sexta-feira, 28 de setembro de 2018

[Mangá] Koe no Katachi (+ filme)

Título Original: 聲の形 (lit. a forma da voz)
Autor: Yoshitoki Ōima
Gênero: Drama, Romance, Slice of life
Ano: 2013-2014
Volumes: 07

Sinopse: A história gira em torno de Shōko Nishimiya, uma estudante do primário que sofre de surdez. Ela é transferida para uma nova escola, mas acaba sendo intimidada por seus colegas. Shouya Ishida, um dos valentões responsáveis acaba forçando-a para mudar de escola. Como resultado dos atos contra Shōko, as autoridades escolares tomam medidas sobre o assunto, Shouya é condenado ao ostracismo como punição, sem amigos para falar e não ter planos para o futuro. Anos depois, Ishida tenta reparar seus erros, para redimir-se com Nishimiya.

Oi, pessoas, como estão? Finalmente de volta com uma postagem nova. Eu demorei pra caramba em terminar esse mangá, mas por razões da doença mesmo, tem horas que a gente fica sem vontade de levantar da cama.

A primeira vez que ouvi falar de Koe no Katachi, acho que foi em meados de 2014 num desses grupos de animes que eu frequento no facebook, mas pela temática tinha medo de ser pesado e, por isso, não procurei mais a respeito. O tempo passou e deixei de lado, acabei me voltando para outras coisas e esqueci completamente dele (kimi no nawa é outro que estou cozinhando até hoje!). Quando minha irmã decidiu finalmente o tema do seu TCC essa obra me veio à mente de forma instantânea. Isso porque minha irmã falará sobre LIBRAS, o sistema brasileiro de linguagem de sinais, enquanto Koe no Katachi apresenta o 日本手話 (nihon shuwa), o sistema japonês dessa linguagem conhecido mundialmente como JSL - Japanese Sign Language.

O enredo gira em torno de Shoya Ishida, um garoto que vive com a mãe e a irmã (que parece mudar constantemente de namorado). Ele tem dois amigos, Shimada e Hirose, que vivem com ele em suas maluquices. Contudo, Ishida não consegue encontrar nada que aplaque o tédio que consome seus dias, ele não vê motivação ou sente interesse real por nada. Até Nishimiya Shouko aparecer. Há um provérbio japonês que diz: "O prego que se destaca deve ser batido", no momento que Ishida percebeu quão diferente aquela garotinha que não podia ouvir ela, percebeu que ela poderia ser o boss final do seu jogo de batalha contra o tédio.

Casos de ijime (いじめ) "bullying ou intimidação" são muito comuns em países asiáticos, especialmente no Japão e Coréia do Sul, todas as pessoas que se destacam podem estar sujeitas a esse tipo de violência física e psicológica. Infelizmente, ao contrário do Brasil, não há muitas campanhas contra esse abuso e, pior, atenção por parte das instituições de educação ou dos responsáveis por crianças e adolescentes. No Brasil, apesar de todos os problemas, nós temos campanhas, conscientização do problema e medidas que são tomadas para evitar ou conter o bullying. Shouko já havia passado por várias escolas e sido transferida por causa de casos de ijime cada vez mais frequentes e violentos.

Não era de se esperar que naquela fosse diferente. Alvo de Ishida, os dias da menina foram aos poucos se tornando um novo inferno. Tudo que ela queria era fazer novos amigos e por um momento chegou a pensar que conseguiria. Mas aquele garoto que lhe chamava atenção e de quem queria se aproximar não lhe dava nada além de desprezo e violência. Mesmo assim, Shouko deu seu melhor para fazê-lo gostar dela, para diminuir a barreira que Ishida impôs entre eles, mas ele era cada dia mais abusivo. Com ele, o professor da sala e os demais alunos eram cúmplices uma vez que estavam cientes do que a menina estava passando e não faziam nada para ajudá-la. Eram expectadores silenciosos da violência que ela sofria.

Outro tópico muito importante abordado pela obra, e esse eu falo com mais propriedade porque vivenciei, é o caso da inclusão. Shouko foi colocada em uma escola "regular" onde nem o professor e nem os demais alunos estavam preparados para acolhê-la. Ela usava um caderno para se comunicar, não havia intérpretes para ela e ninguém na sala conseguia falar a língua dela. Quando fiz magistério, havia quatro alunos surdos na minha sala, eles também não tinham intérprete e uma colega de sala aprendeu LIBRAS para poder ajudá-las nas aulas, infelizmente é uma realidade ao que parece em todos os cantos do mundo. A "inclusão" não ocorre de fato, pois pensa que o incluído é que deve se adaptar aos outros, quando são os outros que precisam se inteirar do mundo dele. A mesma coisa acontece com alunos que tem autismo, são colocados em salas "regulares" e excluídos pelo professor e os demais.

Bem, voltando ao tópico, uma menina chamada Sahara foi a única na turma que se propôs a aprender o shuwa para se comunicar e ajudar Shouko nas aulas, mas só conseguiu o ódio de Ueno e suas amigas, que a acusavam de estar querendo chamar atenção dos professores, a menina acabou desistindo de ir para as aulas e Shouko ficou sozinha mais uma vez. Depois de perder oito aparelhos auditivos por causa de Ishida e Ueno, esta sequer acreditava que ela não podia ouvir - um deles, inclusive, arrancado da sua orelha com tanta força que cortou - Shouko tenta uma última vez saber qual o problema do garoto com ela, a razão pela qual ele não pode ser seu amigo. A briga, entretanto, só serviu para mostrar a ela que não importava o que fizesse nunca seria aceita como era. 

Com a saída de Shouko da escola, a mãe dela reclamou sobre os aparelhos auditivos perdidos cobrando ao responsável o preço (algo em torno de cinco mil reais), o professor, temendo ser responsabilizado pela soma, acusou Ishida imediatamente, também Ueno que se defendeu acusando o outro, assim como Kawai e Shimada. Toda a sala se voltou contra ele que se tornou não apenas o único responsável, mas a principal vítima da hipocrisia de todos. Além de ser também vítima do ijime de Shimada, Ishida foi condenado ao ostracismo por todos não apenas no fundamental, mas também no colegial. Ninguém queria um bully como amigo.

Anos depois, consciente do que fez, Ishida decide morrer. Começando a tomar suas providências, ele vende todos os seus pertences para conseguir devolver à mãe o dinheiro que ela havia gasto com os aparelhos auditivos de Shouko, a última parte que faltava era entregar a ela o caderno que ela usava para se comunicar e havia sido deixado para trás com ele. O reencontro não podia ser diferente, não apenas por Ishida agora saber se comunicar com o shuwa, mas por seus sentimentos ao reencontrar Nishimiya depois de tantos anos. Naquele momento ele percebeu que havia muito a fazer para pagar pelos seus crimes, nem mesmo a morte seria uma compensação suficiente. Ao lado dela, Ishida vai reaprender o significado de amizade, aprender a ouvir a voz das pessoas e não apenas escutar, mas, sobretudo, vai aprender o que significa de verdade estar vivo.

Graças a Nishimiya ele enfrentará os velhos companheiros de sala, conhecerá novos, redescobrirá sua verdadeira natureza e começará o processo de perdoar a si mesmo enquanto tentar mostrar a Shouko que sua diferença não a tornava melhor ou pior que os outros, mas especial e única. Por incrível que pareça, não chorei em nenhum momento com a obra, apesar de ela ter me levado a refletir muito sobre o que debati na faculdade acerca da inclusão, do bullying que não apenas debati, mas fui vítima (infelizmente), e até mesmo sobre a natureza humana em si. As personagens são bem construídas, algumas delas, inclusive, me lembraram Kuzu no Honkai porque eram puro lixo mesmo, a história é muito bonita e cativa a gente, apesar de ser forte, é uma expressão real sobre autoaceitação, perdão, convivência com o diferente e amizade na sua forma mais sublime e despretensiosa. Além da linda descoberta do amor em sua maneira mais pura.

Ano: 2016
Direção: Naoko Yamada
Roteiro: Reiko Yoshida

O filme é surpreendentemente bem adaptado. Logicamente, como era de se esperar, foi muito bem enxuto para conseguir compilar sete volumes em duas horas. Muita coisa foi cortada, o que, em sua maioria, não compromete o entendimento do enredo, mas em alguns momentos fica meio vago para quem não leu o mangá. Os mais adaptados foram os volumes 1-4 os outros três foram bem enxugados para finalizar a produção e muitas cenas ou acontecimentos foram deixados de lado, mas os eventos principais foram animados o que é um prato cheio para quem leu a obra, mas que seria melhor aproveitado (principalmente no que tange ao background das personagens) se fosse um anime de pelo menos doze episódios.

Os traços ficaram bem fiéis ao mangá, o que gostei muito e o final, apesar de ser diferente da obra, ficou muito bonito também. Não tenho do que reclamar quanto a ele, houveram adaptações piores por aí hahaha.

PERSONAGENS

Não costumo fazer isso com mangás, mas acho que Koe No Katachi merece. 

Ishida Shoya - Personagem principal da obra, um garotinho cuja mãe, que é cabelereira, lhe dá muita liberdade para ser e fazer o que quiser. Amante de aventuras arriscadas, vive para cima e para baixo com Hirome e Shimada, seus "melhores amigos" e é perseguido por Ueno, uma garota que acha ser muito mais do que realmente é. 

Sem expectativas na vida e com uma família levemente desestruturada, Ishida é vítima de um vazio existencial, onde nada parece lhe despertar real interesse, os acontecimentos de sua rotina são repetitivos e ele passa seu tempo arriscando a própria vida e tirando sarro dos outros.

Ao refletir sobre tudo que fez na maior parte da vida, começa a buscar redenção para seus pecados tentando reparar-se como ser humano, principalmente com Nishimiya a quem mais feriu.



Nishimiya Shouko - nasceu com surdez o que fez com que o covarde do seu progenitor abandonasse a esposa grávida por não querer uma filha "defeituosa" e ainda por cima isentar-se da "culpa" dizendo ser responsabilidade da esposa. Isso acabou fazendo com que ela crescesse aos cuidados de uma mãe amargurada vivendo sob a fachada de mulher forte, uma avó carinhosa que sempre procura suprir as netas do carinho que a mãe não dá e uma irmã mais nova, Yuzuru, que também era atacada simplesmente por ter uma irmã "estranha".

Sentia-se um fardo para todos à sua volta. Por mais que tentasse e desejasse, Shouko nunca conseguia alcançar as pessoas, que sempre a ignoravam ou maltratavam pelo simples fato de ela ser diferente. Contudo, sempre engolia sua tristeza sob a fachada de um sorriso que mostrava que estava tudo bem quando ela estava destruída por dentro. A mãe também sempre fora muito rígida com ela no intuito de torná-la "mais forte".

Gentil, inteligente e bondosa, a única coisa que deseja é ter amigos para interagir e se sentir parte do mundo.

 Sahara Miyoko - também estudava na mesma sala que Ishida e Shouko. Foi a única que se ofereceu para aprender shuwa quando toda a sua turma achava um aborrecimento precisar aprender a língua para se comunicar com Shouko uma vez que podia usar o caderno.

Ao se voluntariar para ajudar a colega, passou a ser vítima dos comentários maldosos de Ueno sobre suas roupas e o fato de estar tentando chamar atenção quando, na verdade, só queria ajudar Shouko.

A pressão e o medo de sofrer ijime acabam fazendo com que deixe a escola. Mesmo assim estuda shuwa por conta própria na esperança de se comunicar com Shouko um dia e reparar o mal que fez ao fugir.

É uma pessoa fraca de espírito que se deixa facilmente ser levada pelos outros por causa da sua baixa estima. Mas no fundo é boa.


Nishimiya Yuzuru - irmã mais nova de Shouko se passa por menino para proteger a irmã. Cresceu sem o pai com uma mãe fria que pouco ligava para o que ela pensava ou sentia em sua obsessão de tornar Shouko uma garota mais forte. Sua avó era a única que lhe dava atenção.

Era vítima de ijime das outras crianças por causa da surdez da irmã, prometeu se vingar de todas as pessoas que  machucaram Shouko e a fizeram querer morrer.

Não liga para a escola e passa o tempo inteiro tirando fotos de animais mortos. Foge de casa constantemente por não se entender com a mãe a quem chama de bruxa.



Kawai Miki - Não posso descrever essa coisa com outra palavra além de parafrasear Ishida "cale a boca, Kawai, você me dá nojo do fundo do meu coração".

Mesmo que não tenha feito ijime direto contra Shouko, essa guria "me olhe que eu sou perfeita" falava mal dela e da Sahara pelas costas junto com Ueno e ainda pagava de menina boa "sou amiga de todos". 

Narcisista, egocêntrica, falsa, hipócrita e mentirosa, foi uma das primeiras que tirou o corpinho fora quando Ishida foi acusado dando uma de santinha quando era tão culpada quanto ele.

Mesmo anos depois, Kawai continuou a mesma intragável de sempre, querendo chamar a atenção de Machida, um aluno da sua sala com Ishida, ela quer dar a de responsável e lindona quando por dentro é podre. Nojo mais profundo foi o que senti dela a obra inteira.




Nagatsuka Tomohiro - solitário por causa do seu peso, Nagatsuka também era vítima de preconceito por não ter amigos e por conta do seu cabelo (que presumo ser cacheado ou algo do tipo). Vale lembrar que questões de peso são levadas muito a sério no Japão, o governo, inclusive, oferece auxílio a pessoas acima do peso para que se mantenham saudáveis, uma vez que magreza lá é sinal de saúde.

Quando é salvo por Ishida de ter sua bicicleta roubada, o baixinho vira praticamente a sombra do ex-bully. Com ele, Ishida começa a sentir o que é ter companhia e como é importante ter alguém para conversar. Além disso, é graças a Nagatsuka que ele consegue furar o bloqueio de Yuzuru e encontrar Nishimiya outra vez.

Sonha ser diretor de cinema e envolve todo mundo nos seus projetos malucos, inclusive Ishida.

Ueno Naoka - assim como Kawai essa é outra difícil de engolir. Ueno sempre gostou de Ishida, mas era covarde demais para se declarar e, por achar que Nishimiya também gostava dele e estava querendo chamar a atenção do garoto, passou a odiá-la e ajudar Ishida a transformar a vida da menina um inferno. 

Ao perceber que Shouko usava aparelho auditivo começou a espalhar que era mentira que ela não ouvia, inclusive, foi a primeira a dar perda no aparelho da menina. Falava mal dela pelas costas e foi a responsável por Sahara ter saído do colégio. Tudo porque queria a aprovação de Ishida que nunca reparou nela.

Anos depois, ainda odiando Shouko, ela tenta ainda chamar a atenção de Ishida, mesmo quando foi a primeira a colocar toda a culpa nele no fundamental e livrar o próprio corpo do que também tinha feito. Hipócrita, falsa, cínica e tsundere foi outra personagem que eu odiei de coração e que torci que levasse uma surra boa (o que aconteceu, para meu deleite, da mãe da Shouko! Obrigada!)

Para finalizar, gostaria de deixar aqui um videozinho que mostra algumas diferenças entre a língua de sinais brasileira e japonesa, achei muito bacana.


E é isso, pessoas! Até a próxima resenha ^^

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