terça-feira, 8 de março de 2016

[TAG #Escrita - atrasada] - Sinopse e Título

Olá, pessoas, em primeiro lugar desculpem por não ter postado a tag ontem, meu computador precisou ser formatado aí demorou mais que o previsto para que eu o tivesse de volta e não deu para postar ontem. Mas agora ele está bonitinho aqui de volta e eu já vou retomar com a postagem. Hoje eu falar um pouco da construção do título, da sinopse, dos diálogos e da adequação da linguagem mais ou menos como eu construo. Então, sem mais delongas, vamos nessa.

TÍTULO
Há quem diga que o título é a última coisa que o autor escolhe para a história, bem, eu sou o contrário disso, sem um título eu não consigo escrever, não consigo visualizar nada, então, o título é uma das primeiras coisas que eu escolho, mesmo que eu vá mudar depois, mas eu preciso ter alguma coisa em que me pegar para decidir o rumo dos acontecimentos e o tipo de história com a qual estou mexendo. Isso pode parecer uma bobagem, mas é uma das partes que me dá mais trabalho de escolher, acho que é por isso também que eu penso primeiro, porque é complicado você escolher um título que se encaixe perfeitamente com a história que você mentalizou, tenha em mente que o título é a primeira mensagem que o leitor vai ter da sua história, aquilo que vai chamar atenção primeiro e fazer com que ele tire o exemplar da estante para ler a sinopse.
Dependendo do tipo de história  eu escolho um título que enquadre o enredo todo, parcialmente ou que metaforize alguma coisa da história. Deixe-me exemplificar para que fique mais claro:
Sombras ao Sol e Avalanche são títulos metafóricos, eles não representam algo que acontece literalmente na história, é preciso ler e entender a metáfora por trás do título que pode ou não ser explicada no enredo.
Conto de Falhas e Um Novo Começo por exemplo já são títulos que cobrem todo o enredo, eles são parte constante das histórias que representam, no primeiro deixo claro que vou tratar de uma história cujos acontecimentos não vão ser dos mais felizes para sempre e no segundo uma história onde os personagens vão passar por provações e vão conseguir superar. São o que eu chamo de títulos chave.
Claro que cada um trabalha de uma forma, há autores que deixam para "batizar" o livro depois que termina, isso é de cada um, se eu posso dar alguma dica para a escolha do título eu digo que escolha, de preferência, uma palavra ou uma pequena frase que passe a mensagem do seu enredo, do seu personagem principal ou que metaforize de alguma forma sua mensagem. A saga Crepúsculo é um exemplo ótimo de títulos metafóricos.

SINOPSE
Assim como o título dá ao leitor a primeira mensagem do livro, a sinopse se encarrega de terminar o trabalho, é ela que vai seduzir o leitor ao ponto de ele abrir o livro para descobrir o que acontece. e tal qual o título não é nada simples de fazer, pode ser tão desafiador quanto. Ao contrário do que eu faço com o título, eu só me preocupo com a sinopse se eu for postar a história em algum lugar, geralmente para livros eu deixo para escrevê-la quando está terminada. E às vezes levo horas fazendo, porque precisa ser sucinta, misteriosa, comovente e atraente o que não é mole de escrever. O objetivo principal da sinopse é resumir a sua história de uma forma atraente e para isso quase todo recurso é válido, usar uma parte do livro, mesclar uma frase do livro com um resumo, mas sobretudo, dizer POR QUE o leitor tem que levar aquele livro com ele.

Exemplos:
"O que movia os reinos do mundo não era a maldade da magia, embora ela existisse mascarada em mulheres como Martha, era a crueldade da Inveja."
Nessa releitura do famoso conto dos Grimm, você conhecerá uma princesa forte, corajosa e cheia de atitude, mas com o mesmo coração bom e a mesma dose de amor. Em Sleeping Beauty: A História por trás dos Olhos Fechados você vai conhecer o que aconteceu com Aurora enquanto ela dormia e como, realmente, as coisas procederam!

Julieta Capuleto não tirou a própria vida. Ela foi assassinada pela pessoa em quem mais confiava, seu marido, Romeu Montecchio, que fez o sacrifício para assegurar sua imortalidade. Mas Romeu não imaginou que Julieta também teria vida eterna e se tornaria uma agente dos Embaixadores da Luz.
Por setecentos anos, Julieta lutou para preservar o amor e as vidas de inocentes, enquanto Romeu tinha por fim destruir o coração humano. (Julieta Imortal - Stacey Jay)

DIÁLOGOS
Bem, chegamos ao ponto crítico do post. Escrever diálogos é uma coisa complicada que faz com que sinopse e título pareçam brincadeira, isso porque não apenas precisamos inseri-los de maneira cabível no texto, mas como no tempo e na forma certa. Eu não me considero apta a falar disso, vou dizer aqui apenas o que eu acho e o que eu faço com eles.
A primeira coisa a fazer é saber como assinalar os parágrafos. Tem gente, principalmente em fanfic, que faz uma verdadeira rebelião! O correto é usar aspas /""/ ou travessão /—/ e essa coisa de usar aspas no diálogo é muito "estrangeira", li um livro da Paula Pimenta assim e detestei essa separação. Mas em alguns pontos ela é válida dependendo do contexto em que é encaixada e de qual voz é dada ao narrador da história.
Basicamente, o diálogo cumpre o objetivo de promover a interação entre as personagens, refletir sua personalidade e acrescentar aquilo que a narração não dá conta de acrescentar sozinha. Se você alguma vez já leu algum diálogo de Platão sabe que é muito estranho ler um texto só formado por diálogos sem nenhum tipo de acréscimo, isso porque o diálogo é uma parte extra do enredo, mas cada autor é um autor. Basicamente há 3 tipos de diálogo, vamos conhecê-los:

Discurso direto: Esse é o que eu frequentemente uso, acho que é o mais comum, aquele cuja interação entre as personagens ocorre de forma prática e sem muitos rodeios;

— Ouça, não é o momento de revelar a verdade, apenas precisa confiar em mim, Anelliese.
— Confiar em você? Ora, não seja ridículo! 
— É a sua única chance.
— De que? Se eu gritar agora meu pai virá até aqui e antes mesmo do que pensa você estará morto!
— Vá por mim, não será a primeira vez.
— O que? — Ela ficou chocada.
— Vamos, não seja teimosa e me deixe leva-la para casa em segurança.
— Eu não preciso de você para nada, mantenha distancia de mim ou eu mesma mato você!

Discurso indireto: é definido como o registro da fala da personagem sob influência por parte do narrador. Nesse tipo de discurso, os tempos verbais são modificados para que haja entendimento quanto à pessoa que fala. Além disso, costuma-se citar o nome de quem proferiu a fala ou fazer algum tipo de referência. Neste tipo de discurso narrativo o narrador interfere na fala da personagem. Este conta aos leitores o que a personagem disse, no entanto o faz na 3ª pessoa. As palavras da personagem não são reproduzidas, e sim "traduzidas" na linguagem do narrador. Também é sem travessão. No fundo são apenas a junção dos dois modos verbais. A pessoa não pergunta de verdade, é o narrador que faz a pergunta com o nome do personagem.

"Dona Abigail sentou-se na cama, sobressaltada, acordou o marido e disse que havia sonhado que iria faltar feijão. Não era a primeira vez que esta cena ocorria. Dona Abigail consciente de seus afazeres de dona-de-casa vivia constantemente atormentada por pesadelos desse gênero. E de outros gêneros, quase todos alimentícios." (O sonho do feijão), Carlos Eduardo Novaes.

Discurso indireto livre: é uma modalidade de técnica narrativa, resultante da mistura dos discursos direto e indireto, sendo um processo de grande efeito estilístico.
Por meio dele, o narrador pode não apenas reproduzir indiretamente as falas dos personagens, mas também o que eles não dizem como pensamentos e sentimentos, além de poder incluir ideias do próprio narrador, trazendo ambiguidade e riqueza de sentido ao texto. Assim, o discurso indireto livre corresponde à fala ou ao monólogo interior dos personagens, porém expresso pelo narrador (característica do discurso indireto) e reproduzidos na forma como os personagens diriam (característica do discurso direto), podendo ou não conter juízo do narrador. Ocorre quando a fala do personagem se confunde com a narração, tanto no conteúdo, quanto na forma. Por isso, o comentário do personagem surge sem secção, isto é, sem estar claramente separado das palavras do narrador, ao contrário do que ocorre no discurso direto, por exemplo, no qual se utilizam travessão, dois pontos, aspas etc. Comumente, o discurso indireto livre aparece entremeado com o discurso indireto.
As orações do discurso indireto livre são, em regra, independentes, podendo ter ou não verbos bonitos de elocução (também chamados de verbos dicendi). Quando os possui, fica mais nítido que a frase não é do narrador, mas sim do personagem. Em geral, ele ocorre com foco narrativo em terceira pessoa, mas é possível o uso da primeira. Esse discurso é muito empregado na narrativa moderna, pela fluência e ritmo que confere ao texto

"Aperto o copo na mão. Quando Lorena sacode a bola de vidro a neve sobe tão leve. Rodopia flutuante e depois vai caindo no telhado, na cerca e na menininha de capuz vermelho. Então ela sacode de novo. 'Assim tenho neve o ano inteiro'. Mas por que neve o ano inteiro? Onde é que tem neve aqui? Acha lindo a neve. Uma enjoada. Trinco a pedra de gelo nos dentes." (As Meninas), Lygia Fagundes Telles.

Se o enredo for bem trabalhado, os diálogos serão postos apenas como um adicional específico do enredo, para promover a interação dos personagens, para acentuar a personalidade ou vivificar uma determinada cena. Eu normalmente opto pelo discurso direto, isso varia bastante do tipo de narrador que você usa, um narrador em primeira pessoa - dependendo de quem seja - dificilmente saberá o que se passa na mente da outra personagem, ela pode deduzir apenas. É algo a que se deve estar bem atento. Para mim, é meio natural, eu sei quando devo colocar determinada parte na fala da personagem e determinada parte na narrativa. Há o cuidado de não colocar diálogos inúteis, deixar o personagem falar o que ele realmente precisa falar e não obrigatoriamente precisar falar alguma coisa sem necessidade.

— Por que você falou comigo? — Perguntou antes de ir embora.
— Você é minha parceira de química. — Sorri, mas vi uma tristeza em seu olhar que me fez sentir um imbecil. — E porque sempre te achei interessante. — Emendei imediatamente.
— Sempre? — Ela me lançou um olhar incrédulo. — Não achei que alguém me notasse.
— Pensei que você me odiava.
— Por que eu odiaria você? — Ela parecia confusa. — Você nunca me fez nada.
— Não sei, soa meio estranho… mas achava que você pensava que eu era um idiota.
— Bem, se te consola, não sou inteligente como você pensa. E sei que você é ótimo em matemática, o que já é muito para um capitão de futebol.

Esse é um diálogo de Dear Diary, é comum quando eu estou escrevendo colocar na fala da personagem aquilo que é pertinente dela e alguma observação do narrador depois, geralmente isso é uma emoção, um pensamento, um sentimento, algo do tipo. Como no caso acima a narração é em primeira pessoa, o narrador em questão só podia deduzir o que acontecia com a companheira de conversa como é vísível nesse trecho: — Por que eu odiaria você? — Ela parecia confusa. — Você nunca me fez nada. Michael não tem certeza se ela está confusa, é uma dedução através da expressão facial dela. Ele só pode fazer conclusões sobre si mesmo.

— Ei, seu amigo de meia tigela! Fica fazendo sala para sua convidada e se esquece de mim não é?
— Oi Hay! — Ele riu dando um beijo no seu rosto e tentando evitar a decepção pela partida de Nicole. — Desculpe... Eu tive que intervir antes de ela sair correndo. E no fim de tudo ela foi do mesmo jeito.
— Qual é a dela hein? Parecia um animalzinho assustado, tão bonitinha! — Hayla falou em tom doce e animado.
— Não é? — Bella concordou lembrando-se do jeito retraído da amiga de Adam.
— Ela só... É muito tímida... Mas não existe pessoa mais incrível que a Nicole... Ela é... Fantástica!
— Hum... Tem alguém apaixonado! — Hayla riu dando uma leve cotovelada no amigo, mas com um pensamento de preocupação escondido no fundo da mente.
— Tá, fiquei enciumada agora! Eu era a pessoa mais incrível que você conhecia! — Bella falou em tom de brincadeira, fingindo indignação.
— O Alex não tem noção da sorte que tem! E fica magoando a Nic com aquele ciúme doentio que ele tem.
— Pelo visto, se o ciúme é de você ele tem sérias razões para se preocupar não é? — Hayla riu. — Lindo, charmoso, cavalheiro e perdidamente apaixonado por ela. Não sei quem tem mais sorte ele ou ela!
Isso é um diálogo de Avalanche. Nesse caso, a gente vê que a narração em terceira pessoa permite que o narrador diga não apenas o que os personagens falam, mas o que eles pensam. Nenhum deles fala mais que o necessário para a interação e para montar a cena. Essa coisa de diálogo é difícil, se algo não ficou claro perguntem.
ADEQUAÇÃO DA LINGUAGEM
Chegamos ao último tópico da tag e não menos importantes, é um tópico chave, pelo menos pra mim. Adequar a linguagem dos personagens é algo que eu julgo como muito pertinente em cada livro. Não que isso se use muito, mas eu acho uma jogada muito interessante não apenas para dar um quê na história, mas para gerar aquele clima de intimidade e ainda ajudar a melhorar nosso vocabulário.
Acho que a personagem precisa se adaptar a época em que vive, e isso deve ser explicitado não somente na narração, mas nos diálogos também. Sempre que me deparo com uma ficção histórica em que as personagens falam como se estivessem no centro da cidade fico me perguntando que estranha fusão de séculos é aquela. Ninguém no século XVI falava "vamos dar uma voltinha". Isso é só um exemplo, okay?
Admito que exagerei um pouco quando escrevi Sleeping Beauty, a linguagem ficou um pouco inacessível e eu só senti isso quando minha mãe leu e não conseguia entender metade dos diálogos (rsrsrs) ou quando a filha de uma amiga da minha irmã disse que lia com um dicionário do lado. Claro que as palavras podem variar conforme são empregadas, mas eu costumo usar um dicionário para averiguar sempre as palavras "novas" antes de empregá-las.

- Princesa Aurora. – Ele se curvou.
- Príncipe Felipe. – Fiz uma reverência pronunciando as palavras com impessoalidade.
- Como tem passado?
- Bem, quanto a vós?
- Igualmente bem. É bom revê-la.
- Não há necessidade em forçar uma cortesia que não sente, alteza. – Esperei que minha voz não tivesse soado tão fria quanto eu senti que soou.
- A que se refere? – Ele me fitou um pouco constrangido.
- Achas que sou tola? – Inquiri, um tanto irritada. - Posso ser demasiado jovem, mas sei muito bem quando me são indiferentes.
- Peço perdão se a ofendi, princesa. – Ele desculpou-se, mas senti pouca sinceridade em sua voz.
- Não há necessidade de desculpar-se, tampouco precisa redimir-se. Apenas una-se a quem de fato deseja sua companhia.

Esse é um dos diálogos mais simples do livro, mas vê como as palavras se adequam à época. Não pesquisei a fundo sobre isso, era mais pela leitura e pelos filmes mesmo, as pessoas dessa época tinham apreço pela leitura, eram de uma cultura superior, e até mesmo  os menos favorecidos que eram próximos às elites, como serventes, tinham por tendência copiar os hábitos de fala dos mais cultos mesmo que não soubessem ler. O diálogo dos personagens, quando se adequa à época em que estão inseridos faz uma comunhão maior com quem lê porque torna mais fácil imergir naquele mundo, é o que eu sinto quando leio Jane Austen, consigo me transportar para o século XVI, para o meio daquelas pessoas suaves e cujos conflitos ocultos eram limitados aos solilóquios e corações agitados. 

Como o post já ficou bem maior do que eu pensei, vou terminá-lo por aqui. A Tag Japonês vai ficar para amanhã.
Até a próxima!

Bibliografia:
http://www.todamateria.com.br/discurso-direto-indireto-e-indireto-livre/
https://pt.wikipedia.org/wiki/Di%C3%A1logo

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