Ano: 1977
Gênero: Novela, crônica, conto
páginas: 86
Sinopse: Em A hora da estrela Clarice escreve sabendo que a morte está próxima e põe um pouco de si nas personagens Rodrigo e Macabéa. Ele, um escritor à espera da morte; ela, uma solitária que gosta de ouvir a Rádio Relógio e que passou a infância no Nordeste, como Clarice.
A despedida de Clarice é uma obra instigante e inovadora. Como diz o personagem Rodrigo, "estou escrevendo na hora mesma em que sou lido". É Clarice contando uma história e, ao mesmo tempo, revelando ao leitor seu processo de criação e sua angústia diante da vida e da morte.
Macabéa, a nordestina, cumpre seu destino sem reclamar. Feia, magra, sem entender muito bem o que se passa à sua volta, é maltratada pelo namorado Olímpico e pela colega Glória. Os dois são o seu oposto: o metalúrgico Olímpico sonha alto e quer ser deputado, e Glória, carioca da gema e gorda, tem família e hora certa para comer. Os dois acabam juntos, enquanto Macabéa, sozinha, continua a viver sem saber por que está vivendo, sem pensar no futuro nem sonhar com uma vida melhor. Até que um dia, seguindo uma recomendação de Glória, procura a cartomante Carlota, uma ex-prostituta do Mangue, que revela a Macabéa toda a inutilidade de sua vida. Mas também enche-a de esperança, prevendo a paixão por um estrangeiro rico, com quem ela iria se casar.
Engana-se quem pensa que esse é um daqueles livrinhos curtos que você lê numa sentada só. As 86 páginas desse livro carregam uma história densa e cheia de significâncias que, numa primeira leitura, pode parecer um pouco desconexa e sem sentido, mas quando revisitada acabamos por encontrar novos elementos e simbolismos num enredo que enquanto flerta com a simplicidade não é, de nenhuma forma, simplório.
Aqui, acompanhamos a Clarice escritora na pele de Rodrigo e a Clarice personagem na pele de Macabéa. Essa dualidade em um primeiro encontro pode acabar causando uma estranheza na gente em especial por não ser um estilo de narração que a gente está acostumado a ver. Minha experiência de leitura foi um pouco prejudicada porque quando peguei esse livro pela primeira vez além de ser meu primeiro contato com Clarice, eu estava muito grogue por causa dos remédios e das noites mal dormidas que foi logo quando iniciei o tratamento para a alergia.
De um lado nós temos a Clarice escritora que se propõe a contar a história de uma mulher alagoana, mas que antes vai enveredar por um fluxo de consciência acerca da vida e da natureza humana, do existir como um todo e, com isso, ela nos apresenta a si mesma, ao seu esgotamento emocional e psicológico tanto consigo mesma quanto com a sua vida de modo que fica claro que ela está esperando a morte, o mais agourento de tudo é que este, de fato, foi o último livro da autora. Na pele de Rodrigo, Clarice desabafa seu cansaço da literatura, das pessoas que lhe cercam e da sua existência que se tornara um fardo, ela perdeu o fio do sentido de escrever, de acordar, de continuar. Ela clama por descanso.
Por outro lado, temos Macabéa, explicitada pelo autor como uma mulher ingênua (tão ingênua que ainda não decidi se ela é realmente inocente ou se ela é burra mesmo) que perdeu os pais cedo e foi criada por uma tia que não tinha tanto afeto por ela quanto um parente em geral tem pelos seus. Assim, Macabéa cresceu até a morte da sua tia quando o gosto da liberdade tocou-a pela primeira vez, contudo, alienada como era do mundo (e uso alienada por não lembrar outra palavra melhor) a tia era sua conexão com a realidade, desse modo, ela precisaria de outra conexão e encontrou-a com um homem chamado Olímpico (sim, isso mesmo) criatura que trabalhava numa metalúrgica.
Desprovida de talentos e com uma baixa instrução, era mais que claro que Olímpico - um tipo ganancioso - não duraria muito tempo com Macabéa que, incapaz de se ver em uma relação abusiva e injusta, recebe o fim do relacionamento como sua culpa e ainda por cima nem se dá ao direito de se enfurecer ao descobrir que o pilantra está namorando sua melhor e única amiga, Glória. Assim, as poucas conexões da alagoana com o mundo vão se desfazendo enquanto o autor, Rodrigo, vai igualmente se desfazendo em desespero, exaustão e melancolia.
Contudo, o final da jornada literária de Clarice/Rodrigo e da jornada de autoconhecimento indireta de Macabéa não é feliz, mas cheio de uma esperança brilhante. enquanto caminha para seu desfecho, Macabéa recebe um último fio de esperança que a conduz em plena felicidade para o que ela espera ser seu momento, "a hora da estrela" seu momento de brilhar. Porém, vale dizer que o preço do conhecimento filosófico que Clarice buscou ao desperdir-se da literatura e Macabéa ao perseguir suas ilusões, é o trágico amargor da verdade que só pode ser alcançada, segundo o ideal filosófico, através da passagem. É desse modo que nós finalizamos A Hora da Estrela, cheios de indagações que não encontram respostas prontas, com uma sensação de vazio e, ao mesmo tempo, uma estranha satisfação.
A resposta de Macabéa talvez não fosse a esperada - enganada até o fim -, mas é justamente essa a ideia, a meu ver, da mensagem de Clarice, enquanto Rodrigo se mostra cansado e angustiado por uma morte que nunca chega, Macabéa representa a parte de seu espírito que anseia pela vida, mas que não é forte o bastante para o mundo, esse mundo que engole sem piedade e sem justiça. Macabéa era o fio de esperança que conectava Rodrigo à vida, sua literatura, sua fantasia, a partir do momento que ele consegue se despedir dela, do fulgor quase erótico e insano que ela representava para ele, a morte enfim consegue encontrá-lo pronto para a nova jornada livre do peso, da culpa, da preocupação e do medo.
Obviamente isso é uma conjectura minha. Como disse, as circunstâncias da minha leitura não foram as melhores para mergulhar de verdade na densidade desse livro. Ainda assim, para um primeiro encontro com Clarisse senti como um soco no estômago, não sei se foi mesmo o livro certo para começar, mas é inegável que é uma história de nuances, de camadas que se desvendam a cada nova leitura e talvez eu exaura minhas vistas antes de conseguir retirar todos os véus de uma obra tão profunda.
Engana-se quem pensa que esse é um daqueles livrinhos curtos que você lê numa sentada só. As 86 páginas desse livro carregam uma história densa e cheia de significâncias que, numa primeira leitura, pode parecer um pouco desconexa e sem sentido, mas quando revisitada acabamos por encontrar novos elementos e simbolismos num enredo que enquanto flerta com a simplicidade não é, de nenhuma forma, simplório.
Aqui, acompanhamos a Clarice escritora na pele de Rodrigo e a Clarice personagem na pele de Macabéa. Essa dualidade em um primeiro encontro pode acabar causando uma estranheza na gente em especial por não ser um estilo de narração que a gente está acostumado a ver. Minha experiência de leitura foi um pouco prejudicada porque quando peguei esse livro pela primeira vez além de ser meu primeiro contato com Clarice, eu estava muito grogue por causa dos remédios e das noites mal dormidas que foi logo quando iniciei o tratamento para a alergia.
De um lado nós temos a Clarice escritora que se propõe a contar a história de uma mulher alagoana, mas que antes vai enveredar por um fluxo de consciência acerca da vida e da natureza humana, do existir como um todo e, com isso, ela nos apresenta a si mesma, ao seu esgotamento emocional e psicológico tanto consigo mesma quanto com a sua vida de modo que fica claro que ela está esperando a morte, o mais agourento de tudo é que este, de fato, foi o último livro da autora. Na pele de Rodrigo, Clarice desabafa seu cansaço da literatura, das pessoas que lhe cercam e da sua existência que se tornara um fardo, ela perdeu o fio do sentido de escrever, de acordar, de continuar. Ela clama por descanso.
Por outro lado, temos Macabéa, explicitada pelo autor como uma mulher ingênua (tão ingênua que ainda não decidi se ela é realmente inocente ou se ela é burra mesmo) que perdeu os pais cedo e foi criada por uma tia que não tinha tanto afeto por ela quanto um parente em geral tem pelos seus. Assim, Macabéa cresceu até a morte da sua tia quando o gosto da liberdade tocou-a pela primeira vez, contudo, alienada como era do mundo (e uso alienada por não lembrar outra palavra melhor) a tia era sua conexão com a realidade, desse modo, ela precisaria de outra conexão e encontrou-a com um homem chamado Olímpico (sim, isso mesmo) criatura que trabalhava numa metalúrgica.
Desprovida de talentos e com uma baixa instrução, era mais que claro que Olímpico - um tipo ganancioso - não duraria muito tempo com Macabéa que, incapaz de se ver em uma relação abusiva e injusta, recebe o fim do relacionamento como sua culpa e ainda por cima nem se dá ao direito de se enfurecer ao descobrir que o pilantra está namorando sua melhor e única amiga, Glória. Assim, as poucas conexões da alagoana com o mundo vão se desfazendo enquanto o autor, Rodrigo, vai igualmente se desfazendo em desespero, exaustão e melancolia.
Contudo, o final da jornada literária de Clarice/Rodrigo e da jornada de autoconhecimento indireta de Macabéa não é feliz, mas cheio de uma esperança brilhante. enquanto caminha para seu desfecho, Macabéa recebe um último fio de esperança que a conduz em plena felicidade para o que ela espera ser seu momento, "a hora da estrela" seu momento de brilhar. Porém, vale dizer que o preço do conhecimento filosófico que Clarice buscou ao desperdir-se da literatura e Macabéa ao perseguir suas ilusões, é o trágico amargor da verdade que só pode ser alcançada, segundo o ideal filosófico, através da passagem. É desse modo que nós finalizamos A Hora da Estrela, cheios de indagações que não encontram respostas prontas, com uma sensação de vazio e, ao mesmo tempo, uma estranha satisfação.
A resposta de Macabéa talvez não fosse a esperada - enganada até o fim -, mas é justamente essa a ideia, a meu ver, da mensagem de Clarice, enquanto Rodrigo se mostra cansado e angustiado por uma morte que nunca chega, Macabéa representa a parte de seu espírito que anseia pela vida, mas que não é forte o bastante para o mundo, esse mundo que engole sem piedade e sem justiça. Macabéa era o fio de esperança que conectava Rodrigo à vida, sua literatura, sua fantasia, a partir do momento que ele consegue se despedir dela, do fulgor quase erótico e insano que ela representava para ele, a morte enfim consegue encontrá-lo pronto para a nova jornada livre do peso, da culpa, da preocupação e do medo.
Obviamente isso é uma conjectura minha. Como disse, as circunstâncias da minha leitura não foram as melhores para mergulhar de verdade na densidade desse livro. Ainda assim, para um primeiro encontro com Clarisse senti como um soco no estômago, não sei se foi mesmo o livro certo para começar, mas é inegável que é uma história de nuances, de camadas que se desvendam a cada nova leitura e talvez eu exaura minhas vistas antes de conseguir retirar todos os véus de uma obra tão profunda.
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