Oi gente o/ a música da semana sai amanhã e hoje eu estou aqui para trazer para vocês uma história que eu comecei a escrever ha algumas semanas. Trata-se de Literatura, uma pequena história prevista em 10 capítulos que Laura, uma jovem que acaba de entrar na faculdade e tem de começar a enfrentar seus próprios medos para conseguir chegar aonde deseja.
Eu confesso, ela é um pouco clichê, mas eu comecei a escrever assim mesmo porque... Bem, porque eu quis mesmo. Eu comecei a postá-la no tumblr e também no Nyah, e agora quero colocá-la aqui no meu blog. Eu espero que vocês gostem. Será postada todas as quartas feiras ;) até que eu termine claro rsrsrs. Então, ai vai!
Atenção: Essa história assim como as pessoas contidas nela são fictícias. Qualquer acontecimento ou nome presentes nela com semelhança a ocorrências reais é mera coincidência.
Capítulo 1 - Primeiro Dia de Aula
Parece meio ridículo como você se decepciona com as coisas que não saem como mandam seus santos planos. Foi o que aconteceu comigo. Eu sempre fui uma pessoa completamente convicta do que queria para minha vida e principalmente do que não queria, agora estava a apenas um passo de estragar mais quatro anos da minha vida pelo simples defeito de não conseguir me impor e não ter peito para encarar sozinha a responsabilidade de uma vida sozinha, apesar de ser sozinha ser quase uma imposição social para mim.
Eu escolhi letras pelo simples fato de amar as palavras. E estava animada com o primeiro dia de aula, mesmo que esse sentimento estivesse tão fundo no meu ser, sendo ofuscado pelo nervosismo e a apreensão, que era quase impossível manter um único pensamento na cabeça. Eu estava com uma das minhas roupas favoritas, um all star vermelho, jeans claros e uma camiseta azul folgada, os cabelos castanhos e cacheados eu havia prendido em um coque e usava no pescoço minha pequena medalha de sempre, presente da minha mãe. O caderno sobre o colo tremia com o balançar das minhas pernas impacientes, olhei o relógio pela décima quinta vez naquele minuto imaginando se o ônibus ainda demoraria muito, mesmo que eu estivesse adiantada uma hora e meia.
Tentei me concentrar na música que tocava em meus fones de ouvido, o fato de eu estar sozinha não ajudava muito, se ao menos a minha irmã pudesse estar comigo ali, talvez eu me sentisse um pouco mais calma. Mas é lógico que ela não podia. Amberly era a única pessoa no mundo com quem eu me sentia à vontade para qualquer coisa, ela não era apenas a minha irmã, era minha melhor amiga. Era meio ridículo que com vinte e dois anos eu ainda quisesse uma babá, mas isso não era novidade, pelo menos não para Amberly que sabia que eu me sentia incapaz de comprar água mineral sozinha, embora vivesse repetindo inúmeras vezes que eu:
– Precisa ser capaz de fazer as coisas por si mesma, Laura! Quando vai começar a enxergar seu próprio potencial? Pare de ter medo da vida!
O ônibus chegou e eu caminhei apressada para entrar, sentei à janela e tentei desligar os pensamentos que fervilhavam em minha mente, talvez fosse a transição escola-faculdade, depois de férias de um ano só escrevendo. Mas tinha de admitir que eu estava com medo não apenas por estar à noite sozinha fora de casa, mas pelo que eu iria enfrentar nesse novo desafio que era a universidade. Mesmo morando em uma cidade pequena e quase monotonamente pacífica, eu não podia descartar a ideia de ser assaltada e muito menos a apreensão de odiar completamente o curso que escolhi com tantas esperanças. Puxei o sinal para que o ônibus parasse e desci, o ponto próximo à faculdade não era assim tão próximo, eu ainda teria dez minutos de caminhada até lá, mas a essa altura pensei que isso me faria bem.
O prédio era enorme, dividido em blocos, oito ao todo. No bloco principal, ficavam a tesouraria, a administração e coordenação, a sala de informática e a central de tecnologia situada no térreo, junto a um corredor cheio de salas nos fundos depois dos banheiros. No primeiro andar ficavam o setor de notas e as salas de algum curso. Olhando o pequeno mapa do prédio que ganhei ao fazer a matrícula, vi que minha sala ficava no bloco H, o último e mais afastado dos prédios. Quando cheguei até lá vi que parecia mais um monte de casinhas cheias de quartos, construídas em volta de um enorme salão aberto, provavelmente para eventos. Como presumi, eu não era a primeira a chegar. Encostada no vão da porta estava uma mulher, por volta dos trinta e cinco anos, olhando em volta em busca de alguma criatura viva que entrasse na sala com ela para mostrar que ela não seria a única aluna.
Olhei bem em seu rosto tentando me lembrar dela na prova do vestibular. Completamente em vão. Normalmente eu não conversava com ninguém, quanto mais longe pudesse manter as pessoas melhor, mas eu precisava saber se aquela seria a minha sala e não havia outro meio de saber se não perguntasse, porque nenhuma sala tinha identificação.
– Hum, desculpe, mas estou procurando a sala de Literatura I... – Falei um pouco sem jeito.
– É aqui. – Ela respondeu cordial, com uma voz calma e melodiosa me abrindo um sorriso.
– Ah, obrigada. – Disse rapidamente entrando e tomando um lugar perto da porta, encostada à parede bem abaixo do quadro de avisos.
Minha sala era espaçosa, havia ali pelo menos trinta e quatro cadeiras e eu esperava sinceramente não ter trinta e quatro pessoas sentadas ali, a mínima ideia me apavorava. A mulher tomou seu lugar ao meu lado e só então percebi que a bolsa dela estava sobre a banca ao lado da minha. Ela sorriu novamente, simpática e eu retribuí um pouco sem graça. Havia meio milhão de coisas no qual eu era péssima, fazer amigos encabeçava a lista.
– Pensei que só viria eu... – Ela falou tentando puxar assunto.
– Ainda é muito cedo... – Repliquei, sem olhar para ela.
– Você mora aqui mesmo?
– Sim... E você?
– Também. – Respondeu calmamente enquanto tentava se concentrar no celular, eu notava seus olhares vez ou outra na minha direção, com certa curiosidade. – Escolheu letras por que gosta?
– Hum... É... Eu acho. – Falei, finalmente olhando para ela. A mulher tinha traços orientais, os cabelos eram pretos e lisos cortados acima dos ombros, lábios finos e pele muito branca. As mãos eram muito bonitas assim como os olhos, tinha a barriga um pouco saliente, não que eu pudesse falar muito, eu era a última pessoa que parecia manequim da Vogue. – E você?
– Mais para ajudar os meus filhos. – Ela respondeu na sua calma terna e eu percebi que aquilo fazia parte do jeito dela.
– Você tem filhos? – Que raio de pergunta idiota era essa?! Ela acabou de dizer que sim!
– Tenho dois. Gêmeos. Eles têm onze anos.
Antes que eu pudesse falar alguma coisa duas garotas entraram na sala e nos cumprimentaram com um “boa noite” que eu quase não respondi. Não me entendam mal, eu não sou mal educada, simplesmente tenho séria dificuldade em me relacionar com pessoas que não conheça. Elas tomaram seus lugares e começaram a conversar, e logo a sala foi enchendo, para meu desespero. Só então percebi que éramos trinta e três ao todo, e só havia quatro homens. Comecei a rabiscar qualquer coisa no caderno quando uma voz grave e aveludada tomou meus ouvidos fazendo os pelos do meu braço eriçar de tão bela, minhas aulas de canto me diziam que ele era pelo menos um barítono.
– Boa noite, pessoal.
Ergui a cabeça e fitei o que parecia ser meu professor de literatura I. Ele não poderia ter mais de vinte e cinco anos, no máximo vinte e oito. Era de estatura mediana, creio que se não fosse da minha altura (tenho 1,69 metro) deveria ter por volta de 1,70 metros no máximo. O rosto era angular, meio quadrado, e tinha uma barba rala cobrindo a parte de baixo do queixo. Usava óculos e os cabelos eram negros e curtos, o corpo era forte, mas sem exageros, vestia uma camiseta preta que acentuava os braços torneados, jeans escuros e tênis. Eu quase não conseguia desviar o olhar dele, fiquei completamente pasma com a ideia de ter como professor um cara quase da minha idade.
– Meu nome é Rafael e eu vou ficar com vocês em latim I e literatura I. Segundo meu horário, nos veremos nas segundas, quartas e sextas.
Eu sou muito impressionável, admito. Mas nem de longe imaginava que algo como aquilo ia acontecer comigo. Quando me inscrevi no vestibular, visava aquele sonho americano com universidades enormes, cheias de grupos diferentes com atividades diferentes, pensava até em montar uma banda. Mas nunca fui o tipo que imaginava que toparia com um professor daquele logo no primeiro dia de aula e pelo que pude perceber quando consegui finalmente deixar de encará-lo, é que eu não era a única. Agitei a cabeça em sinal de negação para me livrar daqueles pensamentos, eu não podia ser tão patética daquela forma. Voltei a rabiscar no caderno deixando as palavras saírem soltas e livremente na folha ignorando também o olhar engraçado da mulher ao meu lado cujo nome eu sequer havia perguntado.
– Bom, antes de começar eu queria saber o nome de vocês. – Rafael continuou a falar com sua voz perfeita de barítono ou tenor. – Há duas maneiras de fazermos isso, vocês podem se apresentar ou eu posso ler a lista que recebi. Escolham.
– A gente se apresenta, professor. – Falou uma garota com voz enjoativa do outro lado da sala.
– Ótimo, pode começar então. Seu nome?
– Sabrina.
– És daqui mesmo, Sabrina? – O jeito que ele falou “És” me deixou curiosa. Eu só conhecia duas pessoas que usavam um português rígido: Meu antigo professor de português e o padre da cidade.
– Não, moro fora. Em Rosas.
As apresentações continuaram por fila, segundo aquela ordem eu seria a última. Era uma das partes que eu mais odiava em primeiras semanas de aula. As perguntas consistiam em nome, cidade e no famoso “porque escolheu esse curso?”, mas eu não achei tão ruim, poderia ser pior como o “fale um pouco de você”. Cada vez que a fila avançava eu ficava mais e mais tensa quando chegou na mulher ao meu lado eu já sentia meus dedos congelarem e meu corpo inteiro retesar.
– Meu nome é Ariana. – Ela falou com a voz calma e melodiosa. – Eu sou daqui mesmo de Santa Rita. Escolhi esse curso para ajudar meus filhos a estudar, já que eu sou formada em contabilidade, vim aprender melhor português.
– Olha, que legal. És formada em contabilidade? – Ele perguntou levemente impressionado. – Mas trabalhas com isso?
– Não. Me formei há muito tempo. – Ela sorriu.
– E você? – Ele falou se dirigindo à mim e eu percebi que todo mundo estava me olhando. Com tanta gente atrás de mim, porque eu tinha de ser justo a primeira da fila a falar?!
– Hum... Me chamo Laura. Sou daqui mesmo... E escolhi letras por que... Bom... – Maldita mania de hesitar! – Gosto de palavras. – Ok, que tipo de resposta é essa?
– Interessante. E esse seu gosto por palavras já se tornou algo mais sério? – Ele me lançou um sorriso que mostrava dentes perfeitos e branquinhos.
– Ahn... Se eu já escrevi algum livro? Sim.
– Geralmente nos cursos de letras sempre tem um escritor, mas aqui fazia tempo que não aparecia nenhum! Você é a primeira depois de uns sete anos. Acho que vamos nos divertir.
Havia algo naquela frase que me deixou absolutamente apavorada.
Depois que todos se apresentaram, Rafael falou um pouco sobre a disciplina e eu fui me acostumando mais com a presença dele, o choque inicial da sua aparência foi se acalmando até desaparecer. Ele era engraçado, mas ao mesmo tempo sério e sabia manter sua posição de professor, sabia como se aproximar de nós e deixar a aula interessante. Não se aprofundou em nada alegando que o primeiro encontro era mais informal, tentou puxar de nós o que já sabíamos de literatura e o que gostávamos de ler, se surpreendendo ao perceber que, com exceção de mim, ninguém na minha sala tinha o hábito de ler.
As últimas aulas foram de linguística com um professor tão engraçado e dinâmico que me senti quase em casa. Aparentemente, letras seria o que eu esperava dela, e eu não podia imaginar o quão enganada eu estava.