terça-feira, 31 de maio de 2022

[Livro] Dama da Meia-Noite

Título Original: Lady Midnight

Autor: Cassandra Clare

Ano: 2016

Série: Os Artifícios das Trevas #1

Gênero: Fantasia, Romance, Mistério

Páginas: 560

Sinopse: Cinco anos após os acontecimentos de Cidade do Fogo Celestial, acompanhamos os Caçadores de Sombras do Instituto de Los Angeles enquanto tentam descobrir os responsáveis por uma série de assassinatos que vitimam tanto humanos quanto fadas. Emma Carstairs é uma guerreira, uma Caçadora de Sombras: a melhor de sua geração. Ela vive para lutar. E faz isso ao lado de seu parabatai, Julian Blackthorn. Juntos eles patrulham as ruas de Los Angeles, onde vampiros fazem a festa na Sunset Strip, e fadas - as mais poderosas das criaturas sobrenaturais - tentam se manter na linha depois de uma guerra com os Caçadores de Sombras.

Quando os corpos de fadas e de humanos assassinados começam a aparecer com as mesmas marcas encontradas nos pais de Emma, há alguns anos, uma aliança preocupante se forma. É a chance de Emma se vingar, mas também a oportunidade de Julian recuperar o irmão mais velho, Mark, prisioneiro do Povo das Fadas e integrante da Caçada Selvagem desde a Guerra Maligna - que alçou Clary Fairchild e Jace Herondale ao posto de Caçadores de Sombras-celebridade. Tudo que Emma, Mark e Julian precisam fazer é resolver o mistério dos assassinatos em duas semanas...


No primeiro volume de Os Artifícios das Trevas, Emma Carstairs e Julian Blackthorn precisam lidar com o amor silencioso que cresceu entre eles com o passar dos anos e que é proibido para aqueles ligados pelo juramento Parabatai. Embora não saibam porque a lei da Clave proíbe o envolvimento romântico dos parabatai, está cada vez mais difícil esconder um do outro esse sentimento. 

Enquanto isso, as fadas procuram o Instituto prometendo dar a Mark Blackthorn a chance de voltar para casa caso eles descubram quem está por trás de uma série de assassinatos de fadas e humanos. Mark, completamente destruído psicologicamente pelos anos vivendo com a caçada selvagem, se vê de volta para uma família que não reconhece enquanto Emma tem nas mãos a chance de finalmente descobrir a verdade por trás da morte de seus pais a quem a Clave assumia ter sido morto por Sebastian Morgertern.

O Instituto de Los Angeles, que deveria ser dirigido por Arthur, tio de Julian, é na verdade dirigido pelo próprio menino já que o homem parece ter deteriorado sua mente. Além disso, ele também tem de lidar com o autismo de seu irmão Ty, condição que não é bem vista no mundo dos caçadores e esconder a condição dos adultos, tal como a mente deteriorada do tio, do contrário, a Clave pode separá-lo dos irmãos que serão mandados para outros lugares.

Emma se torna muito amiga de Cristina Rosales, que está no Instituto de Los Angeles para um intercâmbio e um estudo sobre Mark Blackthorn, a chegada repentina do garoto enche o Instituto de apreensão e cautela e Cristina parece ser a única capaz de se comunicar realmente com ele, para desespero dos seus irmãos. Enquanto investigam juntos os assassinatos, com a ajuda de Malcon Fade, o alto feiticeiro de LA e Diego, um centurião que tem um passado com Cristina, eles são levados a uma série de assassinatos cujo propósito parece ser um ritual de necromancia.

Levados aos limites de sua resistência e sentimentos, Emma, Julian e os demais Blackthorn, são levados para um passado obscuro de sua família e das duras leis impostas aos caçadores de sombras, enquanto tentam esconder o amor que nasce entre eles, tal como as consequências que esse sentimento começa a despertar em seus poderes como nephilins, o grupo vai precisar de mais coragem e determinação para se manter unido e, sobretudo, trazer Mark de volta a quem ele era antes de ser levado pelas fadas.

Uma guerra é travada outra vez no mundo oculto e Emma e Julian vão precisar tomar decisões difíceis se quiserem salvar aqueles que amam.

Algo particular que gosto muito nesse universo dos caçadores de sombras é que a Cassandra não o fez perfeito ao ponto de você almejar com todas as forças ser um. Ela deixa os pontos negativos de seu governo autoritário e de suas atribuições muitas vezes suicidas bem claro, e o mais incrível é que, mesmo assim, a gente gostaria de se tornar um se fosse dada a oportunidade. O que é bizarro, mas prova que o universo foi magistralmente construído.

A história é muito envolvente como todos os demais livros da tia Cassie, aqui mais especial ainda por se tratar da questão tão interessante dos parabatai com um casal que eu shippo desde o final de Cidade do Fogo Celestial. Contudo, tal como as outras personagens de Clare, Emma e Julian tem um sério problema de comunicação. As coisas acontecem, mas eles sempre arrumam confusão entre si pelo simples fato de não falarem! Jace e Clary tinham esse problema tal como Tessa e Jem. É muito irritante, fica na cara que tudo seria resolvido se eles apenas conversassem e isso parece ser uma regra no mundo de romances YA, diálogo para quê? Vai arrastar por três livros um drama que podia facilmente ser resolvido em um sem precisar dessa volta ao mundo.

Ainda assim, colocando isso de lado, foi muito bom rever Jem (meu crush) e descobrir um pouco mais sobre os parabatai, sua ligação e como ela é afetada pelo amor romântico, além, claro, de sofrer horrores com esse casal e se pegar surpreso com a maldição envolvendo os parabatai que é mencionada muito superficialmente em TMI. Esse sempre foi um tema do meu interesse e foi muito triste ele ter sido tratado de forma tão breve no Códex, o que é explicado por Jem a Emma nesse livro sobre ser um assunto proibido pela Clave de ser divulgado entre os caçadores de sombras.

As novas personagens são incríveis e o enredo maravilhoso. Acho que não há como não gostar de um livro desse universo, a narrativa da Clare é muito deliciosa, apesar do problema enorme dela em dividir capítulos nessa trilogia, são capítulos enormes que a meu ver seriam melhor distribuídos se divididos em duas e alguns até em 3 capítulos menores, fluiria melhor a leitura. Mas eu gastei quase uma plaquinha de post-it no livro do mesmo jeito haha. Amo as referências que ela usa e a forma como encaixou o poema de Poe aqui foi genial. 

Outro ponto que tem se mostrado muito legal nessa série foi a diversidade das personagens, desde Alec com a representação LGBT até Tiberius com uma representação divina do autismo, sem estereótipos e de maneira sutil o bastante para que só quem teve algum contato prévio com a condição poder notar. Achei isso muito bacana. Confesso que o "plot twist" sobre quem seria o vilão da trama não me surpreendeu, as pistas que ela deu ao longo dos capítulos deixaram a descoberta um pouco óbvia, especialmente pelas atitudes do próprio personagem em questão. Nem preciso dizer que recomendo demais todos os livros do universo, todos são incríveis.

terça-feira, 24 de maio de 2022

[Livro] Irmã

Autor:  Rosamund Lupton 

Ano: 2013

Gênero: Suspense, Thriller, crime

Páginas: 449 páginas

Sinopse: Quando Beatrice recebe uma ligação informando que sua irmã mais nova, Tess está desaparecida, embarca no primeiro voo para Londres. Porém, ao descobrir as circunstâncias do sumiço, percebe que não conhece detalhes da vida de sua irmã e não está preparada para os fatos terríveis que precisa enfrentar. Enquanto a polícia, o próprio noivo e a mãe aceitam a perda de Tess, Beatrice se recusa a desistir e parte numa perigosa jornada para descobrir a verdade, sem se preocupar com as consequências.

É o meu primeiro contato com a autora e vai ser o último no que depender de mim. Que livro difícil de terminar, parabenizo minha paciência por não tê-lo abandonado como, por vezes, foi minha vontade.

A história é contada por Beatrice em uma espécie de narrativa para sua irmã Tess que desapareceu. A princípio, ela fornece algumas pistas sobre a vida da irmã que ela achava conhecer muito bem, mas percebe, conforme a investigação avança, que havia muitas coisas que Tess não havia lhe contado. Na última vez que falou com a irmã, ela estava grávida de um professor da universidade onde cursava artes, o homem era casado e não ia assumir qualquer responsabilidade pelo bebê, mas a irmã decidiu que o teria mesmo assim, contrariando todos os conselhos de Beatrice, a quem chamava de Bee.

Completamente o oposto da irmã mais velha, que tem uma vida estável, um emprego bem remunerado, está noiva e controla cada pequeno aspecto da sua vida, Tess era um espírito livre. Tinha um emprego que ajudava a pagar as contas, um apartamento decrépito e um monte de sonhos de ser reconhecida como a artista que era. De alguma forma, aquém do desprezo da mãe por suas escolhas, Beatrice sempre soube que Tess era sua favorita, ela viveu sob as duras críticas da mãe e desenvolveu uma autoestima muito baixa, contudo, esse fato não abalou sua relação com a irmã caçula a quem sempre amou e admirou.

Tão logo a mãe lhe informa sobre o desaparecimento de Tess, Beatrice viaja para Londres determinada a encontrar a irmã. O cenário não é dos melhores, a polícia averígua os fatos, mas parece convencida que Tess fugiu para ficar um tempo sozinha, pois, semanas antes de desaparecer, ela deu à luz a um bebê morto. A família de Beatrice tem um histórico genético de fibrose cística (conhecida como Doença do Beijo Salgado ou Mucoviscidose, é uma doença genética crônica que afeta principalmente os pulmões, pâncreas e o sistema digestivo. Atinge cerca de 70 mil pessoas em todo mundo, e é a doença genética grave mais comum da infância. É uma doença que faz com que o corpo produza muco de 30 a 60 vezes mais espesso que o normal. Isso leva ao acúmulo de bactérias e germes, causando inflamações e infecções recorrentes, trazendo danos (até irreversíveis) aos órgãos acometidos.), o irmão mais novo delas, Leo, faleceu vitimado pela doença ainda aos oito anos.

Por causa disso, Tess temia que o seu bebê pudesse sofrer da doença e se submeteu a um novo tratamento que poderia reverter qualquer possível alteração no gene que causava a fibrose cística. Contudo, sua criança ainda nasceu com uma doença grave nos rins que a levou a falecer. Alguns dias depois, o corpo da sua irmã é encontrado no banheiro de um prédio abandonado. A polícia fecha o caso como suicídio, mas Beatrice não tem dúvidas que a irmã nunca cometeria um ato extremo como esse, ambas viram seu irmão morrer de modo doloroso, sabiam o valor da vida e respeitavam isso. Assim, decide ir atrás da verdade procurando reconstruir os últimos dias de vida da irmã para encontrar a pessoa que a matou.

Na teoria, esse livro era para ser um thriller, mas a maior parte da narrativa é sobre luto. A bem da verdade, por se tratar de um relato em primeira pessoa direcionado para Tess, não seria muita surpresa a exposição desse sentimento de perda, a constante lembrança e os detalhes sobre a saudade da perda. Apenas quem já passou por um luto dessa magnitude pode entender. Mas, a bem da verdade, isso tira um pouco o foco da trama para o que importa: quem matou Tess e por quê. O livro se torna, assim, um relato arrastado que oscila entre passado e presente para desencadear em um enredo que não soa verossímil ou confiável.

O plot twist escolhido pela autora foi, a meu ver, bem falho. Acredito que fãs assíduos de Agatha Christie mataram a charada bem antes do capítulo 20, francamente. Além disso, ela escolheu um final aberto que não deixa claro o desfecho da personagem e, mesmo que ela tenha realmente sobrevivido, o estado em que se encontrava deixava dúvidas quanto a veracidade dos últimos parágrafos. especialmente pela revelação acerca do "advogado". A meu ver, o livro é lento. A gente descobre que Tess está morta no capítulo 3, então Beatrice vai dando voltas e mais voltas no tempo fornecendo um cenário fragmentado que por vezes dificulta nossa composição do quadro geral. Além de, como uma detetive amadora, questionar coisas óbvias como o uso de EPIs por profissionais de saúde no exercício da função, o que não faz o menor sentido.

Para mim, a experiência soou mais como um drama que um suspense e, por Deus, é muito arrastado. Tem horas que é preciso paciência para avançar a leitura. Embora concorde que os conflitos familiares e a relação das irmãs foi algo muito bem construído, como narrativa em si o livro não conseguiu me prender e o desfecho beirou o frustrante com toda aquela ambiguidade.


segunda-feira, 23 de maio de 2022

[Anime] Sasaki to Miyano

Original: 佐々木と宮野

Autor: Shō Harusono (mangá) Yoshiko Nakamura (adaptação em roteiro)

Direção:  Shinji Ishihira

Ano: 2022

Episódios: 12

Gênero: Comédia, BL, Romance

Sinopse: Miyano é um estudante do ensino médio com um segredo - ele é um fanboy do BL. Ele é apaixonado por seu hobby, mas não o compartilha com os outros facilmente, até que um encontro casual com um sempai peculiar chamado Sasaki lhe traz uma nova amizade. Sasaki não sabe o que diabos é um 'seme' ou 'uke', ou por que ele deveria se preocupar quando Miyano ameaça desenhar doujinshi envolvendo ele, mas ele está ansioso para aprender sobre o hobby de seu novo amigo fofo!

Caí nesse anime de para-quedas enquanto tentava encontrar outras histórias no estilo HoriMiya. Confesso que fazia um bom tempo que não me empolgava com animes, os enredos não me prendiam e encontrar produções fofas como Kimi ni Todoke ou engraçadas como Kaichou wa maid sama estava difícil. Até que HoriMiya reacendeu em mim o amor pelos animes e me dei conta que ainda há histórias legais por aí.

Sasaki e Miyano é uma dessas histórias, maratonei no domingo com a minha irmã porque a sinopse parecia promissora e não foi um desapontamento. Acompanhamos a história de Miyano, um garoto colegial que ama o universo BL e coleciona mangás. Embora não goste de homens propriamente, Miyano entende tudo sobre o universo BL, segredo que só seus amigos muito próximos sabem. Um dia, ele vê um garoto sendo intimidado por outros e avisa para o presidente do conselho disciplinar, Hirano, mas antes que esse chegue a briga é parada por Sasaki que aparece de repente e impede que o pequeno Miyano se envolva na confusão. No momento que os dois trocam o primeiro olhar, alguma coisa acontece.

A partir daquele dia, Sasaki faz de tudo para se aproximar de Miyano, que é um grande amigo de Hirano. Certa vez, o veterano pede ao Kohai um mangá emprestado, curioso para saber que tipo de história o baixinho gosta de ler. Mesmo muito constrangido, Miyano empresta um mangá que tinha consigo na bolsa e, para sua surpresa, Sasaki gosta muito do que lê, apesar de ter ficado um tanto chocado à primeira vista, e pede para o kohai lhe emprestar mais mangás do gênero.

Assim, uma amizade se inicia a partir da troca de histórias entre eles, quanto mais Sasaki entra no mundo secreto de Miyano, mais o garoto se vê gostando da maneira aberta e livre de preconceitos que o amigo aceita e compartilha aquele gosto com ele. Todavia, os sentimentos de Sasaki vão evoluindo conforme se aproxima de Miyano, poderá o garoto mais jovem corresponder aos sentimentos de seu senpai?

Esse anime é uma mistura de Kimi ni Todoke com Cherry Magic, gente, que fofura! Desde o primeiro episódio você já está shippando esses dois loucamente e toda a comédia é bem dosada com o romance e os conflitos internos das personagens. O fato de ambos estudarem em um colégio só para garotos impede que surjam aquelas personagens chatas que ocasionalmente aparecem para atrapalhar em obras do gênero. 

O desenvolvimento do romance é gradual e lógico, nada abrupto apesar de o Sasaki ter se encantado com o Miyano à primeira vista. A amizade que eles constroem é muito fofinha e vamos acompanhando como o Sasaki vai se dando conta que gosta do seu kohai a apartir da forma como seus olhos brilham quando ele fala sobre os mangás que tanto gosta ou fica constrangido com a chance de alguém descobrir sobre isso. Os amigos do Miyano também são muito adoráveis e não zombam dele por suas preferências, achei isso muito legal.

Como me referi à HoriMiya, o único defeito desse anime é que ele acaba. Há uma OVA prevista para Julho, quando vai ser lançado o nono volume do mangá, então vou esperar na torcida por uma segunda temporada e já deixo recomendado para você que procura algo fofinho, leve e divertido.

sábado, 21 de maio de 2022

[Livro] Morte na Mesopotâmia (+Filme)

Original: Murder in Mesopotamia

Autor: Agatha Christie

Ano: 1936

Páginas: 248

Sinopse: Para a enfermeira Amy Leatheran, sua paciente era uma caso muito estranho. Louise, casada com um famoso arqueólogo, sofria de angústia nervosa, Segundo seu marido. Suas fantasias eram vívidas e macabras - uma mão decepada um rosto cadavérico contra a vidraça... Mas de que ou de quem ela teria tanto medo? Perto do marido, num sítio arqueológico no deserto do Iraque, ela estaria a salvo. Quase toda a expedição era formada de velhos colegas e amigos. Entretanto, a formalidade do grupo não parecia natural. Pairava no ar uma tensão, um certo desassossego. Algo muito sinistro estava acontecendo. E tinha a ver com assassinato.

Posso dizer que não é meu livro favorito de Agatha, mas foi um dos casos mais intrigantes que li dela desde os Crimes do ABC. Especialmente porque durante o percurso eu construí toda uma imagem na minha mente a partir das pistas, mas no fim das contas toda a minha teoria findou com uma resolução que eu julguei como provável, mas que a tia Agatha soube desconsiderar de modo tão brilhante que pensei que era absurdo e me voltei totalmente para a outra. Resultado, fui feita de palhaça de novo haha. E amei! (Eu tenho problemas, só pode).

A história se passa em um sítio arqueológico na Mesopotâmia onde a enfermeira Amy, narradora da história, é contratada para cuidar da esposa de um renomado arqueólogo que está trabalhando em peças descobertas. Amy está no oriente médio junto a outro casal que acabou de ganhar neném, ela era enfermeira da esposa e ajudava com o bebê, já no seu último dia junto ao casal e os amigos destes, ela começa a ouvir rumores sobre sua nova paciente. A princípio, Louise Leidner é como uma entidade sem forma na mente da enfermeira que já espera o tipo mais problemático de paciente.

Contudo, ao chegar ao alojamento e se deparar com a bela e magnética mulher que é a esposa do arqueólogo, todas as suas convicções pre-conceituais caem por terra. Louise Leidner é inteligente, cativante, gentil e carismática, atraindo todos ao seu redor como mariposas para uma chama. Mas ao mesmo tempo, Amy também sente uma espécie de aura estranha pairando sobre os demais membros da expedição. Há uma animosidade velada no ar e fica claro já nas primeiras observações da enfermeira que aquém do que o dr. Leidner afirmou, nem todos ali nutrem afeto pela sua esposa.

Conforme vai conquistando a confiança da mulher, Amy acaba descobrindo um misterioso segredo envolvendo seu passado. Louise acredita estar correndo perigo por parte do seu ex-marido que, para todos os efeitos, devia estar morto. Ela mostra para a enfermeiras as ameaçadoras cartas anônimas que tem recebido e teme por sua vida. Conversando com o marido a respeito, Amy descobre que o dr. Leidner acredita que a esposa está fantasiando coisas por algum tipo de estresse mental.

Mas quando alguns dias depois Louise Leidner é encontrada morta em seu quarto, as ameaças até então imaginárias não parecem mais um evento dramático de uma mente ansiosa. Hercule Poirot que acaba de sair do Nilo em sua viagem pelo oriente, é chamado para ajudar no caso insólito e começa a desenterrar o passado dos membros da equipe do dr. Leidner em um de seus casos mais desafiadores.

Acho que o que mais me manteve presa nesse livro em particular foi a maneira como ela construiu todo o caso. Há um longo percurso de apresentação do meio e das personagens, mesmo que isso seja feito pela ótica de Amy, funciona mais ou menos como as narrativas de Hastings, de caráter documental, do que quando ela escolhe outras personagens e usa uma linguagem mais persuasiva como aconteceu em Noite sem Fim, a gente consegue notar a diferença claramente.

Embora no início tenha achado a primeira parte do livor um tanto monótona, a partir do momento que as coisas começam de fato a acontecer percebi quão importante ela foi para toda a construção do caso, sem aquela inserção das personagens e suas personalidades no seu meio, o assassinato nos soaria desconexo e não teríamos pistas ou base suficiente para supor quem era o assassino (e no meu caso nem com isso!). O pobre de Poirot que não consegue paz nem nas férias, fez uma investigação mais sutil nesse caso, de modo que, aquém das suposições que ele fez claramente, não consegui captar muitas das pistas que ele pescou nos seus interrogatórios.

Creio que foi um dos primeiros livros dela que eu parei para analisar realmente as pistas e tentar formular uma teoria com o que foi apresentado. De todas as hipóteses apontadas por Poirot uma fazia muito sentido e me segurei nela quase até o final, mas, como ele mesmo disse, ela não conseguia responder todas as perguntas "psicológicas". A resolução me desapontou um pouco? Sim, mas foi igualmente surpreendente especialmente por se tratar do primeiro personagem descartado no início de tudo. Nesse sentido, as pistas acerca da morte foram muito mais sutis.

Enfim, gostei muito, foi uma leitura aprazível e um excelente quebra-cabeças como só a tia Agatha consegue montar.

A Adaptação

Série: Poirot S8EP2

Ano: 1996

Como mencionei em resenhas anteriores, o problema com essas adaptações é que elas são seriadas e, dessa forma, apesar de adaptar livros separados, elas tem de seguir um fio condutor, especialmente na escalação dos atores que não pode deixar de fora o elenco principal. Aí o que temos? Hastings num livro que não tem Hastings!

Em comparação à Morte no Nilo, esse filme foi melhor adaptado, concordo, mas a elipse de personagens importantes que compõem a cadeia de acontecimentos, como o Dr. Reilly, prejudicou muito o desenvolvimento da trama a meu ver. Eles condensaram personagens, minaram alguns acontecimentos e embora tenham se encaminhado para o mesmo final do livro, muito da tensão apresentada na trama ficou superficial se comparada ao material original.

Não fosse o carisma de David Shuchett, o filme seria até mesmo aguado. 

sábado, 14 de maio de 2022

[Livro] Ofélia (+Filme)

Original: Ophelia

Autor: Lisa Klein

Ano: 2008

Páginas: 266

Publicação: 2019 (Brasil) 2006 (original)

Sinopse: Ele é Hamlet, o príncipe da Dinamarca; ela é simplesmente Ofélia. E, se você pensa que conhece a história dos dois, pense melhor. Uma releitura da famosa tragédia de Shakespeare.

Nesta releitura da inesquecível obra de Shakespeare, é Ofélia quem ocupa o centro da trama. Uma menina barulhenta e sem mãe, ela cresce no castelo de Elsinor e se torna a dama de honra mais confiável da rainha. Sedenta por conhecimento e espirituosa, além de linda, Ofélia aprende os caminhos do poder em uma corte onde nada é o que parece. Seu jeito chama a atenção do cativante príncipe Hamlet, e o amor entre os dois floresce em segredo. Mas maquinações sangrentas logo transformam a Dinamarca em um lugar de traição e loucura, e a felicidade de Ofélia é ameaçada ― ela se vê obrigada a escolher entre o amor de Hamlet e sua própria vida. Em desespero, Ofélia traça um plano arriscado para escapar de Elsinor para sempre… com um segredo muito perigoso. Em uma narrativa dramática e intensa de morte e intrigas, amor e perdas, Ofélia conta sua própria história extraordinária ― uma que você nunca ouviu, e que jamais vai esquecer.

"Queria ter sido autora de minha história, não apenas uma atriz na peça de Hamlet ou um peão no jogo mortal de Cláudio. Mas o que ganhei em conceber minha própria morte e escapar de Elsinor?"

E vamos falar de Ofélia!

Na corte de Elsinor, a pequena Ofélia nasce e sua mãe morre. Com a indiferença de seu pai e tendo por única companhia seu irmão mais velho, Laertes, ela cresce como uma criança cheia da liberdade que a pobreza proporciona e sem as correções que deveria ter uma dama. Já um pouco mais velha, na adolescência, seu pai contrata tutores para seu irmão e a coloca para ter aulas com ele. Ofélia, dona de uma mente curiosa e de fácil assimilação, se mostra uma aluna admirável e uma leitora ávida bem ao contrário do seu irmão. O pai de ambos, Polônio, só tem na cabeça conquistar seu espaço na corte e não liga para os filhos a menos quando estes se mostram uma ferramenta para alcançar seus objetivos. E, para bem — e mal — de Ofélia, ele consegue seu lugar ao sol na corte de Elsinor.

É lá que a jovem Ofélia conhece o príncipe Hamlet, um rapazote tanto quanto desinteressado em muitas coisas que não lhe dá qualquer bola, e também conhece Horácio, o silencioso e observador, mas gentil braço direito do príncipe. Não demora muito para que a jovem Ofélia ganhe a atenção de Gertrudes, a mãe de Hamlet, que a toma como uma dama. É na companhia da velha Elnora que Ofélia aprende como se comportar na corte dinamarquesa onde nada é o que parece. Gertrudes, inicialmente, não lhe dá muita atenção e ela se vê sozinha no meio de damas de companhia fúteis e bajuladoras além de receber o desprezo de Cristiana que faz de tudo para diminuí-la.

Todavia, apesar de não ser talentosa no bordado, na humildade ou na bajulação, Ofélia tem uma mente vivaz e conhecimento ao seu favor, podendo ler em Latim e francês com fluência e graças a essa inteligência ela conquista o afeto da rainha que começa a compartilhar com ela longas noites de leituras proibidas, assim, a jovem Ofélia fortalece mais sua mente através dos estudos e da leitura, se tornando não só muito inteligente, mas uma excelente e competente médica naturalista.

Quando o príncipe Hamlet retorna à corte após longo período estudando fora e viajando, ele encontra uma Ofélia bem diferente do que deixou para trás, a jovem menina descabelada e rebelde agora é uma jovem mulher de mente afiada e modos delicados. Ela conquista a atenção do príncipe por sua beleza sem retorques ou subterfúgios, mas, sobretudo, por ter uma mente tão vívida e incisiva quanto a dele próprio, uma jovem capaz de rebater suas críticas duras e posições inflexíveis com bons argumentos e embasamentos firmes. A paixão, dessa forma, é o curso natural de ambos, mesmo Ofélia sabendo que, na posição de príncipe, Hamlet é proibido para ela.

Tudo muda, entretanto, quando o rei Hamlet é assassinado e Cláudio sobre o trono casando-se quase imediatamente com Gertrudes para revolta do príncipe Hamlet. Sem mais impedimentos, ele pede Ofélia em casamento realizando uma cerimônia secreta. Por um momento, a jovem Ofélia acredita que tudo ficará bem, mas os augúrios do mal já se prenunciam na sua noite de núpcias quando o príncipe deixa o leito afoito em busca de alguém. Logo, as marcas da loucura começam a turvar a mente de Hamlet que conta à sua jovem esposa sobre a aparição do espírito de seu pai e a revelação de que foi assassinado pelo irmão, Cláudio, que usurpou seu lugar.

Ofélia se assusta com a condição de seu marido e tenta dissuadi-lo de todas as formas a abandonar a vingança, mas Hamlet está cego pelo ódio e abandona tudo, incluindo ela, em nome de vingar o assassinato do pai. Assim, vendo-se perdida, não resta à Ofélia outra saída senão escolher sua própria vida, ameaçada dentro do palácio e em um lugar onde não pode confiar em ninguém, apenas Horácio se mostra seu alento e chave para a fuga. Escondendo segredos e tendo de deixar para trás seu coração, ela vai precisar renunciar à vida que conheceu já que seu marido está perdido para ela. No triste desfecho da Dinamarca, Ofélia não vai ter outra saída além de reescrever sua própria história.

Quando li Hamlet, influenciada, como já mencionei na resenha da peça, pela ópera de Ambroise Thomas, já tinha em mente ler essa adaptação cuja existência conheci em uma resenha no youtube. Antes de falar sobre meu pequeno problema com esse livro, deixe-me discorrer brevemente sobre meu posicionamento com a personagem Ofélia criada por Shakespeare. Podemos dizer que, tal como Julieta, Ofélia é uma personagem feminina apaixonada ao ponto de ser levada a extremos em nome desse sentimento, contudo, apesar de ter uma presença pontual e importante na trama, ela difere de Julieta em vários pontos, não somente por não ser uma personagem principal, por assim dizer, mas por não partilhar da completa ingenuidade de Julieta em relação à vida. Ofélia era mais madura e infinitamente mais inteligente.

Veja, o que estou dizendo aqui exprime apenas minhas impressões a respeito da personagem de acordo com a peça de Shakespeare. Ofélia é o contraponto de Hamlet, ela surge como uma forma de completá-lo, enquanto Shakespeare criou Hamlet como a razão, Ofélia é o sentimento. Poderia dizer que ela é a humanidade que o ódio e a sede de vingança tiraram dele. Na peça, ele se apaixona por ela e promete coisas que não é capaz de cumprir, mas, cegado pela loucura da vingança, acaba causando feridas profundas em seu coração que findam por levá-la à loucura e ao suicídio. Morrendo Ofélia, morre qualquer resquício de amor e humanidade no coração do príncipe que, entregue ao mal, leva até as últimas consequências sua vingança e, dessa forma, tem seu trágico desfecho.

Para mim, Ofélia tanto na ópera quanto na peça de Shakespeare, é uma personagem étéra e tão fascinante quanto seu personagem título. Embora represente a fragilidade e a doçura femininas, ela também é a representação da força e da piedade filial, do bom senso e da coragem. Foi por essas razões que a personagem recriada por Lisa Klein, em alguns pontos, me decepcionou tanto.

Se concordo em parte quando a autora diz no final que "Ofélia merecia sua vingança", é porque gostaria que a personagem tivesse um desfecho mais favorável na peça original, todavia, observando toda a situação criada pelo dramaturgo inglês, fica claro que a felicidade de Ofélia se tivesse permanecido viva seria impossível. Ela não tinha ninguém para zelar por ela, perdera seus familiares e o amor da sua vida, não tinha mais a proteção da rainha que também morrera e se veria como uma estranha na corte de Fortimbrás, o príncipe da Noruega que tomou posse da Dinamarca.

Todavia, no percurso repensado da personagem, Lisa Klein nos oferece uma Ofélia inicialmente segura de si e inteligente, mas essas características se atenuam — para não dizer desaparecem — no momento que ela se entrega ao amor de Hamlet. Parece que, a partir do momento que se apaixona pelo príncipe, Ofélia se torna uma garota tola cujo mundo gira somente em torno do objeto de sua devoção. Os poucos sinais de lucidez que ela parece ter ao longo do percurso vêm de forma fraca o bastante para considerarmos ela uma grande tola. Além disso, a reconstrução das personagens fez com que o rumo da história apontasse — e não sei ao certo se de forma intencional ou não — a que a personagem tivesse pouca ou nenhuma afinidade com seu par romântico.

Sério, desde o começo do livro você é imediatamente direcionado a torcer que Ofélia fique com Horácio, mesmo nas poucas interações entre eles, fica claro como água que esse personagem é muito mais compatível com ela que Hamlet. E, se isso foi feito de propósito pela autora para justificar o final do livro ou para dar uma saída para o trágico desfecho, funcionou para mim como uma faca de dois gumes. Primeiro, porque o final tornou esse acontecimento um tanto forçado, já que a construção desse caminho foi muito rasa, segundo porque a própria personalidade instável da personagem de Klein quase invalidou esse caminho.

Talvez por ter lido a peça primeiro, essa releitura não funcionou tão bem para mim. Primeiro porque as personalidades e as relações das personagens diferem muito do original — o que é bom, porque torna o material original, e ruim para os saudositas que amam a peça de Shakespeare — a fidelidade com um livro histórico, quando vista como um material desvinculado da peça, torna a leitura interessante e instigante, que foi o que aconteceu com a menina que fez a resenha no youtube, mas a partir do momento que você conhece a peça e toda a sua complexidade, poesia e dualidade, a profundidade de suas personagens e as nuances equilibradas entre as camadas do ser humano, a releitura parece se tornar um romance aguado para adolescentes.

Não quero, claro, dizer que o livro é ruim, de forma alguma. Como um material isolado é uma leitura interessante. Mas senti que as questões principais da peça e o cerne da própria Ofélia foi deixado de lado para construir um romance bem Romeu e Julieta com um final que tenta passar uma imagem de personagem empoderada e à frente do seu tempo, mas que é na verdade algo bem açucaradinho. E, infelizmente, não consegui ler o livro como um material isolado, então as comparações com a peça seguiam cada vez mais intensas e diminuíam um pouco o prazer da leitura em si. Ler Hamlet, para mim, foi arrebatador. Das poucas peças que conheço de Shakespeare, ela é sem dúvida a melhor. Mas Ofélia realmente me deu a sensação daqueles livros históricos de banca, só que com um desenvolvimento um tanto mais bem feito.

É um livro bom, mas não fantástico ao ponto de você querer reler diversas vezes. E, se me trouxe alguma alegria real, foi o excelente material de referência e o final feliz para a personagem, embora não atenue, de nenhuma forma, a tristeza pela morte poética da personagem original pela sua grande desconexão com esta. A meu ver, ambas compartilham apenas o nome. Contudo, indico o livro, para quem procura um bom romance histórico sem muitas pretensões, é uma leitura aprazível. 

Adaptação

Ano: 2021

Direção: Claire McCarthy

Roteiro: Semi Chellas

Trilha Sonora: Steven Price

Gênero: Drama

País: Reino Unido, EUA

PG: +16

Elenco: Daisy Ridley, Naomi Watts, Tom Felton, Clive Owen, George MacKay

Sinopse: No século 14, a bela e inteligente Ophelia (Daisy Ridley) chama a atenção do príncipe Hamlet. Os dois vivem um intenso romance, enquanto ela lida com a mãe dele, a rainha Gertrude (Naomi Watts). Ela precisa se decidir entre o amor ou sua própria vida para esconder um segredo mortal.

O que eu posso dizer desse filme? A trilha sonora é estonteante, maravilhosa, exuberante, uma verdadeira obra prima. É isso.

Tal como falei do livro, se ele por si só não conseguiu ganhar meu coração, era de se esperar que o filme não fosse alcançar esse êxito, especialmente com o tanto de coisa que foi elipsada do enredo, tornando-o ainda mais um romance histórico beirando o clichê.

Não entendo nada de cinema, mas sou realmente curiosa para entender a dificuldade dos roteiristas em seguir os malditos livros nos roteiros! Okay, algumas coisas são realmente inviáveis adaptar quando um livro é, por exemplo, de fantasia, mas em um romance desse, com suas meras duzentas páginas, fico me perguntando qual a dificuldade em colocar na droga da adaptação o que está no livro. Qual a dificuldade?

A elipse de personagens importantes como Elnora e a diminuição de outros como Edimundo, precisa converter a importância para outras personagens como Gertrudes, que já tem sua importância na trama, mas aqui ganhou uma irmã gêmea bem improvável — para dizer o mínimo — e Cláudio que também ganhou uma repercusão eu diria até desnecessária além do seu papel.

Outra coisa que também me deixou mais chateada com a produção — que já não esperava muito, por sinal — foi o final que eles realmente desconstruíram. Se por um lado a personalidade da Ofélia se manteve, em parte, estável ao longo da trama — e por si só já é muito porque no livro é bem volúvel — e a relação dela com o irmão e o pai foi mantida mais ou menos como na peça, por outro os "desvios" tomados pelo enredo que envereda num filme histórico romântico bem hollywoodiano que oferece pouco ao expectador — ainda mais se este leu o livro ou, pior, a peça! —, a elipse das personagens faltantes e o encurtamento do final da trama foi, para dizer o mínimo, decepcionante. Pelo menos para mim.

Recomendo o filme? Não. A menos que você vá vê-lo, como a releitura, tal como material isolado, não recomendo. Se comparar com o livro ou com a peça, vai ser uma experiência frustrante e decepcionante. Todavia, como uma mídia isolada pode oferecer certo divertimento para um expectador que curta romances históricos.

Mas a trilha sonora, é sério, escutem, é soberba de tão linda!


segunda-feira, 9 de maio de 2022

[Livro] Noite sem Fim

 

Original: Endless Night

Autor: Agatha Christie

Ano: 1967

Gênero: Crime, mistério

Páginas: 224

Sinopse: O destino de Michael Rogers parecia haver mudado ao conhecer Ellie, uma rica herdeira norte-americana. Todos os seus sonhos estavam se tornando realidade de uma só vez, e o Campo do Cigano parecia ser o lugar perfeito para começar uma vida a dois. Mas quando o jovem casal decide ignorar os avisos de uma cigana sobre uma antiga maldição nem imagina que está desafiando a própria sorte.

Mike Rogers nunca parou quieto em um emprego por muito tempo, na verdade, ele odiava trabalhar, odiava ainda mais os homens que criaram tal prática infeliz. Entediava-se fácil e, embora fosse um bom profissional em tudo que se dedicava a fazer, não parava em nenhum dos empregos. Isso causava atritos com sua mãe que queria vê-lo estabilizado e por isso ele quase nunca ia visitá-la.

Certo dia, após levar um casal para uma cidade interiorana, ele se deparou com um cartar do leilão de uma propriedade que os locais diziam ser amaldiçoada. Embora fique interessado, ele sabe que não tem condições de arrematar a propriedade, mas vai ao leilão apenas por curiosidade. Lá ele fica sabendo mais sobre o local e a antiga maldição lançada pelos ciganos. Curioso a respeito dela, Mike decide ir até lá e encontra com uma jovem no caminho, ela diz se chama Ellie e, a partir daquele momento, eles se tornam amigos.

Ellie lhe conta sobre sua família superprotetora e a ajuda de sua dama de companhia, Greta, que a ajuda secretamente a ter mais liberdade. Os dois eventualmente se apaixonam e Ellie revela sua verdadeira identidade, é uma das herdeiras mais ricas da América do Norte. Por causa das posições sociais muito diferentes, os dois decidem se casar escondido em um cartório e, desde o começo, Mike se mostra contra Greta, a melhor amiga de sua esposa.

Convencida por ele, Ellie acaba comprando a propriedade rural e Mike pede que Santonix, um renomado arquiteto, construa a casa de seus sonhos ali. Porém, uma cigana do vilarejo se mostra contra a estadia do jovem casal nas terras que, segundo ela, foram tiradas do seu povo. Ainda assim, recusando-se a dar ouvidos às superstições tolas, o casal concretiza seus planos e se muda para a luxuosa residência. Mas quando estranhos e macabros eventos começam a acontecer, Ellie começa a se perguntar se não foi mesmo amaldiçoada ao pisar naquela terra.

Nesse livro, Agatha Christie usa o mesmo recurso do Assassinato de Roger Ackroyd, trazendo uma narrativa em primeira pessoa (e, portanto, não confiável) com uma abordagem que não envolve nenhum dos seus detetives, algo diferente do outro livro no qual Poirot aparece. Se eu posso dizer algo a favor de Mike Rogers é que ele é bom no que faz. Se você leu o outro livro citado vai entender. Agatha escolheu o recurso de timing reverso para compor a história de modo que, embora tenha sido uma espécie de reviravolta, ela foi um pouco menos sutil nas suas pistas ao longo da história.

Digo isso por determinado diálogo entre Mike e a esposa que ficou muito suspeito e já nos leva de cara a suspeitar do final. O livro em si é bem diferente do que ela costuma escrever, boa parte dele tem mais aquele clima de filme de suspense, uma aura meio sombria que difere muito dos demais romances dela, mas para mim não surtiu um efeito muito maior que esse.

Talvez isso soe como um spoiler, então pule esse parágrafo. Mike é um sociopata, durante vários pontos da sua narrativa há pistas em relação a isso, especialmente nas interações dele com a esposa, mas embora Agatha tenha sido cuidadosa com a maior parte dessas pistas, em um ponto específico ela escorregou e entregou o queijo para a gente. No demais, o personagem me soou um tato falso, talvez fosse essa mesmo a intenção já que, como um sociopata, ele tenda a ser sedutor e manipulador.

Como construção mesmo, não considero o melhor romance da Agatha, li outros livros dela muito melhores. Apesar de ter sido uma leitura diferente e do personagem principal ser controverso para dizer o mínimo, não foi uma revelação bombástica ou que me fez gritar como O Assassinato de Roger Ackoyd que eu vesti meu chapéu de palhaça e dei um grito de surpresa no final. Acho que faltou emoção, pelo menos para minha experiência.

Todavia, estamos falando de Agatha Christie, então lógico que é uma leitura indicada e obrigatória para fãs de livros policiais. 

domingo, 8 de maio de 2022

[Anime] In/Spectre

 Original: 虚構推理

Ano: 2020

Gênero: fantasia, mitologia

Episódios: 12

PG: +17 (violência, profanidade)

Sinopse: Quando ela ainda era apenas uma menina, Kotoko foi sequestrada por um youkai. Esses espíritos transformaram-na numa poderosa intermediária entre o mundo dos espíritos e humanos. Entretanto esse poder teve um preço: um olho e uma perna. Agora, anos depois, ela vigia youkais perigosos enquanto desenvolve sentimentos pelo jovem Kuro que também é especial, um incidente com um yokai deu-lhe poderes de cura. Ele ficou surpreso quando Kotoko lhe pediu que se junte a ela para lidar com yokais renegados, preservando a linha fina entre a realidade e o sobrenatural.

Eu só me arrisquei a ver esse anime porque estava na lista de relacionados á Horimiya, embora os dois não tenham nada a ver. In/Spectre está mais para a lista de animes como Ghost Hunt, mas tem bem menos carisma que esse último. Se fosse classificá-lo, ele seria uma mistura um pouco menos interessante de Death Note e Ghost Hunt.

A premissa segue uma garota chamada Kotoko Iwanaga de 17 anos que tem a habilidade de ver seres sobrenaturais porque, quando criança, ela foi sequestrada por youkais que lhe pediram para ser sua "deusa da sabedoria", em troca disso, ela precisou abdicar da sua perna e do seu olho direito. Assim, sua principal função é mediar conflitos entre as criaturas e manter o equilíbrio entre o mundo sobrenatural e o humano e ela faz isso com deduções. Sim, deduções a partir de pistas.

Ela acaba encontrando com Kuro no hospital e a namorada dele, Saki, apesar de soar bem artificial, ela se apaixona "à primeira vista" por ele. Um tempo depois, os dois se reencontram no mesmo lugar e dessa vez ela sabe que ele e a namorada não estão mais juntos, isso porque apesar de parecer, Kuro não é humano. Kotoko então dispara que quer ser namorada dele e meio que impõe que os dois fiquem juntos.

Assim, eles partem resolvendo problemas criados entre as criaturas e o anime praticamente todo foca na morte de uma idol que acabou gerando uma espécie de youkai violento. Enquanto Kuro fica morrendo para poder alcançar as linhas do futuro, Kotoko precisa criar um embate psicológico de suposições com a prima dele que possui a mesma habilidade.

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Sendo bem franca, achei o anime muito chatinho. Ele tenta ser aquele super embate psicológico entre duas mentes, ou enaltece a inteligência da personagem principal, mas acaba ruminando a mesma coisa e se tornando até repetitivo, em especial quando a maior parte dele se foca num "fantasma" só.

Se há algo pelo qual dou algum crédito a ele é a ótima crítica social que ele fez sobre a cultura do cancelamento e o julgamento da internet. As grandes massas acríticas que se deixam influenciar por algo dito por alguém e não se interessam pela verdade ou mesmo por checar aquelas fontes, apenas engolem o que lhes é dito e aceita como fato, destruindo a vida de pessoas em um senso falso de "moral" que elas mesmas não vivenciam. O terreno perigoso dessa corte de juízes que pode elevar alguém em um dia e criar um monstro no mesmo dia foi abordado de uma maneira interessante.

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Todavia, para mim a graça do anime acabou aí. Ele apresenta essa verdade não só de uma forma lúdica, mas muito real. Vemos isso praticamente todos os dias e, de alguma forma, é uma boa conscientização, especialmente em países como a Ásia que são peritos em levar as pessoas às últimas consequências com esse tipo de artifício hipócrita.

No geral, a Kotoko e o Kuro não me convenceram como casal, não achei a comédia bem dosada ou mesmo engraçada em si, a alta inteligência da personagem soou um tanto exagerada quando ela era pintada como uma miss Sherlocke, toda a premissa, na verdade, me soou um pouco desinteressante.
Cotudo, indico se você procura algo rápido pra passar o tempo.




quarta-feira, 4 de maio de 2022

[Livro] Gata Branca

Título Original: White Cat

Autor: Holly Black

Gênero: Fantasia

Série: Mestres da Maldição

Páginas: 320

Ano: 2012

Sinopse: Cassel vem de uma família de Mestres da Maldição – pessoas que têm o poder de mudar emoções, memórias e destinos com o mais leve toque das mãos. Mas fazer isso é ilegal, o que significa que todos eles são criminosos. Exceto Cassel. Ele não tem o toque mágico, está de fora: é o único filho normal em uma família paranormal. Apesar de ser o único sem poderes entre os irmãos, Cassel está longe de ser um santo. Aos 14 anos, ele matou uma jovem, Lila, sua melhor amiga e por quem era apaixonado, carregando desde então a culpa do crime e a vergonha da lembrança mais forte que tem daquele fatídico dia: a euforia de escapar impune. Tentando fugir de seu terrível passado, Cassel faz de tudo para ser como os outros garotos. Uma noite, porém, tudo vai por água abaixo: depois de sonhar repetidas vezes com uma estranha gata branca. As imagens do animal provocam uma crise de sonambulismo que levam o garoto a andar pelos telhados da Escola Preparatória Wallingford, o exclusivo colégio onde ele estuda e, nas horas vagas, trabalha como bookmaker, agenciando apostas dos outros alunos. Assustada, a direção da escola suspende o rapaz por alguns dias, e ele é forçado a voltar à antiga casa dos Sharpe. Em um ambiente cheio de recordações da infância, Cassel começa a questionar seu passado quando a gata branca de seus sonhos aparece na propriedade. Será que suas lembranças são reais? Será que o assassinato de Lila realmente aconteceu da forma que lhe contaram? Desconfiado de que não passa de uma pequena peça de um grande golpe, Cassel começa então a fazer uma busca em seu passado e em suas memórias, que parecem lhe fugir. Para desvendar os mistérios de sua vida, ele vai precisar armar um verdadeiro golpe de mestre.

A sinopse praticamente já conta o livro hahaha, a história é narrada por Cassel Sharpe, um adolescente que estuda em um internato e é parte de uma família de mestres, pessoas que tem alguma habilidade mágica. A sociedade, que tem conhecimento da magia, vive um dilema entre legalizar e criminalizar os mestres, todo mundo precisa usar luvas para evitar feitiços que são feitos através do toque. Contudo, apesar de vir de uma família de mestres, Cassel não é um. Pelo menos, ele não achava que era.

Na infância, ele passou por um grande trauma quando assassinou a sangue frio a garota de quem gostava, filha de um poderoso mestre mafioso, a pior parte de tudo é que Cassel não se lembra como isso aconteceu ou mesmo por que atacou a garota. Assim, enquanto tenta seguir em frente com a sua vida e deixar o passado para trás, ele acaba indo parar no telhado da escola vítima de um estranho aaque de sonambulismo, algo que não tinha acontecido antes. O mais interessante é que a garota que ele matou era uma mestre dos sonhos, o garoto começa então a acreditar que talvez ela não esteja tão morta assim.

Enquanto tenta descobrir a verdade do que aconteceu anos atrás e reconquistar sua vaga na escola, de onde saiu por "licença médica", Cassel vai se envolver mais a fundo nos complexos e sombrios segredos da sua família e descobrir que toda a sua vida até ali pode ter sido desenhada pelas mãos de um habilidoso mestre da memória que escondeu quem ele realmente é e tudo que foi tirado dele. Ao lado de uma gata branca e usando todos os dons de golpes que aprendeu com a mãe, ele vai correr contra o tempo se quiser salvar a própria pele e desfazer seu passado de mentiras.

Não é meu primeiro contato com Holly Black, metas atrás li A Menina mais Fria de Coldtown que tinha uma dinâmica um pouco parecida com esse, mas também não me pegou muito. Gosto da forma como ela agrega a magia à vida comum e traz problemáticas como preconceito e discriminação a partir disso, apesar de suas personagens fugirem completamente dos estereótipos que costumamos ver em livros YA, sendo geralmente problemáticos e tendo defeitos acentuados, não consigo me conectar com os livros dela, é realmente algo que não funciona comigo e, desse modo, findo por não gostar tanto.

Peguei a indicação desse livro no canal da Beatriz Palludeto, é um livro que eu recomendaria para minha irmã ou para uma amiga com pouco hábito de leitura, tem bons ganchos, um mistério bem montado, mas não consegui torcer pelas personagens ou me conectar com elas. Os elementos mais sombrios da trama aliados à fantasia formam até um bom cenário, mas não é uma série que eu continuaria lendo (como não vou continuar haha). Ainda assim, indico para quem procura uma coisa mais... como direi? Fácil de ler.