segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023

[Livro] O Oitavo Andar

Autor: Ana P. Stokes

Ano: 2020

Páginas: 219

Sinopse: Beatriz Freire é uma jovem universitária que está prestes a curtir as férias de verão na bela cidade de Gramado, no interior do Rio Grande do Sul. Quando está perto de chegar na rodoviária e encontrar sua prima Bete, que vive há seis meses na cidade, Bia é surpreendida por uma cena inesperada. Da janela de seu ônibus, ela enxerga uma Kombi escolar velha e, entre os entulhos dos bancos traseiros, percebe que há o corpo de uma menina. Atônita, Bia decide fazer a denúncia no mesmo dia, mas enquanto tira fotos do veículo, acaba flagrada pelo motorista.

O que era para ser uma viagem divertida de um mês na companha da prima e melhor amiga, se transforma em um pesadelo. Bia se vê em uma perseguição de gato e rato e conta com a ajuda de Fred, o belo namorado de sua prima e nativo da cidade, para virar o jogo. O que eles não esperavam, no entanto, é que o assassinato da menina fosse apenas uma peça em uma rede de segredos nebulosos, mentiras e criminosos que farão de tudo para abafar o caso. "O Oitavo Andar" é um suspense eletrizante, repleto de ações, paixões e tensões do primeiro ao último capítulo. Um romance de leitura rápida e cheio de surpresas.


Já faz uns três dias que eu estou pesando em algo para dizer desse livro além de "bem escrito". Esse vai ser o tipo de resenha que eu jamais gostaria de ler sobre uma história minha, mas realmente não consegui encontrar nada que me fizesse recomendar essa leitura além do fato de ser bem escrita e, por si só, isso não sustenta uma história. Desde que comecei a estudar sobre storytelling — e já deixo aqui registrado que a autora desse livro é professora nessa área — aprendi que, mesmo que você escreva uma história para incomodar, dê ao leitor pelo menos um personagem para quem ele possa torcer. Não importa quão ruim ou difícil sua história seja, se o leitor gostar de um personagem que seja, já valeu a pena.

Criar personagens é difícil. Acho que é mais fácil você escrever seis livros em um ano do que criar um personagem com total consistência. De toda a área de criação literária, essa é a que dá mais trabalho e a primordial, porque se você não tem um protagonista e um antagonista igualmente fortes, seu enredo não vai pra frente e o leitor não vai comprar a tua ideia. Essa também é uma das lições dada e martelada pela autora em suas aulas, mas ela parece ter esquecido disso quando escreveu esse livro. Pelo menos no que me toca.

Apesar de thriller não ser minha escolha primária quando vou procurar um livro, eu gosto do gênero. Gosto muito. Toda essa parte de ficção policial me chama a atenção e, se bem feita, me rende boas horas de entretenimento. Não foi o caso aqui. E o que me deixa mais triste é o fato de dizer isso de uma autora nacional, porque sendo do mesmo ramo, eu ficaria muito triste de ouvir isso sobre um livro meu. Contudo, tendo em vista outros autores muito bem sucedidos no gênero e já resenhados aqui, cito Raphael Montes que, embora a prosa não me agrade tanto, é extremamente eficaz em construir narrativas sólidas e personagens marcantes, também há a talentosíssima Andressa Tabaczinski que foi uma das minhas últimas resenhas do gênero ano passado se bem me lembro, que em seu livro de estreia, Crisálida, soube trazer uma história cheia de tensão, com personagens que saltavam das páginas e um mistério tão bem montado que tornou quase impossível largar o livro.

É por causa dessas resenhas que me senti um pouco "livre" para expressar meu pensamento a respeito de O Oitavo Andar, ainda que, repito, me doa muito dizer isso de um autor conterrâneo. Mas vou dividir com vocês, da maneira mais sincera, o que achei desse livro e por que não gostei.

Como a própria sinopse já entrega, a história acompanha Beatriz, uma estudante de turismo que, nas férias, vai para Gramado se hospedar na casa da sua prima Bete com quem pretende ficar por um mês e explorar todos os pontos turísticos da cidade. A prima tem um namorado rico chamado Fred que está louca para apresentar a ela. Quando chega na cidade em direção à rodoviária, o ônibus começa a ir mais devagar por causa do trânsito e é quando Beatriz vê um corpo dentro de um velho ônibus escolar, na tentativa de tirar uma foto, ela acaba se atrapalhando pelo nervosismo e tira uma foto do motorista do ônibus e consegue anotar a placa. Só que o motorista acaba vendo ela.

Após isso, ela começa a receber ameaças para deletar a foto e perde a coragem de denunciar o crime à polícia, porque Disk Denúncia simplesmente não existe nesse livro. Então ela decide, junto da prima e do namorado dela, investigar sozinha o caso e juntar material suficiente para fazer a denúncia e garantir que o motorista vá preso. Nisso, acaba descobrindo que o esquema criminoso é bem mais complexo do que parece e que a morte da menina é a pontinha do iceberg, há uma ligação com o oitavo andar de um renomado hospital na cidade e o próprio diretor pode estar envolvido no esquema. Conforme se aproxima mais de descobrir a verdade com o tempo atuando contra seu favor, ela acaba se envolvendo com o namorado da prima.

A grosso modo, a história é isso. E, acredite, parece muito mais empolgante do que é de verdade. Pelo menos foi o que eu senti enquanto lia. Para começar, achei a trama muito rasa, muitas coisas atrapalhavam demais a verossimilhança, como essa parte do disk denúncia e algumas atitudes dos personagens que facilmente faziam eu imaginar três adolescentes e não três adultos.  Não suficiente, a narrativa é arrastada, com várias descrições desnecessárias e um monte de informações que não me acrescentou em nada no enredo e nem serviu para gerar simpatia pela protagonista que, me desculpe, é muito chata e insossa. 

E, para mim, esse foi um dos maiores problemas em ler essa história, eu não conseguia me importar com nenhum personagem. Juro. Beatriz é insossa, chata, às vezes age de modo infantil e não encontrei uma única qualidade que me levasse a torcer por ela. Fred é o típico boy lixo que se acha a última bolacha do pacote e se confia demais na própria aparência. Bete é vazia, para dizer o mínimo, vive de aparências, daquele tipo de mulher detestável que não existe sem um macho pendurado no braço e o esforço da autora em fazer ela parecer "descolada"só reforçou ainda mais a futilidade da personagem. Mesmo os antagonistas soavam bem fracos, não tinham nada que justificasse suas atitudes além da ganância e nada que gerasse o mínimo de conexão além da repulsa.

Junto a tudo isso, ainda teve o final bem meia boca que acho, na visão da autora e de alguns leitores, deve ter sido surpreendente, mas pra mim foi só ruim mesmo e achei, inclusive, bem desnecessário, não uma evolução real ou válida para a personagem que, a meu ver, não evoluiu foi nada nessa história, começou chata e terminou mais chata ainda. Para quem está acostumado a ler suspense com uma montagem mais refinada, como os autores supracitados, ou mesmo os clássicos como Agatha Christie, tem boas chances de achar O Oitavo Andar quase infantil e bem fraquinho.

E é isso, essas foram as minhas impressões da história. 

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