Autor: John Green
Gênero: Ficção juvenil
Páginas: 286
Ano: 2017
Sinopse: Aza Holmes tem 16 anos e lida diariamente com seu transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), que a lança em terríveis espirais de pensamentos que ameaçam aprisioná-la em sua própria mente.
Daisy Ramirez é a Melhor e Mais Destemida Amiga de Aza Holmes e tão fã de Star Wars que escreve fanfics sobre a vida amorosa do Chewbacca.
Davis Pickett é amigo de infância de Aza – por duas vezes seguidas, foram para o Camping da Depressão, um retiro exclusivo para crianças que perderam um dos pais. Davis é filho de um bilionário que está desaparecido.
Minha curiosidade em ler esse livro foi por causa do transtorno psicológico que ele retrata. Eu não fui diagnosticada com TOC, mas tenho ansiedade crônica e transtorno de ansiedade social, então em muitos aspectos entendia como a Aza se sentia com os pensamentos fora de controle e tive uma visão mais abrangente e analítica sobre como meu problema afeta as outras pessoas, as que precisam lidar comigo todos os dias.
"Eu estava começando a entender que a vida é uma história que contam sobre nós, não uma história que escolhemos contar." (p. 09)
Tudo começa quando o bilionário Russel Pickett desaparece sem deixar rastro após ser investigado novamente por fraude e corrupção. Seus dois filhos, Davis e Noah, ficam para trás, um deles é amigo de infância de Aza, os dois se conheceram em um acampamento para crianças que sofriam de algum tipo de trauma ou depressão. Aza perdera o pai para uma doença cardíaca e Davis perdera a mãe. A melhor amiga de Aza, Daisy, querendo pôr as mãos na recompensa de cem mil dólares oferecida por qualquer informação que leve à captura de Russel, arrasta Aza para uma investigação sobre o paradeiro do bilionário.
Essa investigação promove o reencontro entre Aza e Davis, ao entrar em contato com o garoto e o irmão, ela acaba percebendo a fragilidade no qual os dois estão imersos, sobretudo Noah, o mais novo. Além do mais, descobre também que, em caso de morte, toda a fortuna do pai dos garotos vai para uma Tuatara, uma espécie de réptil provavelmente pré-histórico ou descendente que vive até 150 anos e que Russel acreditava guardar o segredo da longevidade ou imortalidade.
Assim, a história desemboca nessa investigação, nos conflitos de Aza consigo mesma e com os pensamentos que parecem controlá-la na maior parte do tempo, além de sua relação com Daisy e Davis que, cada um ao seu modo, enxergam e lidam com o problema dela de maneira diferente.
Não há muito que possa ser dito sem se tornar spoiler uma vez que o livro é bem pequeno. Achei a história legal e muito necessária, cada vez mais acredito ser importante conversar e discutir sobre problemas psicológicos, é algo que vem desde muito tempo, mas que ainda se transforma em tabu na boca das pessoas, Green tentou externar bem a cabeça de uma pessoa com TOC, mas, sobretudo, a cabeça de uma pessoa ansiosa, eu não tenho TOC, mas meus pensamentos funcionam de modo similar aos pensamentos de Aza, ainda que não sejam voltados à doenças em específico (embora isso aconteça com certa frequência), acontece em relação a tudo, uma simples viagem pode se tornar um pesadelo de meses cheio de angústia e preocupação.
As "espirais de pensamento" de Aza são muito comuns em pessoas ansiosas, com uma mente que não para, cheias dos mais diversos tipos de pensamento do passado e previsões assustadoras de um futuro incontrolável e que sequer alcançamos. O modo como isso afeta e angustia a mãe dela, a maneira como a amiga dela enxerga o problema (e que é como muita gente enxerga pessoas com qualquer transtorno psicológico) chegando inclusive a dizer que Aza era "exaustiva" é uma realidade de muitas pessoas que enfrentam esse problema e tantos outros. O modo como Aza odeia a si mesma e procura de modo desesperado entender quem ela é e como frear seu "demônio interno" reflete com verossimilhança a luta que travamos todos os dias contra nós mesmos.
Gostei, inclusive, do relacionamento de Aza e Davis que terminou de uma maneira bem realística dentro das possibilidades e das realidades dos dois. O que me deixou levemente incomodada foi novamente o grau de "nerdice" (Chamemos assim) das personagens de Green, não estou dizendo que adolescentes precisam necessariamente ser alienados e cabeça de vento, mas acho que as personagens dele sempre tendem a ser intelectualmente exageradas. São adolescentes de 16 anos discutindo o sentido da existência e comportamento humano como psicólogos de 50 anos com PhD. Aza, algumas vezes, parecia uma cientista de 35 com formação em epidemiologia enquanto Davis era quase um astrônomo. Contudo, isso é uma opinião minha e não afeta grandemente a história, ainda acho que é um bom livro e merece sim ser lido por todo mundo.
Finalizo com algumas das minhas passagens favoritas que externam muito minha forma de pensar e sentir.
"(...) Era muito esquisita e deprimente a ideia de que eu só seria uma pessoa normal se ingerisse determinadas substâncias capazes de mudar quem eu era." (p. 120)
"Como eu era boa em ser criança, e como era péssima em ser fosse lá o que eu fosse naquele momento." (p. 25)
"Tenho a sensação de que não sou o motorista do ônibus da minha consciência." (p.67)
"Eu não conseguia me fazer feliz, mas conseguia fazer as pessoas ao meu redor infelizes." (p. 115)
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