Olá, pessoas! Como estão?
Tem um tempinho que não venho por aqui, não é? Desculpem, as tribulações andam grandes e, para completar, tem um concurso público perto então preciso estudar também. Bom, no dia 22 desse mês eu participei de uma oficina literária com o autor e roteirista Ricardo Ramos, neto de Graciliano Ramos um dos expoentes da nossa literatura brasileira. Quem organizou essa oficina foi meu admirável mestre Edmilson Sá, também foi ele que gentilmente me convidou a participar.
Para quem não conhece, falando rapidamente, é escritor, com livros editados no Brasil e no exterior, publicados em Portugal e nos Estados Unidos. Mestre em Letras no Programa de Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. Desenvolve pesquisa na área de literatura infantil e juvenil, onde vem trabalhando academicamente Graciliano Ramos, privilegiando o olhar sobre seus textos escritos para crianças e jovens. Ministra diversos cursos e oficinas literárias: como aprimorar o texto, literatura infantil, roteiro de cinema, poesia, conto, crônica, romance. É roteirista de cinema com roteiros premiados. Atua como coach literário, orientando clientes na elaboração de seus livros. É cronista do Escritablog , publicando no espaço Palavra de Cronista. Participa como jurado de concursos literários: Proac, Portugal Telecom, Prêmio São Paulo de Literatura. É vice-presidente da União Brasileira dos Escritores (UBE), São Paulo. Como sócio-proprietário da Ricardo Ramos Filho Eventos Literários cria e produz eventos culturais. Possui graduação em Matemática pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1986).
E gente, esse homem é um amor de pessoa! Super humilde, bem gente como a gente, sabe? Ele ministrou uma oficina maravilhosa em que nos colocou para trabalhar e auxiliou um por um em seus textos, saímos de lá com o primeiro capítulo do nosso livro prontinho! A primeira parte da oficina foi a parte teórica, o Ricardo explanou pra gente os passos da construção do romance (e muita gente acha que romance tem a ver com histórias de amor, não é, gente, é romance gênero mesmo, narrativa longa, tá?) e deu algumas dicas sobre o processo, pode soar meio repetido com algumas coisas que já postei por aqui nessa tag, mas é sempre bom ter as valiosas dicas de um mestre na arte de contar histórias, não concordam?
Então, primeiramente vou começar dando as indicações de leitura:
- Representação do Intelectual - Edward Said
- Entre facas, algodão - João Almino
- Por que ler os clássicos - Ítalo Calvino
- Nunca houve tanto fim como agora - Evandro Affonso de Carvalho
- A personagem de ficção - Antônio Cândido
Dito isso, a primeira coisa que ele conversou com a gente foi sobre a relação escrita-autor-leitor. O processo de escrita é parcialmente consciente, quando estamos escrevendo nos desligamos da realidade e o nosso inconsciente entra em ação, produzindo assim algo muitas vezes alheio à nossa vivência ou desconectado do momento em que estamos. Por isso, para Ricardo o processo de escrita acontece, realmente, quando vamos reler e reescrever o que esse inconsciente escreveu. Já teve a sensação de que as palavras estavam saindo sozinhas? Que enquanto você escrevia as ideias e as suas mãos trabalhavam por vontade própria? Bem, é exatamente disso que ele está falando.
Nas relações que envolvem o desenvolvimento de uma obra, da sua concepção à publicação, os elementos envolvidos giram em torno do produtor, aquele que cria, o receptor a quem se destina o texto, a obra, o produto em si e o transmissor, aquele que media o contato entre a obra e o leitor. A isso, podemos chamar literatura. Vale salientar que Ricardo é um árduo defensor da ausência de inspiração. Ele não acredita em inspiração ou em dom, para ele a escrita é um trabalho como qualquer outro podendo ser desenvolvida por qualquer pessoa desde que essa se submeta a atingir as exigências da profissão, coisa da qual falaremos mais para frente. O leitor, nesse processo, ocupa o espaço de maior importância uma vez que é aquele que dará a obra interpretação e significância.
Continuando, como já dissemos aqui anteriormente, o enredo de um romance passa por dois processos metodológicos.
O primeiro processo é a relação personagem e contexto, esse contexto, aqui, refere-se a um personagem X localizado em um espaço Y em um tempo N. Essa relação precisa ser lógica durante todo o percurso narrativo. Ainda dentro desse processo metodológico, Ricardo nos diz que é preferível criar um espaço imaginário a escrever sobre um que você nunca visitou uma vez que a falta de "tato" (mesmo que se faça inúmeras e cansativas pesquisas) dará ao leitor a certeza de que você nunca visitou aquele lugar.
É preferível criar um mundo a partir de outro que ambientar sem conhecimento.
O segundo processo acontece dentro do enredo, há o núcleo que corresponde a trama central e ao problema enfrentado pelos personagens. A tensão que desencadeia-se no clímax do conflito ou é permanente durante a trama e a expectativa que pode ser quebrada com o plot twist. Dentro dessa metodologia, é necessário estar atento ao contraste, muito importante principalmente nas personagens que compõem a trama.
Esses componentes intrínsecos são facilmente organizados com perguntas chave:
- Enredo (Como?)
- Personagem (Quem?)
- Tempo (Quando?)
- Espaço (Onde?)
Quem também merece atenção específica é o conflito ou problema central da trama. Nesse gráfico nós temos o desenvolvimento do conflito, desde a sua primeira aparição, no início do enredo, até o seu desfecho que pode ser a resolução ou o plot twist (reviravolta) e, todas essas etapas devem ser respeitadas para a construção de um enredo sólido. Tal qual o antagonismo das personagens deve desenvolver-se de maneira gradual e efetiva.
O Que é Necessário?
Nesse ponto da oficina, Ricardo nos diz que "Escrever é, basicamente, reler o que a gente escreve", dentro desse ponto, elenca os requisitos necessários para aqueles que desejam ingressar no ardoroso e exigente mundo das palavras:
- Ler
- Disciplina
- Dedicação
- Persistência ( Não desista!)
- Tempo
- Paciência
- Esforço pessoal
- Vontade de fazer bem feito
- Olhar o cotidiano
Dentre esses pontos, gostaria de destacar alguns que acho primordial e nos quais ele mais se estendeu. O primeiro é ler. Já batemos nessa tecla milhões de vezes gente e não há como fugir. Não existe autor que não lê. Disciplina e dedicação andam lado a lado, é preciso escrever todo dia, mesmo que seja um parágrafo, independente de estar ou não inspirado, de sentir ou não vontade. Ricardo é muito insistente nessa questão:
Não acredito em inspiração. Escrever é trabalho que exige esforço e dedicação. - Ricardo Ramos Filho.
A vontade de fazer bem feito, se você se propõe a escrever uma história ou qualquer que seja a atividade, o mínimo que se espera é que se dedique a isso, que faça-o da melhor maneira possível. Para isso é preciso paciência. E, quanto ao olhar o cotidiano, um bom autor sabe usar a realidade à sua volta para construir coisas, sejam cenas ou livros inteiros. É importante estar conectado com o mundo que te cerca de alguma forma, ele vai moldar o mundo que tu imaginas.
Sobre a construção das obras, ele elenca algumas dicas valiosas que envolvem desde a dedicação pessoal até a revisão:
- Deve ter começo, meio e fim.
- Escolher o melhor horário - todos nós temos aquele horário que rendemos mais, alguns de manhã, outros de noite, há quem goste da madrugada. Veja em que horário você se concentra mais no trabalho e escreva religiosamente nesse horário todos os dias!
- Seja sintético - diga o necessário e tire o excesso.
- Evite repetir palavras (eco) - esse talvez seja o ponto mais difícil. Segundo Ricardo, o ideal seria que não houvesse nenhuma palavra repetida por lauda. Use dicionários de sinônimos, dicionários, retire sentenças, mas tente evitar esse problema a menos que seja proposital ou necessário.
- Não abuse das gírias. - Elas são marcas de um determinado tempo histórico. Ou seja, se você usar muitas gírias de hoje, elas não vão fazer sentido a daqui vinte anos, por exemplo. Mesmo nas falas das personagens, seria bacana evitar a menos que seja realmente preciso.
- Cuidado com as exclamações.
- Prefira definir do que indefinir - controle o uso de artigos indefinidos (um, uma, etc.)
- Se o texto for longo faça um rascunho - principalmente se for sua primeira história! Faça um resumo geral do enredo, resumo dos capítulos, ficha de personagens, tudo que te auxilie a não fugir do foco da história.
- Use dicionário - sério, use mesmo. Principalmente quando for usar sinônimos, as vezes as palavras bonitas e complicadas não cabem no contexto que você as usou.
- utilize palavras conhecidas - isso vale para a regra anterior. Usar palavras conhecidas diminui a incidência de equívocos e facilita a leitura. Contudo, não quer dizer que você vá restringir seu vocabulário, por isso o dicionário!
- Evite os clichês
- Seja parcimonioso com os "que"s. - Eu ainda tenho esse problema, o queísmo me assombra.
- LEIA E RELEIA O QUE PRODUZIU - essa é a regra de ouro da boa escrita!
E é isso, gente! Claro que ele falou bem mais coisas na oficina, além de fazer a gente pôr a mão na massa hahaha, mas isso aí é o cerne do que foi dito. Então, agarra essas dicas e mãos à obra!
Fotinhos da oficina ^^
Fotinhos da oficina ^^
Nós e essa grande pessoa que é o Ricardo Ramos, ao lado dele, o grande mestre Edmilson Sá! |
Grande mestre esse que me pegou desprevenida enquanto eu trabalhava hahaha, ótimo relembrar os tempos de caderno! |
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