Autor: Matt Haig
Gênero: Ficção
Ano: 2021
Sinopse: Aos 35 anos, Nora Seed é uma mulher cheia de talentos e poucas conquistas. Arrependida das escolhas que fez no passado, ela vive se perguntando o que poderia ter acontecido caso tivesse vivido de maneira diferente. Após ser demitida e seu gato ser atropelado, Nora vê pouco sentido em sua existência e decide colocar um ponto final em tudo. Porém, quando se vê na Biblioteca da Meia-Noite, Nora ganha uma oportunidade única de viver todas as vidas que poderia ter vivido.
Neste lugar entre a vida e a morte, e graças à ajuda de uma velha amiga, Nora pode, finalmente, se mudar para a Austrália, reatar relacionamentos antigos – ou começar outros –, ser uma estrela do rock, uma glaciologista, uma nadadora olímpica... enfim, as opções são infinitas. Mas será que alguma dessas outras vidas é realmente melhor do que a que ela já tem?
Em A Biblioteca da Meia-Noite, Nora Seed se vê exatamente na situação pela qual todos gostaríamos de poder passar: voltar no tempo e desfazer algo de que nos arrependemos. Diante dessa possibilidade, Nora faz um mergulho interior viajando pelos livros da Biblioteca da Meia-Noite até entender o que é verdadeiramente importante na vida e o que faz, de fato, com que ela valha a pena ser vivida.
"Nora queria viver num mundo onde não existisse crueldade, mas os únicos mundos que tinha à sua disposição eram mundos com seres humanos dentro."
Ouvi falar desse livro ano passado quando estava em alta e todo mundo estava lendo. É raro eu ler um livro durante o hype, em geral eu espero a poeira baixar e vou tirar minhas próprias conclusões independente do "você precisa ler isso", sabe? Eu faço o que posso para fugir da opinião da maioria e processar as informações por mim mesma. Então, baixei o livro no kindle e deixei ele lá, no começo desse ano, acho, até tentei começar a ler, mas não me chamou muito a atenção.
Terminado agora, eu fico com a impressão que foi mais ou menos "escreva um livro de autoajuda sem parecer um livro de autoajuda", entende? Mas ao mesmo tempo é um livro que aborda temas pertinentes do mundo moderno, desse que a gente vive (ou sobrevive) todo dia e muitas vezes não se dá conta de detalhes que nos cercam e fazem toda a diferença.
A personagem principal, Nora Seed, de 35 anos, trabalha em uma loja de artigos musicais e tenta sobreviver com a ansiedade cada vez mais fora de controle mesmo com os remédios. O livro começa com Nora tendo um dia daqueles bem ruins, ela chega atrasada no trabalho e o chefe dela diz que não pode mais mantê-la como funcionária, ela esquece da aula de piano que teria de dar para seu aluno e a mãe dele acaba cancelando a aula, manda mensagem para sua ex-melhor amiga e não recebe qualquer resposta e encontra um ex-amigo de banda do seu irmão - da qual ela era vocalista - e ele lhe diz que o irmão dela está na cidade, mas não quer vê-la.
Sozinha, desesperada e sem ter com quem contar, a gota d'água para Nora vem quando um jovem cirurgião aparece e lhe informa que encontrou seu gato morto na esquina. É como se a última conexão dela com o mundo. Cansada de si mesma, sem ver qualquer sentido em continuar existindo e acreditando realmente que as pessoas estarão melhores sem ela, já que por causa dos seus problemas e medos ela só atrapalhou a vida deles ao fugir do casamento dois dias antes, sair da banda do irmão por medo de palco, recusar o café quando o jovem cirurgião lhe convidou, desistir da natação que seu pai desejava para ela ou mesmo seguir na carreira de glaciologista como sugeriu a bibliotecária da escola - e única fonte de afeto que Nora tinha. Ela decide cometer suicídio.
E o faz. Mas não morre exatamente como havia planejado. Ao invés disso, Nora acorda em uma biblioteca! E encontra a senhora Elm, a mesma bibliotecária da sua antiga escola, o apoio mais necessário quando ela mais precisou.
Ela descobre que ainda não morreu de fato, mas que está entre a vida e a morte. A Senhora Elm lhe conta que ali Nora pode experimentar todas as vidas que poderia ter tido se tivesse feito escolhas diferentes como, por exemplo, não ter fugido dois dias antes do casamento ou desistido da natação. De início, ela reluta, pois acredita que não vale a pena, afinal ela tentou se matar porque não queria mais existir, mas a senhora Elm consegue convencê-la e Nora passa a experimentar diferentes versões de si mesma baseadas em arrependimentos que tinha.
Quanto mais mergulha nessas vidas de "e se...", mais Nora começa a refletir sobre o que é realmente importante e o que é, de fato, felicidade. Mas talvez sua primeira decisão de desistir torne tarde demais para uma segunda chance.
"Você está pensando demais."
"Eu sofro de ansiedade. Não sei pensar de menos."
É um livro espetacular como todo mundo falava? Não. Mas tenho de dar voto para ele ao "desmistificar", na falta de uma palavra melhor, alguns mitos sobre o suicidio e a ansiedade. Não sei se alguém ainda acredita nisso, mas gente, uma pessoa que tenta se matar não quer morrer, pelo amor de Deus internalizem isso! Ela quer que a dor pare. E só alguém que já passou por isso pode entender o que é chegar ao extremo do desespero e achar que morrer é melhor que continuar mais um dia. Ansiedade é um assunto muito em pauta hoje em dia, especialmente depois da pandemia, mas ainda tem muito mito sobre o assunto e, dizer para vocês, não julguem ninguém se você não sabe como é viver com medo da própria sombra e sem conseguir desligar seus pensamentos.
Não é que a pessoa não queira mudar, todo dia ela está literalmente lutando contra si mesma para sobreviver, para fazer o que tem de ser feito, cada simples ação é um esforço enorme. Conforme eu lia a trajetória da Nora eu senti isso na leitura de forma bem sutil, talvez pelo fato do livro ser escrito em terceira pessoa isso afasta um pouco a gente da mente da personagem, ainda assim, o desespero dela é quase palpável e tudo se resume, de fato, a uma questão de perspectiva. Geralmente - e isso não é com todo mundo, há muitas exceções - a ansiedade é isso, percepção errada das coisas, às vezes até percepções demais! É um cérebro que não desliga, que vive antevendo as piores coisas e focado no pessimismo, isso gera pânico, medo, incapacita a gente.
O caso da Nora pode ser visto de alguma forma como algo isolado em muitos aspectos, mas isso não deixa de quem sofre com algum grau desse problema não se identifique de alguma forma com ela. O livro ainda envereda pelo relacionamento abusivo, pelas conexões falhas no círculo familiar, muitas vezes intensificada pela falta de diálogo e a pressão, a importância das relações interpessoais e da "desconexão" das redes sociais. Isso tudo numa personagem cuja mente amplia tudo em proporções fora do comum. E quando a gente vê ela refazendo as escolhas, meio que começa a refletir sobre escolhas que faríamos diferentes e nos levariam a outro caminho hoje.
Em menos da metade da leitura eu já sabia como o livro ia terminar. Sério, você não precisa ser versado em literatura para adivinhar isso, fica implícito e bem na cara o que vai acontecer, então nem me surpreendi. Achei que valeu o hype que teve na época? Mais ou menos. Sim na questão de trazer reflexões sobre temas em alta, mas não na construção disso como um todo. Claro que isso é pura visão minha de tudo. Ainda assim, acho uma leitura muito válida, é um livro que não cansa, embora seja de alguma forma pesado e digo isso por ter uma atmosfera meio sufocante às vezes, a gente sente aquela angústia, aquele desespero, aquela necessidade da personagem. Mas o ritmo da narrativa é muito fluido, capítulos pequenos, sem descrições desnecessárias, tornando uma leitura bem rápida.
Oi katharynny, tudo bem?
ResponderExcluirGostei muito da sua resenha, pios já tinha visto esse livro e pensado em ler, mas ainda não tive a chance. Gostei da forma sincera que você mostrou como foi sua experiência e vai me ajudar bastante na hora de finalmente ler. É um tema muito gatilho pra mim, então é bom já ir preparada, mas o fato da leitura ser fluida me anima bastante.
Até breve;
Te espero nos meus blogs!
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Olá, Helaina, muito obrigada! De fato não é um livro que você passe dias tentando ler, é bem rápido mesmo, mas não significa que seja superficial. É bom sim se preparar para alguns gatilhos. O legal é que tudo é muito sutil, mas nada leve. Acredito que você vá gostar sim. Obrigada pela visita, é sempre um prazer te receber aqui! Vou te visitar logo que der <3
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