Páginas: 130
Ano: 1986
Sinopse: Domingos de Oliveira, o personagem central da história, carrega nos ombros a cruz da humildade, em solidariedade permanente com os pobres. Para compor o personagem, Carrero recorreu à figura de um cidadão tradicional de Salgueiro, cidade-cenário do livro, encravada no alto sertão de Pernambuco sobretudo na visão do mundo e na maneira de se vestir. Daí a recorrência a um enredo que se desenvolve durante um período eleitoral, com a disputa pela prefeitura entre Anselmo Cruz e o cego Tomé.
"SE QUISER PÔR A PROVA O CARÁTER DE UM HOMEM, DÊ-LHE PODER." — Abraham Lincoln
O que esta frase tem a ver com o livro? Tudo. Ontem fiz uma oficina maravilhosa com o neto de Graciliano Ramos, o autor e roteirista Ricardo Ramos Filho, e, entre outras coisas das quais tratarei em outro post, conversamos sobre o papel do leitor na dialética com a obra. É o leitor que torna a obra real, pois é ele que conversa com a história e tira dela variadas leituras a cada nova visita. Assim, quando peguei O Senhor dos Sonhos na biblioteca com o intuito de ser apresentada à obra de Carrero, passando pelas orelhas do livro, percebi que a história era uma espécie de metáfora religiosa.
Apesar disso, seja pela minha pouca leitura da bíblia (lembro que li boa parte do antigo testamento e alguns livros do novo) seja pela minha leitura de mundo mesmo, não tirei do texto essas inferências religiosas muito além do nome de algumas personagens como Herodes, José de Arimatéia, Verônica, o próprio Domingo de Oliveira que, penso eu, é um nome analógico refletindo o domingo, primeiro dia da semana em que Cristo ressuscitou e Oliveira referindo-se a noite de angústia de Cristo antes de sua morte na cruz. As coisas que inferi desse texto foram relacionadas a uma realidade política e social muito presente, acredito, não só no sertão, mas em todo o Brasil.
A história gira em torno de Domingos de Oliveira, um senhor de idade que, apesar de ter muitas posses, vive numa casinha modesta com a esposa Verônica. É período de eleições em Salgueiro e o atual prefeito, Anselmo Cruz, está fazendo o impossível para ser reeleito, principalmente porque um dos oponentes é seu irmão. Contudo, outro candidato ao cargo é cego Tomé, amigo de Domingos e dono de uma farmácia.
Sempre preocupado com os pobres e indignado com a soberba e a ganância daqueles que tem muito e não compartilham, Domingos se compadece de senhoras em idade muito avançada que vivem em um casebre caindo aos pedaços que a prefeitura da cidade chama de "abrigo", decidido a fazer algo por ela, promete-lhes construir em um terreno que possui uma casa boa e segura para que possam viver com dignidade. É graças a esse gesto que ele atrairá a fúria do corrupto prefeito que fará o possível para impedir a obra de ser concretizada e isso inclui os métodos mais sujos e covardes.
Esse ano, sabemos, tem eleição no Brasil e por aqui onde moro é sempre igual nesses períodos, o povo emburrece mais que o normal, os políticos começam a espalhar mentiras e passar na cara coisas que é da obrigação do cargo fazer e não favor. As pessoas precisam começar a tomar consciência de que os políticos estão no poder para servir ao povo, eles não são "bons" ou fazem favor a gente, é a obrigação deles. A situação fica mais crítica porque não se cobra que eles trabalhem e, a política no Brasil, é um meio de conseguir dinheiro através da extorsão do povo, infelizmente.
Durante a leitura vi muito ali (com exceção da tortura e de alguns tipos de ameaça) muita coisa dos períodos eleitorais aqui na cidade e em cidades próximas também. O descaso com a população mais pobre, o desemprego, a corrupção, os cargos públicos usados como garantias nas eleições de candidato X ou Y, além de não ser realmente público. Foi um texto breve que me fez refletir sobre a natureza humana, sobre o modo como o poder cega as pessoas e isso é retratado na figura de cego Tomé que, antes de ser prefeito, pensava no próximo e, uma vez eleito, agiu contra seus próprios amigos. Uma cidade que metaforiza um país regido pelo dinheiro e a fome cega de poder que passa por cima de inocentes sem qualquer espécie de consideração.
Uma luta que nunca acaba é a mensagem que o final nos deixa. Minhas expectativas com Carrero foram mais que alcançadas e espero brevemente conhecer mais de sua obra. Uma leitura muito válida não apenas para quem é nordestino, mas para quem é brasileiro. Recomendo.
Durante a leitura vi muito ali (com exceção da tortura e de alguns tipos de ameaça) muita coisa dos períodos eleitorais aqui na cidade e em cidades próximas também. O descaso com a população mais pobre, o desemprego, a corrupção, os cargos públicos usados como garantias nas eleições de candidato X ou Y, além de não ser realmente público. Foi um texto breve que me fez refletir sobre a natureza humana, sobre o modo como o poder cega as pessoas e isso é retratado na figura de cego Tomé que, antes de ser prefeito, pensava no próximo e, uma vez eleito, agiu contra seus próprios amigos. Uma cidade que metaforiza um país regido pelo dinheiro e a fome cega de poder que passa por cima de inocentes sem qualquer espécie de consideração.
Uma luta que nunca acaba é a mensagem que o final nos deixa. Minhas expectativas com Carrero foram mais que alcançadas e espero brevemente conhecer mais de sua obra. Uma leitura muito válida não apenas para quem é nordestino, mas para quem é brasileiro. Recomendo.
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