Autor: Carlos Ruiz Zafón
Gênero: Ficção
ISBN: 9788581050164
Páginas: 1999
Sinopse: "De todos os livros que publiquei desde que comecei neste trabalho de escritor, ali por volta de 1992, Marina é um dos meus favoritos", afirma Zafón. "É possivelmente o mais indefinível e difícil de categorizar de todos os romances que escrevi, e talvez o mais pessoal de todos eles."
Neste livro, Zafón constrói um suspense envolvente em que Barcelona é a cidade-personagem, por onde o estudante de internato Óscar Drai, de 15 anos, passa todo o seu tempo livre, andando pelas ruas e se encantando com a arquitetura de seus casarões.
É um desses antigos casarões aparentemente abandonados que chama a atenção de Óscar, que logo se aventura a entrar na casa. Lá dentro, o jovem se encanta com o som de uma belíssima voz e por um relógio de bolso quebrado e muito antigo. Mas ele se assusta com uma inesperada presença na sala de estar e foge, assustado, levando o relógio. Dias depois, ao retornar à casa para devolver o objeto roubado, conhece Marina, a jovem de olhos cinzentos que o leva a um cemitério, onde uma mulher coberta por um manto negro visita uma sepultura sem nome, sempre à mesma data, à mesma hora.
"A mesquinhez dos homens é um pavio em busca das chamas" (p. 150)
Lembro que, anos antes, quando li As Luzes de Setembro me vi encantada pela habilidade narrativa de Zafón que consegue unir o macabro/fantástico à realidade de tal modo que não separamos o que é de que. Contudo, essa impressão elevou-se a um patamar inexprimível quando me vi presa nas páginas de Marina. A história é uma verdadeira obra arquitetônica da narrativa, mesclando elementos de horror com suspense e drama na dose certa para nos manter completamente presos à história. Sem contar que, tudo isso, aliado à escrita de Zafón que salta aos olhos, melodiosa como uma composição de Vivaldi, complexa como uma peça de Beethoven e poética como um teatro de Shakeaspeare.
A trama nos apresentar Óscar Drai, um adolescente de 15 anos que vive em um internato de Barcelona uma vez que seus pais viajam constantemente. Apesar de ter alguns colegas, Óscar se sente muito sozinho e não tem quaisquer perspectiva ou mesmo encontra sentido na sua existência. Para distrair-se, nos finais de tarde após as aulas, sai às escondidas da escola e passeia pela cidade adentrando em ruas arruinadas e fantasiando sobre seus dias de glória. Numa dessas andanças, ele acaba indo parar em um bairro onde até então nunca havia entrado, era um antigo residencial com casarões antigos em sua maioria abandonados e, um desses em particular, lhe chama atenção.
Não não somente a imponência da mansão que outrora, em seu auge, deve ter sido exuberante. Mas a voz que vem de dentro dela, suave e angelical, cantando algo que Óscar não fazia a menor noção do que era, mas como um marinheiro atraído por uma sereia ele se vê movendo-se naquela direção para descobrir que a voz maravilhosa vinha de um gramofone. Curioso, o garoto entra na casa atraído por um relógio antigo que, ao pegar para inspecionar, vê-se surpreendido por um habitante e acaba fugindo assustado e levando o relógio consigo.
É assim que começa a maior aventura da sua vida. Quando vai devolver o relógio, Óscar é surpreendido por uma bela menina que diz ser a filha de Gérman, o dono do artefato roubado. Assim, quando se aproxima de Marina e do pai, ele vai adentrando no misterioso mundo que os cerca na velha mansão que parece ter parado no tempo e na voz maravilhosa do gramofone que ele descobre estar cantando Lakmé, uma peça de Lèo Delibes (que eu ainda não tinha ouvido toda, mas ouvi depois de ler!). A cantora era a mãe de Marina, Kirsten, falecida anos antes de uma cruel doença (que não é especificada, pelo menos não lembro, mas acredito que seja leucemia pela descrição dada ou algum outro tipo de câncer). Marina lhe convida para sair no domingo, pois quer lhe mostrar um mistério.
Ela o leva para um antigo cemitério onde diz acontecer, naquela mesma data e naquele mesmo horário, um fenômeno intrigante. Uma mulher toda de preto, com um véu cobrindo o rosto e movendo-se como um fantasma visitando um túmulo sem identificação. Curioso com aquela história contada por Marina, os dois decidem seguir a mulher, enveredando-se por ruas esquecidas de Barcelona e adentrando num mistério sombrio envolvendo uma antiga fábrica de próteses chamada Vello-Granel e seu presidente, Mijail Kolvenic, de quem se espalha uma série de histórias. Dispostos a chegar à verdade, Óscar e Marina vão desenterrar uma história perigosa que envolve conspiração, assassinato e loucura pondo as próprias vidas em risco para chegar à chocante revelação.
Confesso que, apesar da engenhosidade de Zafón em construir uma trama bem presa a um mistério sombrio, descobri bem antes da revelação muito do que havia acontecido, embora não tenha me chocado menos com a bomba sobre Mijail e, sobretudo, com a verdade sobre Marina. O livro acaba por ser uma mistura interessante de obras como Um Amor para Recordar e Julieta, além de evocar clássicos como O Médico e o Monstro, Frankestein e até mesmo Drácula. Momentos sombrios e aterrorizantes dignos de King e Alan Poe, a engenhosidade própria de Conan Doyle e Christie além da graciosidade de Austen. É com esses elementos que Marina torna-se um livro maravilhosamente escrito de modo a dar uma verdadeira aula de construção narrativa e de subtramas que se amarram com perfeição à trama principal. Personagens fascinantes que vão ficar presos na sua memória por muito, muito tempo! Mais que recomendado.
Alguns dos meus quotes favoritos:
"A inveja é um cego que quer arrancar os olhos do outro." (p. 86)
"A juventude é uma namorada caprichosa que a gente não entende nem valoriza até que ela vai embora com outro, para nunca mais voltar." (p.108)
"Se as pessoas pensassem um quarto do que falam o mundo seria um paraíso." (p. 83)
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