Autor: Isabel Allende
Ano: 2015
Páginas: 294
Sinopse: Uma paixão secreta que perdurou por quase setenta anos. Em 1939, ano da ocupação da Polônia pelos nazistas, Alma Mendel, de oito anos, é enviada pelos pais para viver em segurança com os tios em São Francisco. Lá, ela conhece Ichimei Fukuda, filho do jardineiro japonês da família. Despercebido por todos ao redor, um caso de amor começa a florescer. Depois do ataque a Pearl Harbor, no entanto, os dois são cruelmente separados. Décadas depois, presentes e cartas misteriosos são descobertos trazendo à tona uma paixão secreta que perdurou por quase setenta anos. Varrendo através do tempo e abrangendo diferentes gerações e continentes, O amante japonês explora questões de identidade, abandono, redenção, e o impacto incognoscível do destino em nossas vidas.
Já vou começar dizendo que esse é um livro muito bom, mas eu não consegui gostar. A prosa de Allende me lembra bastante a de Zafón, com personagens bem construídas e com foco em seus sentimentos e tragetória, o livro é poético, bem estruturado, bem escrito, mas não me cativou, na verdade, durante toda a leitura o que mais senti foi tristeza e a sensação de algo pesando no meu peito. Terminei a história angustiada. É aquele tipo de livro que faz você pensar na sua finitude e nas limitações que eventualmente poderá nos acometer. É uma leitura angustiante, especialmente as passagens da guerra em que nos deparamos — de novo — com a crueldade humana e começamos a nos perguntar "por quê?" Qual razão disso?
A história segue Irina Basili, uma cuidadora que começa a trabalhar numa casa de repouso. Vinda da Moldávia, ela tem um passado misterioso, mas ganha o coração de todos os velhinhos no abrigo e, eventualmente, chama a atenção de Alma Belasco, a senhora mais altiva e enigmática de toda casa. Essa senhora a contrata como sua assistente pessoal oferecendo o dobro do salário que ela ganha na instituição. Após alguma relutância, Irina acaba aceitando,
Enquanto trabalha para Alma, Irina conhece Seth o neto da mulher que se torna seu amigo, mas acaba notando que o rapaz está interessado nela, algo que a jovem mulher não consegue retribuir apesar de sentir alguma atração por ele. Juntos, os dois começam a investigar o passado de Alma intrigados com a estranha e constante correspondência e presentes que ela recebe com frequência.
Alma Mendel advinha de uma família judia que vivia na Varsóvia, quando os ares sinistros do nazismo começavam a se espalhar pela europa, os pais dela a enviaram para os EUA para que ela vivesse com os tios. O irmão de Alma, Samuel, se alistou no exército para tristeza e preocupação da menina. Como era muito pequena, ela não entendia o que estava acontecendo totalmente, de modo que a prisão dos pais no gueto de Varsóvia e sua posterior realocação para o campo de concentração passava como um pesadelo distante protegido pelos tios.
Na mansão Sea Cliff, Alma conhece Ichimei Fukuda, o filho caçula do jardineiro do seu tio. É paixão imediata entre eles, a menina fica encantada pelo introspecto e inteligente rapaz, mas o ataque japonês a Pearl Harbor coloca essa relação a perder ao separá-los. Ichimei é levado para um campo de concentração americano com as outras famílias japonesas do país, a comunicação com Alma se dá por cartas que frequentemente sofrem censura pelo exército, ao ponto do garoto parar de escrever e começar a lhe enviar desenhos para contar sobre o dia a dia da família no deserto.
Nesse ponto, conhecemos os irmãos de Ichimei, como sua família é duramente afetada e desfragmentada pelo exílio ao ponto de seu pai não resistir e se entregar completamente à tristeza. Enquanto isso, Alma continua sua vida a espera do amado, sem nunca esquecê-lo, presa em uma espécie de amor obsessivo. Quando finalmente se encontram, após o fim da guerra, não são mais os mesmos, mas continuam tão apaixonados quanto antes e se entregam de corpo e alma a esse sentimento proibido. Primeiro porque Alma é judia e, dessa forma, presa a algumas tradições que também incluem o casamento. Segundo porque, mesmo com a "libertação" dos japoneses, a mistura racial ainda era vista como algo inapropriado.
Quando se descobre grávida, Alma recorre a única pessoa que poderia lhe ajudar, seu primo Nathaniel. Amigos muito próximos desde criança, eles se conhecem como a palma de suas mãos e são muito unidos. Alma lhe conta a verdade e diz que apesar de amar Ichimei, não suportaria a vida pobre de limitações que ele poderia lhe oferecer e não queria começar uma família dessa maneira. Inicialmente, eles recorrem ao aborto, mas devido às condições Nathaniel desiste do procedimento e resolve o problema se casando com Alma.
Por serem muito próximos, não é muito difícil para a família acreditar no envolvimento dos dois, assim, Alma termina tudo com Ichimei e se casa por conveniência com o primo. Quando descobre, Ichimei se sente traído, decide nunca mais ver Alma novamente e assim suas vidas seguem rumos opostos que, mais tarde tornarão a se entrelaçar.
Paralelo a isso somos introduzidos na vida de Irina e na de outros personagens que compõem o cenário da casa de repouso onde Alma se interna voluntariamente e, igualmente o desfecho da própria em uma trama cheia de reviravoltas e segredos.
Como disse no começo, a sensação é angustiante e todo o livro, para mim, teve uma certa carga meio pesada, densa, como estar preso em um nevoeiro. Mesmo o final tendo sido parcialmente feliz dependendo do ângulo em que se olhe, eu não consegui terminar com o sentimento de calma que se dá quando lemos um livro muito bom ou muito bonito. Foi mais como luto, a sensação de ter perdido uma pessoa, uma angústia desoladora de alguém que recebeu um diagnóstico terminal. É um livro bonito que para mim soou extremamente triste e quase pessimista eu diria. Mas acho que o principal é que ele soa muito realista.
Alma se descreve como covarde, volúvel e egoísta, é exatamente assim que ela é. Esse foi o papel que ela adotou o livro quase todo e só veio conseguir se desprender um pouco disso no final, quando já era tarde demais. Se eu fiquei triste por alguém foi por Ichimei e Nathaniel, ambos de algum modo vítimas do egoísmo dela, especialmente o primeiro. Ela fez os dois serem infelizes por não ter coragem de amá-lo de verdade (e fico até desconfiada se amava mesmo, ao meu ver era só obsessão).
Todavia, é uma leitura que eu indico. Reitero que lembra a prosa magnífica de Zafón, mesmo nos tons mais sombrios e nas construções tristes de seus desfechos. Vale a pena ser conhecido.
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