livro e ao mesmo tempo te oferecer elementos novos que acrescentam na narrativa sem descaracterizá-la (um feito que poucos roteiristas conseguem, obrigada). Se tivesse que eleger a melhor adaptação do livro essa com certeza seria a vencedora!
Pan (2015)
Direção: Joe Wright
Roteiro: Jason Fuchs
Elenco: Levi Miller
Hugh Jackman
Garrett Hedlund
Rooney Mara
Amanda Seyfried
Bom, esse filme é, na verdade, um reboot do livro. A ideia era se passar anos antes de Pan e Hook serem inimigos e contar o passado de Peter. O problema com isso é que o roteiro acaba "viajando na paçoca" e entregando uma história que não faz o menor sentido como princípio do início do livro.
Como uma produção independente, alheia à história original, o filme é até bacana, não sei como se diz isso no cinema, mas pra mim eu encarei como uma "fanfic" de Peter Pan e não uma adaptação do livro ou a tal "história não contada". Mesmo as boas atuações não conseguiram tornar o filme memorável como o de 2003 ou mesmo mágico apesar dos efeitos especiais.
Enfim, dá pra entreter, mas deixa muitos furos para casar com a história que ele pensou iniciar. Qualquer pessoa que leu o livro sabe que não daria para encaixar esse roteiro como " a história não contada" ou como "o início", mas valeu a intenção.
Esse foi meu primeiro contato com Tolkien e confesso que se por um lado me surpreendi com o tom infantil e até simpático de sua escrita, por outro foi um pouco desapontador não poder ter um pouco mais do requinte que tanto falam em O Senhor dos Anéis, embora saiba que esse é um conto infantil. O livrinho é divertido até, a gente se entretém com as peripécias do fazendeiro que, por sua pura sorte, consegue grandes feitos e até mesmo uma amizade improvável. Gostei e fica aí minha recomendação de leitura leve e rápida.
Peter Pan e Adaptações (1953, 2003 e 2015)
Ano: 1911
Autor: J.M. Barrie
Páginas: 253
Gênero: Fantasia
Sinopse: Estranhas folhas de árvore no chão do quarto das crianças, um menino, vestido de folhas e de limo, que aparece subitamente… Bem que a intuição da senhora Darlin lhe dizia que algo estava para acontecer. Logo, seus filhos estariam envolvidos numa incrível viagem à Terra do Nunca, onde os adultos não entram e de onde muitas crianças não voltam jamais!
Peter Pan foi uma surpresa muito boa para mim. Creio que foi um dos últimos filmes da Disney que assisti na época dos VHS's verdes. Quando minha irmã comprou o box (que não brilha nada no escuro) pela bagatela de 42 dinheiros eu quase não acreditei nela até ver o boleto. E como já havia lido antes tanto Alice quanto O Mágico de Oz, esse foi o escolhido para finalizar minha meta de leitura de 2018.
Como fazia muito tempo que havia visto o filme da Disney e a adaptação de 2003 eu tinha apenas uma vaga lembrança da história o que foi muito bom, pois me permitiu aproveitar melhor as surpresas que vieram dentro do livro e uma das primeiras coisas que percebi foi como as adaptações iniciais amenizaram e muito as coisas.
Basicamente, o livro gira em torno da família Darling, cujo pai se preocupa em como vão cuidar dos filhos com um orçamento tão baixo quanto o deles. Ainda assim, a senhora Darling faz de tudo para que o marido não se desfaça dos filhos e eles se tornam uma família feliz com as três crianças e Naná, a cadela "babá". Sempre que dormem e a senhora Darling vai "organizar suas mentes" (sim, isso mesmo) ela acaba percebendo as várias menções a Peter Pan embora não faça ideia de quem ele é. Pelo menos até vê-lo pela primeira vez no quarto de seus filhos à noite. No susto ela acaba fechando a sombra do menino dentro de casa e ela é "cortada" dele quando foge pela janela.
Com a ajuda de sininho, uma fadinha minúscula e desaforada, Peter volta à casa dos Darling para pegar sua sombra de volta e é quando está tentando colá-la de volta em si mesmo que ele conhece Wendy. A menina acorda ao vê-lo chorando por não conseguir pregar de novo a sombra no seu corpo e o ajuda costurando-a (literalmente) no pé do menino. Ele começa a lhe conta que vai ali todas as noites para ouvir as histórias da mãe dela e também lhe diz as maravilhas da terra do nunca onde vive despertando em Wendy o desejo de ir para lá.
Ela e os dois irmãos são levados por Peter e Sininhos (altamente contrariada) até o lar dos meninos perdidos, uma ilha cheia de perigos e belezas além da imaginação. Por dias eles voam a esmo pelo céu seguindo Peter que, por vezes, desaparecia e esquecia-se deles. Mas finalmente conseguem chegar e muito enciumada Sininho quase faz com que Wendy seja morta pelos meninos o que causa a fúria de Peter. Acompanhamos então as aventuras deles na ilha, os conflitos que existem entre as feras, os índios e os piratas, como Peter age de forma diplomática com todos eles (exceto os piratas, claro) e como a realidade e o faz de contra se entrelaçam.
Contudo, quanto mais tempo passam na terra do nunca, mais Wendy e os irmãos começam a esquecer da sua vida antiga, que parece pertencer a um passado longínquo. A menina faz o que pode para não deixar os mais novos esquecerem-se dos pais quando eles começam a acreditar que ela é mesmo mãe deles. Então, é decidido que é hora de ir para casa. Mas nem Gancho nem Peter tem a pretensão de deixar Wendy voltar pra casa.
Como disse, confesso que esse livro me surpreendeu de muitas formas, principalmente pelas inúmeras interpretações que a gente pode tirar de vários aspectos do enredo. A começar pela concepção do personagem, Barrie o idealizou em homenagem ao seu irmão que morrera de traumatismo craniano após a queda de um patins, só esse fato já torna a nossa visão da personagem outra, além disso tem questões como a insistência em permanecer criança pelo medo das responsabilidades adultas (prazer, eu) que, contudo, se contrapõe ao papel de Peter durante toda a narrativa uma vez que além de todo o faz de conta e diversão, ele assume responsabilidade pelas crianças e por Wendy uma vez que decide protegê-la.Tanto é que essas responsabilidades acabam confundindo-o em determinado momento do livro a ponto de ele não saber mais se é real ou ficção:
"― Eu estava pensando ― disse ele, com um pouco de medo. ― É só faz de conta, não é, que eu sou o pai deles?
― É, sim ― Disse Wendy, um pouco chateada.
― Sabe o que é? ― continuou Peter, num tom de quem pede desculpas. ― É que, seu eu fosse o pai deles de verdade, isso ia me fazer parecer tão velho.
― Mas eles são nossos, Peter. Meus e seus.
― Mas não de verdade, não é, Wendy? ― perguntou ele, ansioso."
(BARRIE, 1911 p. 154)
Essa questão de debater-se sobre crescer ou não talvez nem fosse exatamente o foco planejado pelo autor, na mente dele aquele menino era apenas como seu irmão que nunca cresceu, o que e leva a outro foco do livro: a terra do nunca. Não havia como eu não encará-la como um mundo além do faz de conta, na minha concepção enquanto lia a história ela parecia com algo como o purgatório ou o submundo como quiser chamar, um lugar para onde os mortos iam. Eu cheguei até a cogitar em algo como o Éden, mas com todas aquelas disputas e sangue vertendo, acabei descartando a possibilidade. E essa é outra questão que me surpreendeu muito: a violência. Crianças matando pessoas, nos últimos capítulos foi nítido Peter esfaqueando piratas, além da batalha dos piratas contra os pele vermelhas que me remeteu muito ao massacre dos índios americanos durante as expedições inglesas à América.
O fato de voar me remeteu como uma alusão à imaginação e à inocência. Os adultos não conseguem voar porque perdem ambos quando crescem, por isso só crianças que tem esse olhar esperançoso e inocente para o mundo, além do poder de imaginar e recriar tudo, conseguem voar e alcançar a terra do nunca. E, ali nas entrelinhas, implícito, está o despertar da sexualidade presentes em Wendy e Sininho ambas apaixonadas por Peter que ainda é inocente demais para entender tudo aquilo. Não sou entendida do assunto, mas acho que dava um bom trabalho sob a luz de Freud essa questão da sexualidade presente nessa história. Inclusive, há um diálogo entre Peter e Wendy que ilustra bem essa questão:
"(...)Peter ―disse Wendy, tentando falar com firmeza ―, o que exatamente você sente por mim?
― Eu sou como se fosse seu filho, Wendy.
― Foi o que pensei ― disse ela.
E Wendy foi sentar sozinha na outra ponta da sala.
― Você é tão esquisita ― disse Peter, sem entender nada. ― E a princesa Tigrinha é igual. Ela quer ser alguma coisa minha, mas diz que não quer ser minha mãe.
― Aposto que não! ― retrucou Wendy com muita ênfase.
(...) ―Então ela quer ser o quê?
―Uma dama não fala dessas coisas."
(BARRIE, 1911 p. 155)
Enfim, gostei muito de Peter Pan, além de todas essas e outras interpretações que fiz enquanto lia, essas questões mais adultas na história me pegaram um pouco de surpresa, mas ainda assim foi de um jeito bom. Especialmente porque uma criança nunca as notaria (e nesse ponto me sinto triste por ter crescido). Peter Pan te dá aquela nostalgia da infância de mundos imaginários e aventuras sem sair do lugar, te faz pensar sobre si mesmo e sobre quem você se tornou de um modo amplo e muito interessante. Vale muito a pena a leitura.
Adaptações
Há muitas adaptações de Peter Pan, tano no teatro quanto no cinema. No entanto, na minha resenha, vou me ater as três que conheço e já vi.
Direção: Clyde Geronimi, Hamilton Luske, Wilfred Jackson, Jack Kinney
Autores: J. M. Barrie, Bill Peet, Ted Sears, Winston Hibler, Erdman Penner, William Cottrell, Joe Rinaldi, Ralph Wright, Milt Banta
O filme da Disney é, até certo ponto, fiel à obra original, apesar do espaço-tempo ser divergente do livro (o filme passa tudo como se fosse um dia) a animação cobre alguns dos principais eventos do livro. Claro que toda a violência expressa no livro é muito amenizada na animação (até porque é a Disney, né?) e o desenho tem um quê mais infantil que o livro, focando mais na comédia e, por incrível que pareça, com menos elementos fantásticos dos que são apresentados na obra original.
A caracterização das personagens está fofinha, em contraponto, alguns aspectos de suas personalidades foi modificado, mas de uma forma que não descaracteriza os personagens. Senti falta de algumas cenas que poderiam ser interessantes, mas em compensação o desenho nos dá uma prova doce do livro e se torna um deleite extra para quem já conhece a obra.
Peter Pan (2003)
Direção: P. J. Hogan
Roteiro: P. J. Hogan, Michael Goldenberg
Elenco: Jeremy Sumpter
Ludivine Sagnier
Rachel Hurd-Wood
Jason Isaacs
Nostalgia de sessão da tarde! Não sei quantas vezes esse filme passou na televisão durante minha infância e pré-adolescência, mas com quase certeza eu assisti todas elas. Aquele primeiro shipp que a gente nunca esquece e sofre pra sempre de nunca ter se concretizado (ah se eu soubesse a existência das fanfics naquela época! ai ai)
Se comparado ao da Disney, essa adaptação é muito mais fiel ao livro, tanto em cronologia quanto em detalhes. Claro que teve ali aquela licença poética pra mudar uns diálogos, cortar umas ceninhas e acrescentar algumas coisas que não acontecem na obra original, mas isso só aumentou mais a magia do filme, sem dúvida minha adaptação preferida de Pan.
Ao contrário do filme da Disney esse foca um pouco mais no lado romântico de Peter e Wendy que não acontece no livro, inclusive, até mesmo o envolvimento de tigrinha no "quadrado amoroso" Peter-Wendy-Sininho-Tigrinha foi cortado aqui o que, por um lado, ficou bem interessante. Esse filme consegue ser fiel ao livro e ao mesmo tempo te oferecer elementos novos que acrescentam na narrativa sem descaracterizá-la (um feito que poucos roteiristas conseguem, obrigada). Se tivesse que eleger a melhor adaptação do livro essa com certeza seria a vencedora!
Pan (2015)
Direção: Joe Wright
Roteiro: Jason Fuchs
Elenco: Levi Miller
Hugh Jackman
Garrett Hedlund
Rooney Mara
Amanda Seyfried
Bom, esse filme é, na verdade, um reboot do livro. A ideia era se passar anos antes de Pan e Hook serem inimigos e contar o passado de Peter. O problema com isso é que o roteiro acaba "viajando na paçoca" e entregando uma história que não faz o menor sentido como princípio do início do livro.
Como uma produção independente, alheia à história original, o filme é até bacana, não sei como se diz isso no cinema, mas pra mim eu encarei como uma "fanfic" de Peter Pan e não uma adaptação do livro ou a tal "história não contada". Mesmo as boas atuações não conseguiram tornar o filme memorável como o de 2003 ou mesmo mágico apesar dos efeitos especiais.
Enfim, dá pra entreter, mas deixa muitos furos para casar com a história que ele pensou iniciar. Qualquer pessoa que leu o livro sabe que não daria para encaixar esse roteiro como " a história não contada" ou como "o início", mas valeu a intenção.
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