Título Original: Mockingbird
Ano: 2014
Páginas: 224
Autora: Kathryn Erskine
Sinopse: No mundo de Caitlin, tudo é preto e branco. Qualquer coisa entre um e outro dá uma baita sensação de recreio no estômago e a obriga a fazer bicho de pelúcia. É isso que seu irmão, Devon, sempre tentou explicar às pessoas. Mas agora, depois do dia em que a vida desmoronou, seu pai, devastado, chora muito sem saber ao certo como lidar com isso. Ela quer ajudar o pai – a si mesma e todos a sua volta –, mas, sendo uma menina de dez anos de idade, autista, portadora da Síndrome de Asperger, ela não sabe como captar o sentido. Caitlin, que não gosta de olhar para a pessoa nem que invadam seu espaço pessoal, se volta, então, para os livros e dicionários, que considera fáceis por estarem repletos de fatos, preto no branco. Após ler a definição da palavra desfecho, tem certeza de que é exatamente disso que ela e seu pai precisam. E Caitlin está determinada a consegui-lo. Seguindo o conselho do irmão, ela decide trabalhar nisso, o que a leva a descobrir que nem tudo é realmente preto e branco, afinal, o mundo é cheio de cores, confuso mas belo. Um livro sobre compreender uns aos outros, repleto de empatia, com um desfecho comovente e encantador que levará o leitor às lágrimas e dará aos jovens um precioso vislumbre do mundo todo especial dessa menina extraordinária.
"O bom dos livros é que as coisas do lado de dentro não mudam. (...) Livros não são como pessoas. Livros são seguros."
Gente, eu não tenho palavras para descrever esse livro pra vocês, sério. É de longe um dos livros mais lindos que eu já li na minha vida e o tempo todo eu só ficava me perguntando por que raios eu não o li antes. Meu Deus, se existir no mundo um livro que se aproxima mais da perfeição, é esse. Eu estava lendo Precisamos falar sobre Kevin, mas achei melhor dar um tempo e deixá-lo para o mês de fevereiro, visto que é um livro que exige atenção redobrada (principalmente pra mim que estou lendo em ebook) além de ser um livro bem grande, então eu passei Passarinha no meio e vou adiantar o livro do mês do projeto Relendo e Resenhando, depois dou continuação a ele.
Mas vamos falar de Passarinha, esse livro maravilhoso que me tocou de maneira impossíveis de traduzir com palavras. Acho que a última vez que eu fiquei tão imersa num livro desse jeito foi quando li Em algum Lugar nas Estrelas e o tema é semelhante, tanto Caitlin personagem de Passarinha, quando Early, personagem de Em algum Lugar nas Estrelas, têm distúrbios do espectro do autismo. Caitlin tem síndrome de Aspenger e é uma garota de dez anos no último ano do fundamental I que mora com o pai, sua mãe morreu vitimada por um câncer quando ela tinha dois anos e seu irmão, Devon, acaba de ser assassinado por um atirador que entrou na sua escola e feriu várias pessoas e matou 3.
Contudo, para Caitlin, embora a certeza de que seu amado irmão mais velho não existe mais seja uma verdade irrefutável, ela não sabe bem como lidar com as emoções que essa verdade acarreta e ela não entende bem, isso porque um dos aspectos de pessoas com síndromes do espectro do autismo é a falta de empatia, eles não são bons em se relacionar com pessoas porque a síndrome atinge as áreas do cérebro que regem as relações interpessoais (pelo menos foi isso que entendi), além de outras como, no caso do autismo que é mais severo, a fala. O pai de Caitlin, Henry, está abaladíssimo, e além de não saber lidar com a sua própria dor não entende como lidar com a sua filha especial.
Na escola, Caitlin tem o acompanhamento da senhora Brooks, uma psicóloga, com quem conversa todos os dias e de quem ela recebe as principais orientações sobre comportamento e empatia que é o foco do livro. Antes, Devon era o principal responsável por fazer Caitlin entender o mundo e as pessoas, agora que ele se foi ela está praticamente por conta própria. E a sua luta de entender o mundo e as pessoas é fascinante para nós uma vez que acompanhamos tudo pelo ponto de vista dela durante a leitura.
"Quer ajuda para encontrar um grupo?
Eu já tenho um grupo.
E quem está no seu grupo?
Eu.
E quem mais?
Ninguém. Eu sou o meu próprio grupo."
(Gente, isso era muito eu na escola kkkk)
Caitlin não entende por que tem que se relacionar com as pessoas se ela é muito melhor sozinha, além disso, pessoas são complicadas, elas têm emoções que se mesclam e tornam ainda mais complexo entender o que de fato elas sentem. Isso porque para ela é difícil se colocar no lugar do outro e ela não entende por que tem de fazer isso. Uma das coisas que mais gosto nela (isso porque eu gosto de tudo) é que ela é muito direta com o que pensa e o que sente. Ela diz muitas vezes sem medir o seu pensamento e, durante a leitura, me perguntei se eu não teria algum grau dessa síndrome porque eu me identifiquei horrores com ela em quase tudo.
Quando encontra no dicionário o significado da palavra desfecho, ela acredita que é disso que seu pai e ela precisam para conseguir superar a dor da perda de Devon. Mas como encontrar o tal desfecho é a questão que domina sua mente no meio das complicadas pessoas que a cercam e não a compreendem e dos sentimentos cada vez mais bagunçados que lhe perturbam. Nesse meio, enquanto ela segue a "ordem" da terapeuta para fazer amigos, acaba conhecendo Michael, filho da professora morta no mesmo tiroteio que matou Devon, os dois se tornam amigos e é muito lindo ver a forma como ela vai se abrindo aos poucos para ele e aprendendo mais e mais coisas sobre empatia e sobre relações humanas.
"Sinto um calorzinho gostoso no coração porque Michael Captou O Sentido. Meu pai não Captou O Sentido, digo a ele.
Nem o meu.
Ele ainda quer jogar futebol?
Michael Suspira. O tempo todo.
Ele deve adorar futebol.
Pior que é. Mas acho que ele não joga muito bem.
Por quê?
Porque ouvi minha avó dizer que ele está tentando tocar a bola para frente, mas no fundo mal está se aguentando nas pernas.
Viro e Olho Para A Pessoa. Seu pai é muito velhinho?"
(kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk o que eu ri disso não foi pouco, Caitlin é maravilhosa!)
Como é um livro muito curtinho eu não vou falar muito pra não acabar dando spoilers. Então, enquanto busca pelo Desfecho que vai devolver o sorriso do seu pai, Caitlin vai aprendendo o que é empatia, como fazer novos amigos e como o mundo pode ser fascinante com as cores que ela tanto rejeita. Além disso, vai aprendendo como lidar com a dor da perda de Devon e entender a dor que ela sente. É um livro simplesmente espetacular, a personagem é tão vívida e real que a gente ri com ela, chora por ela, é uma coisa inexplicável que poucos livros conseguem provocar e eu super indico Passarinha para todos os leitores sejam eles inciante ou avançados na leitura, porque é um livro que fala simplesmente sobre a essência do ser humano, a complexidade maravilhosa que cada um tem e, sobretudo, como é importante entender os sentimentos das pessoas e ouvi-las, se tivéssemos mais empatia e parássemos para nos colocar no lugar do outro, ouvir, entender, talvez essa violência horrível que engole os nossos dias não tivesse chegado no ponto que chegou. E isso começa desde cedo, na escola.
Deixo aqui minha recomendação/intimação para ler esse livro fantástico e se apaixonar pelo universo extraordinário da Caitlin. Sério, leiam mesmo.
Minhas partes favoritas do livro:
"Estou falando de pessoas e de aprender a se relacionar com elas.
Eu sei fazer isso. Eu as deixo em paz.
Não desse jeito.
Mas é isso que elas sempre me dizem — me deixa em paz. Caitlin vai embora — então eu estou dando atenção ao que elas dizem e também fazendo o que pediram portanto estou sendo gentil."
(Eu senti um nó amargo na garganta nessa hora.)
"Como faço para chegar à vivência da conclusão emocional de uma situação de vida difícil?
Sua boca se abre e fecha três vezes e solta um gemido fino."
(kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk Caitlin, melhor pessoa!)
"Habilidades interpessoais não estão no meu conjunto de habilidades."
(Estamos juntas, Caitlin!)
"Você acha mesmo que elas estão prestes a fazer isso?
Não faço a menor ideia. Não sou elas.
Mas se você se puser no lugar delas pode sentir o que elas estão sentindo.
Começo a caminhar em direção às meninas para me pôr no lugar delas, mas a Sra. Brook me interrompe. É só uma expressão, explica."
(Aí me diz se essa criaturinha não é fascinante? kkkkkkkkkkkkkkkk)
"Desculpe. Ele se vira de novo para a pia. Eu estava meio perdido...
Você está na cozinha, digo a ele. Fica perto da sala. Depois vem o corredor que vai dar nos...
Eu sei, Caitlin."
(kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk)
"Basta se esforçar mais da próxima vez.
Eu estou me esforçando, diz papai.
Eu sei. Ganhou um adesivo.
Obrigado.
Não há de quê. E ganhou mais um por ser bem-educado.
Obrigado. Os lábios dele se apertam e quase parece um sorriso."
(gente, como alguém maltrata uma criaturinha fofa dessas, sério?!)
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