sábado, 7 de março de 2020

[Livro] À Sombra da Lua

Autor: Marcos DeBrito
Gêneros: Conto de fadas, Suspense, Terror
Ano: 2013

Sinopse: Durante o dia, Vila Socorro é apenas uma pacata cidade do interior de São Paulo, reduto da imigração italiana no Brasil. Mas, quando o sol se põe, uma criatura desconhecida aterroriza os moradores, que cobram uma solução das autoridades locais, afinal, há décadas o vilarejo sofre com mortes misteriosas, cometidas por um assassino que não deixa rastros e desafia a lógica humana. Estreia do cineasta Marcos de Britto na literatura, À sombra da lua já nasce um forte candidato a clássico do terror nacional ao explorar o mito universal do lobisomem contrapondo, numa narrativa madura e vigorosa, racionalidade e mistério.

Estou partindo do princípio que ainda estou sofrendo com a depressão pós Mo Dao ZuShi para não ter gostado desse livro. Logicamente, não estou aqui para afirmar que a história é ruim ou que tenha algum problema com ele, acredito que a maior parte das pessoas que já passou por uma severa DPL sabe que o primeiro livro que se tenta ler após esse período, mesmo com a pausa de uma semana que me dei, é o mais difícil. Há, de fato, poucas chances de se conseguir imergir na leitura e nem mesmo ainda estar imersa no universo (através do drama e do anime) facilitou a concentração na leitura desse livro. Foi sofrível terminar.

Pois bem, partamos do princípio. A história ambienta-se no Brasil em dois períodos distintos: no século XIX, início da imigração italiana no país, e no início do século XX, por volta dos anos 20. O prólogo refere-se a um rei fictício da Grécia Antiga cuja crueldade incitou a fúria de Zeus que veio à terra disfarçado de humano para investigá-lo. Atestada sua insana crueldade, ele foi castigado na forma de uma besta bebedora de sangue (que saliento, é um lobisomem e não um vampiro).

Então, no século XIX conta sobre a família italiana que desembarcou no Brasil em busca de oportunidades e uma vida digna enquanto no século XX os moradores da fictícia Vila Socorro discutem sobre mortes violentas e sem explicação que estão acontecendo nos arredores. A família do século XIX é a Cesari que alguns capítulos depois descobre-se ter passado por uma tragédia macabra em que o pai, Bastiano, assassinou a esposa e as seis filhas a machadadas tendo o filho Álvaro sido o único sobrevivente, salvo pelo seu padrinho que impediu o crime. No século XX Álvaro é apaixonado por Alana, a filha do médico da vila que está sendo cortejada por seu amigo de infância Vicente.

A primeira aparição da fera após o prólogo se dá quando, no século XIX, desobedecendo a uma ordem estrita do marido, a esposa grávida de Bastiano, Clemenzia, sai de casa de madrugada em uma lua cheia para usar a casinha e se depara com uma besta devorando um animal. Ela é perseguida e quase ferida pelo monstro, mas consegue escapar. No dia seguinte ela nota algo que lhe dá a suspeita de que a única pessoa em que confia para protegê-la pode ser a mesma que quase lhe matou.

De volta ao século XX, Álvaro e Alana cada vez mais apaixonados são ajudados por Flávia, a melhor amiga de Alana, a se encontrar. Delicadíssimo, ele a leva para o lugar mais romântico da cidade: o cemitério (sim, isso mesmo!) e eles tem uma conversa muito interessante para não dizer o contrário. Resumindo, ela sonda sobre a família dele, ele conta o que se lembra, os dois ão para casa dele onde a tragédia rolou e se pegam. Isso bem depois que Vicente pede permissão a Alana pra cortejá-la e ela aceita como uma babaca mesmo não gostando dele dessa forma.

Em uma caçada ao animal que está matando as pessoas da vila, Vicente mata um enorme lobo que logo é acusado de ser o causador das mortes e a galera da vila fica num climão de euforia tratando o guri como um heroi, mesmo ele próprio, o médico e o velho Valêncio sabendo que aquilo está longe de ser verdade. Negócio é que na próxima lua cheia outra pessoa é assassinada e a vila volta a cair em fúria e medo. Assim, é estabelecido um toque de recolher nas noites de lua cheia como medida de proteção. E enquanto isso, Álvaro e Alana seguem se encontrando escondido enquanto a bestona continua cozinhando Vicente em banho maria e me pergunto por que até agora.

Entretanto, por causa da própria estupidez dessa guria, ela acaba dando a entender ao pai que está apaixonada por Vicente e se vê presa num noivado com o cara que é cego demais pra notar que ela não tá a fim dele (se bem que a culpa disso também é dela em parte) e tem que terminar seu relacionamento com Álvaro porque também não tem boca pra dizer ao pai o que quer ou não. Achado que foi trocado pelo boy rico, Álvaro comete um deslize e acaba assassinando Alana quando se transforma na fera, e violentando ela no processo nessa mesma transformação. 

O pai da guria fica estarrecido com a violência cometida dentro da sua própria casa e exige justiça para a filha. Ele descobre também que ela estava grávida, mas acreditava que o filho era do noivo (jurando!). Uma carta é enviada à capital pedindo por ajuda e vem de lá um cara que até agora eu não sei pra que serve na história inteira além de ocupar espaço e se achar o especialista em criminalística, Ulisses. Ele começa uma pseudo-investigação acerca dos acontecimentos e passa a treinar um pequeno grupo de rapazes "corajosos" pra capturar a coisa. Só que ele acaba testemunhando o bicho e achando que pode ser o próximo personagem de uma epopéia, passa a trabalhar por baixo dos panos para pegá-lo.

Atormentado pelo que fez com a mulher que amava, Álvaro se entrega a uma depressão profunda sem saber que na vila todos estão à sua procura sedentos por sangue, ambicionando a grandeza, Ulisses começa a sondar os moradores a respeito do rapaz e logo a noite mais longa de Vila Socorro vai começar.

Como disse no começo, o livro não é ruim. A história é bem montada, apesar de usar uma linguagem meio machadiana que, ao meu ver, não combinava com o tom do livro, é uma leitura até que bem rápida se tu pegares em um dia bom. Bem, eu não peguei em um dia bom, infelizmente. Não simpatizei com nenhuma das personagens, não torci pelo casal, não senti a morte de ninguém... infelizmente foi um daqueles livros que eu li sem sentir nada. Nadinha. Claro que, se pensar bem, a história está longe de ser rasa. Não é esse o problema. Acredito que foi realmente o momento mesmo, foi sorte eu não ter abandonado.

Creio que o cerne do livro tenha a ver com controle. E ele explora o controle (ou a perda dele) através do mito do lobisomem, de certa forma, até que encaixou bem, o instinto mais primitivo do homem tomando o controle e fazendo-o agir como um animal, acredito que o assustador aqui está no quanto essa alegoria é real. A gente vê quase todo dia homens agindo como animais. No quesito relações humanas, achei meio fraquinho, acredito que pelo fato de não ter me apegado às personagens, achava Alana insuportável e insípida, me irritava como ela apenas não se impunha e deixava os outros tomarem as decisões por ela, mano, nem o contexto histórico salvou essa. Vicente era um chato, apenas. Álvaro era um quase babaca e na boa, nem mesmo o negócio do passado dele me serviu de desculpa pro modo como ele agia algumas vezes. Flávia foi a única que eu não detestei de cara, ela quebrou aquele estereótipo de melhor amiga vaca interessada no carinha que gosta da protagonista e tenta prejudicar ela pra ficar com ele. Achei que ela foi muito justa e jogou limpo o tempo todo.

A questão da corrupção, do abuso de poder, a discussão razão x fé, são abordadas como parte do cenário e, algumas vezes, especialmente esse último tópico, de forma meio exaustiva. Contudo, o autor soube levar a discussão bem, mostrando todos os lados e sendo imparcial sobre se havia um certo ou errado. Mas tinha hora que cansava ler. O mito do lobisomem em si, pelo que eu percebi, bebe de muitas fontes diferentes, mas não é o centro da história, a fera aqui soa mais como a alegoria do controle em si do que como propriamente um antagonista, esse fica por conta de Ulisses que ocupa um espaço de repugnância no enredo. E é isso, não tenho muito o que dizer. Pra quem curte um terror bem gore vale a leitura.

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