Título Original: Navigating Early
País: EUA
Autora: Clare Vanderpool
Gêneros: Ficção, Ficção de aventura
Páginas: 288
Sinopse: Em Algum Lugar nas Estrelas é um romance intenso sobre a difícil arte de crescer em um mundo que nem sempre parece satisfeito com a nossa presença. Pelo menos é desse jeito que as coisas têm acontecido para Jack Baker. A Segunda Guerra Mundial estava no fim, mas ele não tinha motivos para comemorar. Sua mãe morreu e seu pai... bem, seu pai nunca demonstrou se preocupar muito com o filho. Jack é então levado para um internato no Maine (o mesmo estado onde vivem Stephen King e boa parte de seus personagens). O colégio militar, o oceano que ele nunca tinha visto, a indiferença dos outros alunos: tudo aquilo faz Jack se sentir pequeno. Até ele conhecer o enigmático Early Auden. Early, um nome que poderia ser traduzido como precoce, é uma descrição muito adequada para um prodígio como ele, que decifra casas decimais do número Pi como se lesse uma odisseia. Mas, por trás de sua genialidade, há uma enorme dificuldade de se relacionar com o mundo e de lidar com seus sentimentos e com as pessoas ao seu redor. Quando chegam as festas de fim de ano, a escola fica vazia. Todos os alunos voltam para casa, para celebrar com suas famílias. Todos, menos Jack e Early. Os dois aproveitam a solidão involuntária e partem em uma jornada ao encontro do lendário Urso Apalache. Nessa grande aventura, vão encontrar piratas, seres fantásticos e até, quem sabe, uma maneira de trazer os mortos de volta – ainda que talvez do que Jack mais precise seja aprender a deixá-los em paz.
Peguei esse liro emprestado de uma amiga, fiquei curiosa a respeito dele e quando a Beatriz Paludetto o indicou fiquei ainda mais curiosa para ler, não me arrependi nem um pouco, a história é tão cativante e fofa que você se vê preso a ela até mesmo quando não está lendo. A história acompanha Jack Baker, um garoto que perdeu a mãe para um aneurisma e se viu sozinho com um pai militar que lhe era praticamente um desconhecido. Ele é levado para um colégio interno e sente como se o mundo estivesse conspirando para seu desaparecimento uma vez que insiste em mostrar que ele é um peso inútil sobre a terra, e é exatamente aí que ele conhece Early Auden.
Aquele menino estranho chama a atenção de Jack de uma maneira quase irresistível, Early parece viver em um mundo só seu, um mundo que não admite convidados e, mesmo assim, Jack sente-se curioso a respeito do mundo em que o menino que não assiste quase nenhuma aula vive. Enquanto tenta se acostumar com a escola e se enturmar com as outras crianças - sem muito sucesso - Jack acaba sendo colocado no caminho do peculiar Early e descobre um pouco da sua cabeça extraordinária que não aceita, sob nenhuma hipótese, a finitude do número pi. Para Early, pi é o personagem de uma história fantástica que, na jornada para conquistar seu nome, acabou se perdendo bem no momento que os números parecem tender a sumir segundo um renomado matemático que atesta a teoria de que o número é, portanto, finito.
Mesmo achando que Early está inventando aquilo tudo, Jack não consegue deixar de se fascinar pela genialidade do garoto em ler uma história nos intermináveis algarismos de pi e, sobretudo, em saber tantas coisas sobre praticamente tudo. Os dois se aproximam, mas, cegado pela sua visão nublada do mundo, Jack acaba tratando Early com certo descaso e o magoa, ainda assim é salvo pelo garoto bem a tempo de perceber que agira como um tolo. A coisa é que, assim como Pi, Jack também estava perdido e é o que torna Em Algum Lugar nas Estrelas um livro fascinante, a história lida pelo garotinho autista nos números de pi se encaixam com perfeição como uma metáfora para ele mesmo e para Jack.
Quando seu pai "fura" com ele nas férias, Jack decide acompanhar Early em uma aventura na busca por Fisher, seu irmão e é quando o garoto percebe que a história de Pi é uma metáfora para o desaparecimento do irmão do garotinho que, foi-lhe dito, morrera como heroi de guerra. Mesmo sabendo o resultado frustrante, não havia como argumentar com Early, tampouco Jack queria passar as férias inteiras sozinho na escola. Assim, a bordo do maine, os dois partem numa aventura que, aos poucos, mostra-se muito similar à história de Pi e seus intermináveis números.
Em Algum Lugar nas Estrelas é um livro sobre perda, sobre encontrar coragem em si mesmo e sobre amadurecimento. Talvez o fato de duas crianças passando por toda essa odisseia de acontecimentos torne tudo um pouco mais sensível, ainda assim é impossível não se colocar no lugar deles, seus modos de pensar e de encarar as provações impostas pela vida. O fato de Early ser autista torna tudo ainda mais fascinante, é o primeiro livro que leio com um personagem que tem essa condição e gostei muito da maneira como ele foi retratado - tirando a parte de ser chamado de estranho, mas como a própria autora explicou, na época em que a história se passa o conhecimento sobre o autismo ainda não era acessível - a maneira como ela mesclou a história de Pi contada por Early ao enredo principal, transformando a jornada do número em uma metáfora que se encaixava na perda do menino e, ao mesmo tempo, servia como uma lição para Jack, foi simplesmente magistral.
É muito difícil entender como é a mente fantástica de um autista, o fato de Early ver uma história, cores e texturas em uma cadeia de números para mim foi ainda mais incrível (principalmente porque a única reação que tenho a muitos números juntos é desespero!), as particularidades do autismo ficaram implícitas nas atitudes do garoto de uma maneira muito clara e sem precisar de nenhuma nomenclatura para distingui-lo, amei ainda mais esse toque lógico digno de Sherlock Holmes que ela aplicou em Early, capaz de fazê-lo compreender a lógica de coisas que, para pessoas como nós, pareciam completamente inexplicáveis a primeira vista. O modo como as histórias se fecham também foi maravilhoso, me peguei dando risadas, sorrindo como boba e angustiada em diversos momentos. Com certeza recomendo fortemente a leitura!
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