domingo, 28 de abril de 2024

[Bíblia] Números — Parte 1

 E vamos ao quarto livro da Bíblia, os Números! Nossa, nem acredito que os posts já avançaram 4 livros. Esse tinha tudo para ser um daqueles livros bem monótonos, mas acaba que ele se equilibra bem embora tenha registros infinitos que por vezes era bem cansativo de ler, em especial pela infinidade de nomes esdrúxulos que os judeus usavam no passado e boa parte eu nem sabia pronunciar.

Números trata, inicialmente, da organização do povo de Israel antes de entrar na terra prometida. De início eu pensei que ia ser mais ou menos o IBGE da antiguidade, mas acabei descobrindo que os números caem, por isso há esse registro.

No começo, Deus manda contar todos os homens (porque mulher não vale) e meninos e divide-os por suas tribos ordenando que acampem assim. Separa, contudo, os levitas a quem designa como os primeiros "acólitos" responsáveis por servir no tabernáculo e ficarem sob as ordens de Aarão.

Há alguma recapitulação das leis e instituição de novas, tanto sobre o serviço no tabernáculo quanto sobre o convívio moral e social do povo. Então começa a caminhada e os problemas. Moisés deve ser o primeiro Jó, nunca vi! Parte o povo para o deserto e já começa a reclamar, nada nunca está bom, acabaram de se livrar da escravidão, mas não são gratos, só murmuram contra Deus e contra Moisés. Falta carne, falta pão, sempre falta alguma coisa.

E Deus se ira contra esse povo, contei umas três vezes que eles estiveram por um triz de temperar a areia do deserto e se não foram, foi por causa de Moisés. Primeiro, morreu um monte de tanto comer carne, depois morreram outros por reclamar contra Moisés e ainda morreu outro por fazer ofertas sem ser pedido! E, não satisfeito, esse povo ainda se revolta!
"Até quando me desprezará esse povo? Até quando não acreditará em mim, apesar de todos os prodígios que fiz no meio dele? Vou destruí-lo ferindo-o de peste."

E lá vai Moisés implorar perdão. De novo. Vi um meme esses dias que a pessoa não sabia como Moisés aguentou 40 anos sem dar uma cajadada na cabeça desse povo e sabe que eu até concordo? Ficava me perguntando o mesmo. Isso me fez pensar em como a nossa sede de "ter" cega a gente para Deus, quem sabe por isso Jesus nasceu numa manjedoura mesmo sendo literalmente o dono do mundo, para nos mostrar que a gente precisa de muito pouco pra ser feliz. O capitalismo nos "molda" para sempre desejar por mais, muitas vezes coisas que a gente nem precisa, e se faz necessário parar e refletir de onde vem essa nossa ganância desmedida de sempre querer ter e ter sem nunca estar saciado. E pior, cego à necessidade de quem realmente precisa.


domingo, 21 de abril de 2024

[Música] Break The Mold e a luta contra si mesmo

 Não sei se já disse isso aqui, mas minha irmã é grande fã do Three Days Grace, e, em consequência, do Adam Gontier. Quando ele saiu da banda ela ficou bem chateada, mas anos depois, eis que ele retorna com o Saint Asonia, sua nova banda. 

Nesse sábado, quando essa música tocava, começamos a comentar nossas perspectivas acerca da letra e percebi que elas eram bem diferentes. Enquanto a dela era mais "otimista" por assim dizer, a minha era um pouco mais psicológica e deprimente. Isso se deve ao fato de minha irmã ser uma pessoa psicologicamente saudável. E noto como isso influencia na maneira como vemos o mundo. Mas, parando para refletir sobre a letra, percebo que talvez eu não esteja tão errada na minha maneira de encará-la, em especial porque Adam ficou conhecido no Three Days Grace por músicas profundamente expressivas acerca dos seus conflitos internos.

Assim, decidi trazer para vocês minha visão sobre a letra Break The Mold, uma das melhores do álbum Extrovert da banda. No fim, digam aí se concordam comigo ou não.

Lembrando que análises de música são muito subjetivas, as pessoas não encaram a arte da mesma forma.

Como podemos seguir em frente quando o tempo está congelado?
Quanto tempo até vermos que estamos todos tão quebrados?
Até certo ponto as músicas do Adam costumam ser bem metafóricas
Mas sabe quando um livro já começa com aquela provocação? 
Pois bem, é o que acontece com essa música. Veja que ele usa o plural
no início do refrão, mas durante a música muda o eu lírico para a 
primeira pessoa, salientando que isso não é uma questão só dele
outras pessoas vivem o mesmo inferno, aprisionados dentro de si mesmo.
E ele entende isso.

Eu consigo sentir as paredes se fechando ao meu redor
E eu consigo ver a nuvem negra vindo pra cima de mim
Eu não consigo respirar
É como se eles estivessem me sufocando
Se eu desistir, esse será o meu fim?
Então, voltando ao que falei nas primeiras estrofes,
percebe que o eu lírico agora mudou para primeira pessoa?
A sensação de sufocar, de estar sendo encurralado e de 
prenunciar o pior se aproximando. Eu consigo entender tão bem.
Mentes ansiosas funcionam exatamente assim. A minha ao menos.
Esse "eles" que o sufocam são seus pensamentos, o excesso de
medo e pânico que o engole todo o tempo. E ele sabe, a partir do 
momento que se entregar, acabou.

Como podemos seguir em frente quando o tempo está congelado?
Quanto tempo até vermos que estamos todos tão quebrados?
Eu não vou desistir
Preso em um mundo tão frio
Como eu posso quebrar o molde?
Conversando com a minha irmã, ela encara essa música como uma 
espécie de crítica social, e não está errada de toda forma.
Com o refrão inteiro assim eu concordo com ela também.
Mas quebrar o molde aqui é mais do que fugir das regras impostas
pela sociedade. É tentar escapar do caos dentro de nós, quando ele diz
que está "preso em um mundo tão frio" ele fala de um mundo que não 
é capaz de entender como ele se sente, não se importa, trata como se fosse
apenas a falta de vontade dele em melhorar, o "mimimi", o querer chamar
atenção. E o que mais gosto é que, mesmo diante de tudo isso ele encontra um
fio de esperança, ele não vai desistir. Ele continua buscando uma forma de escapar.

Eu não consigo me mexer
É como se eles tivessem amarrado seus pesos em mim
Eu não consigo nadar
Seria esse o meu fim?
Sabe que qualquer pessoa que já passou por uma crise de pânico
ou mesmo de nervos se sente exatamente desse jeito? Parece o fim
que a gente vai morrer. Coração a mil, pensamentos focados no pior
cenário, os pulmões parecem incapazes de processar o ar. A gente realmente
acredita que vai morrer. E ele descreve isso, a paralisia da crise.

[refrão]

Eu nunca vou me encaixar nos padrões
Eu não posso ser comprado e vendido
Eu não confio mais na raiva
Eu nunca vou perder o controle
Eu sei que ansiedade tem cura. Depressão tem cura.
Mas é um processo difícil e varia muito de pessoa
para pessoa. Quando ouvi essa parte da música a 
primeira vez, pensei naquele momento que a gente
alcança certo estágio e pensa que consegue passar por
isso sem ajuda. E tenta mesmo, com todas as forças, manter
o controle da própria mente. Mas raramente dá certo.
A gente apenas aceita que não é "normal" e liga o 
foda-se.

Eu nunca vou ficar nas linhas deles
Assistindo tudo desenrolar
Você não pode controlar o que é meu
Como eu posso quebrar o molde?
Essas duas estrofes me falam muito sobre a incompreensão, na maioria das vezes vindas da nossa própria família que nunca acha que a gente se esforça o suficiente, continua achando que é tudo coisa da "nossa cabeça". Quando ele diz "você não pode controlar o que é meu" é o mesmo que falar que ninguém pode dizer como o outro se sente se não passa o mesmo que ele. São pessoas que ficam apenas "assistindo" sem se colocar no nosso lugar.  E aqui, "quebrar o molde" também pode significar quebrar os estereótipos, quebrar a visão errada que os outros têm sobre a nossa mente. Sobre a selva diária que enfrentamos sem nunca alcançar o que esperam de nós.

[refrão]

E você? Como encara a letra dessa música? É do time da minha irmã que acha que é uma crítica social? Acho que consigo vê-la nesse viés sim de alguma forma. Mas essa foi a impressão que tive quando ouvi ela a primeira vez.



[Bíblia] Levítico - Parte II

 E voltamos com a última parte do Levítico. Só quero voltar a salientar o que disse na parte anterior, a gente não deve, de modo nenhum, levar esse livro ao pé da letra. Na verdade toda a parte do antigo testamento é considerada histórica, uma preparação do caminho para a vinda de Cristo que, com seu testemunho e ensinamento, ressignifica toda a lei. Claro que tampouco estou dizendo que tudo está liberado e a gente tem que viver como quer porque Deus perdoa. Mas precisamos ter atenção ao contexto histórico no qual o livro está alocado e a sua função a partir da perspectiva de Jesus, que é a quem seguimos.

"Se um homem tomar a sua irmã, filha de seu pai, ou sua mãe, e vir a sua nudez, e ela vir a sua, isso é uma coisa infame. Serão exterminados sob os olhos de seus compatriotas." (20,17)

Se entendi direito, configura incesto entre apenas pessoas  com relação de sangue.

"Se um homem tomar por mulheres a filha e a mãe, cometerá um crime. Serão queimados no fogo, o homem e as mulheres, para que não haja tal crime no meio de vós." (20, 14)

Achei pesadíssimo. Só não entendi se trata do incesto parental ou  de qualquer situação do tipo. E, no caso do pai tomar a filha contra a vontade dela? Parece que incesto é ainda mais abominável que homossexualidade dada a punição.

"Qualquer homem ou mulher que evocar os espíritos ou fizer adivinhações, será morto. Serão apedrejados e levarão sua culpa." (20,27)

Seria isso a doutrina espírita ou as tais xamãs? Vi nesse livro que feiticeiras também devem ser mortas. Dever vir daqui desde a inquisição até hoje metade do fanatismo extremo. Ainda assim, o texto em nenhum momento é claro sobre que tipo de prática seria, imagino que seja a necromancia que era praticada por alguns povos na época.

Há, no capítulo 21, uma parte (v. 13) que afirma que o sacerdote pode ter uma esposa, desde que esta seja virgem. Fico imaginando se isso se devia a continuidade da linhagem de Aarão como sacerdote ou se o celibato de hoje se deve à jornada de Cristo ou a seus apóstolos que, até onde me consta, não se casavam, e mesmo alguns já casados, como Pedro, deixou para trás a esposa. Outra coisa que se destacou foi a respeito das pessoas com deformidade não poderem ser sacerdotes nem poder se aproximarem do altar... achei essa distinção e exclusão cruéis, e enfatiza muito que tudo oferecido deve ser "sem defeito". Como um povo se revolta tanto pode oferecer qualquer coisa "perfeita"?

"Todo aquele que amaldiçoar o seu Deus levará o seu pecado. Quem blasfemar o nome do Senhor será punido de morte: toda a assembleia o apedrejará. Quer seja ele estrangeiro ou natural, se blasfemar contra o santo nome será punido de morte." (24,15-16)

Agora me digam, se a gente levar isso ao pé da letra ao invés de ler o novo testamento e entender os ensinamentos de Jesus e a ressignificação da velha aliança, quantas pessoas estariam vivas hoje? Quanto sangue nós teríamos nas mãos? A primeira pessoa que eu ia matar era meu pai. Entendem quando eu digo que Cristo muda tudo? A partir do sacrifício dele cada um é responsável pela sua salvação, ela deixa de ser coletiva. A gente faz a nossa parte, mas sobretudo dando testemunho com nosso próprio exemplo de vida. Jesus acolheu mesmo aqueles que não acreditavam nele, que professavam uma fé diferente, como a samaritana.

O sermão da montanha, por exemplo, é a passagem que muda a maior parte da lei do levítico, extrai-se a violência e a intolerância e prega-se o respeito, a compaixão, a serenidade e a pacificidade.

"Todo aquele que ferir mortalmente um homem será morto. Vida por vida. Se um homem ferir o próximo, assim como fez, assim se lhe fará a ele: fratura por fratura, olho por olho e dente por dente. Sofrerá o mesmo que ele fez ao seu próximo." (24, 17-20)

Vou comentar isso com apenas uma frase: "Perdoai para alcançar o perdão;" (MT 6, 14-15)

Ainda teve a lei contra agiotagem que também pensei que era em provérbios, confessar que esse livro foi bem difícil de ler e me deixou com muitas interrogações. As leis se contradiziam entre si, uma hora o mandamento é "não matarás"  e logo pode matar o blasfemo, o sodomita, o incestuoso, o assassino. Outra coisa que me incomodou muito foi como a mulher vale pouco, tudo é nossa culpa tudo é menos com a gente, tudo que fazemos é errado, "impuro". E pelo que li até agora vejo que isso é bem arraigado na lei judaica, a mulher está sempre no último degrau, as coisas mudam muito pouco ao longo do tempo.

Contudo, com minha passagem pelo Evangelho de Mateus consegui me sentir um pouco melhor e ter uma visão mais ampla desse texto. Por isso saliento, sempre tenha cuidado de contextualizar o livro no momento histórico e na sua função segundo a perspectiva de Jesus. Do contrário, o caos vai estar armado porque vão achar que pode tudo já que está na bíblia. E aqui terminamos Levítico.

 

 

sábado, 20 de abril de 2024

[Filme] (Re)Vendo todas as adaptações da Cinderella - Parte 3

 Também em 2018 fizeram essa peculiar animação que tinha o intuito de funcionar como uma subversão do conto original. A premissa é similar a ideia do filme Deu a Louca na Cinderela (que, por sinal, eu não coloquei nessa lista) mas reimagina o mundo no qual a fada madrinha é a vilã. 

Vou contar a vocês que a ideia era boa, mas o desenvolvimento foi péssimo, não somente pela escolha do enredo cíclico, mas o gráfico da animação é pavoroso, a história não se esforça muito de modo que em dois minutos de filme eu já tinha matado toda a charada, é uma pena porque a ideia era realmente interessante e, nas mãos do roteirista certo, teria se saído muito bem.

Confesso pra vocês que não tinha nem conhecimento da existência dessa animação, descobri quando comecei a listar e procurar outras versões da Cinderella. Não recomendo. Nem pra criança esse é um filme decente por melhor que a ideia tenha sido.

E voltamos para outra "nova" Cinderella, dessa vez no longa Milagre de Natal lançado em 2019 trazendo a Disney star Laura Marano, cuja existência descobri nesse filme, e Gregg Sulkin. Esse é daqueles filmes natalinos bem cara Sessão da Tarde e se entrou na minha lista foi porque minha irmã ama filmes de natal.

Mas confesso que me surpreendi bastante. Ele conta a história de Kat Dekker, cuja mãe morreu na infância e o pai, um explorador famoso e defensor dos animais, faleceu dois anos antes deixando-a sozinha sob a tutela da madrasta e das irmãs postiças até fazer dezoito anos, quando finalmente poderia tomar posse da sua herança — se sobrasse alguma — e viver a própria vida.

Ela trabalha na Noelândia junto com sua melhor amiga Isla, como uma duende cantora e tem uma voz muito bonita. Seu sonho é ser cantora e poder cantar suas composições no teatro ou fazer trilha sonora para filmes. Ela acaba conhecendo o "príncipe" Dominik Wintergarden de um jeito bem constrangedor e espera não vê-lo nunca mais, contudo o destino tem outros planos e ele acaba indo trabalhar no mesmo lugar que ela, mesmo sendo o dono de todo o lugar. Todos os anos, o bilionário pai dele oferece um baile de natal para arrecadar fundos para animais em perigo de extinção e doentes ou desabrigados.

A madrasta de Kat vê nisso a oportunidade de empurrar sua filha Joy para Dominik e tentar laçar o bilionário, enquanto Kat continua se escondendo dele de todas as formas. A sorte está lançada.

Embora não seja daqueles filmes memoráveis, o timing cômico dele é muito bom, o romancinho é fofo e o desenvolvimento da história, apesar de bem previsível, funciona bem. Gostei bem mais do que esperava e recomendo bastante.

Saindo das cidades modernas americanas ou da medieval sociedade francesa, Três desejos para Cinderela, lançado em 2021, nos transporta para as planícies geladas da Noruega. O pai de Cinderela tinha uma modesta propriedade no inóspito reino das montanhas geladas da Noruega medieval. Sua filha única Cinderela era uma encantadora e inteligente jovem a quem ele ensinou a caçar, mas acabou se casando novamente com uma sofisticada mulher que tinha uma filha desajeitada e, apesar de bonita, sem qualquer vontade própria.

Com a morte do pai, Cinderela passou a viver sozinha com a madrasta que a tratava como uma serva e a proibia de sair de casa, forçando-a a dormir no estábulo e excluindo-a de qualquer evento envolvendo a família. Ainda assim, a jovem contava com a bondade e amizade de todos os servos da propriedade que a adoravam, além de ter uma profunda conexão com os animais. 

O rei estava preparando um baile para seu inescrupuloso e mimado filho escolhesse uma esposa — antes que ele mesmo fizesse por ele — e é claro que a madrasta queria sua filha com a coroa. Ela não tinha nem ideia que, em uma de suas fugas durante a visita real, Cinderela acabaria conhecendo o príncipe que lhe deixou encantado com sua impetuosidade. Seu melhor amigo e principal criado da casa lhe traz três nozes e a garota descobre que são encantadas. Três chances de conquistar o príncipe e encontrar o verdadeiro amor, ela será capaz de arriscar?

O longa é um frescor na já batida história da Cinderela, trazendo um gélido ar novo e seguindo de perto o conto original, mas mantendo sua própria identidade. Uma princesa que é frágil, mas não inútil, um príncipe inconveniente e mimado em busca da própria identidade e uma madrasta egoísta e sedenta de poder. Tudo isso embalado pelas belas e geladas planícies norueguesas. Recomendo demais essa versão, é a prova que a mesma história nas mãos de um roteirista competente pode sim se renovar. Não tenho certeza, mas esse filme parecer ser um remake de um outro de mesmo novo produzido pela Alemanha oriental e Tchecoeslováquia em 1973.

Esse foi outro que achei por acaso enquanto pesquisava sobre as adaptações. Em outra "nova" Cinderela, dessa vez Superstar, lançada também em 2021, nós temos Finley, cujo pai era dono de uma bela propriedade rural onde ela cresceu. Infelizmente, ele teve a infame ideia de se casar de novo com uma mulher fútil que tinha um casal de filhos, uma garota com nada no lugar do cérebro e um garoto com o melhor perfil de sociopata.

Quando as gravações de um filme do famoso ator Jackson Stone vão para a cidade, claro que Finley quer ir às audições, pois seu sonho é se tornar uma famosa atriz, e é claro que tanto a madrasta quanto a irmã não querem isso. Ainda assim, ela consegue escapar, mas as coisas não saem como ela gostaria e, para não perder de vez a oportunidade, ela recorre a um recurso de emergência. Agora, vivendo duas vidas enquanto se aproxima de um modo perigoso de Jackson, Finley precisa dar tudo de si para agarrar sua última chance de salvar sua casa e realizar seu sonho.

Olha, depois da Cinderela mecânica, duende de natal e garçonete, uma Cinderela fanzendeira era o que estava faltando, concorda? E eis que temos uma! Com pouquíssimas novidades narrativas, o longa se confia na comédia para funcionar e até que dá certo, embora seja tudo quanto nós já vimos um milhão de vezes antes. Esse recurso do crossdressing já está bem batido. É o tipo de filme também sessão da tarde, não acrescenta muito, mas dá para passar o tempo e de quebra umas risadas. Não é ruim, tampouco marcante.

Filmes que não consegui assistir:

Rodgers & Hammerstein's Cinderella (1997)Queria muito ver, mas não encontrei legendado em lugar nenhum. Na verdade, não encontrei. É um telefilme com ninguém menos que Withney Houston no papel da fada madrinha! E conta com uma Cinderela negra e um príncipe asiático, um super elenco diversificado para uma Disney sumariamente branca até pouco tempo. 
O filme é baseado em um musical da Broadway contando com, além da imortal Withney, Whoopi Goldberg, Paolo Montalbán e Bernadette Peters no elenco.



Cinderela: Depois do Para Sempre (2019)
— Esse também não encontrei. Tem cara de ser duvidoso? Tem. Ainda assim a premissa é interessante e explora uma ótica que os outros filmes, além do Cinderella 2 da Disney, não se preocuparam em usar.



Filmes que não vi porque não quis mesmo:

Cinderella (2021)
— Nada contra a Camila Cabello, eu nem escuto as músicas dela e nem sei nada da carreira dela tampouco, mas que esse filme dela soa forçado e com muita vontade de ser revolucionário — mas só soando forçado mesmo — isso é. Até comecei a ver uma parte, mas dropei. Narrativa insossa, personagens caricatos e um roteiro que luta muito para se levar a sério e acaba falhando. Quem gostou me desculpe, mas não pretendo terminar.






Cinderela Pop (2019)
— Esse conto apareceu no Livro das Princesas, e depois Paula Pimenta foi convidada a fazer uma versão estendida que eu não li. Achei a versão do conto tão sem sal que não me interessei em ler a outra. E tampouco dei atenção ao longa quando foi lançado. E não tenho nada contra o cinema e a literatura nacional, mas nem o estilo da Paula Pimenta me atrai, e já li outros livros dela antes, nem a história me pareceu boa suficiente para me fazer sentar uma hora na frente do computador pra ver o filme.



E é isso, pessoas. Deve ter algum filme da Cinderela que eu deixei passar porque parece que a lista não termina. Mas esses foram os que vi, os que queria, mas não consegui e os que não quero mesmo assistir. Talvez mude de ideia depois? Talvez. Caso aconteça, trago as resenhas separadas. Espero que tenham gostado e me contem qual versão da Cinderela vocês mais gostam!



quinta-feira, 18 de abril de 2024

[Filme] (Re)Vendo todas as versões da Cinderella - Parte 2

 E eis que estou de volta com a segunda parte das adaptações da Cinderela, gente nem eu fazia ideia que eram tantas, meu Deus, galera espremeu até o sumo da história. Mas, como bem dizem, um tema clichê nas mãos da pessoa certa pode se tornar único.

Como falei na primeira parte, depois do lançamento de A Nova Cinderella com Hillary Duff, um boom de 'novas cinderelas' surgiram bem no estilo 'copiar e colar' com pouquíssimas novidades e acertos. É deles que vamos conversar nesse post e, já adianto, se você gosta de um deles com todo seu coração, tudo bem, não venho aqui causar intriga, tampouco minha opinião é a única que vale. Podemos seguir sendo amigos.

Em 2008, com o auge das estrelas Disney, surge Outro Conto da Nova Cinderella (nem se dignaram a escolher um título decente), estrelado por Selena Gomez e Drew Seeley. Na história, Mary Santiago é a filha órfã de uma dançarina que ficou sob a tutela da patroa de sua mãe após a morte desta.

A coisa que ela mais quer é se formar e ir para faculdade para poder se livrar da patroa e das filhas insuportáveis dela. A oportunidade vem quando Joey Parker, um famoso ator e dançarino, volta para sua cidade natal a fim de encontrar a dançarina perfeita para seu novo vídeo. 

Com aquela cara de Camp Rock sem o 'rock', o filme é bem fraquinho, sem muita novidade e ela deixa para trás o MP3 quando foge do baile de máscaras onde dançou com Joey. Enredo fraco, comédia fraca e antagonistas que não se levam a sério, é aquele filme bem pré-adolescente mesmo que não empolga muito porque você já começa sabendo como termina e o final foi bem mais ou menos.

Três anos mais tarde, em 2011, Lucy Hale (Pretty Little Liars) se junta a Freddie Stroma em A Nova Cinderella: Era Uma Vez Uma Canção. A proposta era ser uma comédia romântica contando a história de Katie, uma garota adotada por uma família rica que só pensa no próprio umbigo.

Sua irmã adotiva Bev quer muito ser uma cantora, mas não consegue emitir uma nota sem arrebentar os tímpanos de alguém, enquanto Katie é muito talentosa e não somente tem uma bela voz, mas também é compositora. Um empresário de sucesso coloca seu filho Luke para estudar na mesma escola de Katie com o propósito de escolher o novo próximo talento de sua gravadora.

Sorrateiramente, Katie coloca sua demo na bolsa do empresário que escuta e fica fascinado, mas ao ligar para a mãe adotiva da garota, ela diz que a demo é de Bev e a confusão começa. Esse filme tem aquela cara de High School Musical só que menos carismático, a comédia funciona em partes, e tem horas que o filme parece não se levar mesmo a sério. Um romance meia boca e um final bem previsível. Não é o pior da lista, claro, mas não é marcante o suficiente.

Eis que em 2016 tivemos Sofia Carson e Thomas Law em A Nova Cinderela: Se o Sapato Encaixar, e apesar do título ninguém perde sapato nesse filme. Embora ele não seja um longa marcante e que a gente quer ver e rever todo ano, pelo menos se preocupou em agregar alguns elementos novos ao roteiro.

Em alguns pontos, ele parece uma cópia do anterior. Bella é tratada como criada por sua madrasta, ela sonha em se tornar uma estrela pop, quando um famoso ator está procurando uma atriz e cantora para sua peça musical com direito a estrelar um filme, as irmãs de Bella logo decidem tentar, mas a madrasta, claro, não quer nem sonhar com a enteada ofuscando suas filhas.

Detalhe interessante: essa Cinderela aqui é mecânica, a mina entende tudo de carros e motos, é assim que ela e o "príncipe" se aproximam. Ajudada por uma amiga, Bella se disfarça com uma peruca loura e um sotaque britânico que não enganaria ninguém para poder participar do concurso e, é claro, chama a atenção do príncipe conseguindo o papel. Mas se dividir em duas pessoas diferentes não vai ser fácil para ela.

O final desse filme é bem ridículo, mas ele não é de um todo horrível. A comédia funciona a maior parte do tempo e embora a química entre os atores seja bem ruim, ao menos o enredo compensa a falta com um desenvolvimento razoável. É bem estilo Cheetah Girls, sabe?

Para finalizar, sabe quando alguém te pergunta se quer a notícia ruim ou boa primeiro? Pois bem, em 2018 foram feitas duas adaptações da Cinderela. Vou começar pela ruim.

Gente, esse filme é ruim. Mas é ruim num nível que chega a ser cômico! Para vocês terem uma ideia, ele tem nota 3 de 10 no IMDB. E eu ainda acho muito. Sabe o que parece? Um grupo de atores de bairro se juntou para fazer um filme independente e eles realmente se levaram a sério para pegar a câmera do amigo rico emprestada e gravar. As atuações são tão ruins e tão artificiais que nem um aluno de atuação no primeiro período de artes cênicas fariam tão mal.

Cinderela tinha um pai amoroso que a criou para ser uma garota que faz tudo, embora tivessem muito dinheiro. Então ela sabia cozinhar e arrumava a casa de salto alto. Ele se casou de novo com uma mulher que tinha duas filhas e a única coisa que sabia fazer era gastar dinheiro. No dia do aniversário dela, ele saiu para ir numa reunião e nunca mais voltou. Embora tenha uma tia com plenas condições de cuidar dela, a garota escolhe sofrer o pão que o diabo amassou nas mãos da madrasta sem qualquer motivo! Com a desculpa esfarrapada de estar cuidando das coisas do pai.

Não bastasse isso, a madrasta vende a casa para um empresário rico para quem pretende vender a empresa também através de um acordo matrimonial com uma das suas filhas. E é claro que no baile dos acionistas (que só tem uns seis figurantes com idade de estar no segundo ano de administração) a garota consegue escapar da madrasta e vai na festa com a ajuda da tia. O "príncipe" em questão parece aqueles garotos de Boyband estilo CNCO. Sério, não dá para levar esse filme a sério. E o final é a pior parte, é a verdadeira definição de deux ex machina, se você quer aprender o recurso, só assistir.

O longa é um manual do que não fazer em um roteiro. Dizer que é péssimo soa até elogioso. E de tão ruim, não se acha nem onde ele foi feito. Na verdade se acha muito pouco sobre ele na internet, mas se você for masoquista, ele está completo no youtube.

Também em 2018 surgiu Não o Tipo da Cinderela, filme que, ao que parece, foi baseado em um livro que eu queria muito ler porque em meio a tantos filmes parecidos, ele mostrou que o clichê nas mãos do roteirista certo (do escritor, no caso) pode sim render bons frutos.

Após a morte dos pais, Cindy Ella fica sob a custódia do tio. Ele e a esposa já tem duas filhas e não queriam de forma alguma ficar com ela, de modo que a menina é tratada com indiferença e como uma criada na casa. Indy, como gosta de ser chamada, não tem muitas perspectivas na vida e sua estima é bem baixa.

Ela conhece o príncipe encantado, Bryant, de maneira inusitada. Apesar de ele ser o garoto mais popular do colégio e dos dois estudarem por anos na mesma escola, sua primeira interação acontece quando ele mata a gata dela atropelada (sem querer, é claro). A partir daí, uma série de reviravoltas vai virar a vida de Indy de cabeça para baixo.

Embora as atuações desse filme não sejam as melhores, não chegam a ser sofríveis. A história é muito boa e se sustenta por si mesma, trazendo a pauta do abuso psicológico e com um "príncipe" que é exatamente como todos os homens deveriam ser na opinião desta autora. Fofo, dramático e romântico na dose certa, é o tipo de filme que eu veria duas ou três vezes no ano quando quisesse ficar com o coração quentinho. Recomendo e você também acha inteiro no youtube. Inclusive, se alguém souber onde tem o livro, por favor me diz, quero ler.

Vai ter parte 3 desse post porque ainda tem muitas versões da Cinderella que eu ainda não assisti, então vou maratonar com a minha irmã e volto com o que achei. Mas e aí, conhecia alguma dessas adaptações? Gostou de alguma? Me conta aí.




domingo, 14 de abril de 2024

[Bíblia] Levítico parte I

 Antes de começar, preciso dizer para se ter muito cuidado com a primeira leitura desse livro. Olhando agora minhas anotações percebi o número de dúvidas que tive durante a leitura por não ter conhecimento suficiente para entender o tempo e espaço narrativo no qual esse livro se encaixa. A introdução dele na minha bíblia é muito vaga e não oferece muito contexto, de modo que, além de maçante, o livro pode ser um pouco chocante de início.

Lembram quando, no último post, disse que o Pe. Reginaldo Manzotti disse que deveríamos começar a ler a bíblia pelo novo testamento? Bem, talvez o motivo seja por livros como Levítico e Juízes. São leituras difíceis, por vezes indigestas e que nos fazem questionar as leis divinas. Mas, entendamos isso como os primórdios da igreja, e essa igreja primitiva, em um período onde o povo judeu era governado diretamente por Deus, foi "renovada" através de Jesus de modo que, quando vemos algumas dessas leis implacáveis e algumas até mesmo intolerantes, não devemos e nem podemos nos assustar, mas tentar entender o percurso e o momento histórico desse povo e como Jesus, com sua vinda, ressignifica essa lei e a transforma em uma nova aliança.

Claro que agora eu tenho uma visão melhor disso, mas quando li da primeira vez, de cara, fiquei bem confusa, chocada e até cheguei a duvidar do amor infinito de Deus '-' porque tem umas coisas nessa legislação que são impensáveis no dia de hoje, inclusive, muitas "religiões" por aí se apoiam nesse livro para construir seus dogmas, algo completamente impensável e que contraria a compaixão, igualdade e respeito pregados por Cristo. Como bem disse aquela música, "Jesus rosto humano de Deus", mas não só o rosto, ele é o coração humano do Senhor e, através dele, somos refeitos e convidados a uma vida nova, mas uma vida que não nos tolhe ou nos aprisiona.

Explicado isso, vamos às minhas anotações. Vou dividir em dois posts porque eu não fiz anotações por capítulo como nos livros até aqui, eu fiz um texto corrido sobre todo o livro. Então, pra não ficar muito grande, vou dividir.

Esse livro é basicamente um manual acerca das leis rituais e prescrições culturais dos judeus e tem o valor mais documental, todavia, farei menção aos pontos que me chamaram a atenção.

"sed lex, dura lex"

Não tenho ideia do quanto Cassandra Clare referenciou a bíblia em sua fantasia com anjos, mas tenho forte impressão que essa frase veio enquanto ela lia esse livro. Digo isso porque em maior parte do tempo era nela que eu pensava em quanto lia.

Comparado com a fluidez do Gênesis, o Levítico em boa parte é bem desinteressante, assim como o Êxodo da metade pro final que se fixa muito em instruções para o tabernáculo e as medidas, pesos e tudo o mais estava em referências difíceis de converter.  Boa parte do Levítico —  que leva esse nome por causa da tribo de Levi — se trata do que hoje compõe boa parte da tradição judaica.

Todavia, a parte da legislação em si tiveram algumas coisas que me chamaram a atenção, muitas delas eu já sabia, outras eu só não sabia que era nesse livro, e outras eu nem fazia ideia e me deixaram um tanto pensativa. Como é um livro do Antigo Testamento e, segundo a igreja, muito se renova e muda com a vinda de Cristo, não pude deixar de me sentir ansiosa com alguns detalhes. E vamos de perguntas:

"Não te deitarás com um homem como se fosse mulher: isso é uma abominação (18,22); se um homem dormir com outro homem como se fosse mulher ambos cometerão uma coisa abominável. Serão punidos de morte e levarão sua culpa. (20,13)

Sabemos de onde vem as punições tenebrosas que se vê pro lado do oriente médio. Pensei que isso estava em provérbios (não sei por que razão), não deixou de soar pesado. Se não condenamos, somo coniventes? Até onde o amor ao próximo é tolerável então? Mil coisas se passaram na minha cabeça.

Poréeeeeem.... Jesus muda isso quando diz "amai ao próximo como a ti mesmo", sabe a ideia de amar o pecador e repudiar o pecado? É mais ou menos isso. A salvação, a partir do sacrifício de Cristo, deixa de ser coletiva e passa a ser individual. Cada um vai responder por si mesmo diante de Deus. Então, apenas amemos um ao outro e o resto não é da nossa conta. Respeito é a palavra chave aqui, devemos respeitar as escolhas do outro e deixar o julgamento para Deus. Ele é quem decide o que é certo e errado. 

"Não odiarás o teu irmão no teu coração. Repreenderás o teu próximo para que não incorras em pecado por sua causa. Não te vingarás; não guardarás rancor contra os filhos do teu povo. Amarás teu próximo como a ti mesmo." (19, 17-18)

Ok, e se meu próximo é a pessoa da lei de cima eu faço o que? (foi a primeira coisa que pensei quando li isso hahahaha)  Entende como é contraditório? Agora compreendo melhor o dilema de quem questiona. Se meu próximo é homossexual eu mato, mas se não é eu amo? 

Dá pra pensar nisso, não dá? Mas volto a lembrar, essas leis foram ressignificadas por Jesus, de modo que acabou essa violência desmedida. Cristo nos prega tolerância e respeito mútuos, o julgamento fica para o Pai.

"Não fareis figura alguma em vosso corpo" (19, 28)

Esse eu também pensei que estava em provérbios (por que encasquetei com isso, não sei) Esse versículo também  fala de "incisões por um morto" o que não entendi. Mas a mensagem da tatuagem foi recebida com sucesso. A coisa é que, não é porque a pessoa tem tatuagem que vai direto pro inferno, eu conheço muita gente que não tem um centímetro de pele sem figura, mas o coração não cabe dentro do corpo. Enquanto outros com a pele limpinha não vale o que o gato enterra. Entende como é? O coração vem antes e é com ele que Deus se importa. 

Por enquanto é isso. Esse livro é bem polêmico e cheio de complicações. Muitas dessas perguntas que eu coloquei nas minhas anotações, com o passar dos livros e por já ter dado uma conferida em Mateus, foram mais "iluminados" e estou tentando expor aqui da melhor forma possível. Se a gente lê Levítico como um livro de condenação ao pé da letra, metade da humanidade já estaria com um pé no inferno '-' a gente precisa de contexto, situar a situação em um tempo e uma narrativa próprios que vão se modificando ao longo do tempo. Muitas dessas leis apenas mudaram de forma e contexto com a vinda de Cristo e entender isso durante a leitura vai impedir que saiamos apontando dedo pra todo lado e dizendo que o irmão vai queimar pela eternidade porque julgar, amigos, também é pecado.

Então, até a próxima!

[Filme] (Re)Vendo todas as adaptações da CInderella - Parte I

 

Já parou para pensar em quantas versões da Cinderella já fizeram?

Eu digo pra você: 15. Sem contar as da Disney.

Tem 15 fucking versões da Cinderella! E isso porque eu parei de procurar, fiquei com medo de continuar fuçando na internet e acabar encontrando mais. E estou fingindo que o tal "Cinderela Baiana" nunca existiu. Aí você me pergunta: Como não satura? Bem, a resposta é simples: satura. Mas por que eles continuam fazendo? Isso eu não sou capaz de responder. Mas na sexta-feira cheguei em casa com raiva por motivo nenhum (isso acontece com uma frequência assustadora) e já tem um tempo que não estou conseguindo assistir nada, então, optei por listar todas as versões da Cinderella, as que já havia visto e as que ainda não vi. 

Isso dá um bom post, concordam? Então quero dividir com vocês. Vou dividir em duas partes, primeiro com as versões que já vi e depois, quando assistir as outras, faço e posto a parte dois. Quero muito saber se vocês já viram todas elas e de qual gostam mais. Então vamos nessa.

1. Cinderella (1950) Disney e suas sequências

Acho que a maioria das pessoas viu esse filme quando criança. Eu assisti quando estava no catecismo, minhas professoras tinham uma locadora de VHS  — e é aí que vocês tiram a idade da autora né :´( — depois meu pai alugou a fita e gravou pra gente, ah, nostalgia. Para algum alienígena que nunca ouviu falar dessa animação, ela é uma versão bonitinha do conto dos Grimm que é bem mais sombrio e até violento. 

Nele, Cinderella é uma menina muito bonita que se tornou o centro da vida do pai, um rico comerciante, após a morte de sua mãe. Sentindo que faltava uma influência materna para a menina, ele decide se casar de novo escolhendo uma mulher viúva que tinha duas filhas da mesma idade dela.

Só que o homem acaba morrendo de forma inesperada e, com inveja da beleza da menina, a mulher começa a desprezá-la e a rebaixa a uma criada, maltratando-a e devotando atenção só para suas filhas. Até o dia em que o rei decide dar um baile para que o seu filho único possa escolher uma noiva (ao contrário da realidade onde ele seria obrigado a se casar com uma jovem 'comprada' de alguma nação aliada ou em guerra), mas ele não está nem um pouco disposto a isso. Cinderella se anima para ir, mas a madrasta faz tudo quanto possível para impedi-la chegando ao extremo de rasgar seu vestido.

Desolada, a jovem recebe ajuda de uma fada e consegue ir ao baile, capturando a atenção do príncipe. Eles se apaixonam, mas a magia acaba à meia noite e, na fuga, ela deixa o sapato de vidro para trás (vidro temperado, com certeza, porque o tanto que ela correu e esse trem não quebrou kkkkk). Uma proclamação real é efetuada e a jovem passa a ser procurada. Quando a madrasta descobre, tranca Cinderella no quarto, mas seus amigos ratos a ajudam a escapar e enfim conseguir a felicidade ao lado do príncipe.

A maior graça desse filme são os ratinhos. É uma história bonita, aplicada à realidade nunca aconteceria, embora tenha ocorrido um caso ou outro na história e geralmente não acabou bem. Mas a graça da ficção é essa, a impossibilidade sendo mostrada como possível. O filme tem seu encanto e, para mim, formada em cinema charlatânico, envelheceu bem dentro do seu propósito que é entreter.

A Disney lançou ainda duas sequências para a animação, o primeiro, Cinderella II: Sonhos se realizam, lançado em 2002, é uma antologia de três histórias contando sobre a princesa após o casamento, o destino de seus amigos e sua madrasta e irmãs postiças. Confesso que embora tenha sido interessante esse vislumbre, que funciona como uma espécie de epílogo, não gostei tanto do filme. A história da Anastácia com o padeiro foi a mais simpática, a dublagem do filme é bem estranha para quem está acostumado com as vozes do original, e mesmo tendo certo encanto, não é marcante como o primeiro.

Em 2007 veio a terceira e última sequência da animação: Cinderella III: Uma volta no tempo, com uma narrativa que retoma o primeiro filme em uma ótica completamente nova, esse sim é um filme que revi várias vezes e traz uma princesa repaginada e com um pouco mais de autonomia que não é salva pelo príncipe, além de mostrar uma perspectiva de como seria se o sapato tivesse cabido em outra pessoa, e com isso mostrar o processo que a Cinderella passou sob outro ponto de vista.

Com uma narrativa dinâmica, tendo pontos de comédia, ação e tensão bem divididos, o longa fecha com chave de outro a história da princesa na opinião desta leiga autora.

Não vou falar desses filmes na ordem cronológica, até porque eu não os assisti na ordem cronológica tampouco, só situei a trilogia na ordem para fazer sentido.

E eis que, em 2015, somos presenteados com o live action da Cinderella trazendo Lily James e Richard Madden nos papéis principais além de Cate Blanchett no papel da madrasta e Helena Bonhan Carter como fada madrinha. 

O filme não peca em nada mantendo a história original, mas sabendo inovar ao trazer elementos que agregam a trama sem pesar e sem tirar a nostalgia. Os elementos fantásticos foram diminuídos e distribuídos de forma mais lógica, temos um vislumbre da relação de Cinderella com os pais antes da chegada da madrasta, o que só reforça nossa empatia pela personagem, mas, uma das coisas mais legais foi a humanização do príncipe com o rei, que ganharam seu próprio plano de fundo e também Lady Tremaine que recebeu uma justificativa para seu desprezo pela enteada. 

O filme é encantador, agrega elementos "modernos" na sua narrativa sem soar forçado e consegue trazer toda a emoção do primeiro filme com uma repaginação digna de nota. O figurino é muito interessante e a química entre os atores foi perfeita. Um acerto da Disney que não deixou nem um pouco a desejar. 

Bem o contrário do que estão fazendo com a Branca de Neve cof cof.

2. Para Sempre Cinderella (1998)

Teoricamente, essa é a segunda "fanfic" da Cinderella, a primeira, de 1997, é a adaptação que traz Withney Houston como fada madrinha, contudo, ainda não assisti e nem sei se vou achar, por isso, fica para parte dois.

Esse filme, com Drew Barrymore, Anjelica Huston no elenco, traz uma roupagem nova da história com uma Cinderela, aqui chamada Danielle, toda filosofia e feminismo. O filme preza por uma visão mais realista do conto e o coloca em um tempo histórico preciso, assim tanto o figurino quanto o modelo monárquico são parcialmente retratados com fidelidade.

Após a morte do pai, recém casado com uma condessa viúva, Danielle é forçada a crescer como criada na sua própria mansão, vendo a madrasta desperdiçar todo o dinheiro do pai e as coisas da casa sem poder fazer nada a respeito. Mesmo no tratamento de suas duas filhas ela é injusta, tratando Marquerite com favoritismo por ter uma beleza de destaque, isso aproxima Danielle da outra irmã. Dona de uma personalidade forte e modos nada convencionais, ela se disfarça de nobre para resgatar um dos servos da sua casa e é como o príncipe se apaixona por ela, que acaba mentindo se tratar de uma condessa.

O príncipe é bem o estereótipo dos monarcas da época: fútil, mimado, meio cabeça de vento, a única divergência foi que não o mostraram como o galinha que ele provavelmente seria se fosse real. O romance é progressivo e conta com aquele tipo de "enemy to lovers" antes do conceito existir. O tom mais realista, sem qualquer espécie de magia, torna o longa interessante e com seu próprio brilho, apesar da narrativa se tornar um pouco cheia demais em alguns momentos de modo desnecessário como se fosse pra encher linguiça. Até Leonardo da Vinci dá as caras por aqui.

Não acho, como muitos, a melhor versão da Cinderella. Ainda assim, é um filme muito bom ao seu modo, com uma "princesa" fora dos padrões que não soa forçada e, mesmo com uma visão muito a frente do seu tempo, a gente consegue, pelo contexto criado, comprar a ideia. Vale a pena.

Em 2004 tiveram duas adaptações:

Uma Garota Encantada talvez seja a adaptação mais original, especialmente porque não traz somente elementos da Cinderella, mas também de alguns outros contos e lendas. Esse filme é primordialmente uma comédia romântica que não deseja, em nenhum momento, ser levado a sério, mas consegue ainda assim trazer elementos críticos importantes na sua narrativa.

Com um enredo original e novo, conta a história de Ella, uma jovem que vive no reino de Frell onde há preconceito e escravidão. Com a ascensão do príncipe ao trono, todo o reino está em polvorosa sem saber que o tio, até então regente, tem outros planos para o sobrinho. A única que não cai de amores pelo Charmont (nome do príncipe como um trocadilho para Charming que é encantado) é Ella. Quando ela nasceu, recebeu um dom terrível de uma fada de obedecer qualquer ordem que lhe dão sem poder impedir. Isso acabou se tornando uma maldição na sua vida.

Embarcando em uma jornada na busca por essa fada madrinha para desfazer o dom tenebroso, ela acaba tropeçando com o príncipe que se junta à expedição e aprende mais sobre o próprio reino para o qual não dava a mínima. O filme traz elementos modernos com materiais do passado e isso confere um ar bem adolescente para ele, com músicas e efeitos especiais antiquados, é uma excelente pedida em uma tarde de domingo preguiçosa em que você só quer pipoca, chocolate e distração.


Agora, é aqui que as coisas começam a azedar. Com o lançamento de A Nova Cinderella a febre de adaptações começou e vieram uma enxurrada de "novas Cinderellas" que não tem mais fim. 

Trazendo uma versão moderna do conto, Hillary Duff encarna Sam, uma jovem cujo pai se casa de novo com uma mulher fútil com duas filhas que não tem nada além de laque na cabeça. Ela trabalha na lanchonete do pai como garçonete, pois desde a sua morte, além das tarefas de casa sua madrasta a obriga a isso e ela se sujeita por causa da faculdade.

Com uma cara de comédia romântica teen bem a cara dos anos 2000, o filme lida com os conflitinhos adolescentes e a perseguição pelos sonhos, em especial o de cursar uma universidade conceituada. Líderes de torcida, torpedo, referências a Matrix, baile de máscaras da escola e o famigerado ensino médio americano. Sem fadas madrinhas ou magia, é aquele filme bem sessão da tarde que abriu portas para um monte de CTRL C, CRTL V que vão ficar para a parte dois (e a julgar pelo monte de filme da lista, três também).

Fico por aqui (por enquanto), logo trago a segunda parte do post. Espero que tenham gostado.







domingo, 7 de abril de 2024

[Bíblia] A Aliança no Sinai

Há aqui outra referência muito incrível ao novo testamento e a vinda de Cristo. Ao chegarem ao deserto de Sinai, Deus ordena Moisés a preparar e purificar o povo, pois no terceiro dia desceria para vê-los, tal como Cristo, no terceiro dia, ressuscitou dos mortos. Três dias também representando a trindade. Ali, sob as ordens do Senhor, limites foram impostos para que nem o povo, nem os sacerdotes, tentassem ver de perto o Senhor, sob risco de morte, então, mandando subir Moisés, instituiu-lhe os dez mandamentos como sua lei ao povo.

Notei que esses são um pouco diferentes do ensinado pela igreja, mas percebo que isso se dá por ter-se incluído, igualmente, a reformulação feita por Cristo na nova aliança, como o segundo "amarás teu próximo como a ti mesmo" que não faz parte desse primeiro decálogo. Inclusive, nas leis que se seguem instituídas por Deus, fiquei um pouco surpresa por serem tão "olho por olho e dente por dente", literalmente falando, só agora, uns livros para frente, compreendi a razão disso. Então no começo é assim mesmo, mas vai fazer sentido mais na frente. Outra referência se relaciona à quaresma, ao entrar na glória de Deus para receber as pedras dos mandamentos, Moisés ali ficou por 40 dias e noites. Esse número tornará a se repetir com Cristo.

Não consigo nem imaginar quão incrível foi o momento em que Moisés vislumbrou Deus, literalmente lhe foi concedido ver o pai e não morrer. Acho que foi uma emoção ainda maior que abrir o mar em dois bem diante dos seus olhos. Após tanta tribulação, é impensável uma recompensa maior.

Prescrições litúrgicas

O Senhor então institui as ofertas a serem feitas em seu altar, hoje as fazemos no rito do ofertório. Também dá instruções para a construção da arca da aliança onde devem ser guardadas as pedras da lei. A seguir, vem instruções para os móveis e ornamentos do templo que devem cercar a arca, as igrejas católicas, hoje, seguem um padrão semelhante. São capítulos com detalhes bem específicos sobre como Deus deseja que seja o tabernáculo onde será adorado. Confesso que não consegui visualizar na mente, as medidas são antigas e complexas de converter, acabei apelando para imagens do Google, deixo a seguir a que achei mais lúdica:

Veja essa imagem em: Adobe Stock

Ruptura e Renovação da Aliança

Moisés, como dito, ficou quarenta dias e noites no alto do monte Sinai e, durante esse período, o povo começou a se revoltar (de novo!) sem saber o que havia sido feito dele, então instigaram Aarão a fazer para eles um bezerro de ouro a quem começaram a adorar e fazer oferendas. Com isso, Deus se encolerizou contra eles e disse a Moisés que os aniquilaria, este, porém, intercedeu por eles e conseguiu aplacar a ira do Senhor. Descendo do monte tomou os filhos de Levi e feriu o povo, destruindo o bezerro, encolerizado. O Senhor mandou-o retornar a jornada, mas disse que não iria mais à frente deles, do contrário os aniquilaria. Moisés suplicou afirmando que não conseguiriam seguir se Ele não estivesse com eles. Deus então concorda em enviar um anjo com eles. Assim, Moisés levantou uma tenda mais distante do acampamento onde conversava com Deus e manifestou o desejo de ver a face do Senhor que lhe concedeu ver sua glória, mas nunca seu rosto, pois ninguém pode ver a face de Deus e continuar a viver. 

São instituídas as tábuas da lei e a renovação da aliança com Deus assim como a construção do tabernáculo de acordo com as instruções do Senhor. E finaliza-se o Êxodo.

Navegando pelo kwai, me apareceu um vídeo do Pe. Reginaldo Manzotti dizendo que a gente devia começar a ler a bíblia pelo novo testamento e não o antigo porque, nessa primeira parte, encontrávamos um Deus "vingativo", rígido e muito implacável. Em Jesus, contudo, contemplamos a face humana de Deus, um Deus mais tolerante, de lei mais branda e expansiva (mas não menos difícil), um Deus mais próximo. No momento que escrevo este post, finalizei o livro de Ester e posso dizer que concordo em parte com ele. Para alguém desavisado que vai abrir a bíblia para ler pode levar um choque com livros como Levítico e Juízes. Por sorte, nunca começo a ler um livro sem antes ler a introdução dele no comecinho da minha bíblia, onde vem não apenas o contexto histórico, mas os antecedentes que derivaram aquelas consequências e isso ajuda muito a compreender que, por mais que o Deus do antigo testamento pareça mesmo implacável e até assustador por vezes, está ali nas entrelinhas o mesmo Deus que foi às últimas consequências para salvar uma humanidade que até hoje o desrespeita. O mesmo Deus que entregou seu próprio filho à uma morte humilhante e cruel por todos nós.

Por isso não abandonei meu projeto de ler na ordem tal e qual ela é dividida. E conforme vou avançando na historia do povo hebreu e nos prodígios de Deus, vou trilhando o caminho que prepara a vinda de Jesus e vendo quão maravilhoso e perfeito é o Senhor em todos os detalhes mínimos, mas, sobretudo, como sua misericórdia é infinita e eterna. Mesmo quando se ira e deseja aniquilar sua criatura, sobrepõe-se no seu coração o desejo de salvar, a esperança de redimir.

[Livro] Victor Hugo: Dois séculos de poesia

 

Editora ‏ : ‎ Thesaurus; 1ª edição (1 janeiro 2002)

 86 páginas

ISBN-10 ‏ : ‎ 8570623224

Esse é meu primeiro contato literário com Hugo. Embora tenha visto adaptações de suas obras, nunca as li propriamente, tampouco sabia que ele era também poeta. Sendo um livro relativamente curto não vou me estender muito na resenha, em especial por ser poesia um tipo de texto que fala com cada leitor de maneira distinta, duas pessoas não olham o mesmo poema sob a mesma ótica. 

Nessa seleção, as temáticas variam de religião, mitologia, filosofia todas com certo ar niilista e algumas cunho até romântico. Sendo a edição bilíngue, francês-português, pude rememorar umas poucas palavras francesas que aprendi quando me arrisquei, anos atrás, a estudar o idioma (e vi que não nasci pra ser chique hahahaha). 

No geral, embora não conheça o Hugo romancista, como poeta ele me soou um tanto melancólico. Senti que boa parte da sua poesia era baseada em pessimismo e incredulidade para com a vida e a humanidade. Foi bem triste. Tiveram seus fôlegos devaneantes como a menção à história de Rute em Booz Adormecido que soa como um romance com nuances mesmo de erotismo velado e mesmo nessas pausas ainda consegui sentir certa melancolia, não sei se foi a escolha de palavras ou só minha própria impressão da poesia do autor mesmo.

Eu não sou acostumada a ler poesia, embora goste particularmente do gênero, não é algo que consuma muito, salvo sonetos de Shakespeare que me pego lendo de tempos em tempos porque gosto bastante da lírica dele. Infelizmente tive pouco contato com poesia na faculdade, na verdade, literatura foi praticamente escassa no meu curso (choro), conheci um pouco mais de Vinícius de Moraes e algo de Fernando Pessoa e Castro Alves na escola fundamental e ensino médio, ainda assim muito pouco. Ainda assim, achei esse contato com a face poética de Hugo interessante. Aquém do niilismo saltando dos versos, impressão subjetiva, alguns poemas da seleção conversaram comigo.