Não sei se já disse isso aqui, mas minha irmã é grande fã do Three Days Grace, e, em consequência, do Adam Gontier. Quando ele saiu da banda ela ficou bem chateada, mas anos depois, eis que ele retorna com o Saint Asonia, sua nova banda.
Nesse sábado, quando essa música tocava, começamos a comentar nossas perspectivas acerca da letra e percebi que elas eram bem diferentes. Enquanto a dela era mais "otimista" por assim dizer, a minha era um pouco mais psicológica e deprimente. Isso se deve ao fato de minha irmã ser uma pessoa psicologicamente saudável. E noto como isso influencia na maneira como vemos o mundo. Mas, parando para refletir sobre a letra, percebo que talvez eu não esteja tão errada na minha maneira de encará-la, em especial porque Adam ficou conhecido no Three Days Grace por músicas profundamente expressivas acerca dos seus conflitos internos.
Assim, decidi trazer para vocês minha visão sobre a letra Break The Mold, uma das melhores do álbum Extrovert da banda. No fim, digam aí se concordam comigo ou não.
Lembrando que análises de música são muito subjetivas, as pessoas não encaram a arte da mesma forma.
Como podemos seguir em frente quando o tempo está congelado?
Quanto tempo até vermos que estamos todos tão quebrados?
Até certo ponto as músicas do Adam costumam ser bem metafóricas
Mas sabe quando um livro já começa com aquela provocação?
Pois bem, é o que acontece com essa música. Veja que ele usa o plural
no início do refrão, mas durante a música muda o eu lírico para a
primeira pessoa, salientando que isso não é uma questão só dele
outras pessoas vivem o mesmo inferno, aprisionados dentro de si mesmo.
E ele entende isso.
Eu consigo sentir as paredes se fechando ao meu redor
E eu consigo ver a nuvem negra vindo pra cima de mim
Eu não consigo respirar
É como se eles estivessem me sufocando
Se eu desistir, esse será o meu fim?
Então, voltando ao que falei nas primeiras estrofes,
percebe que o eu lírico agora mudou para primeira pessoa?
A sensação de sufocar, de estar sendo encurralado e de
prenunciar o pior se aproximando. Eu consigo entender tão bem.
Mentes ansiosas funcionam exatamente assim. A minha ao menos.
Esse "eles" que o sufocam são seus pensamentos, o excesso de
medo e pânico que o engole todo o tempo. E ele sabe, a partir do
momento que se entregar, acabou.
Como podemos seguir em frente quando o tempo está congelado?
Quanto tempo até vermos que estamos todos tão quebrados?
Eu não vou desistir
Preso em um mundo tão frio
Como eu posso quebrar o molde?
Conversando com a minha irmã, ela encara essa música como uma
espécie de crítica social, e não está errada de toda forma.
Com o refrão inteiro assim eu concordo com ela também.
Mas quebrar o molde aqui é mais do que fugir das regras impostas
pela sociedade. É tentar escapar do caos dentro de nós, quando ele diz
que está "preso em um mundo tão frio" ele fala de um mundo que não
é capaz de entender como ele se sente, não se importa, trata como se fosse
apenas a falta de vontade dele em melhorar, o "mimimi", o querer chamar
atenção. E o que mais gosto é que, mesmo diante de tudo isso ele encontra um
fio de esperança, ele não vai desistir. Ele continua buscando uma forma de escapar.
Eu não consigo me mexer
É como se eles tivessem amarrado seus pesos em mim
Eu não consigo nadar
Seria esse o meu fim?
Sabe que qualquer pessoa que já passou por uma crise de pânico
ou mesmo de nervos se sente exatamente desse jeito? Parece o fim
que a gente vai morrer. Coração a mil, pensamentos focados no pior
cenário, os pulmões parecem incapazes de processar o ar. A gente realmente
acredita que vai morrer. E ele descreve isso, a paralisia da crise.
[refrão]
Eu nunca vou me encaixar nos padrões
Eu não posso ser comprado e vendido
Eu não confio mais na raiva
Eu nunca vou perder o controle
Eu sei que ansiedade tem cura. Depressão tem cura.
Mas é um processo difícil e varia muito de pessoa
para pessoa. Quando ouvi essa parte da música a
primeira vez, pensei naquele momento que a gente
alcança certo estágio e pensa que consegue passar por
isso sem ajuda. E tenta mesmo, com todas as forças, manter
o controle da própria mente. Mas raramente dá certo.
A gente apenas aceita que não é "normal" e liga o
foda-se.
Eu nunca vou ficar nas linhas deles
Assistindo tudo desenrolar
Você não pode controlar o que é meu
Como eu posso quebrar o molde?
Essas duas estrofes me falam muito sobre a incompreensão, na maioria das vezes vindas da nossa própria família que nunca acha que a gente se esforça o suficiente, continua achando que é tudo coisa da "nossa cabeça". Quando ele diz "você não pode controlar o que é meu" é o mesmo que falar que ninguém pode dizer como o outro se sente se não passa o mesmo que ele. São pessoas que ficam apenas "assistindo" sem se colocar no nosso lugar. E aqui, "quebrar o molde" também pode significar quebrar os estereótipos, quebrar a visão errada que os outros têm sobre a nossa mente. Sobre a selva diária que enfrentamos sem nunca alcançar o que esperam de nós.
[refrão]
E você? Como encara a letra dessa música? É do time da minha irmã que acha que é uma crítica social? Acho que consigo vê-la nesse viés sim de alguma forma. Mas essa foi a impressão que tive quando ouvi ela a primeira vez.
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