Autor: Maggie Lehrman
Ano: 2017
Gênero: Ficção, Drama, Mistério
Páginas: 352
ISBN-13: 9788584190508
Sinopse: O que você sacrificaria para superar a perda de um grande amor? Ou para enterrar de vez as suas tristezas? Ou para ter a beleza com que sempre sonhou? Cuidado, porque o preço pode ser alto demais... Após a morte do namorado, Ari recorre a um feitiço para apagar Win da memória. Mas esquecer o rapaz não é tão simples, ainda mais depois que Ari percebe que entre seus amigos, seu namorado e até ela mesma há segredos demais. Se revelados, podem mudar a sua vida para sempre. antes do passado e do presente em uma narrativa acelerada. É um drama misterioso e romântico, com os dois pés na realidade e o coração na magia. A cada página, a busca para revelar a verdade por trás de uma terrível tragédia fica mais perigosa para os personagens e mais interessante para o leitor.
Não me lembro do motivo pelo qual minha irmã decidiu comprar esse livro, mas ele me saiu bem diferente do que pensei. Com o avanço da minha meta de leitura, acabei colocando alguns livros na frente, isso porque eu separo os livros por mês, de acordo com a intenção que eu tenho para ler aquele mês, o caso desse foi, sendo bem sincera, para "tapar buraco" como outros que eu coloquei para preencher o vazio que vai ficar até as leituras de Novembro que vão ser bem específicas de acordo com a temática do meu trabalho esse ano para o Nanowrimo.
A história começa com Ari (Ariadne) indo à casa de uma hekamista, que seria uma espécie de feiticeira, com cinco mil dólares que apareceram magicamente no seu armário e que vão lhe dar o que ela precisa naquele momento: a cura da dor da perda. O namorado de Ari, Win, morrera semanas antes e, incapaz de lidar com a perda, ela pede um feitiço para apagá-lo da memória, contudo, os feitiços sempre tem efeitos colaterais e o preço que Ari paga para se esquecer do seu amor é a perda da habilidade de bailarina. Agora ela apagou Win da sua memória, mas não consegue mais dançar.
Enquanto isso, Diana, a melhor amiga de Ari, se preocupa com o estado dela sem saber sobre o feitiço, tal qual Markos, o melhor amigo de Win, que está sofrendo horrivelmente com a perda como se uma parte dela estivesse faltando, enquanto Ari não sente nada além do desespero por não poder dançar balé. Todo mundo confere a melancolia dela ao fato da perda de Win e quando ela pensa nas consequencias de revelar a verdade acaba descobrindo que seria odiada por todos que lhe cercam caso descobrissem que ela esqueceu do Win que todos amam.
Paralelo ao tormento de Ari e Markos, acompanhamos a narrativa de Win em seus últimos dias até o acidente que o matou, descobrindo que ele tinha depressão e não sabia como lidar com aquilo, por sua família ser muito pobre sua mãe tinha outras prioridades além de tratar (ou prestar atenção) ao que o filho mais velho estava passando. Também vemos o drama de Kay cuja irmã tinha câncer e, logo após recobrar a saúde, saíra pelo mundo deixando-a para trás. Ela havia comprado um feitiço de beleza para não ficar mais sozinha e se aproximara de Diana quando Ari, que passava a maior parte do tempo com o namorado, deixara a amiga de lado. Sabendo dos planos de Diana em ir para outra cidade e de Ari em entrar para o balé de Manhattan, Kay compra um feitiço de amarração que as prende a elas e as impede de se afastar acreditando que assim nunca ficaria sozinha e, sobretudo, crendo que o afeto pode ser imposto se não pode ser conquistado.
Quando Echo, a filha da hekamista, surge diante de Ari pedindo os cinco mil dólares que Win lhe devia a menina se vê em um beco sem saída quando a garota ameaça contar para todos sofre o feitiço que ela fez para esquecer o ex-namorado. Ao mesmo tempo, Markos tenta conter a dor da perda do melhor amigo passando tempo com Diana que é apaixonada por ele desde sempre e Kay vê os efeitos da sua amarração tomarem um curso perigoso que pode acabar ferindo gravemente aqueles que ela queria proteger.
O livro tem um ritmo acelerado que, num primeiro momento, não gostei muito. Dá a sensação que a autora quer terminar logo a história. Os quatro pontos de vista escolhidos para contar a narrativa foi, ao mesmo tempo, o ponto forte e fraco do livro, porque enquanto mergulhamos na cabeça daqueles personagens e os conhecemos melhor não podemos ter certeza se a visão que ele nos apresenta é real ou subjetiva uma vez que os acontecimentos são apresentados de forma muito intensa de acordo com a visão de mundo de cada um. Win é a única exceção porque temos uma visão intimista da sua doença e das razões que o levaram até o dia da sua morte e, de longe, foi a única parte do livro que eu gostei por identificação mesmo.
"[...] está aí uma coisa engraçada sobre a depressão: é difícil pra cacete cumprir um plano."
Esse personagem levanta uma reflexão muito válida sobre as doenças emocionais e o descaso ou mesmo a pouca importância que se ainda se dá em relação a elas além de mostrar como uma pessoa deprimida se sente, mesmo que numa dimensão bem menor do que acontece na realidade. A mãe de Win, embora não seja explicitado no livro, parece não perceber ou ignorar o que acontece com o filho uma vez que o menino passa por longos períodos de melancolia e ela simplesmente não intervém. Markos e Ari inclusive, que é os que estão mais próximos dele, parecem nem saber que o garoto tem uma doença, agem como se os períodos de tristeza fossem apenas isso, períodos e não um estado como realmente é. Além disso, Win mostra a impotência e o medo que alguém com esse transtorno passa, o medo de tudo, de não ser o bastante, de ser um peso, os pensamentos suicidas que vem do nada e cada vez com força maior, o derrotismo e a raiva que se sente em relação a si mesmo. É um retrato cru de como é difícil conviver com essa doença e de como é viver com a máscara do "tudo bem" escondendo como realmente se sente, como é cansativo, para escutar gente dizendo que é mimimi ou que a pessoa só quer chamar atenção. De todos os pontos de vista o dele foi o que achei mais intenso e até sincero, porque eu conseguia palpar os sentimentos, senti-los fluir pela minha pele e me colocar no lugar dele.
"Uma das partes mais estranhas da depressão é a maneira como ela afeta a memória. Quando estava deprimido não conseguia me recordar de nada particularmente feliz que tivesse acontecido comigo. As coisas que antes via como felizes pareciam falsas e vazias. O passado bom se apagava a uma distância homérica, e o presente bom, enfim, esse parecia impossível."
Outra coisa muito válida relativa a ele é a analogia com o feitiço que ele pede para se sentir bem, fazer parar a tristeza, a dor. Quando ele finalmente tem o feitiço na mão fica com medo de tomar, em parte pelo medo de se tornar outra pessoa, em parte por achar não merecer aquilo, não ser digno da felicidade. Passei por isso quando comecei o tratamento e via o que os remédios faziam comigo, o torpor, a mente sempre ligada no "Ok" independente do que acontecia, a sensação de falsa alegria que perseguia o tempo todo. Era como se vivesse numa nuvem ilusória que me prendia numa fachada de bem estar quando, lá no fundo, algo continuava me lembrando que eu era uma dependente, que sem aquele remédio voltaria a ser a pessoa obscura e vazia que sempre fui. Sério, isso não é brincadeira, Win é um alerta para o cuidado preciso com as doenças psicológicas, para a atenção que elas merecem e que ainda é tão negligenciada.
Porém, essa mesma empatia não aconteceu com as outras personagens. Achei Ari uma chata, não apenas egoísta, mas meio rasa também, ainda que ela levante uma questão importante que é o preço das nossas escolhas. Quantas vezes a gente não desejou ser capaz de esquecer tudo apenas para fugir da dor ou do medo? Mas nessas mesmas vezes, quantas a gente parou para pensar nas consequencias que isso traria? Pela minha experiência eu digo que nenhuma. Quando perdeu os pais, a tia dela lhe comprou um feitiço para ajudá-la a fugir do trauma e, talvez por isso, ela tenha achado que fugir era a resposta para se livrar daquilo que machucava e com o que ela achava que não podia lidar. Porém, o fato de ela negligenciar a Diana por causa de Win ou mesmo de impedir ela de fazer as próprias escolhas e cometer os próprios erros me irritava pra caramba, querer proteger uma pessoa não dá o direito de tolher sua vontade, ela sabia que a Diana gostava do Markos e Diana sabia que tipo de cara o garoto era, Ari não tinha nada que se meter naquilo, se a amiga não queria ouvir os conselhos que aprendesse sozinha. O fato de ela não querer que Diana sofresse só a fez sofrer mais.
O Markos tinha sérios problemas psicológicos que elevaram-se a um nível ainda maior depois da morte de Win que era mais seu irmão que os filhos da sua mãe e, dizer, essa mãe dele é o pior tipo de pessoa que eu já vi. Cega. Beirando a loucura. Depois de tudo que o filho Cal fez ela ainda tem a audácia de culpar o Markos do que aconteceu quando na verdade ninguém além dela mesma e dos outros dois filhos eram os culpados. Achei a atitude dela escrota. Com isso, entender porque o Markos agia como agia e se sentia como sentia era super de acordo com a forma com que ela cresceu, sempre se sentindo excluído dentro da própria família. O mesmo eu não posso dizer de Kay, essa guria era paranoica num nível irritante, eu passava os capítulos dela querendo que ela sumisse, na boa. Ela tinha tão pouca noção de si mesma e do mundo que ao invés de tentar entender as coisas achava que feitiço era a resposta pra tudo. Mesmo quando ela viu a merda que fez ainda assim insistiu em continuar com aquilo porque a obsessão era maior que a razão. Em nenhum momento senti empatia ou mesmo compaixão por ela, nem mesmo pena! Achei o final dela ameno para o que ela realmente merecia. Se tinha problemas com a irmã ela devia ter tentado resolver as coisas com ela e não ir atrás de substitutas colocando a vida dos outros em risco em nome do seu próprio egoísmo e da incapacidade de se aceitar.
O livro me deixou dividida entre o gostar e a raiva. Não quer dizer, claro, que é ruim, apenas que ou eu li numa fase errada ou ele realmente não me agradou mesmo, seja pela forma narrativa ou por suas personagens que, mesmo bem construídas, não me despertaram emoção (excetuando Win, claro). Ainda assim, deixo aqui a recomendação para leitura reflexiva, ele levanta questões muito boas.
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