Autor: Liz Braswell
páginas: 394 páginas
Ano: 2017
Sinopse: Bela é inteligente, engenhosa, inquieta e mais uma porção de coisas. Ela anseia escapar de seu modesto e provinciano vilarejo. Quer explorar o mundo, apesar de seu pai relutar em deixar sua casinha para o caso de a mãe de Bela retornar — mãe da qual ela mal se lembra. Um dia, os desejos da garota por novas aventuras acabam por se realizar — mas não da maneira que ela imaginava. Agora ela é cativa de uma terrível fera, dentro de um castelo enfeitiçado. Quando Bela toca a rosa encantada da Fera, intrigantes imagens inundam a mente da jovem — imagens da mãe que ela acreditava que nunca mais veria. Ainda mais estranho que isso, ela descobre que sua mãe é ninguém menos que a bela Feiticeira que amaldiçoou a Fera, seu castelo e todos os seus habitantes. Chocados e confusos, Bela e Fera devem se unir para desvendar um assombroso mistério sobre suas famílias.
Muito antes do castelo da fera ser amaldiçoado, de Bela trocar sua vida pela do pai e da última pétala de rosa cair sob a redoma na ala oeste, havia um jovem Maurice que chegava com suas ideias mirabolantes de invenções que revolucionariam e mudariam a vida das pessoas. Cheio de vontade de mudanças em uma Europa que respirava os primeiros sopros da revolução industrial, ele ainda era visto como louco e sonhador, não sendo muito aceito pelos lugares onde passava. Isso até ouvir falar de um pequeno reino onde as pessoas podiam viver livremente e ser quem quisessem sem os olhares tortos das outras pessoas. Um lugar, onde ser diferente era apenas um detalhe e não uma maldição.
Nessa aldeia, ele se deparou com uma bela jovem discutindo bravamente com o que parecia ser um guarda, Maurice não fazia ideia que estava presenciando o nascimento de uma guerra civil envolvendo Les Charmantes, pessoas que possuíam algum tipo de magia, e os humanos comuns não dotados de nenhuma habilidade mágica. Ele se apaixona por ela perdidamente. Nessa época, ele dividia uma pequena casa com Alaric, um jovem robusto que trabalhava em serviços braçais, além de cuidar de animais. Havia também o recém-chegado Fréderic, um jovem que quase se formou em medicina, mas foi exilado pelos pais ao demonstrar a habilidade de ver o futuro. Tal como o homem que discutia com a bela jovem, Fréderic não gostava de Les Charmantes, ainda sob o pensamento obscuro de que eram pessoas "tocadas pelo demônio".
E assim, nascia o sangrento preconceito contra o diferente.
Lentamente, como um veneno na corrente sanguínea, a antiga aldeia pacífica e acolhedora onde as pessoas diferentes podiam conviver pacificamente, se tornou um mundo perigoso para Les Charmantes que desapareciam sem deixar rastro, eram surrados até a morte sem que os guardas do palácio nada fizessem e se tornaram párias na pequena sociedade. Rosalind, a jovem por quem Maurice se apaixonou, estava no meio dessa ameaça, era uma das mais poderosas feiticeiras tal como uma das mais audaciosas defensoras de sua classe. Ela queria respeito para Les Charmantes, liberdade e o mesmo direito de ir e vir dos demais, uma segurança que lhe foi negada pelos monarcas regentes — e pais do príncipe fera!
Quando uma doença mortal se alastra pela Europa, os reis mandam fechar as fronteiras um pouco tarde demais e ela acaba atingindo o vilarejo, claro que Les Charmantes são considerados os causadores da doença que vinha matado as pessoas sem distinção de classe social. Seguindo um conselho de Fréderic, Rosalind e Maurice, agora com a recém-nascida Bela, saem da cidade para um vilarejo distante e seguro onde poderão criar a filha sem preocupações e onde os charmantes que conseguiram escapar dos ataques no reino se refugiaram. Os pais do jovem príncipe pedem ajuda a Rosalind para salvar seu filho e os demais membros da corte, mas ela se recusa. Contudo, pensando na própria filha, acaba lançando secretamente um feitiço para proteger o pequeno príncipe e as demais crianças do palácio.
Anos depois, Bela, agora crescida, é uma jovem muito bonita e inteligente, viciada em livros e solitária, vista por todos da aldeia como esquisita, tal como seu pai. Ela é alvo das investidas e Gaston, o jovem mais querido e bonito do vilarejo, mas um completo imbecil intelectual e, por isso, nem um pouco atraente para ela. Quando seu pai, após sair para uma feira, desaparece, ela vai atrás dele sem hesitação e acaba chegando a um misterioso castelo e seus habitantes inusitados. Ela se depara com a fera e é bem um copia e cola do filme da Disney nesse começo, a coisa vem ficar diferente quando ela invade a ala oeste e toca a rosa, tendo assim uma visão do que aconteceu ao príncipe e ao castelo, esse gesto desencadeia de vez a maldição e eles ficam presos dentro do castelo.
Partindo disso, Bela vai precisar se unir à fera para desvendar os acontecimentos do passado e refazer os passos da sua mãe e das demais pessoas desaparecidas para assim conseguir encontrar uma forma de desfazer a maldição.
Quando li a sinopse do livro achei bacana a ideia, era algo diferente e inusitado, mas acabou não sendo nada do que eu esperava. Apesar de ser um livro bom — e sou leitora a tempo suficiente para saber quando um livro é bom — eu não gostei. É uma premissa muito boa, mas o desenrolar não funcionou comigo, se teve uma coisa que eu achei realmente legal nesse livro foi a maneira como ele fotografa o preconceito e suas consequências. Les Charmantes podem ser negros, homossexuais, ciganos, judeus, mulçumanos ou qualquer outro grupo que já sofreu discriminação e a maneira como a autora destrincha isso, saindo dos alicerces da construção do preconceito até seu auge, é realmente muito bem feita e leva a gente a refletir.
Porém, as personagens não colaboram (visão minha, tá?), os pais do príncipe são tirânicos, mas a Rosalind, aquém de todo o background, não se tornou muito diferente no fim das contas e isso meio que fez boa parte da história, sei lá, perder um pouco do sentido, como se o fato de ela ter amaldiçoado o Adam não agregasse nada à história. Além disso, a reconstrução da Bela "iluminada" pelo movimento iluminista dos séculos XVII e XVIII tornou-a um tanto antipática em vários momentos da leitura. A relação com a fera não foi diferente, ele foi reconstruído de maneira verdadeiramente bestial e a aproximação deles soou tão forçada e artificial que não dava sequer para torcer ou perceber que eles tinham real potencial de se desenvolver como casal. Inclusive, ao contrário da animação, aqui ele não faz o menor esforço para conquistar a Bela, sério.
O que eu senti foi que a autora quis dar um toque mais realista para a coisa toda, mas a mistura no fim não deu muito certo e, se por um lado ela acerta fechando vários buracos que a animação deixou passar, por outro ela erra na recriação das personagens que, em boa parte, se tornaram versões mais chatas e nada adoráveis de si mesmas. Inclusive, algumas partes desse livro eram tão pesadas e sombrias que sequer parecia ser uma releitura de um conto de fadas, mas lembrava muito a gênese sinistra dessas histórias com violência, tortura e morte. Sem contar que aquele final foi bem insoso pra dizer o mínimo. Acabei vendo que esse livro é o primeiro de uma série, mas não me sinto nem um pouco inclinada a ler os outros, talvez (e é um talvez bem grande) eu leia o da Bela Adormecida porque gosto de conhecer todas as vertentes possíveis desse conto que é meu favorito, mas estou na dúvida porque a impressão desse não foi muito bacana.
Mas fica aí a recomendação para quem procura algo diferente.
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